Atuação do enfermeiro na assistência aos

Propaganda
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes portadores de
feridas
Performance nurse on assistance to patients with wounds
Práctica del enfermero en la asistencia a pacientes con heridas
Kelly da Silva Costa
Enfermeira. Graduada em Enfermagem pela
Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Enfermeira no
Hospital Pró-Médica em Parnaíba- PI , Brasil. E-mail:
[email protected]
Ana Paula Brito Rodrigues
Enfermeira. Graduada em Enfermagem pela
Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí – UNINOVAFAPI. Enfermeira
na Unidade Mista de Saúde Joana Moraes Sousa em
Bom Princípio do Piauí, Brasil.
E-mail: [email protected]
Albemara Garcez da Silva
Enfermeira. Graduada em Enfermagem pela
Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Professora
na Escola Técnica em Enfermagem Wanda Horta em
Parnaíba- PI, Brasil. E-mail: [email protected]
Maria Solange Leopoldo Feitosa
Enfermeira. Especialista em Enfermagem MédicoCirúrgica pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Professora e coordenadora da Graduação em
Enfermagem da UESPI – Campus FACOE em
Parnaíba-PI, Brasil.
E-mail: [email protected]
RESUMO
O Enfermeiro exerce papel de grande relevância na assistência ao paciente portador ou com risco de
desenvolver ferida, pois este profissional mantém contato prolongado com o mesmo, avalia a lesão,
planeja e coordena os cuidados, acompanha sua evolução, supervisiona e executa os curativos. Esta
pesquisa objetivou verificar de que forma o Enfermeiro vem atuando na assistência aos pacientes
portadores de feridas. Trata-se de um estudo de campo, com natureza exploratória e abordagem
qualitativa, tendo como sujeitos seis Enfermeiros que trabalham na Clínica Cirúrgica de um hospital de médio porte de Parnaíba-PI. Os dados foram coletados por meio de entrevistas abertas
semiestruturadas com os profissionais citados, observação não participante e consulta de alguns
prontuários; posteriormente analisados através do confronto entre os conteúdos obtidos pelo roteiro de observação não participante e entrevistas abertas semiestruturadas e, ainda, comparação com
literatura pertinente. Identificou-se diversos fatores que influenciam na atuação dos Enfermeiros na
assistência aos pacientes portadores de feridas tais como: a ausência de um protocolo específico,
falta de recursos humanos e materiais e, principalmente participação ineficiente dos profissionais
na prestação da assistência em geral devido à instituição de um regime de supervisão. Concluiu-se
que, a atuação dos enfermeiros na assistência aos portadores de feridas é prejudicada por falta de
protocolos, capacitação dos profissionais e condições de trabalho.
Descritores: Enfermagem. Assistência à saúde. Úlcera.
ABSTRACT
The Nurse exercises leading role in assisting patients with or at risk of developing wound, because
this professional besides maintaining prolonged contact with them, evaluates the injury, plans and
coordinates the care, follows its evolution, supervises and implements healing. This research was
performed to verify how the Nurse has acted in assistance to patients with wounds. This is a field
study with exploratory and qualitative approach which subjects were six nurses that work in the
Surgical Clinic of a midsize hospital of Parnaiba-PI. Data were collected through semi-structured
open interviews with cited professionals, non-participant observation and consultation of some
handbooks and subsequently analyzed by comparing contents of the script obtained from non-participant observation and semi-structured interviews, also comparing with pertinent literature. We
identified several factors that influence the activity of nurses in caring patients with sore, such as: the
absence of a specific protocol, lack of human and material resources, and especially the inefficacious
participation of professionals in providing assistance in general due to the imposition of a system of
supervision. We conclude that the role of nurses in care for patients with wounds is hindered by lack
of protocols, training of professionals and working conditions.
Descriptors: Nursing. Health assistance. Ulcer.
RESUMEN
Submissão: 03.01.2011
Aprovação: 14.04.2011
El enfermero desempeña un papel de gran importancia en la asistencia al paciente con o en riesgo
de desarrollar una herida, ya que este profesional mantiene un contacto prolongado con el pa-
Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.9-14, Jul-Ago-Set. 2012.
