• 567 •

Propaganda
1. Para o autor dessa obra, o artista congolês Cheri Samba, a arte deve "cutucar" nosso pensamento. O que
você pensa ao examinar essa obra?
2. Qual aspecto da obra pode ser lido como uma crítica à sociedade e às injustiças causadas por preconceitos
raciais?
• 567 •
Em
meados do século XX, na Ásia, África e Oceania, ainda havia muitos países sob
o domínio colonial das grandes potências. Do fim da Segunda Guerra Mundial até
1975, a maioria desses países conquistou sua independência política.
O que a independência
significou
para as pessoas desses países?
DESCOLONIZA ÃO E INDEPENDÊNCIA
A luta pela autonomia na África, Ásia e Oceania
Conforme estudamos anteriormente, a partir da
segunda metade do século XIX os governos das grandes potências econômicas desse período lançaram-se
sobre os continentes asiático, africano e oceânico para
formar seus impérios coloniais. Até o fim da Segunda
Guerra Mundial, os diversos povos de praticamente
toda a África e de grande parte da Ásia e da Oceania
ainda viviam sob o domínio colonial dessas potências.
essasituação tornou-se constrangedora. Era uma
contradição governos inimigos da opressão nazi-fascista manterem oprimidos os povos colonizados. Assim, no pós-guerra a opinião pública
europeia desenvolveu uma consciência contrária
ao colonialismo. E os dirigentes dos governos
democráticos europeus passaram a evitar ser
identificados como imperialistas.
De modo geral, o período de dominação neocolonial afetou grandemente as relações internas e o
desenvolvimento socioeconômico das sociedades das
regiões colonizadas. Além da exploração econômica
que sofriam, muitos de seus territórios foram divididos
de acordo com os interesses das potências. Com isso,
povos de uma mesma etnia passaram a viver separados
por uma fronteira política, enquanto grupos étnicos
que mantinham entre si uma intensa história de rivalidade acabaram sendo reunidos num mesmo país.
• Guerra Fria - interessados em desenvolver
novas formas de influência nas regiões colonizadas, os governantes das duas grandes potências do pós-guerra - Estados Unidos e União
Soviética - assumiram posições favoráveis à
descolonização e procuraram apoiar as lideranças dos grupos emancipacionistas afro-asiáticos
e atraí-Ias para seu bloco.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, no entanto, teve início nessas regiões um processo de descolonização, isto é, as colônias africanas, asiáticas e
oceânicas foram alcançando sua independência.
• Causas das inde endências
Considera-se, de modo geral, que contribuíram
para o processo de descolonização e independência
os seguintes fatores:
• Criação da ONU - na Carta das Nações
Unidas - documento de criação dessa entidade, em 1945 -, destaca-se entre seus objetivos o de promover "relações de amizade entre
as nações, baseadas no respeito ao princípio
da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos". Assim, a ONU tornou-se um
fórum internacional contra o colonialismo,
contribuindo para a disseminação das propostas defendidas pelo movimento de descolonização.
• Movimentos emancipacionistas e nacionalistas - conscientes da opressão e
da exploração que sofriam nas mãos das
nações estrangeiras que os dominavam,
diversos grupos locais organizaram em
seus países movimentos para lutar contra
essa situação.
• Crise econômica europeia - a manutenção do domínio colonial por meio de
forças militares foi bastante dificultada
pela delicada situação econômica das
tradicionais potências europeias no pós-guerra.
• Consciência anticolonialista e antiimperialista - se até as primeiras décadas
do século XX muitas pessoas na Europa
sentiam orgulho por seu país possuir impérios coloniais, depois da Segunda Guerra
1910-1930)
• 568 •
• Conferência de Bandun
• Formas de ru tura
Outro acontecimento de destaque na luta contra a
dominação colonialista e o subdesenvolvimento ocorreu em abril de 1955, na Indonésia: a Conferência
Afro-Asiática de Bandung.
Convocada pelos líderesda Indonésia, índia, Birmânia
(atual Mianmá), Ceilão (hoje Sri Lanka) e Paquistão
- países que haviam alcançado poucos anos antes
sua independência -, essa conferência constituiu um
marco importante na organização política dos paísesdo
Terceiro Mundo (paísessubdesenvolvidos).
