I See Brazil

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ABr
Wilson Dias/ABr
Rafael Ribeiro/CBF
Marcos Fernandes
Edição no 03 | 3o trimestre de 2014
• The New York Times (EUA); e
O I See Brazil é produzido pela agência de comunicação Imagem Corporativa com a finalidade de mostrar como está a percepção do Brasil em outros países,
reunindo e analisando referências à política, economia e assuntos socioambientais. Os resultados são
ponderados e resultam em uma nota de zero a dez
– o I See Brazil Index – que traduz como o país foi
visto no exterior naquele trimestre. Sua metodologia
leva em conta a avaliação dos principais veículos da
imprensa internacional e de uma equipe de especialistas de outros países.
• The Wall Street Journal (EUA).
Além disso, o boletim traz os resultados de uma pesquisa feita com especialistas internacionais que opinaram sobre a imagem do país. Participaram desta edição
Maria da Conceição Coelho-Ferreira, da Universidade
de Lyon 2 (França); Markus Fraundorfer, do Institute
of Latin American Studies - German Institute of Global
and Area Studies – Giga (Alemanha); Matthew Flynn e
Paloma Diaz, da Texas University (EUA); Roberto Durán,
do Instituto de Ciência Política da Pontificia Universidad Católica de Chile (Chile); Stephanie Dennison, da
Leeds University (Reino Unido); e Zhou Zhiwei, do
Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América
Latina, Academia Chinesa de Ciências Sociais (China).
O I See Brazil analisa as reportagens sobre o Brasil,
publicadas entre julho e setembro de 2014, por oito
veículos internacionais de imprensa:
• Clarín (Argentina);
Foram considerados ainda relatórios e análises sobre
o Brasil elaboradas pelos bancos Deutsche Bank e
BBVA; pelo Boston Consulting Group (BCG); pelo Fundo Monetário Internacional (FMI); pelo Fórum Econômico Mundial; pelo Center of Strategic and International Studies (CSIS); e pela agência classificadora de
risco Moody’s.
• Der Spiegel (Alemanha);
• El País (Espanha);
• Financial Times (Reino Unido);
• Le Monde (França);
• The Economist (Reino Unido);
1
PANORAMA
No terceiro trimestre de 2014, o I See Brazil Index, metodologia do I See Brazil que pondera as avaliações da
imprensa e dos especialistas internacionais, e atribui uma nota à perceção do país no exterior, atingiu o maior
nível do ano: 5,002 entre julho e setembro de 2014, em uma escala de zero a dez pontos (0 = extremamente
negativa; 10 = extremamente positiva), na qual os resultados acima de 5 são considerados positivos.
Este resultado representa uma alta de 1,366 ponto na comparação com o 2º trimestre do ano, quando o
I See Brazil Index foi de 3,63. Ele indica que, ao lado do aumento no número de textos abordando o país
por conta da Copa do Mundo e das eleições (houve uma expansão de 84,45% na base de reportagens entre
um trimestre e outro, que saltou para 546 textos), a percepção externa apresentou considerável melhora,
deslocando ligeiramente o índice para o campo positivo.
A melhoria na percepção em torno do país
se deve ao interesse gerado por uma série de
temas no período. Em primeiro lugar, houve a
conclusão da Copa do Mundo de Futebol – os
temores de que poderiam acontecer sérias falhas
na organização do evento e na recepção das
delegações de atletas e de torcedores de outros
países se mostraram infundados, e a própria
dinâmica da competição garantiu forte exposição
do Brasil no exterior. E a derrota do país diante da
Alemanha nas semifinais motivou análises sobre
o possível impacto do resultado esportivo no
campo político.
“
NO BRASIL, O PIB SE CONTRAIU NA
PRIMEIRA METADE DO ANO, REFLETINDO
FRACOS INVESTIMENTOS E MODERAÇÃO
NO CONSUMO, DADAS AS CONDIÇÕES
FINANCEIRAS MAIS RESTRITIVAS E A
CONTÍNUA DEBILIDADE NA CONFIANÇA
NOS NEGÓCIOS E DOS CONSUMIDORES.