9
Costa, K. S. et al.
ciente, evalúa la lesión, planifica y coordina la atención, el seguimiento de
su progreso, supervisa y ejecuta los apósitos.Hemos llevado a cabo esta
investigación con el fin de verificar cómo el enfermero ha participado activamente en la asistencia a pacientes con heridas. Se trata de un estudio
de campo con enfoque exploratorio y cualitativo que acompañó seis enfermeras que trabajan en la Clínica Quirúrgica de un hospital de tamaño
medio Parnaíba-PI. Los datos fueron recolectados a través de entrevistas
semi-estructuradas abiertas con los profesionales citados, la observación
no participante y consulta de algunos registros, posteriormente analizados a través de la confrontación entre la escritura de contenido obtenido a
través de la observación no participante y entrevistas semi-estructuradas
y abiertas, y sin embargo, en comparación con la literatura correspondiente. Fueron identificados diversos factores que influyen en el desempeño
del personal de enfermería en la asistencia a pacientes con heridas tales
como: la ausencia de un protocolo específico, la falta de recursos humanos
y materiales, y en especial por la participación ineficaz de los profesionales
en la prestación de asistencia en general debido a la imposición un régimen de supervisión. Llegamos a la conclusión de que el papel de las enfermeras en el cuidado de pacientes con heridas se ve obstaculizada por la
falta de protocolos, formación de profesionales y condiciones de trabajo.
Descriptores: Enfermería. Cuidado de la salud. Úlcera.
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Desde os primórdios, o homem se preocupa em zelar por sua saúde. Para tanto, utiliza suas habilidades em criar tecnologias a seu favor
beneficiando, consequentemente, as gerações futuras. Dentre os avanços
nos cuidados a saúde, podemos destacar a preocupação em prevenir e
tratar as feridas. Segundo Jorge e Dantas (2005), esta iniciou na pré-história, onde vestígios encontrados comprovam a utilização de plantas e seus
extratos diretamente nas feridas abertas, bem como a ingestão destes
para tratamento sistêmico, ou seja, algum sintoma ou doença em qualquer parte do organismo humano.
As feridas crônicas afetam centenas de milhares de pacientes nos
Estados Unidos gerando um gasto de bilhões de dólares, além do aumento do absenteísmo das atividades laborais, em decorrência das limitações
ocasionadas por essas lesões. Da Europa, provém a maioria dos estudos
mundiais de prevalência sobre feridas. Em Londres, estima-se que a cada
1.000 cidadãos 0,45 têm feridas; na Irlanda e Portugal a prevalência é
maior: de 1,2/1.000 e 1,41/1.000, respectivamente (MACIEL, 2008; SILVA;
KOBAYASHI, 2009).
No Brasil, um grande número de indivíduos sofre com alterações
da integridade cutaneomucosa constituindo um sério problema de saúde
pública. Entretanto, ao contrário da Europa, não existem índices que corroborem com este fato, em decorrência da escassez de registros referentes
aos atendimentos desses pacientes. Assim, o aparecimento de feridas na
população além de prejudicar a sua qualidade de vida; aumenta significativamente os gastos públicos (BRASIL, 2008).
Nos dias de hoje, vivenciamos uma verdadeira revolução na abordagem e terapêutica de feridas desencadeada pelos avanços científico-tecnológicos na área da saúde. A visão interdisciplinar e multidisciplinar
na assistência aos pacientes portadores de feridas vem sendo implementada e, cada vez mais os diversos profissionais atuantes nesta área buscam aprimorar seus conhecimentos acerca da anatomia e fisiologia da
10
pele, do processo de cicatrização das feridas, das coberturas e produtos
utilizados nos curativos e, também, das questões éticas que envolvem
o tratamento dos pacientes portadores de feridas (SILVA; FIGUEIREDO;
MEIRELES, 2007).
O Enfermeiro exerce papel de grande relevância na assistência ao
paciente portador ou com risco de desenvolver ferida, pois este profissional mantém contato prolongado com o mesmo, avalia a lesão, planeja e
coordena os cuidados, acompanha sua evolução, supervisiona e executa
os curativos. Seu destaque nesta área se deve, em parte, a abordagem
exaustiva desses cuidados nos componentes curriculares durante sua formação acadêmica. Sendo a assistência aos pacientes portadores de feridas
mais uma de suas atribuições, indagou-se como o Enfermeiro vem atuando nesta assistência.
O estudo tem como objetivo geral verificar de que forma o Enfermeiro vem atuando na assistência aos pacientes portadores de feridas. E
como objetivos específicos: verificar a existência e o seguimento de um
protocolo de assistência aos pacientes portadores de feridas conhecer a
atuação do Enfermeiro na assistência aos pacientes portadores de feridas;
descrever a forma de avaliação desses pacientes executada pelos Enfermeiros assistenciais; analisar se os Enfermeiros assistenciais supervisionam
e/ou executam os curativos; observar o registro, realizado pelos Enfermeiros assistenciais, referente ao tratamento de feridas e identificar as possíveis dificuldades dos Enfermeiros para realizar a assistência adequada aos
pacientes portadores de feridas.
