A DEPRESSÃO

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A DEPRESSÃO
Provavelmente, hoje em dia, a doença da mente sobre a qual mais ouvimos falar é a
depressão. Não por simples modismo, mas porque é uma das mais freqüentes doenças
mentais.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão já é hoje uma das
maiores causas de adoecimento da população. Pior, segundo as projeções, por volta do
ano 2020, estará no segundo lugar entre as doenças que causarão maior perda de
qualidade de vida e risco de morte, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares.
Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever nossos sentimentos.
Todos se sentem "para baixo" de vez em quando, ou de alto astral às vezes e tais
sentimentos são normais. A depressão, no entanto, é bastante diferente: é uma doença
como outra qualquer que exige tratamento.
Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem ou mesmo
cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos
negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que bem.
A melhor forma de ajudar uma pessoa com depressão é procurar ouvir o desabafo de
quem está deprimido, ou ainda, aconselhar a procurar um profissional, quando percebe
que o amigo deprimido não está só triste.
É importante compreender que a pessoa deprimida tem dificuldade em enxergar a saída
para seus problemas. O individuo fica tão perdido em meio à sua dor, que não consegue
ver uma solução, uma luz no fim do túnel.
Os sintomas da depressão variam de acordo com a personalidade de cada um. Por isso
as reações são diferentes em cada pessoa.
A gravidade e freqüência destes sintomas variam muito de um deprimido a outro,
podendo ser intermitentes ou ainda ter a predominância da lentidão física e mental, com
inibição (decorrente da timidez, medo, ou falta de ânimo para realizar tarefas) e
ansiedade. No caso da depressão psicótica, pode-se observar intensa agitação
psicomotora ou estupor depressivo (estado caracterizado por falta de comunicação,
ausência, diminuição profunda ou bloqueio dos movimentos voluntários e falta de
resposta psicomotora), com alucinações, idéias deliróides e/ou obnubilação (isto é,
obscurecimento) da consciência. (Mayer-Gross e cols, 1976; Goodwin e Jamison,
1990).
Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças conceituais entre
a depressão psiquiátrica e a depressão normal seria comparar com a diferença que há
entre clima e tempo.
O clima de uma região ordena como
ela prossegue ao longo do ano por anos a fio. O tempo é a pequena variação que ocorre
para o clima da região em questão.
O clima tropical exclui incidência de neve. O clima polar exclui dias propícios a banho
de sol.
Nos climas tropical e polar ocorrerão dias mais quentes, mais frios, mais calmos ou com
tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de variação.
O clima é o estado de humor, e o tempo as variações que existem dentro dessa faixa.
O paciente deprimido terá dias melhores ou piores assim como o não deprimido. Ambos
terão suas tormentas e dias ensolarados, mas as tormentas de um, não se comparam às
tormentas do outro, nem os dias de sol de um, se comparam com os dias de sol do outro.
Os "dias frios e tormentas" de um depressivo são mais intensos e sofríveis, do que a da
pessoa
não
depressiva,
muito
embora,
ambas
passem
por
tempos
ruins.
Um dia "frio" para um, pode ser sentido como um dia "insuportavelmente frio" para o
outro, e isso não tem relação com fraqueza; trata-se de uma caracteristica da patologia.
A grama do vizinho nem sempre é mais verde que a nossa...
O MECANISMO DE RECOMPENSA:
Antes de entendermos melhor o que é a depressão, precisamos compreender um
mecanismo cerebral que está provavelmente envolvido nesta patologia.
A busca constante por estímulos prazerosos, como alimentos saborosos, uma cerveja
geladinha e a relação sexual excitante, está associada a um "sistema cerebral de
recompensa" ou somente, “mecanismo de recompensa”, assim denominado pelo
neurobiólogo americano James Olds nos anos 60. Trata-se de uma complexa rede de
neurônios que é ativada quando fazemos atividades que causam prazer. Este sistema nos
fornece uma recompensa sempre que fazemos determinadas atividades, levando-nos,
portanto, a repetir aqueles atos. Biologicamente, ele tem uma função específica e
essencial: garantir a sobrevivência do indivíduo e da espécie, ao dar motivação para
comportamentos como comer, beber e reproduzir-se.