No documento final da conferência, firmado pelos
representantes dos 29 países participantes, destacavam-se os seguintes pontos:
De modo geral, o processo de ruptura dos distintos países da África, Ásia e Oceania com as metrópoles deu-se de duas formas:
• ruptura pacífica - alcançada mediante acordos firmados com as metrópoles. Nessa forma
de ruptura, estas reconheciam formalmente a
emancipação política das colônias, mas procuravam preservar, ao menos em parte, as relações econômicas de dominação;
• ruptura violenta - alcançada mediante o confronto armado entre as forças das metrópoles e
as tropas de libertação das colônias. Essaforma
de ruptura ocorreu principalmente quando a luta
pela independência política transformava-se em
luta contra a dominação imperialista, apontando
para a construção de uma sociedade socialista.
• rejeição à divisão mundial nos blocos socialista
e capitalista e defesa de uma política de não-alinhamento automático com as superpotências;
• condenação
mentista;
do racismo e da corrida arma-
• proclamação do direito de autodeterminação
política, reprovando-se, portanto, o colonialismo (dominação direta da metrópole sobre
a colônia) e o neocolonialismo (dominação
mascarada, realizada por meio de práticas
econômicas imperialistas);
A ruptura dos laços coloniais não significou, no
entanto, a conquista imediata da paz e do bem-estar
almejados pelas ex-sociedades coloniais da Ásia, da
África e da Oceania. Frequentemente, os processos
de independência desdobraram-se numa série de
lutas internas, envolvendo movimentos políticos ou
grupos étnicos rivais, que passaram a disputar o controle do poder nas diferentes regiões.
• afirmação de que a submissão imposta aos
povos afro-asiáticos era uma negação dos direitos fundamentais do homem e estava em contradição com a Carta das Nações Unidas, sendo
um obstáculo à paz e à cooperação mundial.
Monitorando
1. Destaque os principais fatores que contribuíram para a descolonização da África, da
Ásia e da Oceania.
Quando se realizou a Conferência de Bandung, 14
países asiáticos já tinham conseguido sua emancipação política. Todas as nações africanas, no entanto,
ainda estavam submetidas à dominação colonial, com
exceção da Líbia. Nos anos seguintes à conferência,
porém, o processo de descolonização da África acelerou-se e, até o ano de 1960, 23 países africanos já
haviam conquistado sua independência. Até 1980,
outras 23 nações africanas e mais 12 nações asiáticas
e oceânicas alcançaram igual destino.
2. Por meio de que processos se deu a descolonização nesses continentes? Explique-os.
3. Qual o significado da expressão "direito de
autodeterminação política"?
4. O que foi a Conferência de Bandung, realizada em 1955?
INDEPENDÊNCIAS NA ÁSIA
Os desdobramentos
O processo de descolonização ocorrido principalmente no pós-guerra teve início na Ásia, continente com amplas áreas sob dominação colonial da
Inglaterra e da França.
De 1943 a 1979, 27 países asiáticos tornaramse independentes. Em muitos casos, o processo de
independência e seus desdobramentos ocorreram
por meio de grandes conflitos, nos quais não faltou
a intervenção - direta ou indireta - dos Estados
Unidos e da União Soviética, sempre procurando
pós-coloniais
firmar sua influência política e econômica no plano
mundial. O quadro seguinte relaciona os países asiáticos que se tornaram independentes nesse período.
Alguns processos de emancipação nacional na
Ásia foram marcantes, como o da índia em relação à
Inglaterra. Outras vezes, o que se destacou dentro da
história mundial não foi tanto o processo emancipatório em si, mas a gravidade de seus desdobramentos, como a guerra que estourou no Vietnã após sua
independência. Vejamos esses dois casos.