2
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de campo, com natureza exploratória e
abordagem qualitativa, por ser a mais adequada para investigar a problemática em questão, enfatizando a particularidade do fenômeno em termos de seus significados, motivos, atitudes, origens e razão de ser.
O cenário, no qual se desenvolveu o estudo, foi a Clínica Cirúrgica
de um hospital de médio porte de Parnaíba-PI na qual ficam internados
pacientes em pré ou pós-operatórios de cirurgia geral. Esta foi escolhida
por ser a clínica onde se executa o maior número de curativos, pois os pacientes lá internados têm risco de desenvolver lesão, já a desenvolveram
ou ainda, apresentarão lesão no pós-cirúrgico.
A referida unidade consta de vinte e sete leitos distribuídos em
nove enfermarias de três leitos cada uma. A equipe de Enfermagem é
composta por seis Enfermeiros e doze Técnicos de Enfermagem. Prestando assistência aos pacientes internados, um Enfermeiro e dois técnicos de
Enfermagem, que trabalham em regime de plantão com duração de 12 e
24 horas, respectivamente.
Os sujeitos pesquisados foram os seis Enfermeiros assistenciais, do
mesmo setor e instituição hospitalar supracitados, que estavam presentes
no momento em que a pesquisadora foi realizar a coleta dos dados. A
abordagem dos sujeitos se deu através de entrevistas semiestruturadas as
quais foram gravadas, com o auxílio de um aparelho celular, a fim de evitar
distorções nos depoimentos dos sujeitos promovendo maior fidedignidade ao relato original.
A entrevista foi realizada após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), elaborado de acordo com a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a qual fala sobre pesquisas envolvendo seres humanos. Os sujeitos tiveram seu anonimato preservado,
uma vez que receberam nomes de plantas medicinais mais utilizadas no
tratamento de lesões de pele e feridas para codificá-los.
Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.9-14, Jul-Ago-Set. 2012.
Atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes portadores de feridas
Os dados foram coletados utilizando-se um roteiro, do tipo check-list, de observação não-participante, entrevista aberta semiestruturada,
e ainda pela análise dos prontuários que continham registros relevantes
para o desenvolvimento deste estudo. A coleta de informações foi feita de
forma direta pela autora deste, nos meses de setembro, outubro e início
de novembro de 2010.
A observação não-participante e a análise dos prontuários foram
feitas durante os intervalos ou em momento oportuno no decorrer do
estágio curricular supervisionado o qual aconteceu na mesma instituição
hospitalar onde se realizou a pesquisa. As entrevistas ocorreram em um
período de seis dias não consecutivos no final do mês de setembro e início
do mês de outubro de 2010, nos turnos manhã, tarde ou noite, de acordo
com a disponibilidade dos sujeitos pesquisados.
A análise dos dados foi realizada através do confronto entre os conteúdos obtidos pelo roteiro de observação não participante e entrevistas
abertas semiestruturadas e, ainda, comparação com literatura pertinente.
As entrevistas gravadas foram transcritas na íntegra sendo após analisadas
minuciosamente e em seguida categorizadas da forma que se considerou
mais adequada.
Deve-se ressaltar que esta pesquisa foi desenvolvida após aprovação pelo diretor da instituição de saúde e envio para apreciação do Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade UNINOVAFAPI sendo aprovada
pelo protocolo CAAE- 0234. 0. 043. 000 – 10.
3
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Antes de relatar as informações categorizadas acredita-se ser relevante descrever algumas características do perfil dos seis Enfermeiros
entrevistados: mais da metade, quatro, eram do sexo feminino e, apenas,
dois do sexo masculino. A experiência destes profissionais no setor variou
de quatro anos a três meses, tempos máximo e mínimo encontrados, respectivamente, sendo citados, também dois anos e um ano de trabalho
no setor.
Com esta pesquisa podemos identificar diversos fatores que influenciam na atuação dos Enfermeiros na assistência aos pacientes portadores de feridas. Após observação do campo pesquisado e análise das
falas dos sujeitos, obtivemos dados os quais julgamos mais adequado
organizar em três categorias, para melhor compreensão, sendo estas descritas a seguir:
3.1 Utilização do protocolo de feridas
De acordo com Geovanini, Oliveira e Palermo (2007) o protocolo
de feridas tem por finalidade padronizar condutas referentes à limpeza,
execução de curativos, e terapêutica de feridas, todas preconizadas pela
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), em acordo com normas técnicas e resultados de pesquisas. Este é de extrema importância
para a atuação de todos os profissionais da equipe interdisciplinar.