Estes eventos ocorrem em “cascata” (ou seja, em seqüência). Usualmente, estando
íntegras as estruturas do sistema "em cascata" e os neurotransmissores (como a
dopamina e a serotonina) envolvidos funcionando normalmente, a "recompensa",
expressa em sua forma mais significativa: sensação de bem-estar, é obtida se certas
condições básicas são satisfeitas.
As falhas neste mesmo mecanismo estão envolvidas com o alcoolismo, uso de drogas,
na
compulsão
pela
comida
e
por
sexo,
e
também
na
depressão.
Estima-se que em torno de 60 a 70% das pessoas que tem uma dependência química
(seja álcool ou demais drogas lícitas ou ilícitas), tem ao mesmo tempo algum outro tipo
de transtorno ou sofrimento mental. Em especial, os transtornos ansiosos, os transtornos
de humor e principalmente a depressão.
Esta é uma informação que muitas pessoas desconhecem, e a dependência química
ainda passa pelo crivo da ótica moral por parte da sociedade; muitos acreditam que o
dependente não deixa de usar estas substâncias por uma falta de caráter, por falta de
força de vontade, etc.
O que nem todos sabem é que muitos destes casos podem ter um quadro depressivo, ou
ainda outra patologia psiquiátrica concomitante.
Este importante tema será abordado em postagem futura.
O QUE CAUSA A DEPRESSÃO?
Não se sabe ao certo o que causa a depressão. A causa mais provável é a de que ela seja
resultante de um desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do
estado de humor.
Na pessoa com depressão, provavelmente ocorre uma falha no mecanismo de
recompensa, o que faz com que ela tenha com menor freqüência sensações de prazer e
bem-estar.
Esta
hipótese
baseia-se
na
comprovada
eficácia
dos
antidepressivos.
O fato de ser um desequilíbrio bioquímico não exclui tratamentos não farmacológicos.
O uso continuado da palavra (uma conversa, um desabafo, o diálogo com o terapeuta
durante a consulta), pode levar a pessoa a obter uma compensação bioquímica. Apesar
disso nunca ter sido provado, o contrário também nunca foi.
Inúmeros estudos tentam encontrar a relação entre a depressão e certos eventos
desencadeantes (situações que dão inicio ao episódio depressivo). No entanto, um
evento estressante pode ser responsabilizado pelo aparecimento da depressão, mas não
de sua manutenção, ou seja, a morte de um ente querido ou a perda do emprego pode
desencadear a depressão, mas não mantê-la.
Na prática, a maioria das pessoas que sofre um revés se recupera com o tempo. Se os
reveses da vida causassem depressão a todas as pessoas, todos nós nos tornaríamos
pessoas deprimidas, e não é isto o que se observa. Os eventos estressantes
provavelmente disparam a depressão nas pessoas predispostas, isto é, vulneráveis.
São exemplos de eventos estressantes: perda de pessoa querida, perda de emprego,
mudança de habitação contra vontade, doença grave. Pequenas contrariedades não são
consideradas como eventos fortes o suficiente para desencadear depressão.
O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência genética
como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram que mais do que
a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor mais as pessoas. O
fator genético é fundamental, uma vez que os gêmeos idênticos ficam mais deprimidos
do que os gêmeos não idênticos.
O QUE É DEPRESSÃO?
A depressão e a bipolaridade são também conhecidas como doenças do humor, ou seja,
são enfermidades nas quais ocorrem alterações do humor, no ânimo da pessoa,
caracterizando-se por períodos de um quadro depressivo, e que no caso da bipolaridade,
se alternam com períodos de quadros opostos, em que a pessoa se sente eufórica
(mania).
Tem como uma das principais características, o sentimento de tristeza, falta de prazer e
ânimo, desesperança, sendo que a pessoa pode ainda apresentar sintomas físicos, como
enjoos e dores, entre outros.