• 569 •
Países asiáticos
Independência
País
Antiga potência colonial
Líbano
França
1944
Síria
França
1945
Coreia*
Japão
1946
Jordânia
Inglaterra
1947
Filipinas
fndia
Paquistâo
Estados Unidos
Inglaterra
Inglaterra
1948
Mianmá
Sri Lanka
Inglaterra
Inglaterra
1949
Laos
Camboja
Indonésia
França
França
Holanda
1943
*
1954
Vietnâ
França
1957
Malásia
Inglaterra
1961
Kuwait
Inglaterra
1965
Cingapura
Inglaterra
1966
Bahrein
Inglaterra
1967
lêmen
Inglaterra
1971
Catar
Emirados Árabes Unidos
Inglaterra
Inglaterra
1972
Bangladesh
Inglaterra
1976
Seychelles
Inglaterra
1978
Ilhas Salomâo
Tuvalu
Inglaterra
Inglaterra
1979
Kiribati
Inglaterra
Em 1948, divisão em Coreia do Norte (ocupação da URSS)e Coreia do Sul (ocupação dos EUA).
Observando
1. Com base no
mapa ao lado,
identifique os três
maiores impérios
coloniais na Ásia
e na Oceania no
início do século
xx. Justifique.
OCEANO
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D Português
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~ZAZELÂNDIA
• 570 •
)
Fonte: BRUIT, Héctor H.
O imperialismo. São Paulo,
Atual, 1999. p. 34.
• Inde endência da índia (1947)
rendo finalmente em 1947. Atendendo à exigência
dos grupos políticos muçulmanos, o território indiano
foi dividido em:
A índia, país localizado no sul da Ásia, possui uma
rica cultura milenar. A partir do século XV algumas
regiões de seu território começaram a ser objeto de
ocupação por governos e comerciantes de países
europeus, como Portugal e Holanda e, posteriormente, França e Inglaterra.
• República da índia - de maioria hindu;
• República do Paquistão (Oriental e Ocidental) - de maioria muçulmana. Posteriormente,
em 1972, após violenta guerra, o Paquistão
Oriental separou-se do Ocidental e passou a se
chamar Bangladesh.
Explorada desde o século XVIII pela Companhia
Inglesa das .índias Orientais, a índia foi incorporada
ao Império Britânico no século XIX. Era considerada a "Joia da Coroa", tanto pela grandeza de seu
território e a riqueza de seus recursos quanto pela
população numerosa que já apresentava, constituindo importante mercado consumidor para os produtos
industrializados ingleses.
Monitorando
1. Comente o método político-filosófico utilizado por Gandhi na luta contra a dominação inglesa.
Embora a cultura britânica e o idioma inglês
tenham se tornado fatores de união entre os indianos - existem na índia mais de 20 idiomas e grande diversidade cultural -, as autoridades inglesas
enfrentaram, desde o início, diversas rebeliões anticoloniais.
2. Sintetize o processo de emancipação da
Índia.
Movimento de desobediência civil
No decorrer da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os indianos receberam promessa de representantes do governo inglês de que, se lutassem contra
os alemães, receberiam em troca maior autonomia
administrativa. Terminada a guerra, porém, apesar de
algumas concessões nesse sentido, os representantes
do governo inglês mantiveram a dominação colonial
e passaram a reprimir violentamente todas as tentativas de emancipação da índia, conduzidas principalmente pelo Partido do Congresso, criado em 1885 e
liderado por Jawaharlal Nehru e Mahatma Gandhi.
~
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l!
I-
Gandhi se converteria no principal líder indiano a
se opor à dominação inglesa, utilizando como recurso a não-violência ativa. Ele pregou e praticou essa
estratégia, que consistia basicamente na desobediência civil dos indianos contra as autoridades inglesas
por meio do não-pagamento de impostos e da rejeição aos produtos industriais ingleses. O propósito era
debilitar o adversário, mas sem utilizar a violência, sem
derramar sangue.
índia, Pa uistão e Ban ladesh
Nem toda a índia, porém, estava unida em torno
das propostas de Gandhi e Nehru. Havia no país
outros grupos de oposição ao colonialismo inglês,
destacando-se a Liga Muçulmana, fundada em 1905
e liderada por Muhammad Ali Jinnah. Seu objetivo
era a criação de um Estado muçulmano, independente dos hindus ligados ao Partido do Congresso.
