UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL NÍVEL MESTRADO Marcelo Setton Sampaio de Carvalho PREVALÊNCIA DA CO-INFECÇÃO HIV E HEPATITES VIRAIS B E C EM SERVIÇOS AMBULATORIAIS ESPECIALIZADOS DE PORTO VELHO, RONDÔNIA – AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA Porto Velho – RO 2010. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL NÍVEL MESTRADO MARCELO SETTON SAMPAIO DE CARVALHO Prevalência da Co-Infecção HIV e Hepatites Virais B e C em Serviços Ambulatoriais Especializados de Porto Velho, Rondônia – Amazônia Ocidental Brasileira. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. Orientador: Dr. Juan Miguel V. Salcedo Porto Velho – RO 2010 FICHA CATALOGRÁFICA BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES Carvalho, Marcelo Setton Sampaio de C3311a Prevalência da co-infecção HIV e hepatites virais B e C em serviços ambulatoriais especializados de Porto Velho, Rondônia – Amazônia Ocidental Brasileira / Marcelo Setton de Carvalho. Porto Velho, Rondônia, 2010. 46f.: il. Dissertação (Mestrado em Medicina) Fundação Universidade Federal de Rondônia / UNIR. Orientador: Profº. Drº. Juan Miguel Villalobos Salcedo. 1. Co-infecção 2. HIV/AIDS 3. Hepatite B 4. Hepatite C 5. Hepatites virais I. Salcedo, Juan Miguel Villalobos II. Título. CDU: 616.98:578.828(811.1) Bibliotecária Responsável: Ozelina Saldanha CRB11/947 MARCELO SETTON SAMPAIO DE CARVALHO PREVALÊNCIA DA CO-INFECÇÃO HIV E HEPATITES VIRAIS B E C EM SERVIÇOS AMBULATORIAIS ESPECIALIZADOS DE PORTO VELHO, RONDÔNIA – AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. Banca Examinadora ________________________________________ Dr. Juan Miguel Villalobos Salcedo - Orientador __________________________________________________ Dr. Mauro Shugiro Tada – 1º avaliador – CEPEM/IPEPATRO ___________________________________________________ Ms. Dhélio Batista Oliveira – 2º avaliador – CEPEM/IPEPATRO Porto Velho, ____ de ________________ de _______. A meu saudoso Pai Alfredo... sem mais palavras, pois o que havia de ser dito, o foi ! AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, que me deu a vida e me mantém vivo. A meus pais, Alfredo e Marília, escolhidos por Aquele para serem meus primeiros guardiões e alicerces de minha formação enquanto homem de bem. A minha amada Kátia, por seu infinito amor... e dedicação irrestrita a nosso maior tesouro, Rafael e Ricardo. Todos três luz que me renova a alegria de viver. A Isabela, Daniela, Flávio e Roberta, irmãos amados, algo distantes, porém fiéis torcedores. Ao Dr. Juan Miguel, por ter antecipado meu ingresso na vida acadêmica e de pesquisa. Aos colegas médicos Andréa Barbieri, Antonio Roberto, Elba Miranda, Fernando Tristão, Luis Augusto, Luis Masuno, Rui Durlacher, Sarah Dellabianca, Sérgio Basano e Stella Tarallo, pelos fundamentais ―quebra-galhos‖ do dia-a-dia. Aos pacientes, fonte e motivo da maior parte de meu conhecimento científico. À Dra. Vera Engracia e Giovani Amaral, por sua extrema cordialidade no exercício de suas funções. Aos colaboradores das Policlínicas Rafael Vaz e Silva e Oswaldo Cruz, por sua dedicação aos pacientes lá assistidos, facilitando em muito a execução desta pesquisa. À Kelly de Oliveira, Flávio Oliveira e demais funcionários do CEPEM e laboratório do IPEPATRO que anonimamente participaram deste trabalho. Aos amigos e irmãos Charles Gomes e Marcos Sundfeld, grandes forjadores do Médico e Homem que sou. Aos amigos José Carlos Coutinho e Rubiane Pagotto, por me transmitirem alívio em momentos de tensão extrema. Ao colega Ms. Alex Miranda, por me mostrar o caminho das pedras no último trecho da jornada. Enfim, a todos meu muito obrigado. “Não somos o que deveriamos ser, não somos o que desejamos ser, não somos o que iríamos ser, mas graças a Deus, não somos o que éramos.” Martin Luther King RESUMO As hepatites B e C constituem um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo, e têm adquirido relevância crescente entre portadores de HIV/AIDS em virtude de sua melhor sobrevida diante da terapia antirretroviral altamente efetiva. Neste estudo de corte transversal por amostragem determinou-se a prevalência dos marcadores sorológicos das hepatites B e C em população de HIV positivos atendidos em serviços ambulatoriais especializados de Porto Velho, capital de Rondônia, entre junho de 2007 e junho de 2009. Dos 184 pacientes que participaram da pesquisa, 58,2% demonstraram positividade para anti-HBc. A prevalência de portadores crônicos do VHB foi de 11,96% (IC95: 7,84-17,26). E 22,4% mostraram perfil sugestivo de infecção oculta pelo VHB (anti-HBc positivo isoladamente). Apenas hemotransfusão prévia apresentou associação significativa com o risco de aquisição do VHB, provavelmente pela baixa representatividade dos outros fatores de risco clássicos na referida amostra. Detectou-se imunidade vacinal para hepatite B em apenas 10,33% (IC95: 6,52-15,37) da amostra. A soroprevalência de anti-HCV foi de 1,63% (IC95: 0,42-5,07). Em região de conhecida alta endemicidade para hepatite B, é alarmante a prevalência de portadores crônicos nesta população de risco representada pelos portadores de HIV/AIDS. Esses dados reforçam e subsidiam a necessidade de planejamento estratégico de políticas públicas tanto para prevenção e diagnóstico quanto para o adequado tratamento das hepatites crônicas