SINTOMAIS MAIS COMUNS:
Os sintomas mais comumente relatados são:
• Sentir-se triste, durante a maior parte do dia, quase todos os dias;
• Perder o prazer ou interesse em atividades rotineiras (anedonia);
•Irritabilidade (pode substituir o humor deprimido em crianças e adolescentes);
•Desesperança;
•Queda da libido;
•Perder peso ou ganhar peso (não estando em dieta);
•Dormir demais ou de menos, ou acordar muito cedo;
• Sentir-se cansado e fraco o tempo todo, sem energia;
• Sentir-se inútil, culpado, um peso para os outros;
• Sentir-se ansioso;
• Sentir dificuldade em concentrar-se, tomar decisões e dificuldade de memória;
• Ter pensamentos freqüentes de morte e suicídio.
ALGUMAS DICAS PARA IDENTIFICAR UMA POSSIVEL DEPRESSÃO:
Pergunte...
• Sobre coisas do dia-a-dia que o indivíduo gostava de fazer, como, por exemplo ver
uma novela, brincar com o cachorro, ler o jornal, escutar música... A seguir, pergunte se
ele continua fazendo e tendo prazer ao fazer tais atividades.
• Se ele se anima com coisas positivas que estão para acontecer, se tem esperança.
• Se a tristeza que ele está sentindo é diferente da tristeza que ele já sentiu quando viveu
outras situações difíceis.
• Sobre desejo de estar morto, ou de se matar.
• Quando, além de depressão, a pessoa mostra-se desesperada, o risco de suicídio é
maior.
A depressão pode ser classificada de acordo com a causa, com a presença ou não de um
componente genético (história familiar), com os sintomas e com a gravidade do quadro.
CLASSIFICANDO A DEPRESSÃO:
A depressão pode ser classificada como:
1) Primária (quando não tem uma causa detectável) ou secundária (atribuível a doenças
físicas ou a medicamentos).
2) Genética, de acordo com o padrão de aparecimento em membros de uma mesma
família (esporádica, espectral ou familiar).
3) Unipolar (quando não há ocorrência de episódios de mania) ou bipolar (quando
ocorrerem sintomas intercalados ou concomitantes de mania).
4) Leve ou grave, de acordo com a gravidade dos sintomas e o grau de
comprometimento funcional.
TIPOS DE DEPRESSÃO:
DEPRESSÃO REATIVA OU SECUNDÁRIA (CID F32 e F33):
Surge em resposta a um estresse identificável como perdas (reações de luto), doença
física importante (tumores cerebrais, AVC, hipo ou hipertireoidismo, doença de
Cushing, etc.), ou uso de drogas (reserpina, clonidina, metildopa, propranolol,
promazina,
clorpormazina,
corticosteróides,
acetazolamida,
benzodiazepínicos,
atropina,
barbitúricos,
hioscina,
anticoncepcionais,
haloperidol,
hormônios
tireoidianos, etc). Corresponde a mais de 60% de todas as depressões.
TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR (TDM) OU DEPRESSÃO UNIPOLAR (CID
F32 e F33):
Atualmente o transtorno depressivo maior é reconhecido como um problema de saúde
pública, pois tem grande prevalência na população, e devido ao impacto que causa no
cotidiano do portador e de seus familiares. Estudos em vários países confirmam a
grande quantidade de casos, sobretudo na população ocidental, e inclusive no Brasil.
É uma desordem depressiva endógena (ou seja, causada internamente), e que não tem
relação causal com situações estressantes, patologias orgânicas ou psiquiátricas,
caracterizando-se por episódios puramente depressivos em períodos variáveis da vida. A
maioria destes episódios não tratados dura de 6 a 13 meses. Tratados, a maioria dos
episódios dura cerca de 3 meses.
Ela é provavelmente resultante de uma pré-disposição do individuo, determinada por
fatores
hereditários
e
bioquímicos
que
produziriam
uma
diminuição
na
neurotransmissão central (isto é, uma ação deficiente da neurotransmissora dopamina,
noradrenalina
e/ou
serotonina)
e/ou
a
diminuição
na
utilização
destes
neurotransmissores pelo cérebro.
