Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. PERFIL DE RESISTÊNCIA EM INFECÇÕES COMUNITÁRIAS Aline de Oliveira Lázaro1 Daniel Oliveira Freire2 IFAR – Brasília/PUC- GO [email protected] 1 Farmacêutica. Aluna de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás/IFAR. 2 Biólogo-Microbiologista Clínico, pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto- CERES-SP. Resumo O primeiro antibiótico comercializado já possui mais de meio século. No Brasil, o uso indiscriminado de antimicrobianos leva a situações cada vez mais preocupantes. É notório o alto índice de uso destas drogas com finalidade profilática ou terapêutica em hospitais e na comunidade. O perfil de resistência de microrganismos em infecções comunitárias aponta para dados alarmantes. Em alguns anos pode não haver medicamentos eficazes para tratar algumas infecções, devido ao mau uso destes medicamentos. A literatura descreve inúmeros mecanismos de resistência já detectados em microrganismos. Com o objetivo de conter a velocidade de desenvolvimento de resistência aos atuais antimicrobianos disponíveis, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou em 2010 a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) 44, a fim de requerer melhores critérios na prescrição e dispensação de antimicrobianos. Palavras-chave: Infecção comunitária. Infecção urinária. Mecanismos de resistência. Infecção respiratória. Agentes etiológicos. PROFILE OF RESISTANCE IN COMMUNITY INFECTIONS Abstract The first antimicrobial has already sold over half a century. In Brazil, the indiscriminate use of antimicrobial leads to situations of increasing concern. It is noticeable that the high use of these drugs with prophylactical or therapeutical use in hospitals and on the community. The resistance profile of microorganisms in community-acquired infections points to some alarming data. In some years there may be no effective drugs to treat certain infections, due to the misuse of these drugs. The literature describes numerous resistance mechanisms that have been detected in microorganisms. In order to contain the speed of development of resistance to current antimicrobial available, the ANVISA (National Agency of Sanitary Surveillance) published in 2010, RDC (Resolution of Collegiate Board) 44, to require better criteria in medical prescriptions and dispensing of antimicrobial. Keywords: Community infection. Urinary tract infection. Resistance mechanism. Respiratory infection. Etiologic agents. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 2 INTRODUÇÃO O Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria MS 2.616/98, define dois tipos de infecções: infecções comunitárias e hospitalares. Infecção comunitária é aquela que já está presente ou em período de incubação no momento de entrada do paciente num hospital, desde que não esteja relacionada com uma internação anterior no mesmo hospital. Diferentemente da infecção comunitária, a infecção hospitalar é aquela adquirida dentro de um ambiente hospitalar, isto é, após a admissão do paciente e cuja manifestação ocorreu durante a internação ou após a alta, podendo ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (BRASIL, 1998). Os tratamentos das infecções comunitárias de maneira inadequada têm gerado significativa resistência bacteriana, uma vez que os antimicrobianos usados de forma empírica, sem resultados de culturas e antibiograma, podem selecionar bactérias resistentes ou induzir a expressão de um fenótipo de resistência. Quando as bactérias resistentes causarem uma infecção, os antimicrobianos que frequentemente são utilizados, não surtirão efeito e será necessário utilizar antimicrobianos cada vez mais tóxicos. Outro fator importante remete ao uso de antimicrobianos em infecções virais devido à dificuldade clínica em definir a etiologia ou de forma preventiva (BERQUÓ et al., 2004). A necessidade de uma política para estabelecer o uso racional de antimicrobianos objetiva romper o ciclo que seleciona bactérias cada vez menos sensíveis a estas drogas (TORROBA et al. 2000). As infecções comunitárias estão relacionadas ao alto índice de uso de antimicrobianos de maneira aleatória, tratamentos empíricos incorretos e a prática de abandono da terapia, o que tem contribuído para o surgimento de resistências microbianas mais elaboradas de maior espectro (BERQUÓ et al., 2004). Em 2011, a OMS (Organização Mundial de Saúde) elegeu o tema da resistência aos antimicrobianos para que todo o mundo faça uma reflexão sobre os efeitos da resistência aos antimicrobianos no tratamento das doenças infecciosas e suas consequências para a saúde mundial. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011). Este estudo teve como objetivo identificar as infecções comunitárias mais comuns e seus respectivos agentes etiológicos, ademais do perfil de sensibilidade aos antimicrobianos geralmente ministrados e dos mecanismos de resistência. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 3 METODOLOGIA Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada por meio de um estudo descritivo. Para a fundamentação do arcabouço teórico, foi feita uma revisão da literatura disponível nos últimos 10 anos sobre infecções comunitárias e seus agentes etiológicos mais comuns, ademais do perfil de resistência microbiana. Realizou-se um busca sistemática da bibliografia publicada nas bases de dados Medline e na literatura Latinoamerica e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) As palavras chaves utilizadas para busca na base de dados da Bireme, por meio dos serviços da Medline (Medical Literatura Analysis and Retrieval System), Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Lilacs foram: infecção comunitária; infecção urinária; mecanismos de resistência; infecção respiratória; agentes etiológicos. DISCUSSÃO 1. Tipos de Infecções Comunitárias 1.1 Infecções Respiratórias As infecções respiratórias estão entre as principais causas de consultas médicas, ademais de estar entre as três primeiras causas de morte entre crianças de cinco anos, motivo pelo qual é considerado um problema de saúde pública. Ganham também destaque a faringoamigdalite aguda, amigdalite e rinofaringite (ALVAREZ CASTELLO et al., 2008). Tanto o diagnóstico errado como o uso da terapia antimicrobiana em afecções respiratórias de origem viral são as principais causas que levam ao abuso da prescrição de antibióticos nas infecções do trato respiratório (BANTAR et al., 2011). A faringoamigdalite aguda apresenta diversos agentes etiológicos. Embora, a maioria seja de origem viral (Influenza A e B, Adenovírus, Rinovírus, Coronavírus, Enterovírus, dentre outros), várias bactérias (Streptococcus pyogenes, Corynebacterium diphtheriae, Yersinia enterocolitica, Arcanobacterium haemolyticum, Neisseria gonorrhoeae, Corynebacterium ulcerans, Treponema pallidum, Chlamydia pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, dentre outras) também podem ser o agente causal da Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 4 faringoamigdalite. O agente bacteriano presente em mais de 15% das faringoamigdalites é o Streptococcus pyogenes. A conduta terapêutica depende da etiologia da síndrome. Quando o agente causador é o S. pyogenes, a antibioticoterapia é indicada. A terapia de escolha para faringite estreptocócica pode ser a penicilina G benzatina, penicilina V ou a amoxicilina. Todas são efetivas contra S. pyogenes, no entanto, deve-se considerar que a amoxicilina apresenta melhor absorção, com conseqüente aumento do nível plasmático, ademais de maior aderência ao tratamento por ter uma melhor palatabilidade. Em contrapartida, a penicilina V apresenta poucos efeitos adversos e um estreito espectro de ação. A penicilina G benzatina é preferível diante da impossibilidade de se completar o período da antibioticoterapia oral (MATOS et al., 2006). Em caso de pacientes alérgicos à penicilina, a droga de escolha é a eritromicina. Estudos demonstram o aumento dos índices de resistência do S. pyogenes aos macrolídeos, motivo pelo qual tem sido condenado o uso inadequado e indiscriminado destas drogas (MATOS et al., 2006). Uma das infecções mais sérias que acometem os pacientes ambulatoriais é a pneumonia adquirida na comunidade, com índices significativos de morbi-mortalidade. Nos casos de pneumonia adquirida na comunidade em que foi realizado um diagnóstico etiológico do agente predominou o S. pneumoniae, seguido por Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis. A ampla variedade de agentes etiológicos responsáveis pela afecção dificulta o tratamento de escolha (BANTAR et al., 2011). 