DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES BOVINOS PRODUZIDOS IN VITRO CULTIVADOS EM MEIO LIVRE DE SORO RAQUEL VARELLA SERAPIÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ OUTUBRO/2007 DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES BOVINOS PRODUZIDOS IN VITRO CULTIVADOS EM MEIO LIVRE DE SORO RAQUEL VARELLA SERAPIÃO Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia Agropecuária da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Orientador: Prof. Dr. Francisco Aloízio Fonseca Co-Orientador: Dr. Wanderlei Ferreira de Sá UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ OUTUBRO/2007 DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES BOVINOS PRODUZIDOS IN VITRO CULTIVADOS EM MEIO LIVRE DE SORO RAQUEL VARELLA SERAPIÃO Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal. Aprovada em 23 de outubro de 2007 Prof. Dr. Angelo José Burla Dias (D.S., Biociência) - UENF Profª. Dra. Maria Clara Caldas Bussiere (D.S., Fisiologia Geral) - UENF Dr. Luiz Sérgio de Almeida Camargo (D.S., Ciência Animal) - EMBRAPA Dr. Wanderlei Ferreira de Sá (D.S., Protozoologia de Parasitos) – EMBRAPA (Co-Orientador) Prof. Dr. Francisco Aloízio Fonseca (PhD, Animal Science) – UENF (Orientador) “Caminante son tus huellas El camino y nada mas; Caminante, no hay camino Se hace camino al andar Al andar se hace camino Y al volver la vista atras Se ve la senda que nunca Se ha de volver a pisar. Caminante no hay camino Sino estelas en la mar..." (Antonio Machado) “Alguém me disse que sou um homem de sorte, mas toda vez que a sorte me procura estou em meu atelier trabalhando.” (Leonardo da Vinci) Dedico esta tese ao meu filho Lui AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pois sem ele não conseguiria concluir esta jornada. Agradeço ao meu filho Lui, por ter sido um excelente companheiro com seu amor incondicional, e ao meu marido João Carlos, pelo amor, paciência, companheirismo e incentivo que foram de fundamental importância para a conclusão do meu trabalho. Agradeço aos meus pais Roberto e Edna, que estiveram presentes a todo o momento me apoiando no que foi necessário. Agradeço à minha irmã Marta pela torcida e amizade, e aos meus sobrinhos Matheus, Caio e Luiza pelo grande carinho. Agradeço à minha avó Nilza pelas orações, e a todos os meus tios, tias e primos que se mostraram o tempo todo disponíveis para o que eu precisasse e torceram tanto por mim. Agradeço à Sandra pela amizade e o carinho, principalmente nos momentos em que fraquejei. Agradeço à minha sogra Neli (in memoriam) por sempre ter tido um grande carinho por mim, e às minhas cunhadas Denise, Andréa e Márcia pela amizade. Agradeço à família Salomão por terem acolhido a mim e ao Lui em sua casa como se fôssemos da família. Agradeço às minhas grandes e eternas amigas Carlinha, Cris, Sílvia, Alessandra, Isabella, Séfora Andréa, Juliana e Mariana, que estiveram sempre presentes e companheiras durante toda esta caminhada. Agradeço a todos os estagiários do laboratório pela colaboração em meu experimento e pela amizade, em especial a Elisa, Ingrid, Carla, Nathalia, Michele, Alessandra Vireque, Renata, Fabrício, Gaúcho, Everton, Luiz Gustavo, Gustavo, Ríbrio e Sabine. Agradeço aos funcionários do Laboratório, Bruno, Joel, Myro e Del pela disponibilidade, amizade e colaboração, que foram fundamentais para a conclusão do nosso trabalho. Agradeço à UENF pela oportunidade de conquistar o título de Doutora e pela bolsa concedida. Agradeço à Embrapa Gado de Leite por permitir a realização deste trabalho. Agradeço à equipe do Laboratório de Genética Molecular da Embrapa Gado de Leite e do Laboratório Agrogenética pela colaboração, apoio e disponibilidade. Agradeço ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas da USP, em Ribeirão Preto pela colaboração. Agradeço ao Dr. Ademir de Moraes Ferreira pela amizade, principalmente nos momentos em que buscávamos algum tipo de orientação. Agradeço aos pesquisadores Dr. Luiz Sérgio de Almeida Camargo, João Henrique Moreira Viana e Lilian Tamy Iguma pela amizade, orientação e oportunidades. Agradeço ao meu orientador Prof. Francisco Aloízio Fonseca que, mesmo sem me conhecer, apostou na minha capacidade e sempre se mostrou tão solícito e amigo. Agradeço muito ao meu co-orientador, Dr. Wanderlei Ferreira de Sá, por ter me dado mais esta oportunidade e me ensinado tanta coisa, sempre me motivando a seguir em frente, independentemente do que acontecesse ao redor. Agradeço ao Prof. Alberto Magno pela amizade. Agradeço a todos os companheiros da UENF, em especial ao Bruno, à Kelen, à Amanda e à Liu. Agradeço imensamente aos amigos Janaína, Jimmy e Zé Antônio pela amizade e companheirismo nas exaustivas segundas-feiras do primeiro semestre. Agradeço aos professores da UENF pela compreensão e incentivo. Agradeço à coordenação de pós-graduação pela disponibilidade e apoio. Agradeço a todos que direta ou indiretamente foram de fundamental importância para a conquista desta vitória. BIOGRAFIA RAQUEL VARELLA SERAPIÃO, filha de Edna Varella Serapião e Roberto de Souza Serapião, nasceu em 11 de março de 1974, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Em 1999, concluiu a graduação em Medicina Veterinária, pela Universidade Federal Fluminense. Em março de 2000, iniciou no programa de Pós-Graduação (Mestrado), da Universidade Federal Fluminense, tendo obtido o título de Mestre em Patologia e Reprodução Animal em fevereiro de 2002, sob a orientação do professor Luiz Altamiro Garcia Nogueira. No mês de maio do ano de 2003, ingressou no curso de Doutorado em Produção Animal, do Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual do norte Fluminense Darcy Ribeiro, submetendo-se à defesa de tese para a conclusão do curso em outubro de 2007. CONTEÚDO RESUMO ix ABSTRACT xi 1. INTRODUÇÃO 1 2. REVISÃO DE LITERATURA 4 2.1- Aspectos Gerais 4 2.2- Período pré-implantacional em embriões bovinos 5 2.3- Cinética de desenvolvimento embrionário 8 2.4- Cultivo in vitro de embriões bovinos 9 2.5- Soro fetal bovino (SFB) no cultivo in vitro de embriões 12 2.6- Knockout serum replacer (KSR) como substituto do SFB 13 2.7- Resposta embrionária a condições de estresse 14 2.8- Apoptose em embriões produzidos in vitro 15 2.9- Expressão gênica em embriões bovinos 16 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20 4. TRABALHOS 30 DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES BOVINOS CULTIVADOS IN VITRO EM MEIO SUPLEMENTADO COM SUBSTITUTO DO SORO FETAL BOVINO RESUMO 31 ABSTRACT 32 INTRODUÇÃO 33 MATERIAL E MÉTODOS 35 Local do experimento 35 Produção in vitro de embriões 35 Avaliação da clivagem e produção de embriões 36 Desenvolvimento embrionário 36 Contagem de células 36 Análise estatística 37 RESULTADOS 37 DISCUSSÃO 40 CONCLUSÃO 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44 EXPRESSÃO DOS TRANSCRITOS Hsp70.1 E Bax EM EMBRIÕES BOVINOS CULTIVADOS EM MEIO LIVRE DE SORO RESUMO 50 ABSTRACT 52 INTRODUÇÃO 54 MATERIAL E MÉTODOS 56 Local do experimento 56 Produção de in vitro de embriões 57 Avaliação dos embriões 57 Extração de RNA e transcrição reversa 57 PCR em tempo real 58 Análise estatística 60 RESULTADOS 61 DISCUSSÃO 62 CONCLUSÃO 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65 5. CONCLUSÕES GERAIS 69 RESUMO SERAPIÃO Raquel Varella, D.S. Universidade Estadual do Norte Fluminense; outubro de 2007; Desenvolvimento de embriões bovinos produzidos in vitro cultivados em meio livre de soro; Orientador: Prof. Francisco Aloízio Fonseca. Co-Orientador: Dr. Wanderlei Ferreira de Sá. A exposição de embriões ao soro fetal bovino (SFB) durante o cultivo in vitro pode alterar: a cinética de desenvolvimento, a morfologia, o metabolismo e a expressão de transcritos específicos. Além disso, o soro pode ser uma fonte em potencial de contaminações por patógenos para sistemas de cultivo in vitro. O KnockoutTM Serum Replacer (Gibco Labs., Grand Island, NY) é um substituto do soro, otimizado para estabelecer e manter linhagens de células tronco em cultivo. Portanto, objetivou-se neste trabalho avaliar a capacidade do KSR em substituir o soro fetal bovino no cultivo in vitro de embriões bovinos fertilizados in vitro. No primeiro experimento, foram avaliados o desenvolvimento embrionário, a produção de embriões e o número total de células. Os embriões cultivados em presença de KSR apresentaram os mesmos padrões de desenvolvimento e qualidade daqueles cultivados em presença de soro. No segundo experimento, além das taxas de clivagem e produção de blastocistos, também foi avaliada a expressão dos genes Hsp70.1 e Bax. Como observado no primeiro experimento, o KSR apresentou taxas de clivagem e produção de blastocistos similares ao SFB, assim como expressão dos genes citados. Os resultados gerados nos dois experimentos sugerem que o KSR pode ser utilizado como substituto do SFB no cultivo embriões bovinos produzidos in vitro. Palavras-chave: bovino, embrião, cultivo in vitro, Knockout serum replacer, Hsp70.1, Bax. ABSTRACT SERAPIÃO Raquel Varella, D.S. Universidade Estadual do Norte Fluminense; october 2007; Development in vitro produced bovine embryos cultured in serum-free medium; Adviser: Prof. Francisco Aloízio Fonseca. Committee members: Dr. Wanderlei Ferreira de Sá. The exposition of embryos to fetal calf serum (FCS) during the culture may alter: kinetics of development, morphology, metabolism and the expression of specific transcripts. Yet, the serum may act as a source of contamination for in vitro culture systems. KnockoutTM SR (Gibco Labs., Grand Island, NY) is a serum replacer optimized in a manner to establish and keep stem cell lineage in culture. Our aim with this work was to evaluate KSR capacity as a substitute for FCS in vitro culture systems. During the first experiment, the embryo development, embryo production and total number cells were evaluated. The embryos cultured in KSR presence had the same patterns of development and quality of those cultured in serum presence. In the second experiment we evaluated the expression of genes Hsp70.1 and Bax. Cleavage and blastocyst rates and the gene expression of Hsp70.1 and Bax were similar among groups. The results of both experiments suggest that KSR may be used as substitute for FCS in the culture of in vitro produced bovine embryos. Key words: bovine, embryo, in vitro culture, Knockout serum replacer, Hsp70.1, Bax 1. INTRODUÇÃO A melhoria do manejo sanitário e nutricional aliada ao incremento no potencial genético de animais de produção contribuirá para atender a demanda de carne e leite para o futuro. O melhoramento genético deixou de ser, na pecuária brasileira, um assunto puramente acadêmico para tornar-se um importante agente de transformações, sendo necessário criar a consciência de que existem ferramentas disponíveis para escolher, de forma objetiva, o material genético que deve ser multiplicado, tendo como objetivo primordial a maximização da produção de carne e leite no país (PINEDA, 2004). Dentro desse contexto, o desempenho da pecuária nacional vem contribuindo de forma determinante para que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresça de forma substancial. Conseqüentemente, o aumento das exportações gerado pela excelência na produção de bovinos projetou a pecuária brasileira no mercado internacional. As biotecnologias da reprodução foram, e continuam sendo, uma importante ferramenta para que o país atingisse essa posição de destaque, proporcionando a obtenção de indivíduos geneticamente superiores. Essas biotecnologias são vantajosas para programas de melhoramento genético bovino, pois, ao explorarem racionalmente a fertilidade de animais genotipicamente superiores e acelerarem o ganho genético entre gerações (HASLER, 2003), maximizam o retorno econômico para o sistema de produção. Dentre as biotecnologias utilizadas atualmente, a produção in vitro de embriões (PIVE) associada à punção folicular guiada por ultra-som tem ocupado um papel de destaque, por permitir a obtenção de uma gestação por vaca/semana, em média, podendo aumentar rapidamente o número de animais