nesta população. PALAVRAS-CHAVE: Co-infecção, HIV/AIDS, hepatite B, hepatite C, hepatites virais. ABSTRACT Hepatitis B and C are important public health problem in Brazil and abroad, and have acquired increasing importance among HIV-positive individuals due to their better survival in the face of highly effective antiretroviral therapy. In this cross-sectional study sample was determined the prevalence of serological markers of hepatitis B and C in HIV-positive people treated in specialist outpatient services in Porto Velho, capital of Rondônia, between June 2007 and June 2009. Of the 184 patients who participated in the survey, 58.2% showed positivity for anti-HBc. The prevalence of chronic HBV was 11.96% (CI95: 7,84-17, 26). And 22.4% showed a profile suggestive of occult HBV infection (anti-HBc positive alone). Just prior blood transfusion was significantly associated with the risk of acquiring HBV, probably due to the low representation of other classic risk factors in the sample. The immunity to hepatitis B turned by vaccine was detected in just 10.33% (CI95: 6,52-15,37) of the sample. The seroprevalence of anti-HCV was 1.63% (CI95: 0,42-5,07). In the region of known high endemicity for hepatitis, is alarming prevalence of chronic carriers in this population at risk represented by the subjects living with HIV/AIDS. These data reinforce and inform the need for strategic planning of public policies for both prevention and diagnosis and appropriate treatment for chronic hepatitis in this population. KEYWORDS: Co-infection, HIV / AIDS, hepatitis B, hepatitis C, viral hepatitis. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida CEPEM – Centro de Pesquisa em Medicina Tropical DNA – Ácido desoxirribonucléico EASL – European Association For The Study Of The Liver ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay HIV – Vírus da imunodeficiência humana IPEPATRO - Instituto de Pesquisa em Patologia Tropical RNA – Ácido ribonucléico SAE - Serviço Ambulatorial Especializado UNAIDS – Programa em HIV/AIDS da Organização Mundial da Saúde VHB – Vírus da hepatite B VHC – Vírus da hepatite C SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10 1.1 HIV / AIDS ........................................................................................................... 12 1.2 HEPATITE B ....................................................................................................... 15 1.3 HEPATITE C ....................................................................................................... 19 1.4 CO-INFECÇÃO HEPATITES VIRAIS B OU C COM HIV/AIDS .......................... 22 2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 26 2.1 Geral ................................................................................................................... 26 2.2 Específicos ......................................................................................................... 26 3. METODOLOGIA ................................................................................................. 27 3.1 Tipo de estudo .................................................................................................... 27 3.2 Local da pesquisa ............................................................................................... 27 3.3 População de estudo .......................................................................................... 27 3.4 Seleção da amostra ............................................................................................ 27 3.5 Critérios de amostragem ..................................................................................... 28 3.6 Critérios de inclusão ............................................................................................ 28 3.7 Critérios de exclusão ........................................................................................... 28 3.8 Fluxograma do projeto ........................................................................................ 28 3.9 Exames laboratoriais realizados ......................................................................... 28 3.10 Análise estatística .......................................................................................... 29 3.11 Considerações éticas .................................................................................... 29 4 RESULTADOS .................................................................................................... 30 5 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 34 6 CONCLUSÕES ................................................................................................... 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 40 APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 44 APÊNDICE B – Ficha de Inscrição ........................................................................... 