As falas dos sujeitos a seguir mostram, claramente, que na clínica
cirúrgica não há nenhum tipo de esquema para nortear os Enfermeiros
quanto a suas condutas na realização da assistência aos pacientes portadores de feridas:
Não, não tem. Eu entrei já tá com uns 4 anos. [...] nenhum setor tem,
acho que só a UTI [...]. (Babosa)
Não, não tem. A gente faz o curativo de acordo com as técnicas assépticas que a gente já sabe de acordo com a faculdade, já vem da
Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.9-14, Jul-Ago-Set. 2012.
faculdade, mas o protocolo, realmente, por escrito de tudo como deve
ser, a gente não tem [...].(Arnica)
Que eu saiba não. Nunca teve protocolo [...].(Hamamélis)
[...] A gente não tem nenhum tipo de protocolo, nenhum tipo de documento que norteie; que dê uma visão geral de como a gente deve
proceder na realização de cuidados né, ao ferimento, ao procedimento de curativo [...].” (Barbatimão)
Os entrevistados citaram, como verificamos nos próximos depoimentos, já ter havido reuniões com os Enfermeiros de vários setores do
hospital na tentativa de se confeccionar um manual genérico de normas,
rotinas e procedimentos de Enfermagem que vigoraria em toda a instituição. Alguns afirmaram ainda, ser de grande valor a implementação de um
protocolo de assistência aos pacientes portadores de feridas no seu setor
de trabalho:
[...] a gente tá terminando de fazer os POPs que são Procedimentos
Operacionais Padrão que são a padronização de todos os procedimentos que são feitos pela Enfermagem aqui dentro, então dentro desses
POPs, lógico que vai ter o procedimento de realização dos curativos
[...].(Arnica)
[...] A gente fez umas reuniões pra fazer um manual né, de procedimentos de Enfermagem, mas nunca foi adiante [...] um protocolo seria
muito bom aqui pra clínica.” (Babosa)
[...] Não tem nenhum protocolo criado ainda, só a discussão sobre a
criação de um [...] Faz falta né você seguir aquela rotina programada e
conseguir executar o trabalho de forma mais sistemática [...] ajudaria
a uniformizar condutas, a melhorar também a questão dos registros.
[...].(Eucalipto)
De acordo com Morais, Oliveira e Soares (2008) a implementação
de um protocolo para a avaliação de feridas constitui um avanço na assistência de Enfermagem, porém, poucas instituições hospitalares parecem
ter implantado um protocolo com esta finalidade. Essa afirmativa demonstra que a situação enfrentada pelos Enfermeiros do estabelecimento
pesquisado não é atípica.
Contudo, os autores acima citados aindaenfatizam que a literatura
preconiza o uso do protocolo aliado ao julgamento clínico do Enfermeiro,
pois esse instrumento serve para auxiliar o profissional a tomar decisões
e não para substituí-lo e, também, porque a avaliação clínica isolada do
Enfermeiro, com exceção dos estomaterapeutas, em determinadas situações, é menos eficaz que a atuação em conjunto do profissional com o
protocolo.
Para a elaboração e posterior desenvolvimento deste protocolo
deve ser realizada consulta exaustiva da literatura sobre o tema em questão e minuciosa análise do estudo sobre o perfil do estabelecimento de
saúde e a clientela que será assistida (SILVA; FIGUEIREDO; MEIRELES, 2007).
Alguns Enfermeiros mostraram conhecimento da necessidade dessa
adaptação anterior ao desenvolvimento do protocolo verificado na análise das próximas falas:
[...]acho que pra fazer o protocolo [...] antes de tudo tem que vê outras
coisas porque não adianta a gente ter um protocolo se a gente não vai
poder seguir ele [...](Babosa)
[...] um protocolo seria muito importante né [...] mas pra gente realmente viabilizar tudo que é pra ser feito a gente tem que ter pessoal
[...](Arnica)
Para um bom desempenho do Enfermeiro a unificação de diretrizes e normas é de extrema importância, pois oferece mais segurança
e autonomia para tomar decisões relacionadas ao tratamento da ferida.
11
Costa, K. S. et al.
Assim podemos afirmar que a atuação dos Enfermeiros na assistência aos
pacientes portadores de feridas no estabelecimento pesquisado sofre sim
prejuízos decorrentes da inexistência de um protocolo específico.