1.2 Infecções Urinárias A infecção do trato urinário (ITU) está entre as mais comuns doenças infecciosas diagnosticadas, perdendo em freqüência somente para as infecções respiratórias. É uma patologia frequente que ocorre em todas as idades. O alto índice de infecções do trato urinário na comunidade é, em parte, responsável pelo elevado consumo de antibióticos e consequentemente, pelo impacto sócio-econômico na saúde pública, uma vez que, na maioria das vezes, a terapia é empírica. O custo de uma terapia fracassada onera grandiosamente o sistema de saúde, pois a resistência microbiana ocasiona novas consultas, novos exames diagnósticos e nova prescrição (MACEDO et al., 2005). A ITU pode se caracterizar em infecção do trato urinário “baixo” (cistite) caracterizada por presença de bactérias na bexiga; “alto” (pielonefrite aguda) oriundo de Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 5 um processo inflamatório agudo nas estruturas renais; bacteriúria de baixa contagem reflexo de uma ITU precoce ou diluição da urina em virtude da alta ingestão de líquidos (HEILBERG; SCHOR, 2003). A ITU é frequente na infância. Em crianças maiores o quadro de uma ITU apresenta sintomas clássicos como disúria, aumento da frequencia urinária, urgência miccional, mudanças na cor e odor da urina, mas em lactentes o quadro geralmente é inespecífico, apresentando muitas vezes, apenas estado febril. O retardo no diagnóstico em lactantes aumenta o risco de lesão do parênquima renal e pode ocasionar sequelas graves (insuficiência renal, hipertensão arterial sistêmica) (LO et.al, 2010). Por isso, devem-se conhecer os agentes etiológicos destas infecções e o perfil da sensibilidade antimicrobiana para a terapia inicial, a fim de se obter um espectro adequado aos prováveis agentes e baixa toxicidade (SEIJA et.al, 2010). 1.3 Infecções Cutâneas As infecções cutâneas são bastantes presentes na comunidade e comumente relacionados à quebra da barreira de proteção da pele, deixando oportunidade para os microrganismos habituais da pele se desenvolver de forma patogênica. (GELATTI et al., 2009). O Staphylococcus aureus é uma bactéria que está intimamente relacionada às afecções cutâneas, uma vez que é frequentemente encontrada na pele de pessoas saudáveis. No entanto, a colonização assintomática é muito mais frequente que a infecção clínica. Cerca de 25 a 50% da população saudável em geral apresenta colonização por este microorganismo com alto índice entre os profissionais de saúde. (BREZZO et al.,2006). Responsável por infecções simples como espinhas e furúnculos e por infecções de maiores repercursões (pneumonias, meningites, septicemias e outras). Esta bactéria é um dos agentes etiológicos de maior significância nas infecções cutâneas comunitárias devido a sua grande capacidade de resistência aos agentes antimicrobianos e de adaptação ao ambiente (SANTOS et.al, 2007). 2. Agentes etiológicos e Perfil de sensibilidade 2.1 Agentes etiológicos relacionados às infecções respiratórias Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 6 Muitas das infecções respiratórias agudas são causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, todavia ela não é o único agente causador (VANINA et al., 2009). As faringoamigdalites podem ser de origem estreptococa ou não. Os agentes causadores podem ser: enterovírus, adenovírus, vírus influenza, dentre outros (ROSSI; COSTA, 2010). A rinofaringite tem predominantemente etiologia viral (enterovírus, influenza A, entre outros), podendo encontrar ocasionalmente agentes bacterianos nos casos de complicação. Os agentes mais importantes na rinofaringite são os rinovírus (ROSSI; COSTA, 2010). Adenoidite pode ser causada por vírus (rinovirus, coranovirus, adenovirus) ou bactérias (pneumococo, estreptococo, H.influenza) (ALVAREZ CASTELLO et al., 2008). Estudos de vigilância microbiológica de diferentes regiões, inclusive na América Latina, apresentaram uma redução