45 1. INTRODUÇÃO Dentro do campo da Infectologia destacam-se duas epidemias de repercussão mundial e relevância incontestáveis. São as pandemias de HIV/AIDS e das hepatites virais crônicas B e C. As duas hepatites virais crônicas acometem cerca de 350 milhões e 180 milhões de pessoas no mundo respectivamente; enquanto aproximadamente 33 milhões de pessoas representam o peso da pandemia de portadores de HIV/AIDS. Calcula-se que já tenham morrido o equivalente a 24 milhões de indivíduos desde o início da década de 80 em decorrência da infecção com o vírus da imunodeficiência humana 3 46. Já foram notificados ao ministério da saúde do Brasil mais de meio milhão de casos de AIDS no país, sendo pouco mais de 2.400 pertencentes ao estado de Rondônia. Dados do Inquérito Nacional de Soroprevalência das Hepatites Virais mostram que 11,5% da população das capitais brasileiras com idade de 20 a 69 anos já tiveram contato com o vírus responsável pelo tipo B da doença. A distribuição das hepatites virais é universal e a prevalência para cada um dos agentes etiológicos é variável de acordo com a localização geográfica. A região amazônica, no norte do país, é reconhecidamente uma área de alta endemicidade para hepatite B. E em relação a HIV/AIDS, Porto Velho, capital de Rondônia, ocupa o 3º lugar entre as capitais brasileiras no que se refere a taxa de incidência de infecções pelo HIV, com média de 38,1 novos casos / 100.000 habitantes em 2007, perdendo apenas para Porto Alegre e Florianopólis 5. Estas infecções virais têm como característica comum a capacidade de driblar o sistema imune humano, perpetuando-se no organismo; e de trazerem conseqüências, potencialmente letais, anos após sua aquisição. Além disso, compartilham de diversas formas de contágio como: sexual (hepatite B e HIV, principalmente) e a parenteral através de agulhas contaminadas (Hepatites B e C, e HIV). Este cruzamento epidemiológico tem-se tornado ainda mais importante recentemente, especialmente, com os avanços no tratamento da AIDS, que permitiram significativo aumento de sobrevida a seus portadores, e assim, com vida mais longa, evidenciou a oportunidade de manifestação clínica da hepatopatia crônica terminal (insuficiência hepática crônica e carcinoma hepatocelular) resultado de muitos anos de infecção pelos vírus hepatotrópicos B e C. Embora haja bastante informação científico-epidemiológica acerca da pandemia de HIV e das hepatites virais em diversas regiões do Brasil e do mundo, e mesmo alguns dados sobre as mesmas, isoladamente, da região norte e especificamente Rondônia, não há, na literatura disponível, dados do estado de Rondônia, sobre esta importante confluência epidemiológica. Este trabalho busca descrever aspectos epidemiológicos relacionados à coinfecção com vírus das hepatites crônicas B e C em uma população de portadores do HIV assistidas em serviços especializados na capital do estado de Rondônia. 1.1. HIV / AIDS A aids (termo já reconhecido pela língua portuguesa, que derivou da abreviatura em inglês de ―Acquired Immune Deficiency Syndrome‖ que designa síndrome da imunodeficiência adquirida) decorrente da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é uma pandemia que produz milhões de vítimas em todo o mundo. 13 46 Ressalte-se que os pacientes portadores sofrem não só com a questão da doença orgânica e suas complicações, mas também, e, às vezes principalmente, em decorrência do preconceito e discriminação que lhes é imposta pela população geral dita sadia. O HIV é um retrovírus RNA com genoma diplóide, descrito inicialmente por Robert Gallo em 1984.19 Morfologicamente é composto de uma parte central densa e cilíndrica (cerne viral) que é circundada por um envoltório lipídico típico dos lentivírus. Apresenta DNA-polimerase RNA-dependente, ou transcriptase reversa, estando acondicionada no cerne viral e sendo responsável pela replicação do genoma viral, que por sua vez funciona como molécula precursora para integração proviral no genoma da célula hospedeira. As principais proteínas do centro estrutural do HIV-1 são a proteína do capsídeo p24, e a proteína da matriz p18; circundando as estruturas protéicas do centro viral há um invólucro lipídico de duas camadas que deriva da membrana limitante externa da célula hospedeira quando o vírus brota da superfície celular durante a replicação. Espalhadas sobre a membrana viral estão as glicoproteínas do invólucro, gp120 e gp41, que são codificadas por genes virais específicos e são responsáveis pela ligação e penetração na célula hospedeira 39 . A infecção se dá, preferencialmente, em linfócitos T-CD4+, cuja depleção progressiva ao longo de anos leva o individuo hospedeiro a um estado de imunodepressão que, de fato, caracteriza a doença. É marcante o aumento da prevalência de infecções incomuns na população geral como pneumonia por Pneumocystis carinii, neurotoxoplasmose, monilíase esofágica, retinite por citomegalovírus, entre outras 19. O hiato entre o momento da infecção e o início das manifestações clínicas da referida síndrome de imunodeficiência adquirida estende-se, em média, por 10 anos, podendo ser bem mais curto ou demasiadamente mais longo, dependendo de inúmeras variáveis envolvidas nas complexas e ainda pouco elucidadas relações vírus-hospedeiro. Chegada a hora, a doença clínica e o risco de morte tem relação apenas indireta com o HIV, pois é seu efeito patogênico sobre o sistema imune do hospedeiro que propicia o surgimento das chamadas infecções oportunistas e neoplasias características da síndrome propriamente dita, causando morbimortalidade significativa 39. Há cerca de 13-15 anos tem sido observada uma marcante mudança na qualidade de vida e no tempo de sobrevida dos pacientes infectados com o HIV em virtude do advento de drogas