Porém, sua implantação, por si só, não garante uma atuação ótima
destes profissionais já que ela depende, também, de fatores individuais ou
não como: a boa percepção clínica aliada ao conhecimento técnico que
este profissional possui acerca da temática e o preparo prévio do estabelecimento (recursos materiais, produtos e outros) para criação e implementação do protocolo.
3.2 Atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes portadores de feridas
O Enfermeiro, por ter contato prolongado com o paciente portador de ferida, desempenha papel de grande relevância na assistência ao
mesmo, em geral, é responsável por avaliar a ferida, orientar e executar o
curativo e acompanhar a evolução da lesão (MORAIS; OLIVEIRA; SOARES,
2008).
Conforme Oliveira, Castro e Andrade (2006) o tratamento das lesões
cutâneas não se detém na técnica do curativo, pois através dos protocolos
empregados na prática clínica pelo Enfermeiro são enfatizados a avaliação
do estado geral do paciente, o exame físico direcionado de acordo com a
causa da ferida, escolha do tratamento e da cobertura a ser aplicada.
3.2.1 Avaliação do paciente e da ferida
O Enfermeiro, especialista ou não, deve monitorar a ferida através
de avaliação diária ou periódica a qual deverá ser registrada; consistindo
em uma forma de documentar a assistência que se prestou. Para isso deve
manter-se a par dos avanços técnicos e científicos relacionados ao processo cicatricial, bem como, conhecer os métodos e produtos utilizados para
a execução dos curativos (JORGE; DANTAS, 2005).
Segundo Salomé e Araújo (2010) a avaliação da ferida é de extrema importância para o planejamento dos cuidados o qual é possível, apenas, quando
realizado registro das observações e dos resultados das intervenções. Quando
questionados se fazem a avaliação do paciente os Enfermeiros relataram:
[...] Não, não dá tempo, não dá certo, não tem condições. Não dá pra
fazer a assistência que a gente deveria fazer se nós tivéssemos condições assim, pela quantidade de leitos que a gente fica responsável,
que no caso são sessenta né [...](Calêndula)
[...] Não utilizo nem um tipo denada. Aqui, não existe, a gente não tem
nenhum impresso específico para a avaliação [...](Arnica)
[...] A gente avalia conforme a experiência da gente né. De acordo com
o tamanho, o tipo de ferida, se é uma escara. A gente vê pra poder
fazer né, o procedimento correto, o curativo adequado [...](Hamamélis)
[...] a gente consegue observar de um modo geral, sem protocolo
cada um termina observando de uma forma, então a gente perde um
pouco da continuidade, digamos assim [...] isso dificulta a tomada de
conduta em relação às feridas, ao tratamento [...](Eucalipto)
A maioria respondeu que não realiza a avaliação e os que a fazem
utilizam o artifício da observação com interpretação própria. De acordo
com Morais, Oliveira e Soares (2008) a observação é um método propedêutico que utiliza o olhar atento e direcionado a superfície corporal; a visão é o único instrumento básico usado para essa finalidade. É um artifício
utilizado na avaliação de feridas que tem importância significativa além do
que não acarreta gastos para a instituição. Entretanto, para uma avaliação
12
mais completa é necessário o uso de materiais (régua, swab, papel filme,
câmera fotográfica etc.) para obtenção de dados mais precisos.
Segundo Bajay e Araújo (2006) avaliar uma ferida pode levar a
interpretações diversificadas pelos profissionais tanto pela diferença de
conhecimentos entre cada um como pela própria variedade das feridas
quanto à natureza, forma, localização entre outros aspectos. Assim um
instrumento preciso, com padrões e critérios definidos diminuem a chance de informações divergentes ou conflitantes tornando o registro mais
sistemático.
Morais, Oliveira e Soares (2008) afirmam que a ausência de um protocolo não limita o Enfermeiro em realizar a avaliação de algumas características da ferida as quais dão subsídios para escolha da melhor conduta
como: presença e tipo de exsudato, esfacelos, áreas de necrose, sinais de
infecção, entre outros.
Durante a observação não-participante e consulta de alguns prontuáriosverificamosque a avaliação do paciente e da ferida, geralmente,
não é feita pelos sujeitos pesquisados, pois não havia documentação desta atividade. Demonstrando participação mínima ou nula dos Enfermeiros neste processo tão importante para a boa condução do tratamento e
evolução da ferida.