geneticamente superiores, diminuir o intervalo entre gerações e aumentar a intensidade de seleção de maneira mais acelerada do que outras técnicas, como a transferência de embriões (DODE & RUMPF, 2002). Para que a PIVE alcançasse sua aplicabilidade comercial na pecuária, várias equipes de pesquisadores contribuíram para a melhoria dos sistemas de cultivo dos embriões. Porém, existe uma variação na produção embrionária entre laboratórios em função dos procedimentos adotados. Espera-se que, aproximadamente, 30% dos oócitos maturados e fecundados in vitro atinjam o estádio de blastocisto durante o cultivo embrionário (LONERGAN et al., 2003). Em vista destes resultados, ou seja, pelo fato de a maior parte dos gametas não atingirem os estádios de blastocistos, é factível considerar que a etapa do desenvolvimento embrionário é limitante para a produção de maiores taxas de embriões (SORIA, 2005). Alterações morfológicas e moleculares causadas pelo cultivo in vitro têm sido responsáveis pela menor qualidade e viabilidade após inovulação ou criopreservação dos embriões (Mc EVOY, 2003). Entre as alterações em embriões produzidos in vitro, estão o aumento do número de células apoptóticas e diminuição do número total de células, alterações da densidade (com acúmulo de lipídeos), do metabolismo (com aumento da produção de lactato) e da expressão gênica (KHURANA & NIEMANN, 2000; GUTIERRÉZADAN et al., 2001; RIZOS et al., 2003; LONERGAN et al., 2006). Apesar de geralmente aumentar o índice de produção de blastocistos, o soro adicionado aos meios de cultivo embrionário tem sido apontado como um dos principais agentes envolvidos nessas alterações embrionárias (CROSIER et al., 2000, Mc EVOY et al., 2003, RIZOS et al., 2003), além de ser uma fonte de contaminações por patógenos (LONERGAN et al., 2006). Estudos vêm sendo desenvolvidos visando à exclusão do soro, utilizando meios de cultivo quimicamente definidos (LANE et al., 2003). O Knockout Serum Replacer (KSR) é um suplemento para meio de cultivo utilizado como substituto do soro no cultivo de células tronco. Entretanto, poucos são os relatos de seu efeito sobre o desenvolvimento embrionário in vitro e características embrionárias, como número total de células e expressão gênica. Portanto, objetivou-se neste trabalho avaliar a capacidade do KSR em substituir o soro no cultivo in vitro de embriões bovinos, avaliando-se a taxa de produção e a qualidade dos embriões. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1- Aspectos gerais O nascimento do primeiro bezerro produzido totalmente in vitro (LU et al., 1988) despertou o interesse de vários laboratórios mundiais para a produção in vitro de embriões (PIVE). Por meio desta biotecnologia, pode-se obter uma produção média de uma gestação por vaca/semana (DODE & RUMPF, 2002), o que permite uma rápida multiplicação de genótipos superiores previamente selecionados, uma diminuição no intervalo de gerações, propiciando uma maior intensidade de seleção, do que por outros processos como a transferência de embriões (TE). Estima-se que a PIVE possa aumentar o ganho genético anual acima de 10%, quando aplicada apropriadamente, principalmente pela possibilidade de cruzamentos fatoriais, diminuindo a taxa de consangüinidade, bem como pela utilização de fêmeas pre-púberes. Além disso, com a PIVE pode-se ter uma produção maciça de animais mestiços, possibilitando a manutenção de rebanhos com o grau de sangue desejado, o que é impossível com o uso da monta natural e inseminação artificial (ARENDONK & BIJMA, 2003). Durante o processo de produção in vitro de embriões bovinos, cerca de 90% dos oócitos são capazes de atingir a maturação nuclear (progredindo de prófase I a metáfase II) e aproximadamente 80% dos que são fertilizados concluem pelo menos o segundo ciclo celular (GORDON, 1994). Do total de oócitos fertilizados, apenas 30% a 40% dão origem a embriões que eventualmente alcançam o estádio de blastocisto (LONERGAN et al., 2003), sendo que o restante sofre algum tipo de bloqueio que leva à interrupção do desenvolvimento. Em geral, o potencial de desenvolvimento embrionário está associado a características do oócito (folículo de origem, morfologia, estado de poliadenilação), à cinética das primeiras clivagens (BREVINI et al., 2002; LONERGAN et al., 2003; MEIRELLES et al., 2004) e a interações com os sistemas de cultivo (NIEMANN & WRENZYCKI, 2000; WATSON et al., 2000; NATALE et al., 2001; NIEMANN & WRENZYCKI, 2003; GUTIERRÉZ-ADAN et al., 2004). Diversas alterações encontradas nos embriões produzidos in vitro podem estar relacionadas às condições adversas de cultivo, às quais os embriões são expostos nesse sistema de produção, o que acaba influenciando sua qualidade (KHURANA & NIEMANN, 2000). 2.2- Período pré-implantacional em embriões bovinos No período de 24 a 36h após a fecundação, o zigoto contendo uma célula divide-se em dois e, 24h mais tarde, o embrião já possui quatro células. A divisão dos blastômeros pode ocorrer de forma assincrônica, razão pela qual é possível observar em estádios iniciais um número ímpar de células. Ao chegar ao estádio de 32 blastômeros, sua forma assemelha-se a uma amora, razão pela qual é denominado mórula inicial, onde sua massa ocupa quase todo o espaço perivitelínico (PALMA, 2001). O estádio de mórula compacta (Mc), com aproximadamente 32-64 blastômeros, forma uma massa compacta que ocupa 60%-70% do espaço perivitelínico. A compactação é considerada um dos sinais de diferenciação embrionária. Ainda assim, os blastômeros continuam com sua capacidade totipotente (SENGER, 2003). Os eventos celulares relacionados com a compactação compreendem: o desenvolvimento da adesão celular dependente de cálcio, o estabelecimento das junções gap mediadas pela comunicação interblastomérica, a iniciação do contato celular induzido pela polarização das células e o aparecimento de junções tight (WATSON & BARCROFT, 2001; STANTON et al, 2003). O estádio de blastocisto inicial (Bi) é identificado com aproximadamente 100-200 células e caracteriza-se pelo começo do transporte de fluido nas células trofoectodérmicas e pela formação de uma cavidade (blastocele) no interior do embrião. O Bi ocupa cerca de 70%-80% do espaço perivitelínico. Neste estádio já é possível diferenciar o trofoderma (TE) da massa celular interna (MCI) (SENGER, 2003). O trofoderma é o primeiro tipo celular a se diferenciar, formando a camada mais externa do blastocisto que tem a função de, entre outras finalidades, iniciar o contato com o endométrio materno, propiciando a implantação. Para tal é necessário que ocorra a polarização celular caracterizada pelo estabelecimento de componentes da superfície celular (microvilosidades apicais e receptores associados à lecitina); pela distribuição assimétrica de proteínas de membranas; pelos componentes específicos no citoplasma como agregação apical da actina e vesículas endocíticas; e pela migração basal das mitocôndrias e vesículas lipídicas (WATSON & BARCROFT, 2001). A partir da polarização, o trofoderma adquire capacidade de iniciar e regular os eventos de cavitação, pela expressão de produtos de genes que facilitam o transporte e a retenção de fluido na cavidade blastocística nascente (WATSON et al., 2004). Para a produção e acúmulo de fluido na blastocele são necessários mecanismos de transporte de íons no trofoderma. O transporte ativo é requerido para o movimento de íons contra seu gradiente de concentração. O transporte de aminoácidos, como a glicina e a alanina, é feito por um mecanismo dependente de sódio que se desenvolve no blastocisto. In vitro, o transporte vetorial de Na+ e Cl- do meio é essencial para o início e progressão da cavitação (WATSON & BARCROFT, 2001). O estádio de blastocisto (Bl) possui um número de células semelhante ao Bi, sendo que a blastocele já é bem visualizada e existe uma marcada diferenciação entre as células trofoblásticas, formando uma camada que se encontra aderida à zona pelúcida e a massa celular interna (SENGER, 2003). Já o blastocisto expandido (Bx) apresenta-se com mais de 200 células. Seu diâmetro aumenta consideravelmente (1,2 a 1,5 vezes), e, como conseqüência, a zona pelúcida tem sua espessura diminuída a cerca de 1/3 da espessura inicial. A pressão crescente do blastocisto em desenvolvimento provoca a ruptura da zona pelúcida, começando assim o processo de eclosão. Os blastocistos recuperados neste estádio podem se colabar temporariamente, em decorrência de uma perda parcial ou total da blastocele (PALMA, 2001). No estádio de blastocisto eclodido (Be), onde o número de células pode variar de 200 a 800 células, os embriões já se encontram fora da zona pelúcida, apresentando blastocele bem definida ou colabada (SENGER, 2003). Um embrião capaz de eclodir não necessariamente implanta-se após a transferência, caso haja um número insuficiente de células da MCI, que são necessárias para garantir o desenvolvimento completo. Um pequeno percentual dos embriões eclodidos quando avaliados podem ser considerados como nada mais que vesículas trofoblásticas, uma vez que embriões com uma MCI pequena ou ausente são capazes de eclodir, mas não se implantam (SENGER, 2003). Sabe-se que embriões produzidos in vitro apresentam significativas diferenças em relação ao metabolismo, à morfologia, densidade, número de células e características de zona pelúcida, apresentando qualidade inferior aos produzidos in vivo. Os blastômeros são em geral mais escuros nos embriões produzidos in vitro e as uniões celulares são anormais, razão pela qual a compactação das mórulas, como passo prévio da blastulação, quase não se observa (KHURANA & NIEMANN, 2000). A formação da blastocele em mórulas produzidas in vitro normalmente ocorre de forma difusa e não localizada, como in vivo. Este estádio pode ser caracterizado como mórula cavitacional, pela presença de pequenas cavidades que darão origem à blastocele (PALMA, 2001). O número de células nos blastocistos produzidos in vitro pode ser menor do que o encontrado em embriões produzidos in vivo, particularmente na MCI, que pode se apresentar de forma desorganizada. In vivo, as células da MCI estão presentes em uma proporção de 21%-27% dos blastocistos, enquanto in vitro esta proporção corresponde a 12%-15%. O estabelecimento de uma correlação da proporção de MCI:TE é considerado essencial para assegurar a viabilidade embrionária. Embora ainda não se tenha determinado uma razão ideal, tem-se adotado valores de 1:2 (AVELINO, 2004). A fragmentação de blastômeros é mais difícil de ser graduada em embriões produzidos in vitro, devido à falha na compactação, além de estar associada com aberrações cromossômicas. Blastômeros anucleados têm sido observados em embriões bovinos com morfologia de qualidade inferior. Ainda não se sabe se os blastômeros anucleados representam citoplasma expelido ou células estacionadas, em que o material nuclear foi totalmente fragmentado (VAN SOOM et al., 1997). A incidência de anormalidades de cariótipo nos embriões obtidos in vivo é de 2%-20%; entretanto, as mesmas são eliminadas em grande parte por meio de seleção natural. Nos embriões produzidos in vitro a freqüência de anormalidades é de 10%-45% e, como consequência do cultivo, não são eliminadas. A maior parte das anormalidades apresenta-se no trofoderma, em forma de mixploidias e poliplodias (VIUFF et al., 1999, 2000). 