altamente potentes que usadas em combinação (vulgarmente conhecidas como ―coquetel‖), conseguem controle satisfatório da evolução da doença, ou ainda profunda recuperação clínica nos casos com doença já avançada. Destacam-se nesta nova e efetiva abordagem terapêutica a utilização de drogas de uma classe inédita (inibidores de protease) e, fundamentalmente, seu uso em associação com outras já conhecidas e em utilização (inibidores da transcriptase reversa análogos e não-análogos de nucleosídeos), reduzindo assim a chance de emergência de vírus resistentes, principal causa de falha dos tratamentos até então empregados 19. Logo após a introdução da chamada terapia antirretroviral altamente ativa que ocorreu entre 1996 e 1997 na maior parte do mundo, estudo de coorte envolvendo 4.270 pacientes de 50 centros especializados da Europa evidenciou importante queda na taxa de mortalidade dos pacientes portadores de HIV/AIDS. Seus números registram queda de 23,5 óbitos pra cada 100 pessoas-ano de seguimento em setembro de 1995 para cerca de 4,1 pra cada 100 pessoas-ano em setembro de 1997, ou seja, um decréscimo para menos de 20% dos patamares anteriores 29. Com o passar dos anos, consolidada a experiência com a dita terapia antirretroviral combinada, incluindo portanto, eventuais efeitos deletérios potenciais da própria terapia a longo prazo, os dados citados anteriormente foram confirmados. Assim, estudo de coorte similar à anterior (EuroSIDA) que em abril de 2002 contava com 9.803 pacientes arrolados, revelou queda de taxa de mortalidade de 19 óbitos por 100 pessoas-ano na era pré-terapia combinada (1994-1995) para 2,6 pra cada 100 pessoas-ano na fase em que era disseminada a terapia antirretroviral altamente ativa (1998-2002) 30. Segundo o último relatório da UNAIDS, divulgado em novembro de 2009, embora importantes avanços tenham sido alcançados na prevenção de novas infecções e na redução das mortes anuais relacionadas ao HIV/AIDS, o número de pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) continua crescendo em virtude da combinação de persistentes elevadas taxas de transmissão com consequentes novas infecções, e do impacto benéfico da terapia específica (antirretroviral) aumentando a sobrevida dos já infectados 46. As doenças relacionadas a HIV/AIDS são uma das principais causas de mortalidade mundiais, e estima-se que continuarão a exercer este papel nas próximas décadas 46. Estima-se também que, somente em 2008, cerca de 2,7 milhões de pessoas tenham sido infectadas com o HIV; e que 2 milhões tenham morrido em consequência desta infecção em todo o mundo. Embora ainda em ascensão, a epidemia agora cresce em ritmo bem menor que na década de 90, quando o número médio de novas infecções por ano era de 3 a 3,5 milhões de casos 46. De uma forma geral, a epidemia parece ter se estabilizado na maioria das regiões do mundo, embora a prevalência continue a aumentar na Europa Oriental, Ásia Central e em outras partes da Ásia, devido a uma alta taxa de novas infecções pelo HIV; e apesar também de que são evidentes diferenças intra-regiões, ou mesmo intra-países, em todas as partes do globo. A África subsaariana continua a ser a região mais fortemente afetada, respondendo por 71% de todas as novas infecções pelo HIV em 2008 46. O acesso a terapia antirretroviral, essencial para salvar vidas, tem crescido de 7 pra 42% como média mundial 46. Segundo dados do ministério da saúde do Brasil, no ano de 2008 foram notificados 34.480 casos de AIDS, totalizando, desde 1980, 544.846 casos. No estado de Rondônia, foram registrados ao todo 2.421 casos, sendo 258 somente em 2008 5. A mortalidade brasileira por AIDS (em números absolutos de dados consolidados pelo ministério da saúde até dezembro de 2007) acumula 205.568 desde o início da epidemia; sendo em Rondônia o total de 615 óbitos notificados. A média dos últimos anos tem se mantido em pouco mais de 11 mil óbitos / ano para o país; e cerca de 50 óbitos / ano para o estado de Rondônia 5. 1.2. HEPATITE B O vírus da hepatite B (VHB), cuja primeira evidência de relação com hepatites veio através da descrição de seu antígeno de superfície realizada em 1965 por Baruch Blumberg, o que lhe rendeu o prêmio Nobel de Medicina em 1976, foi completamente identificado por Dane em 1970, e é hoje reconhecido também por partícula de Dane 15. Trata-se de um vírus DNA de 42 nm de diâmetro, constituído por componentes superficiais e centrais antigenicamente distintos e pertence à família Hepadnaviridae. O genoma do VHB codifica quatro produtos reconhecidos: (1) proteínas superficiais (pré-S1, pré-S2 e S); (2) proteínas centrais e proteína e; (3) DNA polimerase, e (4) proteína X. O revestimento superficial do VHB é constituído essencialmente por lipídeo e proteína. Seu principal determinante antigênico, o antígeno superficial da hepatite B (HBsAg) consiste em três componentes coterminais , as proteínas S, pré-S1 e pré-S2. O cerne do VHB consiste em um nucleocapsídeo formado de dímeros agregados da proteína central (HBcAg), contendo DNA circular de filamento duplo incompleto e DNA polimerase, sendo considerada uma parte intrínseca do vírion completo. HBeAg é uma proteína formada pela auto-clivagem específica do produto genético pré-central/central e, ao contrário do HBcAg é incapaz de participar da formação do