na sensibilidade de cepas de S.pneumoniae à penicilina, variando entre menos de 10% e mais de 50% e à macrolídeos com índices que variam de 10 a 39%. A literatura mostra uma clara correlação entre a o amplo uso de macrolídeos e a frequência de cepas de S.pneumoniae resistentes a este fármaco (BANTAR et al.,2011). Semelhantemente aos macrolídeos, as tetraciclinas também apresentam redução no perfil de sensibilidade diante de cepas de S.pneumoniae na América Latina, com índices de resistência maiores que 20% (BANTAR et al., 2011). Haemophilus influenzae, outro agente etiológico das pneumonias comunitárias, também apresentam uma relevante resistência adquirida à aminopenicilina devido a produção de betalactamases, que provocam a hidrólise do anel beta-lactâmico, destruindo a atividade antibiótica. Este mecanismo de resistência é contornado com a associação de clavulanato ou sulbactam às citadas aminopenicilinas. O mecanismo de resistência encontrado nas cepas de Haemophilus influenzae são semelhantes às de Moraxella catarrhalis e todavia, pode se superado de igual modo (BANTAR et al.., 2011). Na América Latina, estudos microbiológicos demonstraram um crescimento nos índices de resistência de Haemophilus influenzae , chegando a 25% em alguns países. Embora o clavulanato ou sulbactam não possuam significativa ação antibiótica, mas quando associado a um antibiótico beta-lactâmico, possui a propriedade de ligar-se à enzima betalactamases, que degrada os beta-lactamicos, existente em alguns Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 7 microorganismos, estes inibidores inativam a enzima, e , consequentemente, favorecendo a ação do antibiótico beta-lactâmico (FERREIRA; RAPOPORT; SAKANO, 2006). Pneumonia adquirida na comunidade, cujo agente etiológico seja Moraxella catarrhalis, apresentam resultado satisfatório com terapias que envolvam macrolídeos, azalídeos, tetraciclinas ou fluorquinolonas, inclusive ciprofloxacino, pois estas cepas permanencem suscetíveis a estes fármacos (BANTAR et al., 2011). Os antimicrobianos mais utilizados para tratar pacientes com pneumonias adquiridas na comunidade são as penicilinas, pois apresentam o menor custo-beneficio, ademais de segurança e eficácia documentada neste tipo de infecção. Embora existam outros agentes etiológicos relacionados a esta infecção, o S.pneumoniae é o principal patógeno. Pacientes alérgicos a penicilina têm como alternativa a terapira com macrolídeos (BANTAR et al., 2011). As quinolonas são uma das opções terapêuticas nos casos de pneumonia adquirida na comunidade, pois são ativas contra as cepas de S. pneumoniae produtoras ou não de beta-lactamases. No entanto, deve-se evitar o uso de quinolonas antigas, tais como ciprofloxacino e ofloxacino como tratamento inicial da pneumonia comunitária, visto que observou-se um caso de infecção do trato respiratório inferior por uma linhagem de S. pneumoniae resistente a novas fluorquinolonas (gatifloxacino, levofloxacino e moxifloxacino) na América do Norte. Estudiosos no assunto de resistência microbiana apontou a necessidade de cautela no uso de novas quinolonas a fim de limitar a emergência de cepas resistentes (BANTAR et al., 2011). Um plasmídeo especificado QNR foi associado a diminuição da suscetibilidade às fluorquinolonas, devido a um mecanismo de proteção da DNAgirase e topoisomerase IV, da ação do fármaco. Isoladamente, o plasmídeo que confere apenas baixo nível de resistência às fluorquinolonas. Todavia, esta resistência pode ser aumentada se conjugada com outros mecanismos (ALEKSHUN; LEVY,2007). 