Os entrevistados atribuíram esta condição ao excesso de atividades
que realizam, pois durante o plantão de 24h um único Enfermeiro é responsável por mais quatro setores, além da Cl. Cir. são eles: clínica médica,
clínica pediátrica, clínica gineco-obstétrica e clínica ortopédica que atendem até sessenta pacientes. Contudo, organizando-se a assistência através
da priorização dos atendimentos, acreditamos que com uso da observação a avaliação possa ser realizada pelo menos nos pacientes com feridas
mais complexas que necessitam de maior conhecimento do profissional.
A padronização de um impresso auxiliaria substancialmente neste aspecto, pois, evita interpretações variadas e até conflituosas.
3.2.2 Supervisão e execução do curativo
Segundo Jorge e Dantas (2005) o tratamento da ferida é um processo dinâmico que depende de avaliações sistematizadas, prescrições
distintas de frequência e tipo de curativo ou cobertura necessários, pois
podem variar de acordo com o momento evolutivo da cicatrização.
Para que este acompanhamento possa ser efetuado é necessário
que o Enfermeiro observe in loco a lesãopara avaliá-la e posteriormente
prescrever o curativo adequado o qual pode ser realizado por ele próprio
ou pelo profissional de nível médio sob sua orientação ou supervisão,
quando não se tratar de pacientes graves ou críticos. Quanto à supervisão
e execução dos curativos os Enfermeiros afirmaram:
[...] a média de curativo que eu faço em um plantão de 24horas chega
às vezes dois, três, dependendo, mais do que isso não e nem todo
plantão eu faço [...]eu faço mais à noite quando tem necessidade de
fazer alguma troca, mas durante o dia é mais difícil [...] só quem faz são
as técnicas de enfermagem, mas sem a supervisão do Enfermeiro [...]
(Babosa)
[...] a frequência é baixa [...]. Até porque como é uma gama de muitas
atividades, você faz muita coisa, você acaba realmente, infelizmente,
esquecendo né de fazer esse tipo de supervisão [...](Arnica)
[...] No caso como a gente não fica só na clínica cirúrgica, termina ficando na médica e na pediatria, dificulta você acompanhar todos os
curativos, mas você termina vendo o principal [...] entrando em algum
curativo mais complexo ou ajudando nas intercorrências ou em alguma dificuldade [...](Eucalipto)
[...] a gente faz o serviço de supervisão da assistência; não é a assistênRevista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.9-14, Jul-Ago-Set. 2012.
Atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes portadores de feridas
cia direta ao paciente, então quem faz o curativo e observa as características das feridas, na verdade, é o Técnico. Quando existe um ferimento maior, um grande queimado, uma grande ferida eles chamam pra
gente, pra fazer o curativo ou acompanhá-lo [...](Calêndula)
nificados (FERREIRA, 2001). Nesta categoria buscamos saber os obstáculos
citados pelos Enfermeiros para a realização da assistência aos pacientes
portadores de feridas, segundo eles são:
Analisando as falas percebemos que os sujeitos da pesquisa não
costumam executar ou supervisionar a realização dos curativos, quando
feitos pelos técnicos de enfermagem. Isso mostra que a assistência aos
pacientes portadores de feridas é deixada em segundo plano pelos Enfermeiros. Mais uma vez relacionaram essa condição à falta de tempo e
excesso de atividades realizadas nos diversos setores que trabalham.
[...] a parte de educação dos técnicos de Enfermagem, [...] de conhecimento técnico na realização de curativo, [...] o pacote de curativo a
gente não tem, com as pinças e tal, pra tá realizando o curativo [...]
a gente não tem luva estéril suficiente né, pra usar nos pacientes da
clínica cirúrgica.[...] A questão da gente trabalhar em regime de supervisão né, o ideal seria que a gente tivesse um ou mais Enfermeiros na
clínica cirúrgica pra você puder dá, realmente a devida atenção aos
cuidados com a ferida [..](Barbatimão)
[...] às vezes falta alguma coisa, um material, uma pomada [...]. E o tempo né, que a gente não tem de acompanhar o paciente com ferida
por causa da sobrecarga né. [...] você sai quase que completamente da
assistência né ao paciente. [...] Se a gente pudesse acompanhar cada
um; aprenderia até o nome dos pacientes direito né. Ás vezes não dá
nem pra aprender. (Hamamélis)
3.2.3Evolução do tratamento da ferida
A evolução do tratamento é realizada através da documentação
sob a forma de um relatório de Enfermagem o qual é feito após a execução
dos procedimentos, coleta de todas as informações disponíveis e observações sobre as condições da ferida (GEOVANINI; OLIVEIRA; PALERMO, 2007).