capsídeo, sendo exportado separadamente da célula. Cada um deles induz uma resposta imune humoral (anti-HBc e anti-HBe, respectivamente) durante a evolução da infecção. O produto genético da DNA polimerase é uma proteína enzimática multifuncional que catalisa várias etapas na replicação do DNA e na montagem do vírion. A proteína X é um transativador heterogêneo de vários genes virais e do hospedeiro 16 22. As principais vias de transmissão do vírus da hepatite B são a parenteral, a sexual e a materno-fetal ou também conhecida como transmissão vertical. É, portanto, considerada uma doença sexualmente transmissível. Em áreas de alta prevalência para o VHB observa-se com mais freqüência a transmissão vertical. Nestes casos, o risco de cronificação é de cerca de 85% e a manifestação de doença hepática crônica ocorre em idade bem mais precoce. As hepatites virais estão entre as causas mais comuns de doença hepática crônica no homem, constituindo-se em importante problema de saúde pública. Estima-se que aproximadamente um terço da população mundial, ou seja, 2 bilhões de pessoas, já teve contato com o vírus da hepatite B (VHB), e destes, cerca de 350 milhões permanecem cronicamente infectados. Em escala global há, anualmente, cerca de 1 milhão de mortes relacionadas a complicações crônicas da hepatite B; e a insuficiência hepática terminal ou câncer de fígado primário (hepatocarcinoma) secundários a ela são responsáveis por 5-10% de todas as indicações de transplante hepático 12. Quanto à prevalência da hepatite B, as regiões do mundo são divididas em alta (≥ 8%), baixa (< 2%) e intermediária endemicidade (2-7%). O continente africano e sudeste da Ásia são considerados de alta endemicidade. Boa parte da Europa e Rússia tem prevalência intemediária 1 . No Brasil, o maior número de casos registrados se encontra nas regiões sul e sudeste, que são também as mais populosas do país (Figura 01); mas sua prevalência é heterogênea, com a região Amazônica, o Espírito Santo e o oeste de Santa Catarina sendo consideradas zonas de alta e média prevalência e as demais regiões com índices baixos, semelhantes à América do Norte e Europa Ocidental 4 14 35 37. De acordo com dados preliminares do Estudo de Prevalência de Base Populacional das Infecções pelos Vírus das Hepatites A, B e C nas Capitais do Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde do Brasil em outubro de 2009, 7,44% da população do conjunto das capitais brasileiras e do DF entre 10 a 69 anos já tiveram contato com o VHB (são Anti-HBc positivos). Desses, quase todos o eliminaram do organismo. Apenas 0,37% da população pesquisada – em torno de 127 mil pessoas – continuavam com o vírus, a maioria na forma de hepatite B crônica (há alguns flagrados na vigência de hepatite B aguda). Segundo este relato, o país estaria totalmente incluído em zona de baixa endemicidade para hepatite B 6. Dados de estudos da região norte são bastante discrepantes dessa visão geral fornecida pelo inquérito nacional. Estudo realizado em comunidades periféricas do município de Porto Velho-RO, Santo Antonio e Abunã, revelou numa amostra de 431 pessoas, prevalência de infecção pregressa por hepatite B de 44%; quanto aos portadores crônicos de hepatite B a taxa encontrada foi de 5,1% 49. Outro estudo com base na população geral da capital rondoniense, numa comunidade do subúrbio conhecida por Maravilha, com representação de 96 indivíduos, evidenciou 9,1% de positividade para Anti-HBc total, 2,2% de positividade para HBsAg, e 35,6% das pessoas apresentavam marcador de imunidade para hepatite B 50. Dados não publicados do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (CEPEM) de estudo realizado pelo Prof. Dr. Juan Miguel Villalobos Salcedo (comunicação pessoal), revelaram prevalência de estado de portador crônico em Rio Machado, comunidade ribeirinha da zona rural do estado de Rondônia, na ordem de 7,8% (10/128) 48. A infecção primária pelo vírus da hepatite B (VHB) em hospedeiros susceptíveis (não imunes) pode ser sintomática ou assintomática. A maioria das infecções primárias em adultos é autolimitada, com eliminação do vírus do sangue e fígado e desenvolvimento de imunidade duradoura. Nos indivíduos em que isso de fato ocorre observa-se o desaparecimento de antígenos virais (HBsAg e HBeAg) e o surgimento de anticorpos protetores específicos (anti-HBs). Porém, algumas infecções primárias em adultos saudáveis (geralmente menos do que 10%) não se resolvem, mas evoluem para infecções persistentes. Em tais casos a replicação viral persiste no fígado e ocorre contínua viremia, embora os títulos do vírus no fígado e sangue sejam variáveis. A evolução para essa forma de hepatite, chamada hepatite viral B crônica, sugere que existe um ataque imune sobre as células infectadas no fígado, o qual é usualmente inadequado para erradicar a infecção por completo. Nesses casos, por definição clássica, observa-se a persistência do antígeno de superfície do vírus B (HBsAg). Sob essa condição, estudos de caso-controle tem mostrado que o risco de carcinoma hepatocelular é 100 vezes maior do que em indivíduos não portadores do VHB 9 22. Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 1999 354 374 666 2.372 144 2000 884 648 2.355 2.568 709 2001 784 853 2.161 3.046 796 2002 1.161 977 2.553 2.727 888 2003 1.269 1.242 4.890 3.670 1.088 2004 1.352 1.778 6.316 3.751 1.211 2005 1.402 2.084 6.460 4.516 1.739 2006 1.604 1.545 6.676 4.288 1.682 2007 1.261 1.072 4.587 3.514 1.305 2008 1.394 1.095 5.240 3.458 1.272 Figura 01 - Distribuição dos casos confirmados de hepatite B segundo o ano, Brasil, 1999 a 2008. Fonte: SINAN/SVS/MS. Dados sujeitos à revisão atualizados em 16/09/2009. A evolução pra cronicidade é muito mais comum quando a infecção pelo vírus B se dá de forma vertical (mãe-filho) ou mesmo durante a primeira infância12. Esquematicamente pode-se dividir a evolução natural da infecção pelo vírus B em 5 fases, não necessariamente consecutivas 12: - Fase imunotolerante: Caracterizada por elevada replicação viral, altos títulos séricos de HBV-DNA, positividade do HBeAg, baixa ou nenhuma atividade inflamatória e necrose hepatocítica, com conseqüente baixo risco ou velocidade de evolução para fibrose ou cirrose hepática 12. - Fase imunorreativa: Marcada por moderada a intensa atividade inflamatória intra-hepática, em geral traduzida por elevação de níveis séricos de aminotransferases hepáticas (embora não obrigatoriamente), positividade do HBeAg, viremia menor que o descrito na fase anterior. Esta etapa pode acontecer algumas semanas após a infecção ou mesmo depois de anos de estado imunotolerante 12; - Estado de portador crônico inativo: Como o próprio nome sugere, nesta fase há viremia ausente ou muito baixa, assim como nenhuma ou mínima inflamação hepática, com conseqüente baixíssimo risco de progressão para cirrose 12 . - Fase de reativação ou hepatite B crônica HBeAg negativa: É uma fase tardia da infecção, caracterizada por soroconversão do HBeAg em Anti-HBe e reativações periódicas de inflamação hepática, com níveis flutuantes de viremia e transaminases. São, na verdade, pacientes portadores de vírus B com mutações que impossibilitam a síntese do antígeno solúvel HBeAg, marcador de replicação viral, ou a permitem em mínimas quantidades, sem contudo, impedir a replicação viral. Algumas vezes é difícil separar esta situação, que carrega risco real de progressão para doença hepática terminal, do portador inativo verdadeiro, com excelente prognóstico; para essa distinção, muitas vezes faz-se necessária avaliação seriada com HBV-DNA e transaminases 12. - Fase HBsAg negativa: Nesta etapa geralmente não há viremia nem hepatite propriamente dita, embora o vírus possa ser detectado no tecido hepático, ou, infrequentemente, em mínimos títulos séricos, quando então será designada como infecção oculta pelo vírus B. De qualquer forma, o prognóstico de ambos parece ser excelente quanto ao risco de insuficiência hepática crônica. Estados de imunosupressão podem levar a reativação nesses pacientes 12 . 1.3. HEPATITE C A partir de meados da década de 70, com conhecimento e tecnologia disponíveis para diagnóstico de inúmeros casos de hepatites entéricas e parentéricas (pelos vírus A e B), percebeu-se que havia ainda razoável proporção de casos sem etiologia definida; estes passaram a ser designados como hepatites nãoA-não-B, e assim ficaram até que em 1989, Michel Honghton e colaboradores descreveram o que foi reconhecido como vírus C da hepatite (VHC) 15. Este vírus pertence à família Flaviviridae, gênero Hepacivirus.Seu material genético é composto de uma fita simples de RNA, com aproximadamente dez quilobases de comprimento, codificando um produto poliprotéico de cerca de 3.000 aminoácidos, cuja clivagem gera várias proteínas estruturais (capsídeo, invólucro) e não-estruturais (helicase, protease e RNA polimerase RNA-dependente). Sua RNApolimerase não possui atividade corretiva, o que determina elevadas taxas de mutação viral dentro dos quase 10 trilhões de partículas virais produzidas por dia num indivíduo infectado, velocidade replicativa média bem maior que a dos outros vírus hepatotrópicos. Assim, um indivíduo infectado pelo vírus C da hepatite, carrega na verdade uma grande diversidade de vírus intimamente relacionados conhecidos como quasispecies. Estão definidos então 6 genotipos de vírus C (nomeados de 1 a 6), com diversos subtipos, assumindo distribuição geográfica mundial característica. Seu reconhecimento tem implicação prática direta, pois está bastante documentado que a chance de sucesso do tratamento está proprorcionalmente relacionada ao genótipo e duração da terapia empregada 23. A hepatite C é essencialmente transmitida através do contato parenteral, principalmente pelo compartilhamento de agulhas contaminadas. A via sexual, diferentemente do que ocorre com o vírus B, é infreqüente, sendo desconhecido ainda se isto é por conta de baixa concentração do vírus em fluidos e tecidos dos órgãos sexuais, ou pela falta de células alvo para infecção no trato genital humano. Também em oposição à hepatite B, a transmissão vertical do VHC é de ocorrência rara 17. São consideradas populações de risco acrescido para infecção pelo VHC indivíduos que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1993, usuários de drogas intravenosas, pessoas em tratamento hemodialítico, usuários de cocaína inalada, pessoas com tatuagem, piercing ou que apresentem outras formas de exposição percutânea17. Sendo os usuários de drogas injetáveis, atualmente, o grupo de mais alto risco para aquisição desta infecção, e consequentemente para a cronificação da co-infecção HIV/VHC, pois