2.3 – Cinética de desenvolvimento embrionário A razão pela qual clivagens mais rápidas acontecem em embriões com maior capacidade de desenvolvimento ainda não é conhecida. A falha ou atraso na primeira divisão da clivagem pode estar relacionada com a competência citoplasmática, devido a uma falha das macromoléculas derivadas do oócito, necessárias para iniciar a embriogênese (WATSON et al., 2000; NATALE et al., 2001; NIEMANN e WRENZYCKI, 2003). Esta falha citoplasmática também pode ser manifestada por uma falha na ativação do genoma embrionário, podendo explicar uma relação entre as primeiras clivagens e a competência de desenvolvimento (RIZOS et al., 2003). Existem evidências de que a nova síntese de RNA, codificada pelo genoma embrionário, é iniciada no estágio de duas a quatro células em bovinos, sem um pico de transcrição diferenciada. Em embriões de duas células com crescimento tardio, a síntese de RNA não tem sido evidenciada, o que poderia ser explicado por sinais insuficientes no oócito necessários para ativação do genoma embrionário (WARD et al., 2001). GUTIERRÉZ-ADAN et al (2004) demonstraram claramente a relação entre o momento da primeira clivagem pós-inseminação in vitro e a competência de desenvolvimento dos zigotos clivados inicialmente. Estes autores verificaram ainda que este momento da primeira clivagem está relacionado com o estado de poliadenilação de vários genes transcritos importantes. LONERGAN et al. (2003) relataram diferenças na expressão gênica de embriões em estádio inicial, relacionadas à competência de desenvolvimento entre zigotos de clivagem inicial, rápida e tardia. Condições de cultivo podem influenciar na cinética de desenvolvimento inicial, porém alguns fatores que controlam estes parâmetros são intrínsecos ao oócito, ao espermatozóide ou a ambos (DE SOUSA et al., 1998). A velocidade de desenvolvimento em estádio de clivagem inicial pode ser manipulada pela adição de suplementos ao meio de cultivo, particularmente o soro fetal (RIZOS et al., 2003). Estudos demonstraram que o ambiente pósfertilização altera significativamente os padrões de transcritos em embriões bovinos, com algumas diferenças evidenciadas 10 horas após o início do cultivo (LONERGAN et al., 2003). 2.4- Cultivo in vitro de embriões bovinos A partir da década de 70, começaram a ser desenvolvidos os primeiros meios de cultivo, com sucesso para embriões bovinos e ovinos. Entretanto, neste período existiam relatos conflitantes a respeito dos requerimentos necessários para se transpor o bloqueio do desenvolvimento embrionário entre 8-16 células (DE SOUSA et al., 1998). A partir de então, houve aumento significativo na implementação de sistemas de co-cultivo com células somáticas. Estas são responsáveis por secretarem fatores embriotróficos que simulam in vitro o ambiente uterino (GANDOLFI & MOOR, 1987). Diversos trabalhos mostram que vários tipos de células podem ser usados na co-cultura, como células uterinas, da granulosa, do oviduto, do cumulus, Vero, Buffalo Rat Liver (BRL), etc. (HASLER, 2000). Contudo, a utilização de células somáticas em sistemas de cultivo pode levar à contaminação dos embriões por patógenos. Além da preocupação com os riscos de contaminação, a variabilidade biológica entre as células obtidas de animais diferentes pode acrescentar maior variação nos resultados de produção de embriões (LANE et al., 2003; HOSHI, 2003). Uma das alternativas aos sistemas de co-cultivo foi à utilização de fontes protéicas, pois estas aumentam a quantidade e qualidade das estruturas que atingem o estádio de blastocisto (RORIE et al., 1994). Essa suplementação parece reduzir a embriotoxicidade causada por produtos provenientes do metabolismo embrionário. As fontes protéicas mais utilizadas em sistemas de cultivo in vitro são o soro fetal bovino (SFB) e a albumina sérica bovina (BSA) (LONERGAN et al, 1999). O soro apresenta-se como uma mistura complexa de substâncias conhecidas e não definidas, e de fatores de crescimento que desempenham papel importante no desenvolvimento embrionário (HOLM et al., 1999). Por outro lado, apesar dos processos de extração e purificação, podem estar adsorvidos ao BSA diferentes proteínas, substratos energéticos e fatores de crescimento (BAVISTER, 1995; LONERGAN et al., 2006), corroborando com os resultados de que as propriedades embriotróficas do BSA podem variar entre fornecedores e partidas (VAN WAGTENDONK-DE LEEUW et al., 2000). O interesse em estudos utilizando meios livres de proteína estaria no fato de evitar os riscos biológicos oferecidos pelo soro e/ou albumina, principalmente nos países em que esses produtos não são considerados livres de patógenos (KURAN et al., 2002), como no caso dos príons no Reino Unido. HOLM et al. (1999) conseguiram sucesso na produção de blastocistos na ausência de soro ou de BSA utilizando o chamado meio quimicamente definido. Esses conhecidas meios como são constituídos aminoácidos, por substâncias macromoléculas previamente (polivinilalcool, polivinilpirrolidona e ácido hialurônico), fatores de crescimento e suplementos sintéticos (HOSHI, 2003), evitando os efeitos da variabilidade na composição dos meios, bem como os riscos de contaminação dos embriões a serem produzidos. O sucesso do sistema de cultivo semi-definido (com reduzida quantidade de BSA) ou definido envolve tanto a utilização de concentrações conhecidas de seus componentes, como a utilização de ambiente atmosférico com menor concentração de O2 (5-7%) do que a utilizada em sistemas de cultivo que fazem uso do soro, reduzindo a formação de radicais livres, prejudiciais ao embrião. Embora a tensão de oxigênio (O2) no oviduto e útero seja menor (3,5% a 8,5%) do que no ar atmosférico (20%), a condição de O2 atmosférico é utilizada rotineiramente no cultivo de embriões mamíferos (VAN SOON et al., 2002). Em estudos onde a tensão de O2 foi reduzida de 20% para 5% foi observada uma maior taxa de desenvolvimento embrionário em várias espécies (YUAN et al., 2003; HOSHI, 2003; KITAGAWA et al, 2004). A baixa tensão de O2 leva à diminuição da produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) intracelular que induzem a apoptose, permitindo ainda que a atividade metabólica desses embriões esteja mais próxima daqueles produzidos in vivo (CORREA et al., 2007). Segundo PEREIRA et al. (2005), as células do cumulus que são mantidas com os zigotos após a FIV removem as substâncias tóxicas do meio de cultura. Conseqüentemente, o estresse oxidativo causado por uma maior tensão de O2 seria minimizado pela presença destas células, de forma que a produção de embriões seria similar em ambos os sistemas (FATEHI et al, 2005). A tensão de CO2 utilizada no cultivo embrionário varia entre 5%-7%, e a manutenção desse nível também é importante para o sucesso de um sistema de produção in vitro de embriões, uma vez que a queda dessa tensão aumenta o pH intracelular e diminui o desenvolvimento embrionário (YUAN et al., 2003; KITAGAWA et al., 2004). Na contínua busca por embriões de melhor qualidade, surgiram os sistemas de cultivo utilizando meios seqüenciais, que foram elaborados com o intuito de suprir as diferentes necessidades do embrião de acordo com seu estádio de desenvolvimento e as condições encontradas nos diversos pontos do trato reprodutivo feminino (GARDNER & LANE, 2003). Atualmente, existem meios seqüenciais comerciais disponíveis para o cultivo embrionário em humanos como o G1.2/G2.2 e o M1/M2 (ZOLLNER et al., 2004). Em bovinos, o uso de meios seqüenciais também parece promissor, principalmente na substituição de meios com co-cultura e soro. LANE et al. (2003), usando o meio G1.2/G2.2, obtiveram resultados de produção de embriões semelhantes aos de co-cultura de BRL com 10% de SFB; porém, a proporção de embriões machos e fêmeas não foi diferente no meio seqüencial, enquanto maior taxa de embriões do sexo masculino foi observada na co-cultura com soro. A utilização de meio KSOM com 0,1% de BSA até o dia quatro do cultivo, seguido do cultivo em meio sintético de fluido do oviduto (SOF) com 5% de soro até o dia nove, também proporcionou a produção de blastocistos de melhor qualidade (NEDAMBALE et al., 2004). Atualmente existe a possibilidade de se cultivar embriões em micro canais, utilizando um equipamento microfluídico, o que permite o cultivo em um menor volume de meio, quando comparado com micro gotas, e a mudança gradual do meio de cultivo sem a manipulação do embrião, tornando o ambiente físico mais parecido com o do trato reprodutivo, com maiores chances de proporcionar um melhor ambiente in vitro (QUINN, 2004). Como citado anteriormente, embriões produzidos in vitro possuem qualidade morfológica e fisiológica inferior aos produzidos in vivo. Por essas razões as pesquisas envolvendo meios de cultivo embrionário são importantes para melhorar a qualidade dos embriões in vitro a fim de que se possa aproximá-la dos blastocistos produzidos in vivo. 2.5- Soro fetal bovino (SFB) no cultivo in vitro de embriões O SFB pode fornecer vários fatores benéficos ao embrião, como aminoácidos, vitaminas, fatores de crescimento, substratos energéticos, bem como proteção contra radicais livres, mas também pode carrear fatores embriotóxicos. A adição de soro em meios de cultivo geralmente melhora a taxa de produção de blastocisto (GOMES & DIEZ, 2000) e seu efeito tem caráter bifásico; ou seja, inibe as primeiras divisões celulares, mas estimula o desenvolvimento embrionário posterior (CAMARGO et al., 2002). A adição de soro acelera a cinética do desenvolvimento embrionário após as primeiras divisões celulares, pois promove blastulação prematura e aumenta a porcentagem total de blastocistos com maior número de células e taxa de eclosão (LONERGAN et al., 1999). Embriões cultivados em presença de soro apresentaram acúmulo de lipídeos citoplasmáticos, os quais são responsáveis por uma maior sensibilidades desses embriões a processos de criopreservação (ABE et al., 2002; RIZOS et al., 2003). O SFB pode aumentar a proporção de embriões masculinos (GUTIERRÉZ-ADAN et al., 2001), causar alterações no metabolismo (KHURANA & NIEMANN, 2000), diminuir a densidade de organelas (CROSIER et al., 2000), alterar a estrutura mitocondrial (FARIN et al., 2001) e aumentar a incidência de apoptose (KNIJN et al., 2003). LONERGAN e seus colaboradores (2006) relataram o aumento da expressão de genes ligados ao estresse, em embriões cultivados em presença de SFB. A utilização do SFB no meio de cultivo tem sido apresentada como uma das responsáveis pelo surgimento de diversas alterações fenotípicas observadas durante a gestação e no recém-nascido, como distúrbios placentários e excesso de peso ao nascimento, eventos estes relacionados à Síndrome do Bezerro Grande (LOS - “Large Offspring Syndrome”) (Mc EVOY, 2003; LONERGAN, et al., 2006). Diante dessas evidências, vários grupos de pesquisa vêm buscando utilizar suplementos sintéticos livres de soro de forma a minimizar ou eliminar os danos causados pelo soro. 2.6- Knockout Serum Replacer (KSR) como substituto do SFB Os suplementos sintéticos, utilizados como substitutos de proteínas animais para o crescimento in vitro de células indiferenciadas, representam uma alternativa para produção in vitro de embriões bovinos. O Knockout Serum Replacer (KSR) é um suplemento quimicamente definido que foi desenvolvido para isolamento e manutenção de células tronco embrionárias, oriundas da massa celular interna de blastocistos (GOLDSBOROUGH et al., 1998, BRYJA et al, 2006). Além disso, também pode ser utilizado para estabelecimento de linhagens celulares, seleção de drogas para células alvo, congelamento de células e meios de manutenção para injeção de células tronco em blastocistos (HORII et al, 2003). Por ser um produto patenteado, sua composição química não é divulgada. No entanto, é comercializado como um suplemento livre de soro que contém aminoácidos, glicose, insulina, transferrina, antioxidantes, sais inorgânicos, oligoelementos e um mix de proteínas e vitaminas. Não contém fatores de crescimento, citocinas, hormônios, imunoglobulinas ou macromoléculas como PVA ou PVP. Sua formulação garante repetibilidade de resultados, em comparação com a variabilidade de resultados obtidos com o uso do soro (MOORE et al., 2007). Corroborando com os achados de RODRIGUEZ-SALLABERRY et al (2002), SORIA et al (2005) sugeriram que o KSR pode ser utilizado como substituto do soro no cultivo de embriões produzidos in vitro. Entretanto, ainda não existe muito embasamento na literatura a respeito dos efeitos que o KSR pode causar na qualidade morfológica e nos níveis de expressão gênica de embriões bovinos produzidos in vitro. 