Durante o episódio, os sintomas depressivos são severos e intensos, impedindo o
indivíduo de agir normalmente, havendo alto risco de suicídio se não tratado.
Corresponde a cerca de 25% de todas as depressões.
O grande problema na detecção da depressão, é que ela está geralmente associada a
outras doenças. Por exemplo, uma pessoa pode queixar-se de dores de estômago e
procurar um gastroenterologista. Este especialista pode identificar que a pessoa possui
úlcera ou gastrite, mas não poderá identificar que o paciente também passa por um
episódio depressivo. Estudos mostram que 50% a 60% dos casos de depressão não são
detectados.
A depressão tem um impacto considerável na vida da pessoa, que não se restringe
somente aos sintomas da doença (que por si só já são devastadores). O portador pode ter
dificuldades em trabalhar, sair de casa, relacionar-se com outras pessoas, em estudar,
etc.
Portadores de depressão utilizam mais os serviços médicos, têm diminuição da
produtividade no trabalho e prejuízo da qualidade de vida, se comparados a portadores
de outras doenças crônicas (como diabetes e hipertensão, por exemplo).
O TDM é a patologia psiquiátrica que mais freqüentemente aparece associada à
distimia.
O TDM pode começar em qualquer idade (em média em torno dos 25 anos), mas
existem dados que comprovam que a idade de inicio tem baixado cada dia mais.
Algumas pessoas podem ter episódios isolados de depressão maior e ter outra crise após
vários anos, outras podem ter agrupamentos de episódios por certo espaço de tempo, e
ainda, algumas pessoas podem ter episódios recorrentes conforme envelhecem.
Cerca de 5 a 10% dos indivíduos que apresentaram um único episódio de TDM
desenvolvem Transtorno Bipolar I.
Os episódios depressivos maiores podem terminar completamente (em cerca de dois
terços dos casos), apenas parcialmente ou não terminar em absoluto (cerca de um terço
dos casos).
Estudos comprovam que 1 ano após o diagnóstico do TDM, 40% das pessoas ainda
apresentam graves sintomas, 20% continuam com alguns sintomas e 40% não
apresentam mais os sintomas.
Aparentemente, quanto mais graves forem os sintomas, maiores são as chances de
persistência destes sintomas.
Muito embora um fator externo não possa ocasionar o TDM, episódios de depressão
maior podem ocorrer devido a um estressor grave (como a morte de um ente querido ou
divórcio), sendo que estes fatores podem exercer papel mais significativo no primeiro e
no segundo episódio depressivo, mas ter um papel menor no início de episódios
subsequentes.
Algumas doenças e dependência de substâncias como álcool e cocaína podem contribuir
para o inicio ou aumento do TDM.
O risco de apresentar esta patologia é de 1,5 a 3 vezes maior, quando existe um parente
de primeiro grau com este transtorno.
TRANSTORNO DEPRESSIVO MENOR OU DISTIMIA (CID F34. 1):
A distimia é uma forma crônica (seus sintomas estão presentes por pelo menos dois
anos em adultos) e incapacitante de depressão, onde a pessoa consegue relacionar-se
socialmente, mas sem experimentar prazer. Seus sintomas são menos severos que o da
depressão maior, contudo, manifestam-se por mais tempo.
Apesar dos sintomas mais brandos, o fato de serem sintomas constantes (crônicos) e a
ausência do reconhecimento da doença fazem com que o prejuízo à qualidade de vida
dos pacientes seja considerado maior do que nos demais tipos de depressão.
Os principais sintomas da distimia são: humor deprimido, sensação de desamparo,
tristeza, angustia, dificuldade de concentração e para tomada de decisões, baixa
autoestima, baixo nível de energia, fadiga, problemas de sono, alterações do apetite, etc.