sabe-se que os co-infectados tem maior replicação viral e maior risco de cronicidade 43. O VHC não é transmitido através de beijo, abraço, amamentação ou compartilhamento de utensílios domésticos, exceto aqueles que carregam risco de exposição sanguínea, como escova de dentes, lâminas de barbear/depilar, alicates de unha, etc 22. Com relação a história natural da infecção pelo VHC, a expressiva maioria dos indivíduos infectados, não consegue clareamento viral, e evolui com hepatite C crônica. Estudos têm demonstrado que, uma vez estabelecida infecção crônica, a eliminação espontânea do vírus é de ocorrência ainda mais rara. Das pessoas cronicamente infectadas estima-se que 15% a 20% desenvolverão complicações graves tais como cirrose hepática e/ou carcinoma hepatocelular. O risco de tal progressão de doença está relacionado à presença de fatores associados como sexo masculino, idade no momento da infecção, ingestão moderada de álcool, coinfecção pelo VHB ou vírus da imunodeficiência humana (HIV), entre outros. Estes fatores não só aumentam o risco de adoecer, mas também encurtam o tempo entre a infecção e suas manifestações 23 36. Para o vírus da hepatite C (VHC) calcula-se que existem, globalmente, 180 milhões de pessoas cronicamente infectadas 46 . A hepatite C crônica é a principal causa de hepatopatia crônica e a principal indicação de transplante hepático nos Estados Unidos da América 20. Assim como para o VHB, a distribuição geográfica mundial da endemicidade da infecção pelo vírus C não é homogênea. São descritas e consideradas áreas de alta prevalência (>3%), moderada (2 a 2,9%), baixa (1 a 1,9) e muito baixa prevalência (<1%); além disso, sua forma de distribuição é bastante diferente daquela observada para hepatite B. A prevalência mundial de hepatite C crônica varia desde 1%, em países como Reino Unido, Escandinávia, Nova Zelândia e algumas áreas do Japão, até 26% como observado na cidade do Cairo, no Egito. Ainda não existem estudos capazes de estabelecer sua real prevalência na população geral brasileira. Estudos realizados entre pré-doadores de sangue, em 2002 revelaram soroprevalência de 0,28 a 0,62%.7 Até 1993, quando, com a disponibilidade de kits comerciais, foi instituída a testagem para anti-HCV em bancos de sangue, a transmissão da hepatite C via transfusão sanguínea e hemoderivados assumia relevada importância; sendo considerada rara nos dias atuais. 1.4. CO-INFECÇÃO HEPATITES VIRAIS B OU C COM HIV/AIDS Co-infecção com os vírus hepatotrópicos B e C, e o HIV são freqüentes haja visto que compartilham as principais formas de contágio (sexo desprotegido, agulhas contaminadas e hemotransfusão, hoje em dia muito mais rara) 47 . Diversos estudos têm descrito associações importantes das infecções do vírus da imunodeficiência humana (HIV) com os vírus hepatotrópicos B e C, com taxas de co-infecção variáveis de país a país, ou mesmo entre diferentes regiões de uma mesma nação. As hepatites virais crônicas B e C acometem em conjunto mais de 500 milhões de pessoas no mundo, e são causa importante de cirrose hepática e câncer de fígado. Ambas apresentam evolução lenta e silenciosa ao longo de duas ou três décadas. Seus tratamentos são caros e têm eficácia variável de 20 a 80% dependendo da situação clínica. Há estimativas de que 10% dos portadores mundiais de HIV estejam também infectados pelo VHB; com cifras da ordem de 4-5 milhões de co-infectados com VHC 1. Em virtude da supracitada guinada na evolução natural da aids, na última década tem-se revelado um ―efeito colateral‖ de moderada gravidade: Doenças infecciosas crônicas de evolução lenta como as hepatites virais (que tinham pouca representatividade na população de HIV-positivos, já que na ausência de tratamento eficaz para a aids, estes morriam jovens poucos meses ou anos após o diagnóstico da doença imunodepressiva) têm mostrado prevalência e importância clínica progressivamente maiores, pois os pacientes HIV-positivos sobrevivem tempo suficiente para que as hepatites se mostrem clinicamente ou através de suas complicações. Doença hepática é atualmente uma das mais importantes causas de morbimortalidade em portadores do HIV. E as hepatites crônicas B e C são responsáveis pela maioria destes casos 40. Coorte americana com 23.441 pacientes portadores do HIV seguidos de 1999 a 2004 identificou a doença hepática como a principal causa de morte não-relacionada a AIDS, e, neste mesmo estudo, entre os óbitos por doença hepática, as hepatites B e C estiveram relacionadas a cerca de 76% dos casos. Destaque-se que esses achados são concomitantes a dramática redução da incidência de doenças infecciosas oportunistas clássicas da AIDS 51. Palella et al., em importante estudo epidemiológico publicado em 2006, mostrou relevante modificação das causas de morbimortalidade em portadores de HIV/AIDS ao longo dos anos no final da década de 90. Em coorte americana de quase 7 mil pacientes, a taxa de mortalidade por causa estritamente relacionada a AIDS reduziu-se de forma estatisticamente significativa entre 1996 e 2004 de 3,79 para 0,32 óbitos pra cada 100 pessoas-ano; essa redução foi também observada quando se avaliavam todas as outras causas de morte, exceto para as hepatopatias que mostraram aumento em taxa de mortalidade de 0,09 para 0,16 óbitos por 100 pessoas-ano (embora não