Os ingleses procuraram manipular ao máximo
o conflito entre esses grupos rivais para retardar o
processo de emancipação da índia, que acabou OCOl"-
~
Mahatma Gandhi
durante a divisão
violência e o ódio
Litografia colorida
• 571 •
em visita a Bengala e a Bihar, estados indianos,
da índia (1947). Gandhi tenta amenizar a
dos indianos pregando a resistência pacífica.
de Anil Sengupta.
Tipos físicos da Indochina. Painel idealizado por ma da me Boullard-Devé para o pavilhão da Indochina na Exposição Colonial
Internacional de 1931, em Paris (França).
• Inde endência da Indochina
A Indochina, região da Ásia dominada pela França
desde 1860, foi ocupada pelos japoneses durante a
Segunda Guerra Mundial. Após a derrota do Japão
na guerra, o governo francês pretendeu recuperar
seu domínio sobre a antiga colônia, mas teve de
enfrentar a resistência dos movimentos nacionalistas
que lutavam pela independência da região.
Deflagrou-se, então, a Guerra da Indochina (1946-1954), em que se destacou a liderança de Ho Chi
Minh, do movimento de libertação Vietminh. A guerra
terminou com um acordo internacional, celebrado em
Genebra, pelo qual o território indochinês foi dividido
em três paísesindependentes: Laos, Camboja e Vietnã.
Divisão do Vietnã
o
Vietnã, por sua vez, ficaria dividido temporariamente em duas zonas:
• República Democrática do Vietnã - ao norte,
com capital em Hanói. Liderado por Ho Chi
Minh, o governo do Vietnã do Norte tinha o
apoio dos governos do bloco socialista (China e
União Soviética);
• República do Vietnã - ao sul, com capital em
Saigon. Liderado por Ngô Dinh Diem, o governo do Vietnã do Sul era apoiado principalmente
pelo governo dos Estados Unidos.
O acordo de Genebra estabelecia que, em 1956,
seriam realizadas eleições gerais no Vietnã para a unificação do país. O governo do Vietnã do Sul, no entanto, impediu a realização dessas eleições, adotando
uma política de hostilidades contra o Vietnã do Norte.
Guerra do Vietnã (1964-1975)
Em 1960, foi organizada, no Vietnã do Sul, a
Frente de Libertação Nacional (FLN), de tendência
socialista, que se opunha ao governo instalado em
Saigon e tinha o apoio dos governos do Vietnã do
Norte e dos países do bloco socialista.
Para sustentar o governo de Saigon, no entanto,
o governo dos Estados Unidos decidiu intervir militarmente na região, em 1964. Teve início, então, a Guerra
do Vietnã, que envolveu também o Laos e o Camboja
e costuma ser interpretada por alguns historiadores
como um desdobramento da Guerra da Indochina.
A Guerra do Vietnã foi marcada pelo envolvimento
direto de mais de 540 mil soldados dos Estados Unidos
na região, combatendo as forças do Vietnã do Norte.
Dispondo de recursos precários, as forças da FLN utilizaram táticas de guerrilha e foram, aos poucos, avançando sobre os adversários e arrastando o conflito.
Sem perspectivas de que os combates terminassem e pressionado pela opinião pública interna, que
acompanhava pela imprensa o grande número de
mortes entre soldados estadunidenses e as violentas
cenas de guerra, o governo dos Estados Unidos foi
gradativamente retirando suas tropas do Vietnã e
iniciando negociações de paz. Em 1973, realizou a
retirada da última tropa de soldados, depois de firmar
o Acordo de Paris.
Calcula-se que mais de 50 mil soldados dos Estados
Unidos tenham morri do nessa guerra, que abalou o
orgulho nacional do país. Entre os vietnamitas, morreram milhões de pessoas. As estimativas oscilam entre
1 milhão e 3 milhões de mortes.
Unifica ão do Vietnã
Após a saída das forças militares estadunidenses,
a guerra prolongou-se por mais algum tempo, com o
avanço das forças socialistas do Vietnã do Norte, até a
rendição total do exército sul-vietnamita, em 1975.
Assumindo o poder, os líderes da Frente de
Libertação Nacional, junto com o governo do Vietnã
do Norte, promoveram a unificação do país, sob o
nome de República Socialista do Vietnã. Adotando
um regime político autoritário, o governo vietnamita
seguiria o modelo da ditadura stalinista.