Os pacientes com transtorno distímico
freqüentemente são sarcásticos, tem dificuldade em enxergar o sentidos das coisas e de
suas vidas, são rabugentos, mal humorados, exigentes e queixosos. Eles podem ser
tensos, rígidos e resistentes às intervenções terapêuticas.
Apesar de o transtorno cursar com um funcionamento social relativamente estável, essa
estabilidade é relativa, visto que muitas destas pessoas investem a energia que têm no
trabalho, nada sobrando para o prazer e para as atividades familiares e sociais, o que
acarreta atrito conjugal / familiar característico. Isso ocorre pois muitas vezes a pessoa
precisa realizar um esforço além da média para manter as relações inter-pessoais. Em
alguns casos, a pessoa tenta vestir uma "máscara" de que está bem, e de que não está
com problemas. Esta "máscara" é utilizada nas atividades diárias, e isso lhes causa um
grande desgaste.
Ainda existe a questão da fadiga, que é outro sintoma de grande impacto na vida do
distímico. Muitos relatam chegar em suas casas após as atividades diárias, totalmente
exaustos, o que, associado aos demais sintomas da distimia, pode gerar os tão comuns
problemas
familiares.
Muitos podem supor sofrer de outra patologia, a bipolaridade, devido à diferença entre o
humor dentro de casa e fora dela.
A distimia ocorre em uma parcela substancial da população (3 a 6%) e aumentando os
riscos de transtorno depressivo maior.
É uma doença tratável, e que precisa receber maior atenção em virtude de sua elevada
morbidade (ou seja, devido à sua alta incidência na população) e às consideráveis
incapacitações que causa, e devido à elevada comorbidade (ou seja, ela pode estar
associada a outras doenças)
Seus sintomas são menos intensos do que as chamadas depressões maiores, que
aparecem padrão básico desses pacientes é um baixo grau de sintomas, os quais
aparecem de forma traiçoeira e cruel, na maioria dos casos antes dos 25 anos, podendo
surgir após esta idade também. Apesar dos sintomas mais brandos, os sintomas estão
presentes por um longo período de tempo (mais de dois anos), e a ausência do
reconhecimento da doença faz com que a pessoa sofra prejuízos na sua qualidade de
vida (considerado maior do que nos demais tipos de depressão).
A distimia está associada a um aumento da utilização dos serviços de saúde e também
ao aumento do consumo de drogas psicotrópicas. A diminuição da produtividade no
trabalho e um aumento do risco de hospitalização e de doenças físicas (como aumento
do risco de doenças cardiovasculares e respiratórias) também incrementam o custo
econômico e social dessa patologia, tornando-a um problema de saúde pública que
precisa ser identificado de forma mais eficiente. Cerca de 77% dos distímicos terão
outras patologias psiquiátricas juntamente com a distimia.
Ela pode ser subdividida em dois tipos:
1) O primeiro tipo, a chamada "distimia ansiosa", é caracterizada por baixa auto-estima
e insegurança. Ela é relacionada à deficiência de serotonina, e está relacionada a um
estresse percebido (perda ou trauma passado, sensibilizador para um estresse futuro).
Esses indivíduos são mais impulsivos e cometem mais freqüentemente tentativas de
suicídio (mas com menor letalidade), tendendo a buscar ajuda. Este tipo é mais comum
em mulheres, que tendem a automedicar-se com drogas ansiolíticas, como
benzodiazepínicos, maconha, álcool e, mais comumente, abuso de comida
(comportamento bulímico e/ou ganho de peso). Alguns desses pacientes exibem
transformação para transtorno bipolar do tipo II.*.