2.2 Agentes etiológicos relacionados às infecções urinárias As infecções do trato urinário são uma das afecções mais comuns na clínica médica, sendo as bactérias Gram-negativas seu principal agente. As infecções do trato urinário apresentam um papel importante no processo de resistência bacteriana, visto que, a Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 8 escolha do antimicrobiano no início do tratamento ou para o tratamento completo geralmente é empírica. (ESMERINO; GONÇALVES; SCHELESKY, 2003). Um estudo realizado em 2003 com 402 pacientes com infecção do trato urinário adquirida na comunidade detectou que o agente mais freqüente foi a Escherichia coli, resultado semelhante a outros estudos. Nesse estudo E.coli foi responsável por mais da metade dos casos. Seguida por Klebsiella sp e Enterococcus sp (MACEDO et al., 2005). Vários estudos comprovaram a baixa sensibilidade da E. coli à ampicilina e sulfametoxazol-trimetoprim nas infecções urinárias. Por isso, estas não são drogas de escolha para a terapia inicial. O principal agente causador das infecções urinárias da comunidade, E. coli, demonstrou alta sensibilidade às cefalosporinas de segunda e terceira geração, aos aminoglicosídeos, ácido nalidíxico, nitrofurantoína e quinolonas (LO et.al, 2010). 2.3 Agentes etiológicos relacionadas às infecções cutâneas S. aureus é o agente responsável por uma grande variedade de doenças infecciosas. Embora esteja mais comumente relacionado às afecções cutâneas, também podem estar envolvidos na sepse, meningites, endocardites, pneumonias, infecções pós-cirúrgicas, bacteremias e pneumonia necrosante. Este microrganismo apresenta alta recorrência em infecções comunitárias e nosocomias, pois está presente na flora natural do ser humano. Em situações de desequilíbrio, como baixa imunidade ou rompimento da barreira da pele ele pode se tornar patogênico. Os traumas que comprometem a integridade da barreira cutânea constituem-se na principal causa de mudança de comportamento desse microrganismo para agente etiológico mais comum de infecções cutâneas (GELATTI et al., 2009). No princípio, a terapia antimicrobiana com penicilina apresentava um resultado satisfatório nas infecções causadas por S. aureus. Todavia, logo começaram a aparecer cepas multirresistentes, tornando o tratamento com este antimicrobiano ineficaz (ALEKSHUN; LEVY, 2007). A evolução da resistência aos microbianos em isolados de S. aureus tem crescido de forma preocupante. A partir da década de 40 observa-se um elevado fenômeno de resistência em cepas de S. aureus resistente a penicilinas, o primeiro antimicrobiano eficaz contra esses microrganismos. Para contornar os casos de resistência à penicilina, surge um Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 9 beta-lactâmico sintético, a meticilina. O uso indiscriminado e inadequado, também contribuiu para casos de multiresistência, em âmbito hospitalar, com ênfase a partir da década de 80. Desde o fim da década de 90 encontrou-se um significativo aumento de resistência de S. aureus resistente à meticilina na comunidade. Estas infecções têm sido relatadas em indivíduos na comunidade, fora do ambiente hospitalar, e são denominadas CA-MRSA (Staphylococcus aureus Resistente à Meticilina Associada à Comunidade) (LOPES, 2005). O fenômeno de pressão seletiva tem gerado uma crescente freqüência de isolados resistentes à meticilina na comunidade, que também são resistentes a todos os antimicrobianos beta-lactâmicos (LUNA et al., 2011). Gelatti (2009), caracterizou o fenômeno de resistência de S. aureus na comunidade, analisando o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos em isolados de CA-MRSA, que apresentou perfil de resistência a cefoxitina e oxacilina. Terapias inadequadas contra este microorganismo têm exercido uma pressão seletiva, responsável, em parte, pelo aumento de subpopulações resistentes à antimicrobianos anteriormente eficazes contra estas cepas, resultando em falhas nas terapias antimicrobianas contra este agente (TENOVER, 2006). As cepas de MRSA na comunidade têm gerado grande preocupação na saúde pública, uma vez que além de apresentarem uma tendência crescente, a terapia antimicrobiana de várias infecções comunitárias de pele e tecidos moles serem frequentemente realizadas com antimicrobianos beta-lactâmicos (CARVALHO; MAMIZUKA; GONTIJO FILHO, 2010). A incidência de MRSA na comunidade tem levado ao maior uso de glicopeptídeos ocasionado impacto sobre o custo das terapias e geração de resistência também a esta classe de antimicrobianos. A ocorrência de casos de S.aureus com sensibilidade intermediária aos glicopeptídeos (GISA) é conseqüência da pressão seletiva advinda do uso indiscriminado e inadequado de antimicrobianos (BREZZO et al., 2006). 