2.7- Resposta embrionária as condições de estresse As modificações celulares associadas ao estresse são resultantes de um processo multifatorial que envolve alterações no percentual de ácidos graxos da membrana lipídica, bem como a inibição da síntese de substâncias antioxidantes (ZERON et al., 2001; AL-KATANANI & HANSEN, 2002; PAULALOPES et al., 2003). Um desses fatores de grande importância, envolvido no processo de resposta ao estresse, é a síntese de um grupo de proteínas altamente especializadas denominadas proteínas do choque térmico (Hsp) (BECKER & CRAIG, 1994). As Hsps podem ser classificadas em dois grupos principais, as formas constitutivas e as induzidas. As Hsps sintetizadas de forma constante, sem estímulo de estresse, são as constitutivas. As induzidas são sintetizadas apenas sob estímulo de calor ou outro agente estressante (JU, 2005). No caso do estresse térmico e em certos estados patológicos, ocorre ativação de fatores de choque térmico (Hsfs) que penetram no núcleo celular e se ligam aos elementos de choque térmico (Hses). Estes representam o sítio de ligação no DNA para ativação e expressão dos genes de choque térmico e síntese das Hsps (JU, 2005). Dentre as funções exercidas pelos genes de Hsps, estão incluídas a modulação da atividade da proteína, a regulação da degradação da proteína e o transporte das mesmas através das organelas, além de assegurar a conformação correta das proteínas (TAKAYAMA et al., 2003). O Hsp70.1 é um gene expresso em níveis semelhantes em todas as células, ou seja, um gene constitutivo, e sua expressão é reflexo de estresse celular (PEDERSEN et al., 2005). Evidências sugerem que a HSP70 desempenha um importante papel no processo de fertilização e no desenvolvimento embrionário (WRENZYCKI et al., 2005). MATWEE et al. (2000) observaram que a distribuição do Hsp70.1 em espermatozóides bovinos está relacionada com a interação entre os gametas. Foi demonstrado que embriões bovinos podem sofrer transcrição de Hsp70.1 em resposta ao choque térmico já na fase de duas células (CHANDOLIA et al., 1999). Segundo PEDERSEN et al. (2005), a expressão gênica embrionária pode ser modificada em resposta a alterações do ambiente, o que provavelmente é uma tentativa do embrião para estabilizar sua função celular. Corroborando com estes autores, LONERGAN et al (2006) observaram o aumento da abundância relativa de Hsp70.1 em embriões cultivados em condições adversas. A exposição a situações de estresse ocasiona alterações ultraestruturais observadas em oócitos e embriões, dentre as quais estão a redistribuição de organelas na região cortical e agregação citoplasmática, vacuolização e rompimento da membrana e/ou matriz mitocondrial, culminando num processo de apoptose e morte celular (LI et al. 2000). A habilidade em regular a morte celular tem sido reconhecida como uma das funções das Hsp70.1, podendo contribuir com seu efeito protetor nas células, mas esse mecanismo ainda não foi esclarecido (MATWEE et al., 2000; PARK et al., 2006). 2.8 - Apoptose em embriões produzidos in vitro Apoptose é um processo usado por organismos multicelulares para regular o número de células ou eliminar células que se tornaram potencialmente prejudiciais ao organismo. Em nível celular, a apoptose é caracterizada pela condensação da cromatina, fragmentação do DNA e fagocitose, fragmentação citoplasmática e nuclear (MAKAREVICH & MARKKULA, 2002). Durante as fases finais do processo apoptótico, extensões da membrana plasmática circundam e delimitam os corpos apoptóticos que podem ser fagocitados por células circunvizinhas, ou expulsos para o lúmen adjacente (MATWEE et al., 2000). Os eventos moleculares envolvidos no processo apoptótico são divididos em fase de indução (upstream) e fase de execução (downstream). Essa segunda fase é caracterizada pela ativação das caspazes citoplasmáticas, seguida pela fase de degradação celular (MATWEE et al, 2000). Para tal, a proteína Bax (regulador de apoptose em Bos taurus box-α) atua na membrana mitocondrial levando à liberação do citocromo c, que é um ativador da cascata de caspazes, sendo estas responsáveis pela degradação de proteínas nucleares e do citoesqueleto (DEPRAETERE & GOLSTEIN, 1998). Em embriões em estádio pré-implantacional, a apoptose pode ser considerada um processo normal com importante papel durante o desenvolvimento, funcionando inclusive como um indicador da qualidade do embrião (BYRNE et al., 1999). Entretanto, quando o número ou razão de células apoptóticas por células normais aumenta, esse evento torna-se prejudicial ao desenvolvimento embrionário, interferindo em sua qualidade (LEVY, 2001). A incidência de apoptose é maior em embriões produzidos in vitro do que in vivo (KNINJ et al., 2003), provavelmente induzida pelo estresse provocado pelo cultivo in vitro, envolvendo atraso no desenvolvimento embrionário acompanhado de fragmentação celular (JURISICOVA & ACTON, 2004). O soro no cultivo in vitro de embriões pode ser um dos agentes responsáveis pela maior incidência de embriões com alto índice de células apoptóticas (BYRNE et al., 1999). Maior quantidade relativa de transcritos do gene Bax, codificador da proteína pró-apoptótica, foi observada em embriões bovinos cultivados na presença de soro (RIZOS et al., 2003). Em embriões suínos cultivados in vitro, o soro aumentou a incidência de apoptoses e expressão de alguns genes pró-apoptóticos (CUI et al., 2005). Portanto, a eliminação do soro de meios de cultivo pode contribuir para aumentar a viabilidade de embriões bovinos produzidos in vitro, por meio da redução da incidência de apoptose. 2.9 - Expressão Gênica em embriões bovinos O termo expressão gênica refere-se ao processo pelo qual a informação genética contida num gene específico é traduzida em uma proteína específica que exercerá sua função na célula ou fora dela (WILHELM, 2003). Esse processo se dá por uma cascata de eventos, regulados por ligações de proteínas a uma seqüência regulatória de DNA, que ativam sinais bioquímicos em cadeia, resultando na ativação ou repressão de diversos genes. Estes coordenam o ciclo celular através de fatores de crescimento, hormônios, citocinas, fatores de transcrição e enzimas de controle de replicação do DNA (LOURO, 2002). O genoma funcional que resulta deste conjunto de fatores é responsável por explorar o papel de numerosos ligantes e receptores que convergem sobre a regulação transcripcional (BUSTIN & NOLAN, 2004). Os genes expressos podem ser constitutivos (housekeeping) ou induzidos. Os constitutivos são expressos em todas as células e responsáveis por funções comuns, como os genes de tRNA e rRNA, proteínas ribossômicas ou proteínas próprias do metabolismo celular. Os induzidos correspondem àqueles responsáveis por funções específicas, sendo expressos a partir de um determinado estímulo (RAMALHO, 2000). Uma das causas da baixa eficiência das biotecnias da reprodução é a expressão desbalanceada de genes importantes para o desenvolvimento. Já foram identificados vários genes com expressão alterada em embriões bovinos produzidos in vitro, tais como genes ligados ao cromossomo X (G6PD e PGK; WRENZYCKI et al., 2002), à apoptose e ao “stress” térmico e oxidativo (Hsp70.1, Bax, SOD e SOX; OLIVEIRA et al., 2005; PEDERSEN et al., 2005; BALASUBRAMANIAN et al., 2007; SAGIRKAYA et al., 2007), ao transporte de glicose (Glut-3 e Glut- 4; KNIJN et al, 2005), à comunicação celular (Cx43 e Cx31; RIZOS et al., 2002), à diferenciação (LIF, LR-β; LAZZARI et al., 2002; RIZOS et al., 2002), a genes “imprinted” (MOORE & REIK, 1996; YOUNG & FAIRBURN, 2000) e a DNA metiltransferases (RYCKE et al., 2002). A quantificação de transcritos pode ser realizada por vários métodos, dentre eles: Northern Blot, hibridização in situ e transcrição reversa associada com reação em cadeia da enzima polimerase (RT-PCR). Os dois primeiros métodos possuem grande limitação provocada pela baixa sensibilidade (BUSTIN, 2000), exigindo grande quantidade de material inicial, o que restringe seu uso para amostras pequenas ou com transcritos raros, além de consumir mais tempo na sua execução e análise. O método de RT-PCR permite a análise de diferentes amostras em um mesmo experimento, é mais sensível e flexível, e pode ser usado para quantificar e caracterizar padrões de expressão de RNA mensageiros (BUSTIN, 2000). Esse método também exige menos tempo e, atualmente, é o mais utilizado para analisar níveis de RNAm em diferentes populações (BUSTIN, 2002). Contudo, a quantificação por meio de RT-PCR também possui limitações. A eficiência da transcrição reversa e da amplificação durante o PCR sofre influência de diversos fatores, como eficiência da enzima e dos oligonucleotídeos, concentração inicial da amostra, de nucleotídeos e de outros componentes e, devido ao poder de amplificação da reação de PCR, pequenas alterações na eficiência da amplificação podem provocar grandes diferenças no produto final (LECHNIAK, 2002). O Real Time – PCR é uma tecnologia que consiste no monitoramento dos ciclos de amplificação em tempo real através de técnicas de fluorescência. Essa tecnologia tem sido largamente utilizada para estimar os níveis de expressão dos genes de interesse na neurociência, na biologia do desenvolvimento e em diagnósticos médicos (BUSTIN, 2000; RAMAKERS et al. 2003). As amostras são quantificadas utilizando-se o número de ciclos necessários para que o acúmulo do produto de PCR, representado pela fluorescência emitida, atinja determinado nível ou ponto considerado como estatisticamente significante (linha limiar) (BONDIN, et al., 2005). Esse método fornece também maior sensibilidade e precisão, podendo detectar poucas cópias de DNA com baixo coeficiente de variação nas análises de PCR (KLEIN, 2002), além de não ser totalmente necessário realizar leitura do produto em gel de eletroforese. Ao final da reação pode ser realizada curva de desnaturação para identificar a presença de contaminantes, pela análise da temperatura de desnaturação. A quantificação do material analisado pode ser absoluta, obtendo-se o número de moléculas de cDNA presente na amostra; ou relativa, onde a quantidade de cDNA presente na amostra é comparada a uma amostra de referência, denominada calibrador. Nesse caso, o resultado é obtido através da análise do valor Ct (threshold cycle), que corresponde ao número de ciclos necessários para a amostra emitir energia suficiente para alcançar um limiar, na fase exponencial da amplificação, que é definido aleatoriamente (SCHMITTGEN, 2000; BONDIN et al., 2005). Os valores Ct do gene alvo e do controle endógeno são determinados em cada amostra, e a diferença entre os valores Ct é denominada ∆Ct. Este é subtraído do valor ∆Ct do calibrador (∆Ct (calibrador) - ∆Ct (controle endógeno)). A diferença será o valor ∆∆Ct. A quantia do alvo é dada, normalizada ao controle endógeno, e relativa ao calibrador, pela fórmula 2-∆∆Ct. Para que o método comparativo ∆Ct seja validado, a eficiência de amplificação do alvo e do controle endógeno deve ser igual. Para isso, diluições diferentes de cDNA são preparadas e amplificadas (LEUTENEGGER, 2000; RAMAKERS, 2003). 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABE, H.; YAMASHITA, S.; SATOH, T.; HOSHI, H. 