• 572 •
Monitorando
1. Antes da independência, a Indochina era dominada por qual país europeu? Em que países o território
se dividiu?
2. Quais eram as forças locais em choque no Vietnã, no início da década de 1960?
3. Qual foi o desfecho da guerra?
Na foto, crianças correm após explosão de bomba de napalm no Vietnã do Sul, em junho de 1972, por forças sul-vietnamitas
e estadunidenses. Ao centro, menina vietnamita de 9 anos, nua, grita de desespero pelas queimaduras de terceiro grau em
metade de seu corpo, causadas pelo napalm. Depois de dezessete cirurgias, ela sobreviveu.
Observando
1. Comente a foto acima, que se tornou uma das imagens mais conhecidas da Guerra do Vietnã.
INDEPENDÊNCIAS NA ÁFRICA
Os desdobramentos
Até pouco antes da Segunda Guerra Mundial,
quase todo o continente africano estava sob o domínio colonial de países europeus, predominantemente
Inglaterra e França. Após a guerra - principalmente
depois da Conferência de Bandung (1955) -, os países africanos foram conquistando sua independência,
a maioria no período entre 1956 e 1966.
Vejamos resumidamente como foi esse processo
nas distintas áreas de colonização e alguns de seus
desdobramentos.
pós-coloniais
• Colônias britânicas
Nas regiões de colonização britânica, os movimentos pela independência caracterizaram-se, em geral,
pela ruptura pacífica. Foram os casos, por exemplo,
de Gana, Nigéria, Serra Leoa e Gâmbia.
No Quênia, entretanto, a emancipação política foi
precedida de conflitos violentos devido à resistência
da população branca local, que detinha 25% das
terras mais férteis do país.
• 573 •
África do Sul e o a~artheid
A região mais meridional da África pertenceu ao
Reino Unido até 1961, quando obteve sua independência e formou a República da África do Sul.
Sua colonização iniciara-se cerca de três séculos
antes, em 1652, quando representantes da Companhia
Holandesa das índias Orientais fundaram a cidade do
Cabo e promoveram sua ocupação. Grande número
de grupos calvinistas holandeses, mas também alemães, franceses e escoceses, se instalou na cidade.
A dominação inglesa sobre a região teve início no
final do século XVIII, após a guerra entre Inglaterra e
Holanda, a qual terminou com vitória inglesa.
Desde o século XIX, a África do Sul foi dominada
por representantes da minoria branca de origem europeia (19% da população total), que promoveram a
independência política do país. Essaminoria, entretanto, impôs à maior parte da população, negra, um regime de segregação racial conhecido como apartheid.
Glossário
O regime racista da África do Sul, oficializado
desde 1948, provocou a indignação de grande parcela da opinião pública internacional. Também causou
inúmeras revoltas de grupos negros, muitas delas
lideradas por Nelson Mandela, que por isso ficou
preso durante 27 anos.
Somente em junho de 1991, o governo da África
do Sul, cedendo às pressões antirracistas, começou
a revogar o apartheid. O presidente branco Frederik
de Klerk instituiu reformas democráticas e, em 22 de
dezembro de 1993, o Parlamento (ainda dominado
por brancos) aprovou o projeto de Constituição
que estabeleceu a democracia plena e pôs fim ao
apartheid.
Em 25 de maio de 1994, após a realização de
eleições multiétnicas, o líder Nelson Mandela foi
eleito o primeiro presidente negro da África do Sul,
pondo fim ao secular domínio político dos brancos.
Nessa época, Nelson Mandela declarou: Agora há
perspectivas de um amanhã mais justo para o povo
negro. Esta data é o alvorecer de nossa liberdade.
Apartheid: termo empregado para designar a
separação racial imposta aos negros pela minoria
branca na África do Sul.
• Colônias francesas
O governo francês procurou negociar formas
pacíficas de ruptura com diversas colônias, como
Camarões, Senegal, Madagáscar, Costa do Marfim e
Mauritânia. Em 1960, estava praticamente desfeito
todo o império colonial francês na África.
