1. Responsabilidade Social Corporativa O conceito de responsabilidade social corporativa teve origem na década de 50, com seus primeiros estudos feitos por Howard Bowen que destacava que: “A obrigação social do homem de negócios de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com os fins e valores da sociedade". (BOWEN, 1953). Atrelada a essa idéia, Wartick e Cochran (2005) postulam que existe um contrato entre as organizações e a sociedade, este contrato funciona como um veículo por meio do qual o comportamento dos negócios é ajustado aos objetivos sociais, enquanto os negócios desempenham o papel de agentes morais na sociedade refletindo e reforçando seus valores. A sociedade legitima as ações das organizações, tendo em vista os valores e o padrão moral que a própria instituição ajudou a construir. As empresas trabalhavam com dois tipos de responsabilidade: a chamada “responsabilidade moral” que afetaria suas relações com os stakeholders, seu balancete financeiro e sua regulamentação contábil, e a “responsabilidade legal” que consiste em obrigações e legislações impostas para que as empresas tenham um comportamento ético. O conceito de RSC que tem sido difundido principalmente pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social. O Instituto Ethos, foi fundado em 1998 por um grupo de empresários e executivos do setor privado com o objetivo de aprofundar os compromissos de suas empresas com a Responsabilidade Social Corporativa. Para o Instituto, a Responsabilidade Social Empresarial é uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona. O Instituto Ethos declara no seu website que conta com 1.049 empresas associadas, as quais são responsáveis por um volume de negócios correspondente à cerca de 30% do PIB brasileiro e empregam em torno de 1 milhão de pessoas. O Instituto possui como objetivo “constituir um pólo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas que auxiliam as empresas a analisar suas práticas de gestão e de responsabilidade social corporativa” (INSTITUTO ETHOS, 2005). E a Responsabilidade Social Corporativa de outras formas de atuação das empresas como: Filantropia, Voluntariado Empresarial, Cidadania Corporativa, Marketing Social, Investimento Social Privado, Governança Corporativa. As organizações são uma peça fundamental do quebra-cabeça chamado “sociedade” e vem assumindo um papel de “agentes da promoção social”. Na década de 90, segundo PAOLI(2002), começa-se a demandar um clima de maior cidadania e solidariedade por parte da população, devido ao momento econômico neoliberal que “liberava” o investimento do estado em obrigações públicas. A sociedade começara a se organizar para promover a garantia dos direitos sociais deste modo, diferentes práticas de responsabilização e compromisso começavam a se desenhar, inclusive entre o empresariado, que historicamente era avesso às questões sociais por entender que estas faziam parte da responsabilidade do Estado, passa a abandonar suas práticas caritativas e pontuais, desviando seu interesse para ações de investimento, visando o desenvolvimento social e o estímulo à cidadania participativa. À palavra “filantropia” é acrescentada a palavra “solidária”, demarcada agora como abertura voluntária das empresas privadas ao extravasamento da imensa carência da população, ligadas à prevenção do futuro e respondendo às demandas da reinserção social. As tensões internas e externas dessa ocupação dos espaços públicos pelo empresariado, responsabilizando-se à sua maneira diante da questão social, reagindo “solidariamente” ao aumento das desigualdades, levantam uma série de questões a respeito das transformações e sentidos das relações entre o público x privado. Algumas dimensões da filantropia empresarial podem indicar a sua instrumentalidade como parte do controle do espaço mercantil e social, que opera juntamente com os signos valorativos da ética da doação. Podemos acompanhar a evolução dessa “doação” como da “filantropia à responsabilidade” e desta ao “ investimento social” e a partir daí uma nova tecnologia advinda da experiência norteamericana entra no Brasil, e exige planejamento e especialização Há alguns anos, as organizações vêm oportunizando uma reflexão acerca da importância das mesmas no contexto do desenvolvimento sustentável e a possibilidade de sua continuidade, perenidade, longevidade. A sustentabilidade de uma empresa depende muito dos sistemas maiores nos quais ela está contida ou se relaciona de alguma forma. Tanto a sustentabilidade empresarial quanto a da sociedade em geral exigem praticamente as mesmas atitudes das empresas. Quando estas são favoráveis ao desenvolvimento sustentável, afetam positivamente empresa e sociedade; quando desfavoráveis, afetam negativamente os dois lados. A Confederação Nacional da Indústria – CNI (in Responsabilidade Social