3. Origem da resistência bacteriana Os antimicrobianos são classificados segundo seu principal mecanismo de ação. Estes fármacos atuam através da inibição de processos essenciais a sobrevivência e replicação da célula bacteriana. Estes processos podem alterar a permeabilidade da Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 10 membrana citoplasmática, gerando a ruptura da estrutura bacteriana como as polimixinas; interferir na síntese de parede celular, como os beta-lactâmicos; interromper a de síntese protéica como os macrolídeos e tetraciclinas; interferir na síntese de ácidos nucléicos como os fluorquinolonas, ou ainda inibir vias metabólicas como trimetroprima-sulfametoxazol (TENOVER, 2006). Algumas bactérias possuem uma grande capacidade de resistência a diversos fármacos antimicrobianos. Essa resistência pode ser natural, também chamada de intrínseca em função da presença de genes de resistência presentes no cromossomo original dos microrganismos. Logo, esta característica faz parte de sua herança genética, sendo transmitida verticalmente aos descendentes. Uma bactéria pode ser intrinsecamente resistente a mais de uma classe de agente antimicrobianos A resistência adquirida surge através de mutações, recombinações genéticas ou aquisição de genes de resistência de outros organismos. (TENOVER, 2006). Neste quesito, os plasmídeos são elementos importantes, uma vez que podem se inserir no cromossomo bacteriano trazendo novos genes de resistência. (GARCIA, 2011). A resistência adquirida ocorre quando há o aparecimento de resistência em uma espécie bacteriana anteriormente sensível à droga, resultante da mutação de genes, rearranjos de segmentos de DNA (ácido desoxirribonucléico) através de inversões, duplicações, inserções ou transposições de um sítio a outro do cromossomo bacteriano, aquisição de genes de resistência veiculados por plasmídeos ou transposons (MARTIN, 2002). Plasmídeos contém genes de resistência e muitas outras características, eles podem se replicar independentemente do cromossomo do hospedeiro e são diferenciados segundo sua origem de replicação. Os transposons são elementos genéticos móveis (ALEKSHUN; LEVY, 2007). A aquisição de genes pode capacitar o microrganismo a produzir enzimas que degradam os antimicrobianos; expressar bombas de efluxo a fim de diminuir a concentração intracelular de drogas, modificar os alvos de ação ou desenvolver vias metabólicas alternativas que ignorem a ação da droga (TENOVER, 2006). O fenômeno de resistência possui diversas causas e é o responsável por gerar linhagens capazes de se multiplicarem mesmo na presença de concentrações maiores que aquelas utilizadas em doses terapêuticas. Existem diversos fatores que favorecem a resistência bacteriana: fatores relacionados ao fármaco, ao paciente e ao microorganismo. A dose utilizada, a via de administração e a duração da terapia estão intrinsecamente Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 11 relacionadas ao fenômeno da resistência, seja desenvolvendo ou selecionando este processo. A procedência do paciente (ambulatorial ou hospitalar), localização da infecção, idade e tipo de microorganismos também são fatores que devem ser considerados, ademais da origem do fenômeno, isto é, se intrínseca ou adquirida (GARCIA, 2011). Os indicadores mostram que o nível de resistência do Streptococcus pneumoniae, o principal agente etiológico das infecções aéreas, aumentou mais de 10% em relação aos derivados penicilínicos (DEL FIOL et al., 2010). O fracasso da terapia antimicrobiana, o aumento da morbi-mortalidade e os elevados custos dos tratamentos são conseqüências do fenômeno de resistência (GARCIA, 2011). 