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DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES BOVINOS CULTIVADOS IN VITRO EM MEIO SUPLEMENTADO COM SUBSTITUTO DO SORO FETAL BOVINO RESUMO Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito de um suplemento quimicamente definido substituto do soro (KnockoutTM SR; Gibco Labs., Grand Island, NY) na qualidade e no desenvolvimento de embriões bovinos fertilizados in vitro. CCOs obtidos a partir de ovários coletados em matadouro foram maturados e fertilizados in vitro. Os possíveis zigotos foram divididos aleatoriamente em três grupos e cultivados em meio CR2aa suplementado com: 10% soro fetal bovino (SFB); 10% Knockout SR (KSR), ou 3mg/ml de polivinilalcool (PVA-controle). A taxa de clivagem foi determinada 72 horas pósfertilização (hpf) e a taxa de blastocistos (D7) 168 hpf. O número total de células foi determinado 192 hpf (D8). O desenvolvimento foi avaliado pelas taxas de embriões de 4-8 células, embriões ≥ 8 células, blastocistos iniciais (Bi), blastocistos (Bl) e blastocistos expandidos (Bx). As taxas de clivagem e blastocisto foram analisadas por Kruskal Wallis; o número total de células, por ANOVA; e as médias comparadas, por Student Newman Keuls. A taxa de clivagem não diferiu entre os grupos (P>0,05). No entanto, as taxas de blastocistos e o número total de células foram semelhantes entre o KSR e o SFB (P>0,05), sendo os dois superiores ao PVA (P<0,01). Não houve diferença (P>0,05) na avaliação dos parâmetros de desenvolvimento entre os grupos, exceto na taxa de Bx onde o PVA apresentou resultado inferior (P<0,05) aos obtidos no SFB e no KSR. Os embriões cultivados em presença de KSR apresentaram padrões de desenvolvimento e qualidade semelhantes aos cultivados em presença de soro. Contudo, o KSR proporcionou uma maior taxa de desenvolvimento e melhor qualidade de blastocisto do que o PVA. Concluise que o KSR pode sustentar o desenvolvimento de embriões bovinos fertilizados in vitro quando meios de cultivo livres de soro forem recomendados. Palavras-chave: bovino, desenvolvimento embrionário, cultivo in vitro, sistema semi-definido. DEVELOPMENT OF BOVINE EMBRYOS IN VITRO CULTURED IN SUPPLEMENTED MEDIUM WITH FETAL CALF SERUM REPLACEMENT ABSTRACT Our aim with this study was evaluate the effect of a defined supplement as a serum replacer (KnockoutTM SR; Gibco Labs., Grand Island, NY) in the quality and development grade of in vitro fertilized bovine embryos. COCs collected in slaughterhouse were in vitro matured and fertilized. The presumptive zygotes were randomly distributed in three groups of medium culture CR2aa supplemented with 10% of fetal calf serum (FCS); 10% knockout serum replacer (KSR),or 3 mg/ml of polyvinyl alcohol (PVA - control). Cleavage rate was determined 72 hours post-fertilization, and blastocyst rate was determined (D7) 168 hours post-fertilization. The total number cells were determined 192 hpf (D8). Development was evaluated with 4-8 cells embryos rate, ≥ 8 cells embryos, early blastocyst, blastocyst and expanded blastocyst. Data of cleavage and blastocyst rate were analyzed by Kruskal Wallis and total cell number by analyses of variance and means compared by Student Newman Keuls. No significant difference on cleavage rate (P>0.05) was found among groups. However, blastocyst rates and total number cells were similar between KSR and FCS (P>0.05), and higher in both groups than in PVA (P<0.01). These were no differences (P>0, 05) in evaluation of development parameters among groups, except at expanded blastocyst rate, where PVA presented lower results (P<0, 05) than FCS and KSR. In spite of supplementation with KSR in the medium culture lead to a smaller blastocyst rate compared to FCS, total number of cells and development kinetics were not affected. However, KSR lead to a higher embryo development rate than PVA. In conclusion KSR may support the development of in vitro produced bovine embryos when serum free medium is recommended. Keywords: bovine, embryo development, in vitro culture, semi-defined system INTRODUÇÃO O período pré-implantacional do embrião bovino representa uma fase muito dinâmica da embriogênese, onde uma única célula quiescente desenvolve-se, formando um grupo celular com intensa atividade metabólica. Esse desenvolvimento é controlado pela expressão de famílias de genes responsáveis por direcionar um número significativo de eventos, dentre os quais estão incluídos o início e continuação da clivagem, ativação do genoma embrionário (MEIRELES et al., 2004), agregação e compactação dos blastômeros, diferenciação celular, formação e expansão da blastocele e eclosão da zona pelúcida (WRENZYCKI et al., 2005). O embrião de mamíferos possui uma grande capacidade em adaptar-se às condições ambientais subótimas, o que lhe permite sobreviver em diferentes condições de cultivo, as quais podem conferir aos embriões produzidos in vitro uma diminuição da competência de desenvolvimento, da taxa de clivagem, do número total de células, da quantidade e qualidade de ligações intercelulares, da transcrição de genes relacionados ao crescimento e diferenciação celular; além de um acréscimo na quantidade de lipídeos intracelulares (McEVOY et al., 2003; LONERGAN et al., 2006). Diversos fatores podem influenciar o ambiente de cultivo, como a composição dos meios, a suplementação protéica, o número de embriões na gota de cultivo e a atmosfera gasosa (NATALE et al., 2001; NIEMANN & WRENZYCKI, 2003; GUTIÉRREZ-ADÁN et al. 2004). Na tentativa de otimizar a eficácia dos sistemas de cultivo, os meios de cultivo vêm sendo suplementados com uma variedade de antioxidantes, fatores de crescimento e/ou macromoléculas. Nesse contexto, a Albumina Sérica Bovina (BSA) e o Soro Fetal bovino (SFB) são as fontes protéicas mais utilizadas. Contudo, a BSA e o SFB são misturas complexas e indefinidas de proteínas, fatores de crescimento e peptídeos (LIM et al., 2007). THOMPSON (2000) demonstrou claramente que a BSA exerce um papel nutricional substancial durante o desenvolvimento embrionário, especialmente durante a compactação. Provavelmente por ser esta a proteína em maior abundância no trato reprodutivo feminino de mamíferos (OYAMADA et al., 2004). A adição de soro em meios de cultivo geralmente melhora a taxa de produção de blastocistos (GOMES & DIEZ, 2000) e seu efeito tem caráter bifásico, inibindo as primeiras divisões celulares e estimulando o desenvolvimento embrionário posterior (CAMARGO et al., 2002). Entretanto, o soro também pode aumentar o acúmulo de lipídeos citoplasmáticos, reduzir a criotolerância dos embriões (RIZOS et al., 2003) e aumentar a proporção de embriões masculinos (GUTIERREZ-ADAN et al., 2001); bem como causar alterações no metabolismo (KHURANA & NIEMANN, 2000), na estrutura mitocondrial e na ultra-estrutura (FARIN et al., 2001). Em função de o soro ser apontado como um dos principais agentes envolvidos nessas alterações embrionárias (Mc EVOY et al., 2003; RIZOS et al., 2003), um grande número de estudos vem sendo conduzido visando à exclusão do mesmo dos sistemas de cultivo. O KnockoutTM Serum Replacer (KSR) é um suplemento para meio de cultivo, quimicamente definido, amplamente utilizado como substituto do soro no cultivo de células tronco, podendo ser utilizado para estabelecimento de linhagens celulares, congelamento de células e meios de manutenção para injeção de células tronco em blastocistos (HORII et al, 2003). Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar as taxas de clivagem, de produção de blastocistos, o desenvolvimento embrionário e o número total de células de embriões bovinos produzidos in vitro e cultivados em presença de KSR. MATERIAL E MÉTODOS Local do Experimento O experimento foi realizado no Laboratório de Reprodução Animal da Embrapa Gado de Leite, localizado em Juiz de Fora, MG. Os reagentes químicos utilizados foram da Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, USA, a menos que indicado. Produção de in vitro de embriões Neste experimento, foi utilizado um total de 2556 possíveis zigotos, obtidos em 23 repetições, distribuídos em três grupos. Os embriões foram produzidos no período de janeiro a março dos anos de 2005 e 2006. Os oócitos foram obtidos de ovários coletados de vacas abatidas em matadouro. Após o abate e evisceração, os ovários foram coletados e colocados em garrafas térmicas contendo solução fisiológica (0,9% NaCl) adicionada de antibiótico (0,05g/L de sulfato de estreptomicina), aquecida a 31-34oC, sendo imediatamente transportados para o laboratório. Folículos com diâmetro entre 3 e 8 mm foram puncionados e o conteúdo aspirado foi depositado em cálice cônico contendo meio TALP-Hepes (BAVISTER et al., 1983a), previamente aquecido a 37oC. Foram selecionados os complexos cumulus-oócitos (CCOs) apresentando citoplasma homogêneo com no mínimo três camadas de células do cumulus compactas. Em seguida, os CCOs selecionados foram lavados por mais duas vezes em meio TALP-Hepes e uma vez em TCM-199 (Gibco). A maturação de 50 CCOs por poço de 400µl foi realizada em TCM-199 (Gibco) acrescido de 10% de soro de vaca em cio (SVC) e 10µg/ml de FSH, por 24 horas. Após a maturação, 30 CCOs por gotas de 100µl de meio Fert-Talp acrescido de heparina cobertas com óleo mineral foram fecundados em uma concentração espermática de 2,0 x 106 espermatozóides/ml, por um período de 18 a 22 horas. Após a fertilização, os possíveis zigotos foram parcialmente desnudos e distribuídos aleatoriamente em três grupos na proporção de 20 estruturas por gotas de 50 µl recobertas com óleo mineral. As estruturas foram cultivadas em meio CR2aa suplementado com: 10% soro fetal bovino (SFB); 10% Knockout SR (KSR), ou 3mg/ml de polivinilalcool (PVA-controle). Todas as etapas foram realizadas em estufa incubadora, à temperatura de 38,5oC e 95% de umidade, com 5% de CO2 em ar atmosférico. Avaliação da clivagem e produção de embriões Às 72 horas pós-fecundação (hpf), foi realizada a troca de 50% do volume de cada gota do meio de cultivo. Em seguida, foi realizada a avaliação da taxa de clivagem dos embriões dos três grupos. No sétimo dia de cultivo, foi avaliada a formação de blastocisto. Desenvolvimento embrionário O desenvolvimento embrionário foi avaliado 72 hpf (D3) e 168 hpf (D7). No D3, foram avaliadas as taxas de embriões que apresentavam 4-8 células e embriões com mais de 8 células. Já no D7, foram avaliadas as taxas de blastocistos iniciais, blastocistos e blastocistos expandidos em relação ao número total de blastocistos (SENGER, 2003). Contagem de células Blastocistos de oito dias foram submetidos à coloração de Giemsa (Lim et al. 1994) para determinação do número total de células. Os embriões foram retirados da gota de cultivo, lavados duas vezes em PBS suplementado com 10% SFB e transferidos para solução de citrato de sódio 0,9%, onde permaneceram por um período de 10 a 20 minutos. Passada essa etapa, os embriões foram transferidos um a um para uma solução fixadora [metanol (3): ácido acético (2): água destilada (1)], onde permaneceram por um minuto. Em seguida, foram transferidos para lâmina. Depois de seca, a lâmina foi corada com Giemsa, por 15 minutos. Passado esse período, a lâmina foi lavada, secada ao ar em temperatura ambiente e, por fim, observada em microscópio óptico para realização da contagem de células. Análise Estatística O efeito dos tratamentos sobre a qualidade e o desenvolvimento embrionário foi expresso pelas taxas de clivagem (estruturas clivadas /zigotos), blastocistos totais (blastocistos totais/zigotos), embriões de 4-8 células, embriões ≥ 8 células, blastocisto iniciais, blastocistos, blastocistos expandidos e número total de células. As taxas de clivagem e blastocistos foram analisadas pelo teste Kruskal Wallis, e o número total de células, por ANOVA. As diferenças entre médias foram comparadas pelo teste de Student Newman Keuls através do procedimento GLM do pacote estatístico SAS. Os valores foram apresentados como médias ± erro padrão (EP). RESULTADOS A suplementação do meio CR2 com soro fetal bovino (SFB), Knockout SR (KSR) ou polivinilalcool (PVA-controle) não afetou a taxa de clivagem (P>0,05). As taxas de blastocistos (D7) e blastocistos relacionados a estruturas clivadas (D7/CLIV), apresentadas pelo grupo cultivado em presença do substituto do soro (Knockout SR), foram semelhantes às observadas nos embriões cultivados em presença de soro (P>0,05); entretanto, as taxas observadas nos dois grupos foram superiores (P<0,05) às encontradas no grupo controle (PVA) (Tabela 1). Tabela 1: Efeito da suplementação com soro fetal bovino (SFB), Knockout SR (KSR) ou polivinilalcool (PVA) em meio CR2aa nas taxas de clivagem e produção de embriões bovinos produzidos in vitro. Grupos N Clivagem (%) Blastocisto (%) SFB 848 57,8±4,6a 18,6±3,0a a KSR 880 62,2±4,5 12,2±2,1a PVA (controle) 828 60,4±4,4a 4,2±1,0b a, b, c Letras diferentes em uma mesma coluna mostram diferença (P<0,05). Os valores estão representados como média ± erro padrão. Na Tabela 2, está demonstrado o número total de células referente aos blastocistos dos três grupos (SFB, KSR e PVA). Não foram observadas diferenças (P>0,05) entre a suplementação com o soro ou seu substituto sintético (Knockout SR). Contudo, os embriões cultivados em presença de Polivinilalcool (PVA) apresentaram um número inferior (P<0,01) de blastômeros quando comparados aos outros dois grupos. Tabela 2: Média do número total de células de blastocistos cultivados por 8 dias (D8) em meio CR2aa suplementado com soro, Knockout SR ou polivinilalcool. Tratamentos Blastocistos (n) N° total de células SFB 24 109,4±6,1a KSR 26 105,9±5,9a PVA 13 79,6±8,4b a, b, c Valores com letras diferentes em uma mesma coluna diferem entre si (P<0,01). Na Figura 1, está representada a distribuição das estruturas clivadas de acordo com o número de blastômeros observados 72 hpf. Os três grupos apresentaram resultados semelhantes (P>0,05) tanto na taxas de embriões com 4-8 células (SFB=35,49±2,63; KSR=38,5±2,9; PVA=38,5±2,8) como na taxa de embriões com mais de 8 células (SFB=22,14±1,86; KSR=18,8±2,6; PVA=16,8±2,5). 