Empresarial, 2006, p.12-13) descreve em que consiste a sustentabilidade empresarial, definindo e caracterizando quatro “níveis” que devem ser atendidos para que uma empresa seja considerada sustentável: - Responsabilidade econômica: a primeira condição para que as empresas possam continuar gerando valor para a sociedade em bases sustentáveis é que elas sejam rentáveis, caso contrário estarão condenadas ao desaparecimento. Precisam zelar por sua eficiência, produtividade e, conseqüentemente, por sua rentabilidade. - Responsabilidade legal: as empresas não trabalham sozinhas. Elas interagem com outras organizações, governos e, principalmente, pessoas. Para viabilizar essas interações, elas estabelecem relações contratuais, que por sua vez são regidas por leis. É essencial que todas as suas relações contratuais sejam estabelecidas em conformidade com a lei, e que esses contratos sejam rigorosamente cumpridos. - Responsabilidade socioambiental: para assegurar a continuidade das múltiplas interações que viabilizam os negócios, as empresas devem estabelecer uma atenção integral pelas partes interessadas ou stakeholders (colaboradores, clientes, fornecedores, governo, meio ambiente etc.), baseando-se na ética e na transparência. Este assunto será aprofundado mais adiante em um tópico específico deste trabalho. - Co-responsabilidade pelo todo: algumas empresas vão além da responsabilidade socioambiental e buscam a sustentabilidade mediante ações que ultrapassam a esfera de influência direta de seus negócios, exercendo influência e disseminando conceitos e práticas de desenvolvimento sustentável na sociedade, influenciando políticas públicas e apoiando determinada causa social, por exemplo. 2. Investimento Social Privado Em seu artigo denominado “Investimento social das empresas: cooperação organizacional num espaço compartilhado (2000), Paula Schommer destaca que o século XX usualmente é relacionado aos progressos alcançados pela ciência em várias áreas, mas que, entretanto, o século passado pode se destacar com igual relevância pelo acirramento da desigualdade. A década de 1970 advogou a redução do tamanho e das funções do Estado, repartindo-as com as organizações do mercado e da sociedade civil (Schommer, 2000). Desta época emergem as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos,” estruturadas em torno de objetivos públicos e geridas por agentes privados, constituindo o chamado terceiro setor, distinto do conjunto de organizações do Estado e do mercado” (Schommer, 2000:146). Sobre isto, conta-nos Costa que, com o refluxo do Estado em relação à questão social, surge o questionamento sobre o quê e como “responder” aos anseios da sociedade em relação ao seu bem-estar, como coletividade (COSTA, 2006). Pontua a autora que “Com o recuo do Estado na construção da proteção social, o espaço vazio deve ser ocupado por ações alternativas de vínculo social, solidariedade e coesão social. Como conseqüência, a dimensão do direito universal do cidadão é também esvaziada em relação ao acesso e qualidade das políticas sociais estatais. Ao lado do Estado pulverizado, as organizações da sociedade civil passam a assumir a tarefa de responder conjuntamente com o Estado às demandas sociais”. (COSTA, 2006: 70) Marino corrobora tais idéias ao pontuar que “o Estado Mínimo, a forte ação da Sociedade Civil e a consciência do consumidor impelem as empresas a uma definição mais acurada de seu papel no desenvolvimento social. (MARINO, 2003:23) A mudança no campo empresarial e sua crescente aproximação no campo social talvez sejam mais evidentes de se perceber, sobretudo, a partir dos anos 1990 no Brasil. Essa aproximação vai assumir diferentes nomenclaturas e formatos, como demonstra Schommer (2000). Essa autora se refere a diferentes termos utilizados para qualificar essa relação que vão desde a filantropia (segundo ela termo mais desgastado no Brasil), passando pela cidadania empresarial, pelo investimento social privado e pela responsabilidade social. Como destaca a autora, não são apenas os termos que diferem, mas também as práticas: Os modelos de atuação direta no social dependem de vários fatores, como história, cultura, tamanho, valores e estratégias. Empresas podem criar organizações específicas para a ação social, como um instituto (juridicamente associação) ou uma fundação. Podem atuar através de um setor dentro da empresa, promovendo parcerias com outras organizações, doando recursos financeiros e participando, com maior ou menor grau de envolvimento, das decisões e execução das ações.Podem estabelecer essas relações através de um grupo de funcionários, de um dirigente, de um setor especializado em relações com a comunidade ou vincular essas relações à área de marketing ou de recursos humanos. (Schommer, 2000:120) PFEIFER (2001) apóia-se nas idéias de Falcão Neto (1995) para confirmar o surgimento de uma nova percepção das organizações privadas e dos cidadãos quanto à necessidade de assumirem responsabilidades pelo seu bem estar e pelo futuro da sociedade. Segundo o autor: “No Brasil e no mundo é cada dia mais evidente que o Estado não é o proprietário exclusivo do interesse público, do altruísmo social. Não somente porque muitas vezes alguns setores estatais são indevidamente tomados por interesses corporativos, se sobrepondo ao interesse público a que estariam destinados por definição, como também porque os cidadãos e empresas não agem exclusivamente movidos pelo interesse privado. Através dele, agem muitas vezes para concretizar o interesse público. (...) O fato é que presenciamos, hoje, a uma reorganização da sociedade civil, em todas as camadas sociais, a partir da fragmentação do autoritarismo das décadas passadas. Não se trata apenas da mobilização militante dos movimentos sociais e das ONGs. Nem apenas da mobilização comunitária das associações de bairro. Está surgindo no país um novo conceito de cidadania e de responsabilidade social. (...) Os empresários não estão alheios. Suas associações de classe procuram participação efetiva e independente, na formulação e implementação das políticas públicas. E vão além. Ao mesmo tempo em que defendem um Estado menor e melhor, assumem responsabilidades em áreas antes ‘exclusivas’ do Estado”. (PFEIFER, 2001 apud FALCÃO NETO, 1995:66-67) Conforme Elisabeth Rico, “o aumento dos investimentos privados na questão social está antes vinculado a um modo político e econômico de organização das forças produtivas do que simplesmente a aspectos de solidariedade e associativismo” (RICO, 1997:62). A autora segue argumentando que “o empresariado, historicamente avesso às questões sociais por entender que estas faziam parte da responsabilidade do Estado, passa a abandonar suas práticas caritativas e pontuais, desviando seu interesse para ações de investimento, visando o desenvolvimento social e o estímulo à cidadania participativa” (RICO, 1997: 63). Dentre os diferentes conceitos utilizados neste campo, duas noções chave merecem ser destacados pela disseminação com que vêm tendo tanto no âmbito científico, quanto profissional. A primeira refere-se à Responsabilidade Social Empresarial que tem sido difundida principalmente pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Marino comenta que “Da mesma forma que seu parceiro e inspirador BSR (Business for Social Responsibility) criado em 1993, nos Estados Unidos - uma organização global que apóia empresas associadas para serem bem sucedidas nas suas práticas de respeito a valores éticos, a pessoas, comunidades e meio ambiente, foi criado no Brasil, em 1998, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, buscando influenciar e oferecer ferramentas de gestão que visam à melhoria da qualidade das relações da empresa com seus colaboradores, clientes e fornecedores, com a comunidade e com o poder público” (MARINO, 2003:24) O Ethos tem uma concepção diferenciada a respeito da ação social das empresas, enfatizando a noção de responsabilidade social empresarial. Essa concepção tem por princípio a inserção da preocupação com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável no core-business (negócio principal) da empresa, envolvendo todos os níveis: estratégico, tático e operacional e as ações internas e externas, além de considerar os diferentes stakeholders (interessados). Assim, a ação social empresarial estaria incluída na responsabilidade social, mas a sua prática, por si só, não faria da empresa uma entidade responsável socialmente. O segundo conceito refere-se ao Investimento Social Privado. Tal conceito tem sido disseminado no Brasil pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas – GIFE que o define como os recursos despendidos pelas empresas, além das suas obrigações legais e que não estão diretamente relacionados aos negócios. O GIFE faz uma distinção entre investimento social corporativo e investimento social privado, por contemplar entre seus associados fundações e institutos criados por famílias (MARINO, 2003:33). Para o GIFE o Investimento Social Privado envolve ações de impacto direto na comunidade, estruturadas e sistemáticas, colocadas em prática, em geral em cooperação com outras organizações, inclusive da sociedade civil. Pfeifer (2001) destaca no Código de Ética do GIFE que o mesmo “Existe para congregar entidades e empresas que, livremente e com recursos próprios, investem tempo, talento e recursos materiais, promovendo e executando atividades sistemáticas de apoio ao desenvolvimento social da nação, pelo estimulo à cidadania participativa, objetivando operar dentro de altos padrões éticos. (...) Os conceitos e a prática do investimento social defendidos pelo Gife derivam da consciência