4. Mecanismos de Resistência Existem vários mecanismos pelos quais os microrganismos impedem a ação dos antimicrobianos. Dentre estes, cita-se: 4.1 Produção de Betalactamases O mecanismo de resistência mais freqüente das bactérias aos beta-lactâmicos, ocorre com a produção de betalactamases. Estas enzimas são responsáveis pela hidrólise dos anéis beta-lactâmicos que por sua vez são essenciais para sua atividade antibacteriana. A produção destas enzimas pode dar-se por plasmídeos ou por origem cromossomal (MARTIN, 2002). Em algumas espécies de bactérias destaca-se a produção de Betalactamases de Espectro Estendido (ESBL). Trata-se de uma potente enzima mediada por genes localizados em plasmídeos, e, portanto, facilmente transmitidos a outro organismo (MACEDO et al., 2005). Modificações em um aminoácido destas enzimas produzem uma mudança no ponto isoelétrico gerando betalactamases de espectro estendido capazes de hidrolisar mesmo as cefalosporinas de terceira geração e aztreonam. A presença de betalactamases de espectro estendido confere resistência a todos beta-lactâmicos, embora sejam suscetíveis in vitro (GARCIA, 2011). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 12 4.2 Modificação do alvo Mudanças estruturais nas Proteínas Ligadoras de Penicilina (PBPs) são um tipo de mecanismo de resistência ocasionado por modificação do alvo. Neste mecanismo, as bactérias tornam-se resistentes através de substituições de aminoácidos nas PBPs tornandoas menos susceptível a ligação com o agente antimicrobiano. A modificação dos aminoácidos pode ocorrer por aquisição de novas PBPs; presença de proteínas provenientes da recombinação entre genes codificadores de PBPs associadas a expressão de susceptibilidade ou devido a hiperprodução da proteína, gerando aumento do nível de resistência aos antibióticos beta-lactâmicos (MARTIN, 2002). A resistência à meticilina foi relacionada à aquisição de um gene para proteínas ligadoras de penicilina alteradas. A PBP alterada foi chamada de PBP2a e é especificada pelo mecA e transportado por um elemento genético móvel (ALEKSHUN; LEVY, 2007). As cepas de S. aureus resistentes à meticilina, atuam através da produção de uma proteína de parede celular adicional (PBP2a) a qual assume as funções das demais proteínas de parede quando estas são bloqueadas por beta-lactâmicos, permitindo a sobrevivência do microrganismo em concentrações de antibióticos que na ausência da referida PBP2a adicional seriam letais para o S. aureus (TORROBA et al., 2000). Os mecanismos de resistências encontrados em S. aureus resistente à meticilina na comunidade apresentam características moleculares intrínsecas, tais como a presença de genes que codificam fatores de virulência. As infecções comunitárias causadas por estas cepas estão associadas à presença da toxina leucocidina Panton-Valentine, conhecida como PVL. Esta toxina causa uma resposta inflamatória no hospedeiro através da destruição de células de defesa (GÓMEZ et al., 2009). 4.3 Aumento do efluxo ou redução do influxo por uma bomba protéica de transporte ativo A bomba de efluxo é um mecanismo de resistência que atua através da diminuição da concentração do antimicrobiano no interior da célula bacteriana. A proteína da bomba é codificada por um plasmídeo e pode ser transmitida por transdução ou conjugação (MARTIN, 2002). Este é o mecanismo pelo qual cepas de E.coli apresentam resistência às tetraciclinas. 5. Importância do controle Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 13 Observa-se que o uso irracional e indiscriminado de antibióticos tem proporcionado o aumento da resistênia bacteriana gerando um problema de saúde pública. Os antibióticos fazem parte dos grupo de medicamentos utilizados com maior frequência de maneira inadequada, além de serem os medicamentos mais utilizados na prática clínica (MACHADO-ALBA; GONZALEZ-SANTOS, 2009). Até outubro do ano passado, mais precisamente 28 de outubro de 2010 a população brasileira tinha livre acesso ao uso de antibióticos em virtude da ausência de leis que regulassem a venda com prescrição. (MACHADO-ALBA; GONZALEZ-SANTOS, 2009). Diante dos altos índices de resistências bacterianas graves e da dificuldade em manter controle da disseminação dos mecanismos de resistência, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu por meio da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44 regular a venda de antimicrobianos a fim de diminuir a automedicação e a dispensação sem prescrição médica. A experiência internacional revela que um conjunto de medidas de promoção e prevenção da saúde podem alcançar um dimuição significativa de infecções resistentes e suas complicações, principalmente nos grupos de riscos, tais