De acordo com Silva, Figueiredo e Meireles (2007) o registro é utilizado
para avaliar a eficácia da terapêutica implementada, estabelecer um mecanismo de comunicação entre os membros da equipe (de Enfermagem ou multidisciplinar), bem como servir de suporte legal em questões judiciais para
avaliar responsabilidades de imperícia médica ou de Enfermagem. Tratando-se da evolução de Enfermagem sobre o tratamento os sujeitos responderam:
[...] como é difícil a gente fazer [curativo], a gente não tem muita noção
né, quem observa mais isso é as meninas, a gente conversa com elas.
Elas anotam [...]. (Babosa)
[...] Não, eu, particularmente, não faço. Eu não sei se algum outro colega faz. [...] a gente tem um grande problema aqui em relação ao registro da clínica cirúrgica. É realmente é muito pobre; foi conversado em
reunião e tudo, mas assim, a gente não tem evoluído muito nessa parte.[...] infelizmente muitas vezes as anotações, que são extremamente
importantes, são deixadas pra segundo plano [...](Arnica)
[...] Normalmente, a gente tem registrado as intercorrências [...] essa
progressividade da evolução a gente não tem, muitas vezes, a gente anota quando a coisa não deu certo, por algum motivo tem mais
secreção, menos secreção, não tá granulando, tem alguma necrose,
então você termina anotando mais o problema [...](Eucalipto)
[...] Quem faz o curativo, o que ele observa ele registra, entendeu? Ferida com aspecto tal, tal e tal, quem viu né, na verdade. [...](Calêndula)
[...] Quando a gente realiza um procedimento em determinado paciente a gente acaba evoluindo ele; não dá pra fazer com todos, infelizmente, [...] a clínica médica, ela consome muito tempo da gente
porque ela acaba se tornando uma semi-intensiva né, é muito paciente grave, não tem vaga na UTI. [...](Barbatimão)
Observamos que alguns Enfermeiros reconhecem a importância
da evolução do tratamento, entretanto, rotineiramente só a realizam em
caso de intercorrências com o paciente ou sua ferida. Isso acaba por interferir na continuidade da assistência e, também, diminui a qualidade da
mesma. Impressos próprios para essa finalidade poderiam ser adotados
pelo serviço. A Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) sugere a elaboração de impressos que proporcione uma informação mais
completa e, ao mesmo tempo objetiva e, ainda torne mais fácil e ágil o
registro da evolução das lesões (SILVA; FIGUEIREDO; MEIRELES, 2007).
3.3 Dificuldades para a realização da assistência aos pacientes portadores de feridas
Dificuldade é o caráter de difícil cujos sinônimos podem ser: árduo,
custoso, trabalhoso, duro, penoso, intricado, complicado entre outros sigRevista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.9-14, Jul-Ago-Set. 2012.
[...] Inúmeras. A gente não possui instrumental necessário, [...] o número de pessoal, falta de material [...] o permanente e de consumo. Se
tivéssemos alguns outros tipos de curativos, seria bom. [...](Calêndula)
[...] Acho que pessoal. [...] tanto Enfermeiro quanto Técnico; treinamento, acho que definir melhor determinadas condutas [...] qualificar melhor o pessoal de nível médio pra fazer isso [...](Eucalipto)
A falta de recursos humanos foi apontada por todos os sujeitos
como uma das dificuldades na realização da assistência, de fato é um
grande obstáculo para que o profissional possa cumprir com suas atribuições, porém acreditamos não ser motivo suficiente para que os profissionais atuem tão pouco nesta área.
Conforme Silva, Figueiredo e Meireles (2007) nem sempre os objetivos traçados serão alcançados, pois há diversos níveis de dificuldades
nos estabelecimentos de saúde do Brasil, entretanto, deve-se persistir
buscando melhores condições de assistência à população necessitada de
cuidados de Enfermagem tomando como espelho o padrão ideal de atendimento; sem desconsiderar a realidade na qual está inserido.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que os Enfermeiros, praticamente, não participam
da prestação de cuidados aos pacientes portadores de feridas, pois não
efetuam a avaliação da ferida, raramente executam ou supervisionam a
realização dos curativos e, consequentemente, não conseguem fazer o
acompanhamento adequado do tratamento.