Inde endência da Ar élia
Houve, no entanto, intensa luta armada na Argélia,
colônia francesa do norte da África, onde 10% da
população eram de origem francesa. Controlando
a vida política e econômica do país, essa minoria
opunha-se à separação da França. Por isso, resistiu à
Frente de Libertação Nacional (FLN), que, em 1954,
tinha iniciado as lutas pela independência.
Em 1961, o presidente francês Charles de Gaulle
obteve, por meio de referendo popular, "carta branca" para negociar a paz na Argélia com a FLN.Apesar
da resistência interna de grupos sociais mais conservadores, De Gaulle assinou. em 1962, o Acordo de
Evian, que reconheceu a independência da Argélia.
O saldo dessesanos de conflito foi a morte de cerca
de 25 mil soldados franceses e de quase um milhão de
pessoas da Frente de Libertação Nacional argelina .
• Colônias belgas
Comemoração popular no bairro de Sharpeville
(Johannesburgo) da assinatura da nova Constituição
da África do Sul (10/12/1996). O cartaz colorido traz a
inscrição "Uma lei para uma nação"
As regiões africanas que estavam sob a dominação
belga - Congo, Ruanda e Burundi - obtiveram de
modo geral sua emancipação de forma não-militar,
mas foram assoladas por disputas políticas internas
ou conflitos étnicos extremamente violentos.
• 574 •
Re ública Democrática do Con o
No Congo, o movimento de independência roi
marcado pela violência, devido a uma série de
conflitos internos entre os grupos políticos locais e,
também, aos interesses internacionais na disputa das
riquezas da região.
Em 1960, Patrice Lumumba, líder do Movimento
Nacional Congolês, prociamou a independência do
país. Pouco depois, iniciaram-se movimentos separatistas em algumas províncias congolesas, dentre elas
Catanga, onde o líder, Moise Tshombé, era apoiado
por belgas interessados nas riquezas minerais da
região.
Para manter a unidade do país, Lumumba pediu
auxílio às forças internacionais da ONU. Não obtendo
apoio, recorreu à União Soviética, o que provocou
a reação dos grupos ligados ao bloco capitalista. O
chefe do exército, coronel Mobutu, prendeu Lumumba
e o levou para Catanga, onde o líder foi assassinado,
em fevereiro de 1961.
Mobutu conseguiu impor-se como ditador em
1965, derrubando Tshombé do poder, e o Congo
passou a ser oficialmente denominado República
do Zaire. Mobutu dirigiu o país até 1997. Nesse
ano, uma rebelião liderada por Laurent Kabila
derrubou Mobutu do poder. Kabila, ao assumir o
governo, retomou o antigo nome ao país: República
Democrática do Congo. As disputas étnicas e políticas, no entanto, continuariam, provocando violentos confrontos pelo país.
• Colônias
uesas
Uma das últimas regiões da África a conquistar
sua independência foi a de dominação portuguesa.
Isso porque o ditador António Salazar, que governou
Portugal de 1932 a 1968, afastou o país da onda liberal que se espalhou pelo mundo no pós-guerra, evitando as pressões anticolonialistas. O regime autoritário
salazarista foi prolongado pelo governo de Marcelo
Caetano até 1974.
A resistência portuguesa à descolonização africana somente se desfez após a queda do regime
salazarista, provoca da pela revolução de 25 de abril
de 1974, conhecida como Revolução dos Cravos,
que pregava o estabelecimento da democracia em
Portugal e o fim do colonialismo. Dessa maneira,
abriu-se caminho para a independência das colônias
portuguesas de Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé
e Príncipe, Moçambique e Angola.
Soldado da milícia
portuguesa, na
província de
Niassa, durante a
Guerra Colonial
pela libertação de
moçambique do
domínio português
(1961-1974)
Monitorando
1. Caracterize os movimentos de descolonização nas:
a) colônias britânicas;
b) colônias francesas;
c) 'colônias belgas;
d) -colônias portuguesas.