ESTES FATORES, ASSIM COMO A FRACA
COMPETITIVIDADE, DEVERÃO CONTINUAR
A LIMITAR O CRESCIMENTO EM 2014-2015.
FMI, WORLD ECONOMIC OUTLOOK, 7 DE OUTUBRO DE 2014
2
A imprensa internacional notou a maturidade do “país de futebol” – no qual um jogo da Seleção Brasileira
não é mais vista como sendo a coisa mais importante. Prova disso é que, no dia seguinte à derrota, o país foi
em frente, e a vida continuou – sem protestos ou manifestações exageradas em razão do resultado. O The
Wall Street Journal sintetizou bem a situação: “Adivinhe o que aconteceu no Brasil na quarta-feira? O sol
nasceu. As pessoas foram trabalhar. Elas dirigiram táxis, abriram mercearias, clicaram em seus computadores
para lidar com questões financeiras e legais. Médicos curaram os doentes. A vida prosseguiu. Adivinhe o que
não aconteceu? As cidades não queimaram. Protestos de massa não irromperam. E aparentemente nenhum
torcedor de futebol se atirou do alto de algum edifício porque sua amada Seleção perdeu de 7 a 1 para
a Alemanha.”
Reprodução/BBC
Gov. Pernambuco
A campanha eleitoral para as eleições presidenciais se mostrou dramática. De um cenário relativamente
previsível em julho, quando se esperava a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) sem maiores percalços,
a disputa mudou completamente em 13 de agosto, quando o avião que transportava o candidato Eduardo
Campos (PSB) sofreu um acidente em Santos (SP). A partir daí, os olhos do mundo acompanharam de perto a
trajetória de Marina Silva (PSB), originalmente vice na chapa de Campos e, após a tragédia, alçada à condição
de postulante ao Planalto.
Morte de Eduardo Campos alterou cenário eleitoral
A deterioração dos indicadores da
economia brasileira, o interesse de
empresas internacionais em torno do setor
de telefonia móvel e questões ligadas ao
meio ambiente também contribuíram para
elevar a exposição do Brasil no exterior.
Em um momento de pessimismo na economia
brasileira, há muitas empresas que continuam
registrando lucros, sobretudo nos setores
bancário e varejista.
EL PAÍS, 8 DE AGOSTO DE 2014
INDEPENDENTE DO RESULTADOS DAS ELEIÇÕES GERAIS, ACREDITAMOS QUE
2015 SERÁ UM ANO DE CORREÇÕES, MARCADO PELO REAJUSTE DOS PREÇOS
CONTROLADOS E UM TOM MAIS RESTRITIVO NA POLÍTICA ECONÔMICA.
BBVA, BRAZIL ECONOMIC OUTLOOK, 5 DE AGOSTO DE 2014
3
Fernando Frazão/ABr
Rafael Ribeiro/CBF
Fernando Frazão/ABr
FIM DE FESTA
Assim como já havia sido observado no final
do segundo semestre deste ano, o aumento
da exposição do Brasil em razão da realização
da Copa do Mundo de Futebol deu projeção
internacional a problemas como a violência das
grandes cidades ou as desigualdades sociais.
Mesmo assim, houve uma percepção melhor
com relação a temas socioambientais do que
no segundo trimestre – a nota final passou de
2,27 para 3,8 pontos. Em termos quantitativos,
houve uma queda considerável na participação
dos assuntos socioambientais na pauta dos
veículos pesquisados – de 43,58% para apenas
10,99% das reportagens.
Os olhos do mundo se voltaram ao Brasil durante a Copa
O Brasil ganhou “sua” Copa do
Mundo. A competição transcorreu sem
problemas. Os estádios ficaram prontos
a tempo, os transportes coletivos e a
segurança funcionaram. Não houveram
greves ou distúrbios, contrariamente
ao que anunciavam alguns pessimistas.
