FILOSOFIA Qual o atual papel da filosofia? FILOSOFIA Eliza Kobayashi A palavra filosofia vem do grego "filos" (amor ou amigo) e "sofia" (conhecimento, sabedoria, verdade), e é geralmente traduzida como "amigo da sabedoria" ou "amor ao conhecimento". Ela nasceu na Grécia Antiga no século 6 a.C., como um meio de buscar conhecimentos diferentes daqueles apresentados pela mitologia, num tempo onde a religião explicava desde os fenômenos da natureza até os fatos do cotidiano. "O mundo era Aristóteles, um dos principais filósofos interpretado pela mitologia, por da Grécia Antiga, era médico, biólogo, matemático e astrônomo isso existiam deuses para tudo. A Foto: Bettmann/Corbis /Stock Photos resposta para as coisas eram sempre 'porque deus quis'. Chegou um momento, no entanto, em que o mito não dava mais conta de explicar tantas novidades", diz o professor Marcelo Bueno, coordenador do curso de Graduação em Filosofia do Centro de Ciências e Humanidades da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ele explica que a grande procura dos primeiros filósofos era a busca da verdade de modo racional. Antes do aparecimento da ciência como a temos hoje, a filosofia foi a única forma de conhecimento no mundo durante muitos séculos. Os filósofos tratavam o conhecimento de forma geral e explicavam um pouco sobre tudo. "Aristóteles, por exemplo, era filósofo, médico, biólogo, matemático e astrônomo", cita o professor. Foi a partir de Galileu Galilei, no século 17, que a filosofia começou a se fragmentar. "Galileu percebeu que, especializando-se em uma parte do conhecimento, aproximava-se mais da verdade, e que a ideia de estudar um pouco de tudo fazia com que nos afastássemos dela, porque não se tinha a essência nem a profundidade de nada", conta Marcelo. Assim, o conhecimento passou a ser fragmentado, e as pessoas se tornaram especialistas em partes dele. "No mundo contemporâneo, esse pensamento ainda é muito presente, a ponto de alguém dizer que tal coisa ser provada cientificamente significa que é verdade". E a filosofia, como ficou? "Ela continua tratando o conhecimento como um todo", responde Marcelo Bueno. "Hoje, a ciência faz bem o seu papel de buscar avanços na tecnologia e nas nossas vidas, trazendo conforto e cura de doenças. O mundo avançou graças a ela, isso é inegável. O grande problema é que temos pessoas cada vez mais especialistas, mas que ficam de fora do conhecimento geral, ou seja, alienadas". Como exemplo, ele cita a criação das armas nucleares ou as descobertas genéticas sobre a clonagem. "Se isso vai ser usado em benefício ou não do homem já não é mais um problema da física, da química ou da medicina. É da ética, da filosofia. Ou seja, a ciência faz o papel da melhoria da qualidade de vida e do mundo, mas a consequência que isso traz ao homem é uma questão filosófica", explica. Por isso, hoje não temos mais a figura do filósofo que faz descobertas e traz novas teorias, como antigamente. "São muito poucos. Surgir grandes filósofos é difícil, porque no mundo contemporâneo já está tudo meio que pronto, e vamos apenas melhorando, aperfeiçoando", diz Marcelo. "O que temos são grandes comentadores e professores de filosofia, que têm hoje a função de criticar as consquências que a ciência produz", finaliza. Endereço da página: https://novaescola.org.br/conteudo/1619/qual-o-atual-papel-da-filosofia Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Julho de 2009