2. O que foi o apartheid na África do Sul? De que forma esseregime foi revogado?
• 575 •
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
íNDICO
LEGENDA
Área de domínio:
O Francês
O Belga
O Português
O Espanhol
O Italiano
O Independente
O Sul-africano
O Britânico
N
A
O
780
•••••
--km'====='
Fonte: Baseado em Atlas da história
do mundo. São Paulo, Publifolha/Times
Books, 1985. p. 280-281 e Atlas historique
Larousse. Paris, Larousse, 1987. p. 212.
Observando
1. Com base no mapa acima, identifique:
a) uma ex-colônia portuguesa na África Ocidental e outra na África Oriental;
b) a mais meridional ex-colônia inglesa na África;
c) a mais setentrional ex-colônia francesa na África.
Países africanos
País
Antiga potência colonial
Líbia
Itália
Sudão
Inglaterra
Marrocos
França/Espanha
Tunísia
França
1957
Gana
Inglaterra
1958
Guiné
França
Independência
1951
1956
• 576 •
Países africanos
Independência
País
Antiga potência colonial
Camarões
França
Toga
França
Madagáscar
França
República do Congo
Bélgica
Somália
1960
França
Níger
França
Alto-Volta
França
Costa do Marfim
França
Chade
França
República Centro-Africana
Congo-Brazzaville
1961
1962
1963
1964
1965
1966
Inglaterra/Itália
Benin
França
França
Gabão
Inglaterra
Senegal
França
Mali
França
Nigéria
Inglaterra
Mauritãnia
França
Serra Leoa
Inglaterra
Tanzânia
Inglaterra
Burundi
Bélgica
Ruanda
Bélgica
Argélia
França
Uganda
Inglaterra
Quênia
Inglaterra
Malawi
Inglaterra
Zâmbia
Inglaterra
Gâmbia
Inglaterra
Botsuana
Inglaterra
Lesoto
Inglaterra
Suazilândia
Inglaterra
Guiné Equatorial
Espanha
Maurício
Inglaterra
Guiné-Bissau
Portugal
Moçambique
Portugal
.
1968
1974
Cabo Verde
Portugal
Ilhas Comores
França
São Tomé e Príncipe
Portugal
Angola
Portugal
1977
Djibuti
França
1980
Zimbábue
Inglaterra
1975
• 577 •
CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE
Alguns focos constantes de tensão militar
o conflito árabe-israelense, no Oriente Médio, é
um dos principais conflitos regionais que marcaram
o cenário internacional nas últimas décadas. Para
entendê-Io, precisamos recuar no tempo até o final do
século XIX, quando teve início na Europa o movimento
sionista, sob a liderança do jornalista austríaco de origem judaica Theodor Herzl (1860-1904).
Os sionistas defendiam a ideia de reunir o povo
judeu, disperso pelo mundo, num único lugar, onde
se formaria um Estado judaico independente. Depois
de grande discussão, o local escolhido foi a Palestina,
considerada a área de origem dos ancestrais do povo
judeu, os hebreus.
aprovada, pela ONU, a criação de um Estado judaico
na Palestina, em 29 de novembro de 1947.
Com base na decisão da ONU, o líder judeu David
Ben Gurion proclamou a criação do Estado de Israel,
em maio de 1948. A partir dessa data, milhares de
judeus de todas as partes do mundo migraram para
Israel. Isso provocou choques com a população árabe
que habitava a região havia muitas gerações e discordava da criação do Estado de Israel no local onde,
havia décadas, reivindicava a criação de um Estado
palestino independente. Assim, teve início a longa
série de conflitos entre árabes e israelenses.
Luta
Cria ão de Israel (1948)
or um Estado
alestino
Grupos de judeus começaram a adquirir, desde
então, terras na Palestina. Ali, fundaram diversas
colônias agrícolas, tendo como objetivo estabelecer
o sonhado Estado independente. Durante a Segunda
Guerra Mundial, fugindo do terror nazista, milhares
de judeus migraram para a Palestina, aumentando a
colonização judaica na região.
A decisão de 1947 da ONU também previa fundar
um Estado árabe-palestino na região da Palestina,
mas houve grande dificuldade em se implementar
essa decisão. O que se viu foi justamente o contrário:
lideranças de Israel, apoiadas pelos sucessivos governos dos Estados Unidos, aproveitaram-se de confrontos armados contra grupos palestinos para expandir o
território israelense, expulsando os árabes da região.