2) O segundo tipo de distimia proposto é a "distimia anérgica", caracterizada por baixa
energia, baixa reatividade (a pessoa não reage a estímulos diversos; não se “anima”) e
anedonia (perda da capacidade de sentir prazer, satisfação). Essa inércia psicomotora
está relacionada com baixos níveis de dopamina. Esses pacientes são mais
freqüentemente do sexo masculino, têm menor interesse sexual, são menos impulsivos,
apresentam hipersônia (sentem muito sono) e tendem a não buscar ajuda. Uma parcela
desses pacientes tende à automedicação com drogas estimulantes de abuso, como
metanfetamina, cocaína, nicotina e cafeína. Alguns pacientes exibem transformação
para transtorno bipolar do tipo I.*
A maioria dos pacientes distímicos irá desenvolver, em algum ponto da vida, episódios
de TDM, sendo que alguns autores afirmam que TODOS os distímicos terão episódios
de TDM no decorrer da vida. A concomitância de distimia com TDM recebe o nome de
DEPRESSÃO DUPLA (DD)
Episódios estressantes de vida são importantes desencadeadores de DD em portadores
de distimia.
* (Ver post sobre transtorno afetivo bipolar)
DEPRESSÃO BIPOLAR OU PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA (CID F 31):
É também uma desordem primária, endógena e que se caracteriza por episódios
depressivos alternados com fases de mania ou de humor normal, com estados de
significativa mudança de humor do paciente (oscilações cíclicas do humor entre “altos”
(mania) e “baixos” (depressão)).
(Ver post Transtorno Afetivo Bipolar).
TRANSTORNO DEPRESSIVO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO:
A categoria "Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação", inclui transtornos com
características depressivas que não satisfazem os critérios para Transtorno Depressivo
Maior, Transtorno Distímico, Transtorno da Adaptação Com Humor Depressivo ou
Transtorno da Adaptação Misto de Ansiedade e Depressão. Às vezes, os sintomas
depressivos podem apresentar-se como parte de um Transtorno de Ansiedade Sem
Outra Especificação. Exemplos:
1.) Transtornos disfórico pré-menstrual: na maioria dos ciclos menstruais durante o ano
anterior, sintomas (p. ex., humor acentuadamente deprimido, ansiedade acentuada,
acentuada instabilidade afetiva, interesse diminuído por atividades) ocorreram
regularmente durante a última semana da fase lútea (e apresentaram remissão alguns
dias após o início da menstruação). Estes sintomas devem ser suficientemente graves a
ponto de interferir acentuadamente no trabalho, na escola ou em atividades habituais e
devem estar inteiramente ausentes por pelo menos
1.) semana após a menstruação.
2.) Transtorno depressivo menor: episódios com pelo menos 2 semanas de sintomas
depressivos porém com menos do que os cinco itens exigidos para Transtorno
Depressivo
Maior.
3.) Transtorno depressivo breve recorrente: episódios depressivos com duração de 2 dias
a 2 semanas, ocorrendo pelo menos uma vez por mês, durante 12 meses (não associados
com ciclo menstrual).
4.) Transtorno depressivo pós-psicótico da Esquizofrenia: um Episódio Depressivo
Maior
que
ocorre
durante
a
fase
residual
da
Esquizofrenia.
5.) Um Episódio Depressivo Maior sobreposto a Transtorno Delirante, Transtorno
Psicótico
Sem
Outra
Especificação
ou
fase
ativa
da
Esquizofrenia.
6.) Situações nas quais se conclui que um transtorno depressivo está presente, mas é
impossível determinar se ele é primário, devido a uma condição médica geral ou
induzido por uma substância.
TRANSTORNO DE ADAPTAÇÃO COM HUMOR DEPRESSIVO:
O transtorno de adaptação (ou ajustamento) com o humor depressivo é uma forma leve
de depressão reativa, que duros apenas alguns meses. A prevalência é semelhante entre
homens
e
mulheres.
Os sintomas do transtorno de ajustamento com humor depressivo são os mesmos
observados em outras depressões clínicas, porém, geralmente os sintomas são mais
brandos.
A diferença entre o transtorno de ajustamento com humor depressivo e demais
transtornos depressivos, é que os sintomas de transtorno de ajustamento começam a
seguir após um estressor específico.
O distúrbio ocorre em resposta a alguma situação estressante ou circunstância
específica.
Os fatores são variados, podendo ser um conflito conjugal, divórcio, problemas
financeiros, perda de um emprego, conflitos comuns de uma amizade mais próxima, ter
que se deslocar de bairro / cidade / pais, ter um amigo ou membro da família
diagnosticado com uma doença grave, ser vítima de um crime, vivenciar uma catástrofe
natural,
etc.