A hospitalidade do Brasil fez o resto.
LE MONDE, 14 DE JULHO DE 2014
Nos veículos de imprensa consultados, houve a
predominância de um olhar mais pessimista sobre a Copa
do Mundo, com 21 reportagens positivas e 39 negativas.
Questões como o racismo no futebol, a queda de um
viaduto em Belo Horizonte (uma das “obras da Copa”), o
turismo sexual e a violência em Fortaleza (CE) pontuaram
essa visão mais crítica. Já a opinião dos especialistas
se mostrou mais equilibrada, com 4 e 3 avaliações
positivas e negativas, respectivamente. Ao lembrar que as
emissões de gás carbônico durante a Copa equivaleriam
ao dobro do que foi registrado na África do Sul em 2010
(totalizando 2,72 milhões de toneladas de CO2), o jornal
espanhol El País ressaltou o desenho ecológico dos
novos estádios, que incluiu tecnologias para aproveitar a
água das chuvas e a luz solar.
4
“Quando o árbitro apitar o final do jogo
de domingo entre Alemanha e Argentina
e surgir um novo campeão mundial de
futebol, começa a contagem regressiva
para outro grande torneio esportivo: os
Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
Estará o Brasil, um dos 17 países com maior
biodiversidade, preparado para um novo
impacto ambiental?”, indaga o texto, redigido
pela produtora online do Banco Mundial
Mary Stokes para o jornal espanhol.
[As razões das manifestações populares]
foram suprimidas por um mês pelo
entusiasmo irracional em torno da Seleção
Brasileira. Em um país onde a política nunca
está distante do futebol, a insatisfação
popular ressurgiu após o apito final.
E a derrota, de alguma forma, deu um tom
agourento à campanha eleitoral.
LE MONDE, 9 DE JULHO DE 2014
Ao contrário da visão pessimista corrente antes da realização do evento, houve uma melhora considerável
na percepção externa do país – que conseguiu realizar a Copa do Mundo sem maiores problemas para
os torcedores que vieram ao Brasil assistir aos jogos. “Todos sempre esperam o pior de grandes eventos
esportivos antes de seu início, e esta Copa do Mundo não foi diferente (...) A realidade raramente se
iguala às preocupações”, salientou o The New York Times. “Contrariamente a algumas previsões, o evento
transcorreu suavemente, sem greves nos transportes ou protestos significativos”, concordou a revista
britânica The Economist.
“
SE AS INTERAÇÕES ENTRE BRASILEIROS E OS TORCEDORES ESTRANGEIROS
TÊM SIDO GERALMENTE CORDIAIS, AS FORÇAS DE SEGURANÇAS REPRIMIRAM
VIOLENTAMENTE ALGUNS VISITANTES FESTIVOS, COM A POLÍCIA DO RIO DE
JANEIRO E DE SÃO PAULO USANDO SPRAY DE PIMENTA E BOMBAS DE FUMAÇA
PARA DISPERSAR MULTIDÕES DE ARGENTINOS.
THE NEW YORK TIMES, 4 DE JULHO DE 2014
O Brasil precisava de tanto - melhor
infraestrutura, educação, saúde,
oportunidades para o avanço
econômico. Como a realização de
um torneio de futebol durante um
mês seria uma despesa acertada?
THE WALL STREET JOURNAL,
18 DE JULHO DE 2014
A persistente imagem do Brasil como um país violento
pode não ter se confirmado durante a Copa do Mundo,
mas foi renovada poucos dias após o evento, quando a
polícia militar do Rio de Janeiro invadiu o Complexo
do Alemão em retaliação a ataques de traficantes.
“Imperava um virtual ‘toque de recolher’; à tarde as
escolas públicas permaneceram fechadas, o que afetou
7 mil alunos. O comércio não abriu suas portas, e
continuava fora de serviço o bondinho que transporta
12 mil passageiros por dia até o alto do morro”, noticiou
o Clarín.