Terminada a guerra, a opinião pública mundial
estava abalada diante da morte de cerca de 6 milhões
de judeus pelos nazistas (um terço da população judaica no mundo). Esseimpacto contribuiu para que fosse
Expulsos de grande parte de seu território, os
palestinos espalharam-se pelos países árabes vizinhos
e outras nações do mundo e passaram a reivindicar o
direito a uma pátria.
Crianças
palestinas na
faixa de Gaza.
O menino
em primeiro
plano segura
uma arma de
brinquedo feita
de madeira
(1993).
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As lutas entre árabes e israelenses tiveram
momentos dramáticos, marcados pelo ódio extremista de organizações guerrilheiras palestinas, como
o assassinato de atletas judeus nas Olimpíadas de
Munique (1972). Por sua vez, os israelenses também promoveram ações brutais contra a população
palestina, como o massacre em campos de refugiados de Sabra e Chatila, no sul do Líbano, em
1982.
Em 1964, os palestinos fundaram a Organização
para a Libertação da Palestina (OLP), que teve Yasser
Arafat (1929-2004) como um dos mais destacados
líderes. A partir de 1974, ano em que foi à ONU
como presidente da OLP, Arafat começou a buscar
o apoio internacional para a formação de um Estado
palestino.
Autoridade Nacional Palestina (ANP), instituição estatal
que governaria os territórios sob controle palestino: a
Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
Dois anos mais tarde, no entanto, em 4 de novembro de 1995, Yitzhak Rabin foi assassinado por um
extremista judeu que se opunha aos acordos de
paz com os palestinos. Desde então, os levantes
palestinos (conhecidos como Intifada) - em geral,
ações terroristas - vêm sendo duramente combatidos
pelos israelenses. O processo, marcado por avanços
e retrocessos, acordos firmados e não-cumpridos,
ataques suicidas e massacres de civis, adentrou o
século XXI.
Após a morte de Arafat, em novembro de 2004,
Mahmoud Abbas foi eleito presidente da Autoridade
Nacional Palestina.
Em 13 de setembro de 1993, tendo como mediador o presidente dos EUA Bill Clinton, Arafat e o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin (1922-1995)
assinaram um primeiro acordo de paz (Acordo de
Oslo), que representou o início das negociações
entre as lideranças palestinas e israelenses. Entre as
principais decisões desse acordo estava a criação da
Monitorando
1. Explique as causasdo conflito árabe-israelense.
2. Pesquise a situação atual entre palestinos e
israelenses.
OFICINA DE HISTÓRIA
1. O regime de segregação racial existente na África do Sul até 1991 assemelha-se a outros regimes
racistas? Cite alguns lugares e períodos em que existiram governos baseados no racismo e na opressão
de minorias étnicas.
2. Índia e Paquistão são países asiáticos que conquistaram sua emancipação política após conflitos
armados. Atualmente, como é a relação entre esses dois países? Pesquise emjornais e revistas e depois
escreva um relatório sobre os confrontos entre indianos e paquistaneses ao longo da história.
3. Nos processos de descolonização, muitos países africanos e asiáticos conquistaram independência
política. A autonomia econômica acompanhou esses processos? O que ~udou na vida das populações desses países depois da independência? O que se manteve inalterado?
4. Grande parte dos conflitos regionais ocorridos após a Segunda Guerra Mundial teve a participação
direta dos governos das grandes potências. Eles sempre alegam intervir em nome da liberdade e da
soberania dos países em conflito. Muitos acreditam, porém, que eles só intervêm quando veem seus
interesses econômicos ou geopolíticos ameaçados, como no caso do controle de jazidas de petróleo
e, num futuro próximo, de reservas de água potável. O que você pensa a esse respeito?Você acredita
que sempre há um interesse por trás ou acha que é possível uma intervenção em outro país em nome
dà democracia e das liberdades democráticas? Quais são os perigos de uma intervenção? Quais são
os perigos da não-intervenção? Por quê? Reflita sobre casos atuais e debata com seus colegas.
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