70,0 Taxa de Clivagem (%) 60,0 50,0 40,0 SFB KSR 30,0 PVA 20,0 10,0 0,0 Total Cliv 4-8célls >8célls Figura 1: Distribuição de embriões clivados nos grupos SFB (n=848), KSR (n=880) e PVA (n=828) 72 hpf (D3). As taxas foram avaliadas pelo teste Kruskal Wallis (P>0,05). A distribuição dos estádios de desenvolvimento embrionário nos grupos SFB, KSR e PVA está demonstrada na Figura 2. Foi observado que a suplementação do meio de cultivo com soro, Knockout SR ou PVA não interferiu (P>0,05) nas proporções de blastocisto inicial (16,0±3,8; 13,8±3,5 e 5,9±3,1, respectivamente) e blastocisto (33,8±3,9; 38,7±5,5 e 50,6±8,7, respectivamente). Entretanto, a suplementação com soro (22,8±3,6) e Knockout SR (19,9±4,6) proporcionou uma maior taxa de blastocistos expandidos do que o grupo controle (7,9±4,4). 60,0 Taxa de Blastocisto (%) 50,0 40,0 SFB KSR 30,0 PVA 20,0 * 10,0 0,0 Bi Bl Bx Figura 2: Distribuição dos estádios de blastocisto inicial (Bi), blastocisto (Bl) e blastocisto expandido (Bx) em relação ao número total de blastocistos, em embriões cultivados por sete dias (D7) em presença de soro (n=848), Knockout SR (n=880) e Polivinilalcool (n=828). Os valores foram avaliados pelo teste de Kruskal Wallis. Barra com asterisco difere significativamente (P<0,05). DISCUSSÃO Para que a produção in vitro de embriões alcance sua aplicabilidade comercial na pecuária, equipes mundiais vêm contribuindo para a melhoria dos sistemas desse tipo de cultivo. Porém, existe uma variação na produção embrionária entre laboratórios em função dos procedimentos adotados. Espera-se que, aproximadamente, 30% dos oócitos maturados e fecundados in vitro atinjam o estádio de blastocistos durante o cultivo embrionário (HOLM, 1999; RIZOS et al., 2002; LONERGAN et al., 2003; SORIA, 2005). Em vista desses resultados, é factível considerar que a etapa do desenvolvimento embrionário é limitante para a produção de maiores taxas de blastocistos. A origem do oócito é fundamental para o sistema de produção in vitro de embriões, pois determina a sustentabilidade do gameta em ser fecundado, sofrer as clivagens iniciais e transpor o bloqueio em 8-16 células e, finalmente, atingir o estádio de blastocisto (LONERGAN et al., 2006). Oócitos obtidos de ovários de matadouro utilizados para produção in vitro apresentam qualidade e competência embrionária heterogêneas. Possivelmente as alterações estão relacionadas ao fato de existirem diferenças em relação ao estádio do ciclo estral e condições reprodutivas (CHOHAN & HUNTER, 2003), idade do animal (PONDERATO et al., 2002), estação do ano e estado nutricional dos animais abatidos (BOLAND et al., 2001). Outros fatores relevantes são as condições dos meios utilizados na produção in vitro os quais, no presente experimento, também podem ter influenciado os resultados. VANROOSE et al. (2001) relataram que a escolha dos meios e seus suplementos têm impacto sobre o crescimento e a viabilidade embrionária. Entretanto, o cultivo embrionário é considerado como o período crítico da produção in vitro, pois pode alterar o padrão de expressão gênica e, assim, comprometer a qualidade e a sobrevivência após transferência dos embriões em estádio pré-implantacional (RIZOS et al., 2002; LONERGAN et al., 2003). A relação entre o momento da primeira clivagem pós-fertilização e a competência de desenvolvimento embrionário tem sido demonstrada em algumas espécies domésticas, como em bovinos (LONERGAN et al. 1999), macaco rhesus (BAVISTER et al., 1983b), hamster (Mc KIERNAN & BAVISTER, 1994), camundongos (WARNER et al., 1998), búfalo (TOTEY et al., 1996). Corroborando com esses autores, LONERGAN et al. (2006) relataram que oócitos clivados inicialmente atingem primeiro o estádio de blastocisto do que aqueles clivados mais tardiamente. No presente estudo, foi observado que a suplementação sintética (Knockout SR) não interferiu na taxa de clivagem. Esses resultados corroboram com os encontrados por LIM et al. (2007) e SAGIRKAYA et al. (2007), que também testaram suplementos substitutos ao soro. Entretanto, GUTIERREZ-ADAN et al. (2001) observaram menor número de estruturas clivadas em embriões cultivados em presença de soro. Foi observado no presente estudo que as clivagens iniciais ocorreram mesmo em ausência de proteína, sugerindo que as divisões celulares iniciais foram sustentadas pela herança materna. Durante a oogênese, o oócito acumula grande quantidade de RNAs e proteínas capazes de regular e manter o desenvolvimento do embrião durante o período de pré-implantação (BREVINI-GANDOLFI & GANDOLFI, 2001; MEIRELES et al., 2003); dentre eles, fatores transcricionais que estão envolvidos na ativação do genoma embrionário (AGE) (VIUFF et al., 1996; MEMILI et al., 1998). Entretanto, sabe-se que, em embriões bovinos produzidos in vitro, as taxas de falhas no desenvolvimento são altas e quase sempre associadas a fatores intrínsecos ao oócito e que conduzem ao bloqueio e morte embrionária (LONERGAN et al., 2003; MEIRELLES et al., 2003; 2004). Presume-se que a incapacidade de vencer o ambiente de repressão transcricional gerado por fatores estruturais do genoma, como, por exemplo, o empacotamento do DNA, a acetilação, a hiperacetilação e a metilação, seja um dos fatores que determinam a incompetência do embrião em ultrapassar os primeiros ciclos celulares (LAVOIR et al., 1997). A ativação da transcrição embrionária também é um fator vital para que o embrião em desenvolvimento seja capaz de passar pelas primeiras divisões celulares (MEIRELES et al., 2004). LEQUARRE et al. (2003) observaram que o quarto ciclo celular em bovinos era o mais longo, variando de 9 a 40 horas. Dessa forma, no período de cultivo de 36 a 96 horas, seria possível encontrar embriões com 8 a 16 células. Observou-se nesse experimento que, em 72 horas de cultivo, em presença ou não de proteína, em torno de 20% das estruturas encontravam-se naquela fase. Esses achados têm sua importância, pois embriões produzidos in vitro que atingirem precocemente o estádio de 8 células possuem maiores chances de desenvolverem até blastocisto. Em relação ao aspecto morfológico das divisões celulares, embriões do grupo controle cultivados em presença de PVA apresentaram divisões assimétricas e assincrônicas em sua maioria e blastômeros com aspecto escurecido, corroborando com os achados de HOLM et al. (2002). As características morfológicas (blastômeros escurecidos e com aspecto pulverizado) observadas na clivagem do grupo controle podem estar associadas à baixa taxa de produção embrionária. Por outro lado, em meio de cultivo adicionado de suplemento sintético livre de soro (Knockout SR), as divisões celulares apresentaram-se sincrônicas, simétricas e coesas. Além disso, os embriões desse grupo apresentaram-se levemente mais claros do que aqueles produzidos em presença de soro. No presente estudo, foi demonstrado que a suplementação do meio de cultivo com o substituto sintético do soro (Knockout SR) proporcionou taxa similar de blastocistos quando comparada à suplementação com soro, corroborando com os achados de RODRIGUEZ-SALLABERRY et al (2002). Entretanto, BASSO et al. (2003), adicionando suplemento sintético livre de soro ao meio SOFaaci, obtiveram menores taxas de blastocistos em relação ao meio suplementado com fonte protéica. Vale salientar que a remoção do soro do meio de desenvolvimento embrionário oferece maior segurança aos sistemas de cultivo, pois se elimina a possibilidade de infecção dos embriões por patógenos (Manual da IETS). Além disso, a utilização do suplemento sintético livre de soro pode ser uma promissora alternativa para estudos envolvendo a criopreservação de embriões produzidos in vitro. Na distribuição dos estádios embrionários, foi observado que as estruturas tanto do grupo SFB como do grupo KSR apresentaram uma maior velocidade de desenvolvimento em função da maior proporção de blastocistos expandidos comparados aos do grupo controle, suplementado apenas com PVA. Entretanto, KURAN et al. (2002) consideraram que apenas a presença dos aminoácidos, presentes no meio base, sustenta o desenvolvimento in vitro, já que estes ativam alguns genes relacionados com a viabilidade embrionária. No presente estudo, o meio de cultivo embrionário suplementado tanto com soro como com o suplemento sintético livre de soro estimularam a velocidade de crescimento in vitro. Como não houve diferença entre as taxas de blastocistos e blastocistos expandidos nesses dois grupos, pode-se sugerir que o Knockout SR acelera o processo de blastulação da mesma forma que o soro. A melhor forma de verificar a qualidade embrionária seria através da transferência dos embriões para receptoras e verificação do estabelecimento da prenhez. Entretanto, alguns testes podem predizer parcialmente a qualidade embrionária, como o número total de células, alterações do metabolismo celular, modificações ultraestruturais ou integridade de membrana celular (DUQUE et al., 2003). O número de células embrionárias tem sido extensivamente utilizado como um indicador da qualidade do embrião (KHURANA & NIEMANN, 2000; LEQUARRE et al., 2003; PEREIRA et al., 2005). No presente experimento, o número total de células foi similar entre os grupos, sugerindo que a qualidade dos embriões não foi afetada pela suplementação do meio de cultivo. SAGIRKAYA et al. (2007), ao compararem o número de blastômeros de embriões cultivados em presença de SFB ou de um substituto sintético do soro (SSS), também não observaram diferença no número total de células. CONCLUSÃO A suplementação do meio CR2aa com Knockout SR é favorável ao desenvolvimento embrionário, já que demonstrou valores semelhantes à suplementação com SFB tanto na produção dos embriões como no número total de células, sendo este último um parâmetro de qualidade embrionária. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSO, A.C.; AVELINO, K. B.; VANTINI, R.; ESPER, C. R.; GARCIA, J. M. Efeitos de suplementação protéica no desenvolvimento in vitro de embriões bovinos produzidos sob atmosfera controlada. Acta Scientiae Veterinariae, v. 31, p. 246, 2003. BAVISTER, B.D.; LEIBFRIED, M.L.; LIEBERMAN, G. Development of preimplantation embryos of the golden hamster in a defined culture medium. Biology of Reproduction, v. 28, p.235-247, 1983a. BAVISTER, B.D.; BOATMAN, D.E.; LEIBFRIED, M.L.; LOOSE, M.; VERNON M. W. Fertilization and cleavage of rhesus monkey oocytes in vitro. Biology of Reproduction, v. 28, p. 983–999, 1983b. BOLAND, M. P.; LONERGAN, P.; O`CALLAGHAN. 