A introdução de questões ambientais no debate eleitoral colaborou para colocar o tema sob um prisma
positivo. “A sustentabilidade foi discutida no debate presidencial”, ponderou o professor Zhou Zhiwei, do
Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América Latina, da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Ele
também destacou o fato de a candidata Marina Silva, inicialmente bem posicionada para disputar as eleições,
ser associada à defesa de causas ambientais.
Outro ponto que colaborou para a imagem do país em temas socioambientais foi a notícia de que o país
tinha saído mapa da fome e da miséria no mundo, elaborado pela Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) e divulgado em setembro. De acordo com o documento, em 11 anos o
número de pessoas em situação subalimentar no país caiu de 19 milhões para 3,4 milhões. “Foi um fato
positivo, mas a maior parte da imprensa [no Reino Unido], incluindo tablóides como o The Daily Mail,
preferiram dar espaço ao fato de o Brasil ter se recusado a assinar o acordo de desflorestamento da ONU”,
opina Stephanie Dennison, da Leeds University.
5
O professor Roberto Durán, da Pontificia Universidad Católica
(Chile), lembra que as ações do Brasil nesse campo sempre
ganham atenção no exterior. “Sempre persistiu a imagem
de que o que o Brasil faça ou deixe de fazer a favor do meio
ambiente repercute internacionalmente. É possível que se trate
apenas de uma imagem, mas é real”.
“
Ministério do Turismo
De fato, em setembro o Brasil
decidiu não endossar a declaração
de EUA, Canadá e União Europeia,
na qual se previa a redução do
desmatamento pela metade até
2020, e sua eliminação até 2030. Na
ocasião, a ministra Izabella Teixeira
(Meio Ambiente) afirmou que o
país não havia sido consultado
sobre o assunto. Desta forma, ficou
a percepção de que o governo
brasileiro se opôs a uma iniciativa
positiva. “Fala-se [na França] com
certa decepção sobre a recusa
de investimento do Brasil no
acordo lançado pela ONU contra
o desflorestamento. Outra crítica refere-se aos organismos
geneticamente modificados (eucaliptos e mosquitos
transgênicos)”, afirma Maria da Conceição Coelho-Ferreira, da
Universidade de Lyon 2.
Meio ambiente afeta percepção no exterior
DESDE A INSTALAÇÃO DAS
UNIDADES DE POLÍCIA
PACIFICADORA EM
DIFERENTES FAVELAS [DO
RIO DE JANEIRO], OS ÍNDICES
DE CRIMINALIDADE CAÍRAM
SIGNIFICATIVAMENTE.
CLARÍN, 23 DE JULHO DE 2014
COM O CRESCIMENTO SE TORNANDO RECESSÃO NA PRIMEIRA METADE DO ANO,
OS ECONOMISTAS ESTÃO PREOCUPADOS SOBRE O QUE PODE ACONTECER EM UM
SEGUNDO MANDATO DA PRESIDENTE ROUSSEFF.
FINANCIAL TIMES, 24 DE SETEMBRO DE 2014
6
O FATOR MARINA
Com um perfil que combinava sua origem humilde, a atuação na preservação do meio-ambiente e a
anunciada encarnação do “espírito de mudanças” dos brasileiros, demonstrado nas manifestações populares
de junho de 2013, a candidata à Presidência Marina Silva chamou bastante a atenção internacional. Seu nome
já começara a circular quando foi noticiado o acidente que vitimou seu companheiro de chapa, Eduardo
Campos; e a publicação de reportagens especiais sobre a ex-senadora acabou se intensificando quando, a
partir do final de setembro, as pesquisas de opinião começaram a indicar que a candidata tinha chances reais
de vencer a eleição.
Igo Estrela
Coligação Unidos pelo Brasil
Ichiro Guerra
Disputa à Presidência foi a mais acirrada desde 1989
Esse viés mais simpático da cobertura internacional em torno de uma
das candidaturas, assim como a incorporação de um tom favorável
com relação à reunião de cúpula do grupo Brics (leia mais adiante),
fizeram com que o I See Brazil Index apresentasse, com relação aos
temas ligados à política, uma pequena melhora entre o segundo e o
terceiro trimestres – passando de 5,027 para 5,88 pontos. Com isso, o
tema se mantém no campo positivo.