da responsabilidade e reciprocidade para com a sociedade, assumida livremente por institutos, fundações ou empresas, associados ao Gife. Sendo assim, as práticas de investimento social são de natureza distinta e não devem ser confundidas nem usadas como ferramentas de comercialização de bens tangíveis e intangíveis (fins lucrativos), por parte da empresa mantenedora, como são, por exemplo, marketing, promoção de vendas ou patrocínio, bem como políticas e procedimentos de recursos humanos, que objetivam o desenvolvimento e o bem estar da própria força de trabalho, portanto no interesse da empresa. No entanto, é justo que o associado do Gife espere, como um subproduto de um investimento social exitoso, um maior valor agregado para sua imagem. Para apoiar a realização desses propósitos, este código declara valores éticos e normas de conduta profissional aos quais os membros do Gife livremente aderem e, por decorrência, comprometem-se observar, conscientes de sua responsabilidade pela prática correta das atividades de apoio ao desenvolvimento social”. (Código de Ética, www.gife.org.br) Segundo dados divulgados no site da Instituição, a base de associados do GIFE passou de 26 organizações fundadoras, em 1995, para 112 em 2008. Em 13 anos, a rede cresceu 208%, sendo composta por grupos econômicos nacionais e multinacionais De acordo com último Censo GIFE: Os associados investiram cerca de R$ 1,15 bilhão para projetos sociais, culturais e ambientais feitos de forma planejada, monitorada e sistematizada. Isso equivale a 20% do que o setor privado nacional destina à área social - cerca de R$ 4,7 bilhões, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A área priorizada pela rede para o investimento social privado é a Educação, somando cerca de R$ 124 milhões em 2005 (GIFE, 2009). Desde a sua criação, o GIFE colocou em prática uma estratégia de fortalecimento da esfera pública não-estatal no Brasil. A concepção que norteia a ação da associação é a de que as empresas desempenham um papel institucional importante na luta contra as desigualdades no País e esse papel deve se concretizar por meio do investimento social privado. Consoante o trecho supracitado compilado por Pfeifer, Andion (2009) ressalta que, em seu código de ética, o GIFE diferencia o investimento social privado da prática de responsabilidade social corporativa, demarcando claramente um distanciamento em relação à atuação do Instituto Ethos. O grupo defende uma autonomia das ações de investimento social privado em relação ao negócio da empresa, visando mostrar o “ato desinteressado” da ação empresarial na esfera pública. A opção do GIFE na adoção do termo Investimento Social Privado procurava simultaneamente englobar precisão conceitual e ineditismo em termos de comunicação, fortalecendo um termo que não era utilizado de maneira relevante por nenhum outro grupo semelhante (SCHOMMER et AL, 2009). O modelo e as concepções do GIFE são fortemente influenciados pela noção anglo-saxã de filantropia e as organizações que compõem o GIFE chegam, em uma de suas publicações, a se autodenominarem as grantmakers brasileiras (Falconer; Vilela, 2001). É importante destacar que boa parte dos dirigentes das grandes fundações brasileiras (situadas nas principais capitais das regiões Nordeste e Sudeste) realizou sua formação acadêmica em instituições de ensino americanas e mantém uma forte relação com as fundações desse país e com as redes do nonprofit sector. A influência do GIFE no campo social no Brasil é relevante, tanto no que se refere ao montante de investimentos que realizam suas associadas (como mencionado) quanto à produção e à difusão de conhecimentos e práticas. Outro importante papel desempenhado pelo GIFE refere-se à atuação junto às políticas públicas ligadas ao Terceiro Setor no Brasil. Esta organização teve uma relevante participação na elaboração do marco legal do Terceiro Setor, bem como em outras leis importantes, como por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Atualmente, um dos seus principais objetivos tem sido a concretização da reforma do marco legal do terceiro setor. Segundo expresso no site da instituição, essa reforma “oferecerá um ambiente legal, fiscal e tributário mais propício ao investimento social privado” (GIFE, 2005). Partindo da definição de investimento social privado fornecido pelo GIFE, Schommer (2009) identifica três aspectos para delinear o Investimento Social, como segue: 1. origem dos recursos: privada e voluntária (o que a diferenciaria de outros tipos de investimento, de origem compulsória); 2. forma de atuação: planejada, monitorada e sistemática (buscando resultados, em contraposição às práticas mais voluntaristas, amadoras e supostamente ineficientes da caridade tradicional); 3. finalidade: projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público (colocando-o acima de interesses privados que a empresa ou o filantropo possam ter ao investir no social). Acerca das diferentes formas de investimento empresarial na área social Nelson (1998) citado por Schommer (2000) define três eixos principais: - atuando de forma ética em suas atividades produtivas (ambiente, políticas adequadas de recursos humanos, cooperação tecnológica, qualidade e gestão ambientais, maximização dos insumos, apoio ao desenvolvimento de empresas locais como fornecedores e distribuidores); - mediante investimento social, não apenas através de doações filantrópicas, mas também compartilhando capacidade gerencial e técnica, desenvolvendo programas de voluntariado empresarial, adotando iniciativas de marketing social, apoiando iniciativas de desenvolvimento comunitário; - mediante contribuição ao debate sobre políticas públicas, colaborando no desenvolvimento de políticas fiscais, educacionais, produtivas, ambientais e outras. (SCHOMMER, 2000:149 apud NELSON, 1998)) Schommer (2000) identifica dois modos de atuação das empresas no campo social: - adoção de comportamentos socialmente responsáveis e exercendo a cidadania enquanto relação de direitos e deveres para com todos os seus parceiros, mantendo posturas éticas em todas as esferas de seus negócios; - investimento de recursos financeiros e competências em ações voltadas para a comunidade, através da criação de organizações específicas para esse fim ou apoiando outras organizações voltadas à área social. Outra tendência, apontada pelo grupo do GIFE para o investimento social privado diz respeito à ampliação dos modelos de investimento social. No Brasil, tradicionalmente, o investimento social corporativo foi mais valorizado, porém essa tendência deve ser revertida, especialmente considerando a possibilidade de mudança no marco legal, a qual poderá incentivar outras formas de investimento como o comunitário, o familiar e o individual. 2.1. Modalidades de investimento social privado a) Investimento social corporativo – realizado por empresas de modo sistemático e estruturado, em prol de um interesse ou causa coletiva. Pode ser realizado por meio de um instituto ou fundação constituída para tal, ou por meio de parcerias diretas entre a empresa e ONG´s, outras empresas ou fundações empresariais, órgãos governamentais, escolas, universidades, conselhos, organismos multilaterais etc., em torno de um objetivo compartilhado. São aplicados não apenas recursos financeiros ou bens, mas também são prestados serviços, empregada a capacidade de mobilização e de gestão em prol de interesses coletivos. No Brasil, a maioria das organizações dedicada ao investimento social privado é de origem corporativa. b) Investimento social comunitário - mobilização e articulação entre pessoas, organizações e recursos locais em prol de interesses de uma comunidade ou localidade, em torno de uma organização ou rede de organizações. Visa melhores resultados ao mobilizar recursos e capacidades de diferentes atores e geri-los de modo estratégico e inovador, por meio de metodologias de desenvolvimento comunitário. c) Investimento social familiar - alocação voluntária e estratégica de recursos de indivíduos e famílias para o benefício público por meio de uma organização criada para tal ou em parceria com organizações existentes. Difundido em países da Europa, Ásia e Estados Unidos, motivado, sobretudo por razões religiosas e culturais, mas também por incentivos institucionais. d) Investimento Social Independente – vem da destinação de um fundo patrimonial dedicado a uma causa por um grupo de empresas, organizações ou famílias, que ganha autonomia administrativa e financeira (e que não se define pela sua abrangência comunitária). Há casos em que fundações familiares acabam por se tornar independentes, pelo distanciamento das gerações que sucedem o fundador da instituição, como no caso das fundações Ford e Kellogg. e) Outras modalidades de investimento social privado - Destacam-se três: 1. “venture philanthropy”, investimento praticado por doadores oriundos de setores como o da tecnologia da informação, que buscam aplicar suas abordagens e visões de negócios no campo social; Conforme informação disponibilizada no Portal Idis o conceito baseia-se na dissociação entre filantropia e assistência social e na adaptação de estratégias de gestão corporativa para o setor social. Ocorre por meio da aplicação de princípios do venture capital, (capital de risco) com investimentos de longo prazo, monitoramento e suporte proativo para maximização do retorno. O investimento social se dá tanto em termos financeiros como não-financeiros – como a utilização de horas de apoio técnico, estratégico e gerencial às necessidades das organizações. No venture philanthropy, mais do que realizar o repasse financeiro, o investidor social participa do fortalecimento da instituição financiada, tornando-a capaz de gerar elevadas taxas de retorno social e eventualmente ganhos financeiros sobre o investimento realizado. 