como crianças, idosos, imunodeprimidos (ALVAREZ CASTELLO et al., 2008). A regulação da venda de agentes antimicrobianos é reconhecida como uma importante medida para evitar o uso e abusos destes medicamentos (GARCIA, 2011). Dados apontam que, no Brasil, o consumo “por conta própria” de antibióticos é um grande entrave para deter o avanço das resistências microbianas. Grande parte do problema reside ainda na dificuldade do acesso da população brasileira aos serviços de saúde, seja público ou privado (BRASIL, 2004). Dados da Anvisa informam que os antibióticos representam mais do total das vendas de medicamentos nas farmácias em todo o Brasil em um mercado que movimentou no ano de 2010 cerca de 36 bilhões de reais e coloca-se entre os oito maiores mercados do mundo em faturamento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011). O conhecimento da etiologia, patogenia e evolução é fundamental para poder formular um diagnóstico correto que permita também um tratamento coerente (ALVAREZ CASTELLO et al., 2008). As informações a respeito da segurança e eficácia dos fármacos associados ao conhecimento dos ponteciais patógenos regionais e aos índices de resistência bacteriana Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 14 são fundamentais para a seleção do antimicrobiano empírico inicial (BANTAR et al., 2011). Segundo Ladd (2005), citado por Del Fiol et al., (2010) cerca de 55% das infecções de etiologia viral são utilizados antibióticos como profilaxia e terapêutica. O manejo inadequado de antimicrobianos tem ocasionado índices alarmantes de resistência bacteriana. A fim de se obter sucesso na terapia antimicrobiana deve-se fazer o diagnóstico adequado e eleger um esquema posológico e tempo de terapêutica que alcance resultados satisfatórios. Além de considerar o perfil de sensibilidade do agente etiológico para a escolha do fármaco. Diante das infecções que acometiam a sociedade as empresas farmacêuticas esforçaram-se para identificar novas drogas antimicrobianas cada vez mais eficazes e de espectro ampliado. O sucesso fora alcançado, todavia, todo esse trabalho está sendo comprometido com os diversos mecanismos que os microrganismo encontraram para burlar as ações dos antimicrobianos, comprometendo os esquemas terapêuticos disponíveis (ALEKSHUN; LEVY, 2007). Multirresistência é um problema mundial que não obedece aos limites fronteiriços internacionais e que pode afetar de maneira indiscriminada todas as classes socioeconômicas. Por isso, para enfrentar esse problema crítico deve se conscientizar sobre a pressão seletiva que o uso indiscriminado e irracional de antimicrobianos exerce sobre a genética microbiana. Além de obter consideração pela descoberta de novos agentes necessários para curar doenças infecciosas (ALEKSHUN; LEVY, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância dos programas de controle é gerar o uso racional de antibióticos, visto que a resistência é inevitável com o uso irracional. A implementação de tratamentos antibióticos e a falta de adequação ao esquema geram a emergência de patógenos multirresistentes. O uso adequado de antibióticos é uma das melhores estratégias para reduzir a pressão de seleção de cepas multirresitentes. A resistência microbiana constitui um problema mundial visto que, tem aumentado de forma incontrolável devido o mau uso desses agentes. A velocidade de descoberta de novas drogas antimicrobianas fica muito aquém da velocidade do surgimento de resistência, pois Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 15 os antibióticos além de fazerem parte dos medicamentos mais utilizados também estão incluídos entre os mais frequentemente empregados de maneira inadequada. Cabe aos profissionais de saúde e usuários respeitar os critérios impostos pelos órgãos sanitários reguladores, de modo a garantir que as próximas gerações de seres humanos não sofram as consequências de mais doenças infecciosas letais por falta de terapia eficaz em virtude da má utilização de antimicrobianos nos dias de hoje. REFERÊNCIAS ALEKSHUN, M. N.; LEVY, S. B. Molecular Mechanisms of Antibacterial Multidrug Resistance. 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