Embora quase ninguém fosse "estressado" por eventos como esses, a pessoa que
experimenta um transtorno de ajustamento com humor deprimido tem mais sintomas de
depressão do que outros que já experimentaram o mesmo estressor. Eles reagem de
forma
exagerada.
Uma segunda diferença entre o transtorno de ajustamento com humor depressivo e
outras depressões é que os sintomas estão presentes por apenas um tempo após o
término da situação estressante.
Normalmente, os sintomas diminuem e desaparecem dentro de poucos meses. Se os
sintomas persistirem por mais de seis meses, há outro problema que transtorno de
adaptação.
A psicoterapia é útil no tratamento de um distúrbio de adaptação com humor
depressivo, sendo que a terapia cognitiva é mais eficaz.
Embora a medicação possa ser usada, não é considerado o principal tratamento.
Durante a psicoterapia, o apoio emocional é oferecido. As estratégias de enfrentamento
são ensinadas e reforçadas.
Subtipos de Depressão:
A depressão pode variar muito em relação a sintomas, história familiar, resposta ao
tratamento e evolução. Alguns subtipos de depressão são claramente distintos, com
implicações na escolha do tratamento e no prognóstico:
Depressão melancólica ou endógena:
Forma grave, com acentuado retarda ou agitação psicomotora, anedonia, humor não
reativo a estímulos agradáveis, despertar matinal precoce, sintomas piores de manhã.
Depressão atípica:
Humor reativo a estímulos (a pessoa consegue se alegrar com estímulos agradáveis),
inversão dos sintomas vegetativos (ao invés de insônia e falta de apetite, a pessoa tem
hipersonia e aumento de apetite), ansiedade acentuada, queixas fóbicas.
Depressão sazonal:
Relacionada à luminosidade diurna, com episódios que se repetem no outono/inverno e
sintomas atípicos. Mais freqüente em países com inverno rigoroso, melhora com
fototerapia (exposição diária prolongada a luz forte).
Depressão com sintomas psicóticos:
Forma rara, porém grave, com delírios e alucinações.
Depressão pós-parto:
Ocorre entre 2 semanas a 12 meses após o parto, com risco maior em mulheres com
antecedentes de depressão. Considera-se que o parto (e as mudanças que ele traz,
hormonais e de vida) seja um potente estressor, desencadeando depressão em mulheres
com tendência à mesma.
SUICÍDIO:
É extremamente importante salientar que existe alto risco de suicídio entre os
depressivos.
Os transtornos mentais estão ligados a certa de 90% dos casos de suicídio, sendo a
maior incidência, causada por transtornos de humor (bipolaridade, TDM, distimia, DD,
etc)
Os transtornos do humor representaram 30,2% dos casos, seguidos pelos transtornos
relacionados a substâncias (17,6%), pela esquizofrenia (14,1%) e pelos transtornos da
personalidade (13%).
A taxa de suicídio entre depressivos é maior, se comparado a outros grupos de
diagnósticos psiquiátricos (3,5 a 4,5 vezes) e muito superiores à média geral da
população (cerca de 22-36 vezes).
As características dos depressivos que mais comumente cometem suicídio são: intensos
sentimentos de desesperança, perda da reatividade do humor e história de poucas
amizades na adolescência. Outra importante evidência é a de que a população de
pacientes deprimidos que tenta suicídio tiveram poucos episódios anteriores de
depressão maior (menos de três episódios), ou seja, quanto mais episódios depressivos,
menores as chances de tentativas de suicídio. Este fato pode ser entendido como
decorrente de um processo de acomodação do paciente a este estado.
Estudos apontam que 15% dos pacientes com depressões graves cometem suicídio,
existindo, no entanto, estudos que apontam que estes índices podem ser cinco vezes
maiores.
O suicídio é mais freqüente em meados da terceira década de vida.