A ausência de um protocolo norteador para a execução da assistência, a falta de recursos materiais e humanos, treinamento e coberturas
interfere no alcance do desempenho máximo destes profissionais. Provavelmente por não haver padronização na conduta médica, em nenhum
aspecto, seja na antibioticoterapia, seja em relação aos produtos utilizados nos curativos, associados ao descaso da administração em relação ao
tema, haja vista que o estoque de produtos para curativos variam do Carvão Ativado®, a Sulfadiazina de Prata®, o Furacin®, a Fibrase á Kolagenase®
e são utilizados sem nenhum critério; a farmácia os dispensa conforme
a quantidade que dispõe indiferente da solicitação dos profissionais de
enfermagem.
Pretensamente, para fins político-administrativos foi formada uma
CCIH cuja atuação é inexistente; as demais Comissões formadas para o
mesmo fim não tem sequer um representante.
Acredita-se que os Enfermeiros devem estar cientes da relevância
de sua participação neste processo, buscando desenvolver mais o traba13
Costa, K. S. et al.
lho assistencial e não se limitando ao regime de “Supervisão” instituído;
no entanto compreendemos que uma ação isolada em nada resultará.
Buscar o aprimoramento na área, participando de cursos, congressos, simpósios ou até mesmo uma pós-graduação é importante, pois renova os
conhecimentos e torna o profissional mais seguro para realizar a assistência adequada ao paciente portador de ferida; porém nenhuma valia tem
todo este conhecimento se a Instituição não oportuniza espaços para o
profissional atuar adequadamente.
Afinal, de pouco adianta os profissionais estarem preparados teoricamente se não podem colocar em prática seus conhecimentos. Se na
instituição não há um planejamento ou estratégia de ação; se na Adminis-
tração Superior não há uma única diretriz que recomende o cuidado aos
portadores de feridas, se não foi instituído uma política de ação voltada
para esse cuidado. De fato, percebemos que a enfermagem não tem espaço nas decisões administrativas no Serviço pesquisado.
Consideramos que este estudo atingiu seus objetivos, entretanto
defrontamo-nos com obstáculos que vão além da pesquisa ou do aval dos
profissionais pesquisados. Entretanto, causa-nos estranheza a passividade
dos Enfermeiros frente aos obstáculos existentes, a qual resulta na falta
de iniciativa em mudar esta realidade. Sabedores dos direitos e deveres
muitas vezes, os profissionais preferem a omissão à luta por seus espaços;
provavelmente por temerem retaliações.
REFERÊNCIAS
BAJAY, H. M.; ARAUJO, I. E. Validação e confiabilidade de
um instrumento de avaliação de feridas. Acta Paulista de
Enfermagem, São Paulo, v. 19, n. 3, p. 290-295, jul./set. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-2100200600 0300006&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 10 Set. 2012.
MORAIS, G. F. C.; OLIVEIRA, S. H. S.; SOARES, M. J. G. O. Avaliação de
feridas pelos enfermeiros de instituições hospitalares da rede pública. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 17, n. 1, p.
98-105, jan./mar. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072008000100011&ln
g=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 Set. 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de condutas para tratamento de úlceras em hanseníase e diabetes, 2.
ed. Brasília, DF, 2008.
OLIVEIRA, B. G. R. B.; CASTRO, J. B. A; ANDRADE, N. C. Técnicas para
a avaliação do processo cicatricial de feridas, Nursing, São Paulo,v.
102, n. 9, p. 1106-1110, nov.2006.
FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio século XXI: o minidicionário da
língua portuguesa. 5. ed. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2001.
GEOVANINI, T.; OLIVEIRA JÚNIOR, A. G.; PALERMO, T. C. S. Manual de
Curativos. São Paulo: Corpus, 2007.
JORGE, S. A.; DANTAS, S. R. P. E. Abordagem multidisciplinar do
tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu, 2005.
MACIEL, E. A. F. Prevalência de feridas em pacientes internados em um hospital filantrópico de grande porte de Belo
Horizonte. 2008. 91f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem, Belo
Horizonte,2008
14
SALOMÉ, G. M.; ARAÚJO, V. S. Uso do pressure ulcer scale for
healing (PUSH) no acompanhamento da cicatrização em paciente diabético com úlcera no pé, Nursing, São Paulo, v. 14, n. 149,
p.507-511, out. 2010.
SILVA, L. C. R.; FIGUEIREDO, A.M.N.; MEIRELES, B.I. Feridas: fundamentos e atualizações em enfermagem, São Caetano do Sul, SP:
Yendis Editora, 2007.
SILVA, O. J.; KOBAYASHI, R. M. Projeto de implantação de um ambulatório para clientes portadores de feridas. Nursing, São Paulo, v.
131, n. 12, p.171-176, abr. 2009.
Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI, Teresina. v.5, n.3, p.9-14, Jul-Ago-Set. 2012.
Download