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A extração total de RNA foi realizada utilizando o Micro Kit Rneasy (Qiagen, Valencia, CA, USA), e a síntese da primeira fita de DNA foi obtida com o Kit SuperscriptTM III First Strand Synthesis (Invitrogen, Chicago, IL, USA). A quantificação relativa foi realizada em duplicata utilizando o PCR Real Time (ABI Prism 7000 Applied Biosystem, Foster City, CA, USA), sendo a mistura da reação composta de iTaqTM SYBR Green Supermix, ROX (Bio-Rad, Waltham, MA, USA), cDNA equivalente a 0,8 embriões e primers específicos para cada gene. A expressão do gene H2A foi utilizada como referência endógena e, como calibrador, o valor do grupo PVA. As taxas de clivagem e blastocisto foram analisadas por Kruskal Wallis e o número total de células por ANOVA. A taxa de clivagem foi semelhante (P>0,05) entre os grupos, porém o grupo PVA apresentou menores taxas de blastocistos (P<0,05), quando comparado aos outros dois grupos. Não houve diferença (P>0,05) na abundância relativa de Hsp70.1 (5.42±0.80, 3.46±1.62 e 1.85±0.85) e Bax (2.08±1.14, 0.92±0.15 e 1.82±0.82) para os grupos SFB, KSR e PVA. Esses resultados mostram que embriões cultivados em meio suplementado com KSR apresentam o mesmo padrão de expressão para Hsp70.1 e Bax, o que sugere condições semelhantes de estresse e apoptose nos embriões de ambos os grupos. Palavras-chave: embrião, cultivo in vitro, expressão gênica, Hsp70.1, Bax EXPRESSION OF Hsp70.1 AND Bax TRANSCRIPTS IN BOVINE EMBRYOS CULTURED IN SERUM-FREE MEDIUM ABSTRACT This study aimed to determine whether KnockoutTM SR or FCS in culture medium alters the relative abundance of Hsp70.1 and Bax transcripts in vitrofertilized bovine embryos. COCs obtained from slaughterhouse ovaries were in vitro matured and fertilized. Presumptive zygotes were randomly cultured with their own cumulus cells in CR2aa medium supplemented with 10% fetal calf serum (FCS group); 10% KnockoutTM SR (KSR group), or 3 mg/ml polyvinyl alcohol (PVA group). All steps were performed at 38.5°C, under 5% CO2 in air and 95% humidity. Blastocysts on day 8 post-fertilization were rapidly frozen in liquid nitrogen and subsequently thawed for RNA extraction. Total RNA extraction was performed using Rneasy Micro kit (Qiagen, Valencia, CA, USA) and first strand DNA synthesized using SuperscriptTM III First Strand Synthesis kit (Invitrogen, Chicago, IL, USA). Relative quantification was performed in duplicate using Real Time PCR (ABI Prism 7000 Applied Biosystem, Foster City, CA, USA) and reactions consisted of a mixture of iTaqTM SYBR Green Supermix with ROX (BioRad, Waltham, MA, USA) with cDNA equivalent to 0.8 embryos and gene specific primers. Expression of H2A gene was used as endogenous reference and using the value found in PVA group as calibrator. Rates all were evaluated by ANOVA. Cleavage rate were similar among groups (P>0.05), however blastocyst rates were lower in PVA (P<0.01) than others groups. There was no difference (P>0.05) on expression of Hsp70.1 (5.42±0.80, 3.46±1.62 e 1.85±0.85) and Bax (2.08±1.14, 0.92±0.15 e 1.82±0.82) among FCS, KSR and PVA groups. This data shows that bovine embryos cultured in medium supplemented with KSR has the same Hsp701 and Bax expression pattern as those in medium added with FCS, suggesting that embryos in both groups are under the same stress and apoptosis conditions. Keywords: embryo, in vitro culture, gene expression, Hsp70.1, Bax. INTRODUÇÃO Nos mamíferos, o período pré-implantação está compreendido entre a formação do zigoto e o estádio de blastocisto. Esse período do desenvolvimento é caracterizado por quatro etapas biológicas distintas, que ocorrem após a fertilização do oócito e incluem (I) a primeira clivagem, (II) a transição maternozigótica (MZT) ou ativação do genoma embrionário (AGE), (III) a compactação e conseqüente polarização do epitélio embrionário e (IV) a diferenciação de mórula em blastocisto (SCHULTZ et al., 1999; WRENZYCKI et al., 2005), sendo que cada uma dessas etapas é acompanhada por mudanças no padrão de expressão gênica (WARNER & BRENNER, 2001). Embriões bovinos pré-implantação são capazes de se adaptar a grande variedade de ambientes, incluindo condições adversas e inadequadas de cultivo (OLIVEIRA et al., 2005). Entretanto, a maioria dos embriões produzidos in vitro não alcança o estádio de blastocisto, e aqueles que atingem esse estádio apresentam qualidade inferior àqueles produzidos in vivo (PEDERSEN et al., 2005). Vários estudos têm demonstrado que o microambiente no cultivo in vitro pode ter efeito determinante nos padrões normais de expressão gênica (RIZOS et al., 2003; GUTIERREZ-ADAN et al., 2004; LONERGAN et al., 2006). Mais recentemente, foi estabelecido que a associação entre a avaliação da competência de desenvolvimento (taxas de clivagem e blastocisto) e da qualidade (criotolerância, expressão gênica e morfologia) pode fornecer visão mais completa das conseqüências ocasionadas pela modificação da composição dos sistemas de cultivo (AVERY & GREVE, 2004). A influência da suplementação protéica representa ponto crucial na eficiência de sistemas de cultivo embrionário in vitro. O soro fetal bovino (SFB) e a albumina sérica bovina (BSA) são as fontes protéicas mais utilizadas em meios de cultivo (BAVISTER, 1995; LONERGAN et al, 1999; VAN WAGTENDONK-DE LEEUW et al., 2000). Contudo, por serem de origem biológica, possuem quantidades indefinidas de hormônios, fatores de crescimento, vitaminas e vários outros fatores desconhecidos, podendo, ainda, veicular patógenos (KURAN et al., 2002). Esses fatores, ao não permitir o controle das condições de cultivo, dificultam a repetibilidade de resultados. Diante dessas evidências, vários grupos de pesquisa vêm buscando utilizar suplementos sintéticos livres de soro, de forma a minimizar ou eliminar os danos causados pelo soro. Os suplementos sintéticos, utilizados como substitutos de proteínas animais para o crescimento in vitro de células indiferenciadas, representam alternativa para a produção in vitro de embriões bovinos. O Knockout Serum Replacer (KSR) é um suplemento quimicamente definido, desenvolvido para manutenção do cultivo in vitro de células tronco (HORII et al., 2003). Entretanto, ainda não existe embasamento na literatura a respeito de seus efeitos sobre o desenvolvimento e a expressão gênica de embriões bovinos produzidos in vitro. Estudos recentes têm utilizado padrões de expressão de RNAm como critério para predizer o potencial de desenvolvimento de embriões produzidos in vivo (RIZOS et al., 2002; WRENZYCKI et al., 2004). Contudo, a abundância relativa de diversos transcritos tem sido afetada tanto pela escolha dos meios de cultivo, como pelo tipo de suplemento utilizado, e essa escolha representa ponto crítico no desenvolvimento pré-implantacional in vitro (RIZOS et al., 2002; WRENZYCKI et al., 1999, 2001, 2004; SAGIRKAYA et al., 2006). GUTIERREZ-ADAN et al. (2004) demonstraram que genes induzidos pelo estresse (sarcosina oxidase - SOX, magnésio superoxido desmutase - MnSOD, regulador de apoptose em Bos taurus box-α – Bax e interferon tau - IF ) foram altamente transcritos em embriões produzidos in vitro. Por outro lado, genes relacionados ao metabolismo, crescimento e diferenciação (transportador de glicose - Glut-5, conexina 43 – Cx43 e fator semelhante à insulina II - IGF-II) foram detectados em maior quantidade em embriões produzidos in vivo. Esses padrões de transcrição refletem a resposta embrionária às condições adversas de cultivo in vitro e à plasticidade do desenvolvimento pré e pós-implantacional em condições sub-ótimas (RIZOS et al., 2003; WRENZYCKI et al., 2003). A expressão de genes associados à resposta ao estresse e apoptose, como a proteína do choque térmico (Hsp70.1) e a proteína reguladora de apoptose em Bos taurus (Bax), pode ser afetada pelas condições de cultivo in vitro, sendo induzida por uma variedade de agentes estressores, incluindo os componentes dos meios de cultivo (WRENZYCKI et al., 2001; RIZOS et al., 2002; PEDERSEN et al., 2005). Atualmente, os principais obstáculos para o estabelecimento, em larga escala, de programas de produção in vitro de embriões bovinos têm sido as altas taxas de mortalidade embrionária e fetal, assim como a ocorrência de anomalias nos animais nascidos. Conseqüentemente, o estudo da expressão gênica pode fornecer subsídios para a compreensão das falhas que ocorrem nos programas de produção de embriões, além de melhorar sua eficiência. O objetivo deste trabalho foi avaliar a competência de desenvolvimento e a expressão dos genes Hsp 70.1 e Bax em embriões bovinos fertilizados in vitro e cultivados em presença de substituto sintético do soro. MATERIAL E MÉTODOS Local do Experimento O experimento foi realizado nos Laboratórios de Reprodução Animal e Genética Molecular da Embrapa Gado de Leite, localizados em Juiz de Fora, MG, no Laboratório de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP, localizado em Ribeirão Preto, SP; e no Laboratório Agrogenética, localizado em Viçosa, MG. Produção de in vitro de embriões Neste experimento, foi utilizado um total de 1175 possíveis zigotos, obtidos em 11 repetições, distribuídos em três grupos. Os embriões foram produzidos no período de outubro a novembro de 2006, a partir de oócitos obtidos de ovários coletados de novilhas e vacas da raça nelore abatidas em matadouro. A produção foi realizada como descrito anteriormente no capítulo 1. Avaliação dos embriões Às 72 horas após a fecundação (hpf), foi realizada a troca de 50% do volume de cada gota do meio de cultivo. Em seguida, foi realizada a avaliação da taxa de clivagem dos embriões dos três tratamentos. No sétimo e oitavo dias de cultivo, foi avaliada a formação de blastocisto. Extração do RNA e transcrição reversa A expressão dos genes Hsp70.1 e Bax foi avaliada em 30 embriões do grupo SFB, 30 embriões do grupo KSR e 20 embriões do grupo PVA. No oitavo dia de cultivo (D8), embriões em estádio de blastocisto (Bl) e blastocisto expandido (Bx), classificados em grau I e II de acordo com o manual da IETS, foram retirados do cultivo e lavados em meio TALP-Hepes. Os blastocistos foram agrupados em pools de 8 a 10, acondicionados em criotubos, congelados rapidamente em nitrogênio líquido e armazenados em freezer a -80°C. Subseqüentemente, os embriões foram descongelados para extração de RNA, sendo esta realizada por meio da utilização Micro Kit Rneasy (Qiagen, Valencia, CA, USA), de acordo com as instruções do fabricante. A síntese da primeira fita de DNA foi obtida com o Kit SuperscriptTM III First Strand Synthesis (Invitrogen, Chicago, IL, USA). Adicionou-se à amostra (8µl) 1µl de primers oligo-dT18 e 1µl de dNTPs; então, a amostra foi incubada em termociclador para a produção da fita de cDNA por um período de 5 minutos, a uma temperatura de 65ºC. Em seguida, a amostra foi resfriada e mantida no gelo. Dando continuidade ao processo de transcrição, foi adicionado a cada amostra 2µl de tampão RT, 4 µl de MgCl2, 2 µl de DTT, 1 µl de RNase OUT e 1 µl de SuperScript III RT. A reação de síntese do cDNA foi conduzida por 50 minutos a 50ºC, seguidos de 5 minutos a 85ºC e resfriamento em gelo. Por fim, foi adicionado à amostra 1 µl de RNase H e o conteúdo foi incubado por mais 20 minutos a 37ºC. Essa última etapa é realizada para degradação do RNAm e purificação do cDNA, que foi armazenado a -80ºC até o momento da reação de PCR em tempo real. PCR em Tempo Real A quantificação relativa foi realizada em duplicata utilizando o PCR Real Time (ABI Prism 7000 Applied Biosystem, Foster City, CA, USA), sendo a mistura da reação composta de iTaqTM SYBR Green Supermix, ROX (Bio-Rad, Waltham, MA, USA), cDNA equivalente a 0,8 embriões e primers específicos para cada gene, em um volume final de 25 µl por reação. A seqüência dos oligonucleotídeos, a temperatura de anelamento, o tamanho do fragmento e o código de acesso do Genebank estão apresentados na Tabela1. Tabela 1: Sequência de primers e temperatura de anelamento específicas para cada gene avaliado Gene Sequência (5’-3’) Temperatura Anelamento (°C) Tamanho Fragmento (pb) N° Acesso Genebank 5´ AACAAGATCACCATCACCAACG 59 275 NM174550 64 174 NM173894 52 176 NM174809 Hsp70.1 3´ TCCTTCTCCGCCAAGGTGTTG Bax 5´ TTTTGCTTCAGGGTTTCATCCAGGA 3´ CAGCTGCGATCATCCTCTGCAG H2A 5´ GCCATCCTGGCGTACCTCAC 3´ TGGATGTGTGGAATGACACC As reações de PCR foram conduzidas a 95ºC por 2 minutos, seguido de 40 ciclos a 95ºC por 15 segundos, temperatura de anelamento específica para cada primer por 30 segundos e elongação (extensão) a 72ºC por 30 segundos. Após cada corrida de PCR, a análise da curva de desnaturação (melting curve) foi realizada para cada amostra, para detectar dímeros de oligonucleotídeos e produtos inespecíficos. O tamanho do fragmento foi confirmado por eletroforese em gel com 2% de agarose (Figura 1), corado com brometo de etídio. Controles negativos sem ácido nucléico também foram conduzidos simultaneamente. L H2A Hsp70.1 Bax Controle (-) 275 pb 176 pb 174 pb S K P S K P S K P 1 2 3 Figura 1: Padrão de bandas, em gel de agarose (2%) corado com brometo de etídeo, do “ladder” de 100bp (L) e dos genes H2A (1), Hsp70.1 (2) e Bax (3), nas amostras de embriões do grupo SFB (S), do grupo KSR (K) e do grupo PVA (P). Os sinais de fluorescência emitidos durante os primeiros 9 ciclos foram utilizados para determinar a linha base de fluorescência, e o número de ciclos em que a fluorescência é considerada significante (ciclo em que a fluorescência da amostra atinge uma linha limiar); Ct foi estabelecido dentro da fase exponencial de amplificação. Para corrigir variações entre amostras, o número do Ct de cada gene foi normalizado com o Ct obtido com o gene H2A (gene de referência endógena) para, então, fornecer o número de Ct normalizado para cada gene e amostra. Como o valor de Ct é inversamente proporcional à quantidade de material de DNA inicial, maiores valores de Ct normalizado significam menores quantidades de transcritos e vice-versa. A análise dos resultados do PCR quantitativo foi realizada utilizando-se o método 2-∆∆Ct, sendo que os resultados foram expressos relativos a um grupo referência ou calibrador. Neste experimento, o grupo referência foi o grupo PVA. O Ct do gene alvo (Hsp70.1 e Bax) e do gene controle endógeno (Histona H2A) foram determinados para cada amostra. A diferença entre o Ct do alvo e o Ct endógeno, denominado ∆Ct, foi calculada para cada amostra no grupo referência (PVA) e experimental (SFB e KSR), objetivando-se normalizar as diferenças nas extrações de RNA e a eficiência das reações de transcrição reversa. O ∆Ct de cada gene obtido em cada amostra do grupo experimental foi subtraído do ∆Ct obtido no grupo referência; o resultado obtido é chamado de ∆∆Ct (∆∆Ct = ∆Ct Exp –∆Ct Ref.). A quantidade do gene alvo no grupo experimental, já normalizada pelo controle endógeno (gene Histona 2a) e pelo grupo referência (∆Ct do grupo referência), foi calculada usando 2-∆∆Ct. Desse modo, os dados obtidos foram expressos no grupo experimental como X vezes relativas ao grupo referência. Análises Estatísticas As taxas de clivagem e blastocistos foram analisadas pelo teste Kruskal Wallis. A expressão relativa, caracterizada por 2-∆∆Ct, foi analisada por ANOVA, e as diferenças entre médias foram comparadas pelo teste Student Newman Keuls, através do procedimento GLM do pacote estatístico SAS. Os valores foram apresentados como médias ± erro padrão (EP). RESULTADOS O número de zigotos e as taxas de clivagem e de blastocistos estão sumarizados na Tabela 2. A suplementação do meio CR2 com soro fetal bovino (SFB), substituto sintético do soro (Knockout SR), ou álcool polivinílico (PVAcontrole), não afetou a taxa de clivagem (P>0,05). As taxas de blastocistos (D7) e blastocistos relacionados a estruturas clivadas (D7/CLIV), apresentadas pelo grupo cultivado em presença do substituto do soro (Knockout SR), foram semelhantes às observadas nos embriões cultivados em presença de soro (P>0,05); entretanto, as taxas observadas nos dois grupos foram superiores (P<0,05) às encontradas no grupo controle (PVA). Tabela 2: Efeito da suplementação com soro fetal bovino (SFB), Knockout SR (KSR) ou álcool polivinílico (PVA) em meio CR2aa nas taxas de clivagem e produção de blastocistos em embriões bovinos produzidos in vitro. Taxas de blastocistos Tratamentos Zigotos (n) Taxa de clivagem D7* D8** SFB 401 58,4±2,8a 24,5±2,2 a 27,5±2,7a a a KSR 379 70,9±4,5 25,1±2,9 29,8±3,1a a b PVA (controle) 395 65,7±4,6 14,7±3,1 17,6±3,0b a, b Médias, seguidas de letras diferentes, em uma mesma coluna, mostram diferença (P<0,05). Não foi detectada diferença significativa na abundância relativa entre embriões dos grupos SFB, KSR e PVA para os genes Hsp70.1 e Bax (Tabela 3). Tabela 3: Expressão da abundância relativa de transcritos específicos (média±EP) em embriões bovinos em estádio de blastocisto e blastocisto expandido. Genes Tratamento Hsp 70.1 Bax a SFB 5,42±0,80 2,08±1,14 a KSR 3,46±1,62 a 0,92±0,15 a a PVA (controle) 1,85±0,85 1,82±0,82 a a Médias, seguidas de letras iguais, em uma mesma coluna, não representam diferença (P>0,05). DISCUSSÃO Para alcançar a aplicabilidade comercial de embriões produzidos in vitro, vários estudos têm sido realizados, contribuindo para a otimização de sistemas de cultivo in vitro (FLEMING et al., 2004; LONERGAN et al., 2006). Entretanto, alterações na morfologia, metabolismo e competência de desenvolvimento ainda persistem em embriões bovinos fertilizados in vitro. O soro, que é amplamente utilizado para cultivar embriões bovinos fertilizados in vitro, tem sido demonstrado como um dos fatores envolvidos nessas alterações; por isso, alguns estudos têm buscado meios livres de soro que proporcionem desenvolvimento embrionário similar às taxas obtidas em meios suplementados com soro (DUQUE et al., 2003; LIM et al., 2007; SAGIRKAYA et al., 2007). O presente estudo demonstrou que embriões bovinos fertilizados in vitro podem ser co-cultivados com células do cumulus em meio livre de soro, suplementado com um substituto comercial do soro (KSR) em 5% CO2, sem afetar as taxas de blastocistos e a abundância relativa de genes associados ao estresse quando comparados com sistemas de cultivo convencionais contendo soro. A composição do meio de cultivo tem uma relevante importância no desenvolvimento embrionário, com grande impacto na sua viabilidade (VANROOSE et al. 2001). O cultivo embrionário também pode alterar os padrões de expressão de genes e comprometer a sobrevivência e qualidade embrionárias (RIZOS et al., 2002; LONERGAN et al., 2003). O soro e a BSA são suplementos protéicos convencionais utilizados no cultivo de embriões bovinos, que possuem efeito positivo no desenvolvimento de blastocistos. Contudo, o uso do soro tem sido associado a várias anormalidades na morfologia embrionária, expressão genética, gestação e recém nascidos (VANROOSE et al., 2001). Uma alternativa para contornar os efeitos deletérios do soro é a sua substituição por macromoléculas sintéticas como PVA ou PVP, que requerem baixa tensão do O2. Apesar de proporcionar taxas de clivagem semelhantes, a produção de embriões geralmente é menor do que em meios suplementados com soro (WRENZYCKI et al., 2001; KURAN et al., 2002; ORSI & LEESE, 2004). Resultados semelhantes foram obtidos no presente estudo, onde não foi demonstrada diferença nas taxas de clivagem entre os grupos SFB e PVA, sendo a taxa de blastocisto maior no grupo SFB. Por outro lado, a substituição do soro pelo KSR não afetou a clivagem e a produção de blastocistos, sugerindo que esse suplemento pode proporcionar condições similares para embriões bovinos quando comparado com a suplementação com soro. Outros substitutos do soro têm sido testados com resultados similares. DUQUE et al. (2003) avaliou o efeito de dois diferentes substitutos comerciais do soro (CPSR-3® e Ultrocer G®) no desenvolvimento de embriões bovinos fertilizados in vitro e observaram que o CPSR-3® proporcionou taxas de desenvolvimento similares ao soro. Uma das alterações causadas por sistemas de cultivo in vitro é o desbalanceamento da expressão de importantes genes para o desenvolvimento embrionário. De fato, embriões produzidos in vitro demonstram alterações na expressão de alguns genes (WRENZYCKI et al., 2002; RIZOS et al., 2002; KNIJN et al, 2005; CAMARGO et al., 2005). Alguns desses distúrbios na expressão de genes podem ser associados com o uso do soro no meio de cultivo (WRENZYCKI et al. 1999; RIZOS et al. 2003). A expressão de genes relacionados à resposta ao estresse celular, como a proteína do choque térmico (Hsp) e o Bax, pode ser alterada pelo cultivo embrionário (PEDERSEN et al., 2005; WARZYCH et al., 2007). Além disso, a expressão de Hsp tem sido sugerida como um indicador de estresse no ambiente, causado por condições subótimas de estresse (WRENZYCKI et al., 2001). No presente estudo, embriões cultivados com (SFB) ou sem soro (grupos KSR ou PVA) não demonstraram alterações significativas na abundância relativa de Hsp 70.1, em concordância com outros estudos. WRENZYCKI et al. (2001) não encontraram diferença na expressão relativa de Hsp70.1 entre grupos cultivados com soro, BSA ou PVA, embora embriões cultivados com soro tenham demonstrado maior expressão do que embriões produzidos in vivo. OLIVEIRA et al., (2005) cultivaram embriões bovinos em diferentes concentrações de soro (1 a 20%) ou com 0.4% BSA, e também não encontraram diferença na expressão relativa de Hsp70.1 entre os tratamentos. Esses resultados sugerem que alterações na expressão do gene Hsp70.1 não podem ser associadas à utilização de soro no meio de cultivo, como observado no presente estudo. Em relação à expressão de Bax, não existiu diferença entre os embriões cultivados com SFB, KSR ou PVA, o que também sugere que os níveis de expressão desse gene não estão relacionados à presença do soro no meio de cultivo. Por outro lado, a presença de soro durante o período de cultivo resulta em um significante aumento nos níveis de expressão de Bax (RIZOS et al., 2003). O Bax é uma proteína pro-apoptótica, mas seu papel está associado com a atividade do Bcl-2, e a relação Bcl2:Bax predetermina a resposta celular ao estímulo à apoptose (BASU & HALDAR, 1998). FOULADI-NASHTA et al. (2005) reportaram que a suplementação com soro no meio de cultivo não aumentou a formação de núcleos apoptóticos em blastocistos bovinos. A associação dos resultados dos estudos anteriores com o presente estudo sugere que o soro pode não ser o único agente estimulador da apoptose em embriões bovinos fertilizados in vitro. O KnockoutTM SR é um suplemento definido, livre de soro, desenvolvido para o crescimento e manutenção de células tronco indiferenciadas (GOLDSBOROUGH et al., 1998, BRYJA et al, 2006). Esse suplemento livre de soro não é recomendado para cultivo em placa de células como fibroblastos, pois não possui fatores que permitam a adesão das células na placa. O presente estudo demonstrou que as células do cumulus cultivadas com KSR não formaram monocamada. CONCLUSÃO A utilização de Knockout SR em sistemas de cultivo sustenta o desenvolvimento de embriões bovinos produzidos in vitro e pode ser uma alternativa para substituir o soro no cultivo embrionário. Estudos complementares devem ser realizados com o objetivo de relacionar a expressão gênica e o potencial de desenvolvimento in vitro com o estabelecimento de prenhez e as taxas de nascimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAViSTER, B.D. Culture of preimplantation embryo: facts and artifacts. Human Reproduction Update, v. 1, n. 2, p. 91-148, 1995. BASU, A.; HALDAR, S. The relationship between BcI2, Bax and p53: consequences for cell cycle progression and cell death. Molecular Human Reproduction, v. 4, p. 1099-1109, 1998. BRYJA, V.; BONILLA, S.; ARENAS, E. Derivation of mouse embryonic stem cells. Nat Protoc, v.1, p. 2082-2087, 2006. CAMARGO, L.S.A.; VIANA, J.H.M.; SÁ, W.F.; FERREIRA, A.M.; VALE FILHO, V.R. Developmental competence of oocytes from prepubertal Bos indicus crossbred cattle. Animal Reproduction Science, v. 85, p. 53–59, 2005. DUQUE, P.; GOMEZ, E.; DIAZ, E.; FACAL, N.; HIDALGO, C.; DIEZ, C. Use of two replacements of serum during bovine embryo culture in vitro. 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CONCLUSÕES GERAIS É possível estabelecer a produção de embriões bovinos em meio de cultivo CR2aa, suplementado com suplemento sintético livre de soro (Knockout Serum Replacer). Nos sistemas de cultivo que receberam soro fetal bovino (SFB) ou Knockout SR (KSR), tanto a qualidade quanto a quantidade dos blastocistos bovinos são superiores em relação àqueles produzidos na presença de álcool polivinílico (PVA).