2. investimento socialmente responsável, diz respeito à forma e aos critérios pelos quais os recursos dos fundos patrimoniais das fundações são investidos. 3. “diáspora philanthropy”, recursos enviados por imigrantes aos seus países de origem. Ainda que a maior parte desse volume vá diretamente às famílias dos imigrantes, uma parte é destinada a iniciativas sociais, em valores que rivalizam ou superam a ajuda internacional oficial dos países desenvolvidos. Todas essas constatações permitem concluir que há um enorme potencial na prática de investimento social no Brasil. Como mostram Landim e Scalon (2000) percebe-se uma tendência, (ainda não predominante), de essa prática sair do espaço privado para tornar-se “ação em benefício público”. Isso implica um fortalecimento da noção de investimento social como participação cívica. Porém, ao mesmo tempo, percebe-se ainda uma forte influência dos padrões tradicionais da filantropia (foco na caridade, na assistência e na lógica clientelista), e um completo desconhecimento dos efeitos e do potencial dessa prática. Schommer e Nogueira pontuam que, considerando o pouco tempo do ISP no Brasil, foram construídas forças e promovidos avanços como o amadurecimento dos investidores sociais, aumento dos recursos investidos, institucionalização de estruturas e instrumentos, aproximação de diversas demandas sociais; crescente reconhecimento das comunidades envolvidas; planejamento mais sofisticado e flexibilidade para o aprimoramento permanente, profissionalização da gestão, valorização da avaliação e foco em resultados. (SCHOMMER et al, 2009). Entretanto coexistem muitos limites, dificuldades e contradições, de ordem conceitual, político –institucional, assim como os de ordem estratégico-gerencial. Para Rico, “Se, por um lado, a cidadania empresarial reflete a inserção num modelo político-econômico, por outro, não há como negar que a participação do empresariado no enfrentamento à questão social e suas diferentes formas de exclusão é, em si, um fato novo, para o qual se necessita debruçar os olhares mais atentamente”(RICO, 1997: 66). 3. ANEXO – Principais conceitos e sua relação com o ISP, de acordo com Schommer e Nogueira: Conceito Cidadania empresarial Filantropia Responsabilidade social empresarial Outras expressões e conceitos Definição Origem Relação com ISP Para ser cidadã, a empresa deve ser integrante ativa da sociedade,exercendo conscientemente seus direitos e deveres, em especial nas áreas social e ambiental Inspirado na expressão em inglês “corporate citizenship”, e compatível com o espírito dos anos 1990, em que a discussão sobre cidadania estava muito em voga Originalmente, remete à visão grega de “amor ao homem” ou “à humanidade”. No Brasil, mais associada à visão católica, assistencial, caritativa Foi bastante utilizada em âmbito empresarial antes do conceito de ISP, mas era mais impreciso e trazia ainda mais confusão com RSE É o termo mais utilizado fora do Brasil, mas aqui ficou associado ao assistencialismo, do qual o ISP busca se distanciar. Referências / autores SCHOMMER, 2000 Corresponde a um impulso interior das TORO J., 1998; pessoas para doar ANDRADE, tempo, dinheiro ou 1996; conhecimentos, SMITH, 1994; acima de seus ALTMAN, interesses pessoais 1998; ou institucionais, IOSCHPE, para melhorar a 1997 situação de outros ou para o bem comum Forma de Fruto do Conceito mais comportamento movimento pela amplo que o ISP, ético das empresas ética nos negócios visto que a relação SCHOMMER, nas suas relações e cobrança da da empresa com a 2008; com seus públicos consistência nas comunidade é THE de interesse empresas entre apenas um dos ECONOMIST, (stakeholders), no suas práticas focos de atenção 2008 curto e longo prazo. internas e da Processo contínuo, externas. Ganha responsabilidade não um estágio a ser força a partir dos social alcançado anos1970 e 80 Há outros termos que popularmente designam o investimento social de empresas, fundações e indivíduos: ‐ Ação social – ver, como referência, as pesquisas do IPEA (IPEA, 2006) ‐ Projetos sociais – referência para nomes de cursos voltados à área, principalmente na elaboração e avaliação de programas empresariais ‐ Terceiro setor empresarial – expressão de razoável popularidade nos anos 1990, indicando as entidades de mantenedores corporativos que atuavam na área social (FALCONER, 1999) 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas. São Paulo : Cultrix/Amana-Key, 2002. RAMOS, Guerreiro. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1981 POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. WARTICK, S; COCHRAN, P. 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