TRATAMENTO:
A depressão é uma patologia tratável, e seus efeitos, reversíveis, desde que tratada
adequadamente.
É necessário o acompanhamento médico, onde serão utilizados antidepressivos. A
psicoterapia em diferentes formatos (como psicoterapia de apoio, psicodinâmica breve,
terapia interpessoal, comportamental, cognitiva comportamental, de grupo, de casais e
de família) é importante na busca pela melhora dos sintomas.
Mudanças no estilo de vida deverão ser efetuadas, objetivando uma melhor qualidade de
vida.
Vale lembrar que existem diferentes tipos de depressão, sendo algumas mais graves que
as outras. O tratamento que é útil para uma pessoa, pode não ter grandes efeitos sobre a
outra. Portanto, cabe ao especialista avaliar qual o melhor tratamento a ser efetuado em
cada
caso.
Algumas medidas não farmacológicas também são muito importantes na luta contra a
depressão. São elas:
1) Mantenha uma qualidade de vida saudável. Coma bem faça exercícios diários e
durma
a
quantidade
certa
de
horas
por
dia
(mínimo
de
8
horas).
O ácido Ômega 3 é um remédio natural para depressão. Esta substância pode ser
encontrada em diversos alimentos, principalmente em peixes e alguns tipos de óleo.
Entretanto, os ácidos graxos Ômega 3 também estão presente em outros alimentos,
como crustáceos, castanha da índia, nozes, rúcula, brócolis, amendoim, mamão,
abóbora, sementes em geral, abacate, canola, soja e milho.
2) Aprenda a conviver com os conflitos do dia-a-dia. Saiba gerenciar as crises que
podem acontecer e não perca o equilíbrio.
3) Evite ficar sozinho. Saia com os amigos e divirta-se. Este é um modo de não se isolar
do mundo. Viva a vida intensamente.
4) Procure ficar ao lado das pessoas que gostam de você. Compartilhe com elas seus
sentimentos, desafios e expectativas. Ter uma parceria com cumplicidade é a melhor
forma de ficar bem com o mundo. A participação da família é fundamental. Permita que
os familiares se reunam com o psiquiatra / psicólogo. Os entes queridos são aliados na
busca pela melhoria dos sintomas.
5) Se começar a sofrer de ataques de pânico, não hesite: procure ajuda médica
especializada. Talvez este já seja um dos sintomas da depressão.
6) Invista em seus hobbies. Pintar, costurar, pescar, enfim, faça o que você gosta e
relaxe.
7) Tente não fumar. A nicotina promove mudanças de humor. Isto pode gerar ansiedade
e futuramente pode levar à depressão.
* Importante:
- Coma bastante verdura, especialmente alface (o alimento é rico em Lactucina,
substância
que
age
como
calmantes
naturais
no
organismo)
- Beba muita água. Alimentos saudáveis melhoram seu humor e evitam tais males
como a depressão.
- Busque caminhar em ambientes abertos, pelo menos uma vez por semana.
- Ambientes fechados acabam gerando estresse. Portanto, saia e refresque a mente.
DEPRESSÃO E INTERNET:
Uma pesquisa australiana mostra que adolescentes que passam muito tempo conectados
na internet, correm o risco de desenvolver depressão.
Segundo Lawrence T. Lam, pesquisador da School of Medicine, de Sidney, e da
University of Notre Dame, com base nos resultados do estudo, mesmo jovens em bom
estado de saúde mental podem sucumbir a uma depressão depois de um longo período
de exposição ao uso problemático da internet. Para aqueles que já têm um histórico de
problemas psicológicos ou psiquiátricos, as consequências mentais do uso problemático
da internet podem ser ainda mais nocivas.
No estudo, os pesquisadores classificaram 6,2% dos adolescente com nível moderado de
problema patológicos relacionados ao uso da internet e 0,2% com sérios riscos. Nove
meses depois, os adolescentes foram reavaliados em relação à depressão e à ansiedade.
Os pesquisadores constataram que 0,2% tinham sintomas de ansiedade e 8,4%
desenvolveram depressão.
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