“
DESCREVER AS SEMANAS
FINAIS DA CAMPANHA
PRESIDENCIAL DO BRASIL
COMO DRAMÁTICAS
SERIA POUCO.
THE ECONOMIST,
27 DE SETEMBRO DE 2014
O QUE FAZ ESTA ELEIÇÃO MAIS EXTRAORDINÁRIA NESTE PAÍS CONSERVADOR É
QUE A OUTRA CANDIDATA É, ASSIM COMO A PRESIDENTE, UMA MULHER.
FINANCIAL TIMES, 22 DE SETEMBRO DE 2014
Reprodução
Na imprensa foram encontradas mais
reportagens positivas (113) do que
negativas (95); o mesmo ocorreu quanto
à opinião dos especialistas, que registrou
5 e 2 avaliações positivas e negativas com
relação ao tema, respectivamente.
“Sempre é uma boa notícia corroborar
que o Brasil está entre os países
plenamente reconhecidos em sua
consolidação democrática”, opinou o
professor Roberto Durán, da Pontifícia
Universidad Católica (Chile). Além de
Marina Silva, a candidatura oposicionista de Aécio Neves (PSDB) também foi vista de forma
favorável – o Financial Times chegou a publicar uma entrevista com o assessor econômico
do candidato (o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga) e ponderar que ele ajudaria a
“desalojar” a presidente Dilma Rousseff do Planalto.
7
Um dia antes da morte de Eduardo Campos, o francês Le Monde avaliava que “o social-democrata Aécio
Neves” seria o “principal adversário de Dilma Rousseff” na disputa presidencial. “Ainda que a propaganda do
PT acuse o PSDB de se aliar com a direita – exatamente como a coligação governamental de Lula e Dilma
Rousseff – o sr. Neves escolheu como companheiro de chapa o senador Aloysio Neves (PSDB). Sob a ditadura
militar, ele se mobilizou na organização de Carlos Marighella, antigo dirigente comunista que se tornou um
teórico da guerrilha urbana”, analisou o jornal.
Ainda que outros países latino-americanos tenham também registrado taxas
de crescimento declinantes, a desaceleração do Brasil foi mais pronunciada e
prolongada. Dada a ausência de sinais de recuperação, a Moody’s acredita que a
próxima administração do Brasil irá encarar condições econômicas deprimidas.
8
Reprodução
Essa visão otimista com
relação às eleições no
Brasil não impediu que a
percepção externa diante
de temas relacionados
à política no Brasil
incorporasse também
avaliações negativas,
tanto da imprensa
quanto dos especialistas
internacionais. Elas
derivaram principalmente
do jogo de vale-tudo
eleitoral; do baixo
nível do debate entre
os candidatos; e das
denúncias de corrupção na Petrobras, feitas por seu ex-diretor
Paulo Roberto Costa. Ao El País, por exemplo, não passou
desapercebida a persistência de clãs familiares na política
brasileira, enquanto o Clarín reportou a admissão, por parte do
Exército brasileiro, da prática de torturas a opositores durante a
ditadura militar (1964-1985).
Reprodução
MOODY’S, GLOBAL CREDIT RESEARCH, 9 DE SETEMBRO DE 2014
José Cruz/ABr
BRETTON WOODS DOS EMERGENTES
Reunião do Brics atraiu atenção para o Brasil
A realização da sexta reunião de cúpula do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em
Fortaleza (CE) ajudou a manter o país em evidência – especialmente em razão do fato de que o evento
se deu logo após o encerramento da Copa do Mundo de Futebol. Chamou bastante a atenção como algo
positivo o fato de a reunião não ter se limitado às habituais platitudes diplomáticas, mas ter apresentado
duas propostas para alterar a estrutura de financiamento internacional: a criação do Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD) e do Acordo Contingente de Reserva (CRA, na sigla em inglês), para socorrem
países em dificuldades. Contudo, não passou despercebido o fato de que o Brasil não conseguiu nem sediar
o NBD (que ficará em Xangai, na China) e nem apontar o primeiro presidente da instituição (cargo para o
qual será escolhido um representante da Índia).
A percepção externa foi a de que o estabelecimento destas instituições representaria uma alternativa ao
sistema de financiamento internacional, criado em 1944 em Bretton Woods (EUA), que tem no Banco
Mundial (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, ou Bird) e no Fundo Monetário
Internacional (FMI) seus principais expoentes. Algumas análises viram nisso um instrumento para o
predomínio da China na economia mundial, enquanto outras
destacaram as assimetrias entre os Brics.
“A ambição dos Brics surgiu quando eles – à exceção da Rússia –
vivenciaram a crise financeira de 2008 melhor que os EUA ou a
Europa. Hoje, seu desempenho é menos impactante, ainda que
seu potencial de crescimento ainda seja melhor que nos países
no norte”, analisou o Le Monde. A revista The Economist foi
além: “A questão para o Brasil, e para a América Latina de forma
mais geral, é se um conjunto de amizades superficiais, no lugar
de parcerias mais seletivas e profundas, irá ajudar ou deter sua
ascensão”. Em outra reportagem, a publicação lembrou que
levou décadas até que o sistema de Bretton Woods resolvesse
seus problemas, ainda que de forma insatisfatória.
9
O Brasil evita institucionalizar
suas relações [comerciais] que
tenham potencial de limitar as
opções de política doméstica.
Em lugar de firmar acordos
bilaterais de livre comércio, o
país atua dentro das limitações
do Mercosul e da OMC.
CSIS, BRAZIL’S ECONOMIC IDENTITY:
MOTIVATIONS AND EXPECTATIONS,
16 DE JULHO DE 2014
SINAL AMARELO NA ECONOMIA
O terceiro trimestre assistiu à divulgação de indicadores que tornaram mais clara a situação vulnerável da
economia brasileira – como a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), revista pelo governo
federal para 0,7% em 2014. Além disso, a alta da inflação, a deterioração das contas governamentais e a
decisão da agência classificadora Moody’s de revisar a nota do Brasil contribuíram para tornar a visão externa
sobre a economia brasileira mais crítica.
A nota da percepção da economia brasileira no exterior
caiu 0,655 ponto entre o segundo e o terceiro trimestre,
atingindo 3,996 pontos – resultado situado na área
negativa do I See Brazil Index. Apesar de o noticiário
ter se mostrado praticamente equilibrado, com 142
reportagens positivas e 136 negativas, apenas um dos
sete especialistas consultados manifestou uma visão
favorável à economia brasileira entre julho e setembro.
“
UM DIA APÓS ASSINALAR QUE NÃO
PRETENDIA CORTAR AS TAXAS DE
JUROS NO CURTO PRAZO, O BANCO
CENTRAL ANUNCIOU UMA SÉRIE
DE MEDIDAS COM O OBJETIVO DE
DESOBSTRUIR O CRÉDITO.
DEUTSCHE BANK, BRAZIL DAILY UPDATE,
25 DE JULHO DE 2014
A tônica predominante foi a de deterioração dos indicadores
econômicos. “Segundo o Observatório Francês das
Conjunturas Econômicas (OFCE), ‘o risco de uma recessão na
Argentina, o terceiro parceiro comercial do Brasil, pode afetar
consideravelmente o crescimento brasileiro nos dois próximos
anos’”, alertou a professora Maria da Conceição Coelho-Ferreira,
da Universidade de Lyon 2. A proximidade das eleições
presidenciais gerou análises propondo a realização de reformas
para recuperar as contas do país. “A batalha [contra a inflação]
deverá levar a um crescimento mais lento em 2015, mas pode
valer a pena se o resultado final for menos inflação e custos
menores para se emprestar dinheiro, o que economistas dizem
serem os fatores por trás da desaceleração econômica atual”,
ponderou o The Wall Street Journal. A estiagem que atinge a
região Sudeste do país também se refletiu na cobertura sobre
commodities – em especial café e cana de açúcar.
O BRASIL PERDEU TERRENO EM TODOS OS CAMPOS. DEVE SE NOTAR QUE, APESAR DE SER
CONSIDERADO UM GRANDE MERCADO EMERGENTE, O BRASIL NÃO ERA UM DESTINO
SIGNIFICATIVAMENTE MAIS BARATO DE MANUFATURA DO QUE OS EUA NEM MESMO UMA
DÉCADA ATRÁS. CONTUDO, A SITUAÇÃO PIOROU. ALTOS SALÁRIOS, COMBINADOS COM UM
CRESCIMENTO MUITO FRACO DA PRODUTIVIDADE, RESPONDERAM POR MAIS DE TRÊS QUARTOS
DO AUMENTO NOS CUSTOS DE MANUFATURA.
BCG, THE SHIFTING ECONOMICS OF GLOBAL MANUFACTURING, AGOSTO DE 2014
Apesar disso, houve um interesse positivo sobre as potencialidades da economia brasileira – especificamente
com relação ao setor de telefonia móvel. Várias reportagens acompanharam a disputa entre Telecom Italia e
Telefónica da Espanha pela operadora brasileira GVT, da Vivendi.
No último dia do trimestre houve outra boa notícia: após dez anos, Brasil e EUA finalmente chegaram a
um acordo com relação aos subsídios que Washington vinha pagando aos produtores de algodão.
10
Mayke Toscano/Secom-MT
O contencioso foi julgado na Organização
Mundial do Comércio (OMC) em 2004 a favor
do Brasil; na ocasião, ficou determinado
que os EUA pagariam US$ 150 milhões por
ano ao Brasil. Contudo, esses pagamentos
foram interrompidos. Sob o novo acordo,
Washington pagará US$ 300 milhões ao
Instituto Brasileiro do Algodão e, em troca,
o Brasil não mais poderá adotar medidas
retaliatórias contra os EUA.
Contencioso
do algodão
chega ao fim
[O Brasil] está preparado para
encarar os efeitos das recentes
mudanças na economia global,
como a queda nas cotações
internacionais de commodities
e potenciais fugas do capital
que veio ao país durante o ápice
da crise financeira.
“
FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL, GLOBAL
COMPETITIVENESS REPORT 2014-2015, 2 DE
SETEMBRO DE 2014
NO BRASIL, O PIB SE CONTRAIU NA
PRIMEIRA METADE DO ANO, REFLETINDO
FRACOS INVESTIMENTOS E MODERAÇÃO
NO CONSUMO, DADAS AS CONDIÇÕES
FINANCEIRAS MAIS RESTRITIVAS E A
CONTÍNUA DEBILIDADE NA CONFIANÇA
NOS NEGÓCIOS E DOS CONSUMIDORES.
ESTES FATORES, ASSIM COMO A FRACA
COMPETITIVIDADE, DEVERÃO CONTINUAR
A LIMITAR O CRESCIMENTO EM 2014-2015.
FMI, WORLD ECONOMIC OUTLOOK,
7 DE OUTUBRO DE 2014
O que vem por aí
Alguns dos temas que poderão continuar presentes no
quarto trimestre de 2014 são:
• A desaceleração econômica do Brasil;
• As eleições presidenciais (com a vitória da presidente Dilma
Rousseff, as discussões sobre sua nova equipe de governo e suas
relações com o Legislativo); e
• Os efeitos do acordo entre Brasil e EUA para pôr fim ao
contencioso do algodão.
Outros assuntos que poderão ganhar força entre outubro e
dezembro deste ano incluem:
• Os reajustes dos combustíveis no Brasil;
• As denúncias de corrupção na Petrobras,
com a entrada de autoridades dos EUA nas
investigações; e
• Possíveis problemas no abastecimento de
energia elétrica.
11
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