estatisticamente significante). Mais alarmante que isto foi sua participação proporcional como causa de óbito, que sofreu aumento significativo de 1,3% para 12,5% na referida coorte (p<0,0001) 33. Uma análise retrospectiva de 84 casos de óbitos entre portadores de HIV em hospital de Boston-EUA, comparando as causas dos óbitos ocorridos em dois momentos arbitrária e intencionalmente definidos como 1991 (pré terapia antirretroviral altamente ativa) e 1998-1999 (era da potente terapia combinada), revelou participação de doença hepática terminal como causa de morte em 11,5% na primeira etapa, e impressionantes 50% no segundo grupo (1998-1999) 2. Dados de coorte americana de homossexuais masculinos portadores de HIV que analisou amostra de 5.293 pacientes, mostraram aumento de 8 vezes no risco de morte relacionada a hepatopaia nos pacientes co-infectados com HIV-HBV quando comparados aos monoinfectados com HIV, particularmente naqueles que atingiram nadir de linfócitos T-CD4+ muito baixo (marcador laboratorial de imunidade mais utilizado na prática clínica de assistência aos pacientes portadores do HIV) 44. Os mecanismos biológicos desta interação entre a doença imunossupressiva desencadeada pela infecção pelo HIV e a evolução natural da hepatite B crônica são ainda incertos; há um conceito geral cientificamente reconhecido de que a patogênese da hepatite B crônica é imunomediada, sugerindo que, pelo menos grosseiramente, a imunodepressão seria protetora. Muito provavelmente há muitas questões da imunologia e da patogênese tanto do HIV quanto do vírus da hepatite B que precisam ser desvendados para esclarecer esta influência negativa do HBV na história natural dos portadores de HIV, e vice-versa 44. A hepatite B crônica parece afetar negativamente a evolução da infecção pelo HIV. Dados provenientes de importante coorte européia com 5.728 pacientes revelam prevalência de 8,7% de portadores crônicos de HBV entre soropositivos pro HIV; e nesta parcela de co-infectados, houve um aumento significativo de morte relacionada a hepatopatia da ordem de 3,6 vezes quando comparado aos HBsAg negativos 21. O tratamento destas infecções virais crônicas, por natureza complexo, caro, prolongado (dura a vida toda no caso do tratamento de HIV/AIDS) e não isento de efeitos colaterais, tem essas características amplificadas quando tais infecções estão presentes num mesmo paciente. Quanto aos coinfectados HIV/VHB, são candidatos ao tratamento da hepatite crônica aqueles que apresentam evidência de replicação viral, determinada pela presença de HBeAg e/ou do HBV-DNA > 2.000 UI/ml no soro, ou, que, à histologia, evidencie atividade necroinflamatória moderada e/ou fibrose; ou ainda naqueles com cirrose clínica (insuficiência hepática crônica) 8. Atualmente, as drogas disponíveis são o Interferon alfa (IFNα), agente antiviral e imunomodulador naturalmente produzido pelo organismo humano no combate a infecções virais (obtido por uma recombinação genética) e antivirais análogos de nucleosídeos e nucleotídeo como tenofovir, entecavir, adefovir, lamivudina (3TC) e telbivudina, esta última não disponível no Brasil. Ressalte-se que tenofovir e lamivudina são também ativas contra o HIV 8. O tratamento para o VHC estaria indicado em princípio a todos os coinfectados; entretanto, em virtude da toxicidade que compromete a adesão e dificulta a complementação da terapia, e da eficácia limitada, reserva-se o tratamento para aqueles em que se julga que os benefícios superarão os riscos da toxicidade, e para aqueles em que se esperam melhores taxas de resposta. O esquema a ser empregado consiste na combinação de interferon peguilado e ribavirina por 48 semanas, com taxas de sucesso variando entre 14 e 36% para o genótipo 1, e entre 43 e 73% para os genótipos 2 e 3 42 . O controle da transmissão dos vírus das hepatites B e C, e também do HIV deve envolver campanhas de orientação à população sobre os riscos de transmissão dos agentes infectantes, controle adequado de sangue e hemoderivados, precauções padrão com pacientes internados, prevenção entre usuários de drogas endovenosas e prática de sexo seguro. Somente para a hepatite B há disponibilidade de profilaxia efetiva com vacina,a qual é isenta de risco infeccioso já que é sintetizada a partir de engenharia genética, e tem eficácia próxima a 95% na população geral. No Brasil, está disponível pelo Sistema Único de Saúde para uso em crianças e adolescentes desde o início da década de 90, com potencial real de, num futuro próximo, modificar sobremaneira o perfil epidemiológico, sobretudo taxas de prevalência, na população brasileira 25. Ainda são remotas as perspectivas vacinais contra o HIV e o VHC. Embora já se conheça a prevalência destas co-infecções em outras partes do Brasil e do mundo, não há na literatura médica indexada, dados relativos a essa confluência de epidemias tão importantes na cidade de Porto Velho, nem no estado de Rondônia. Estima-se que este problema tenha maior repercussão nesta região do país, já que, diferentemente da maior área do território brasileiro, o Norte é reconhecidamente uma zona de elevada prevalência de hepatite B. Logo, o conhecimento adequado da realidade deste tema na população em questão permite alertar os médicos e a população para o problema, além de oferecer aos gestores públicos dados imprescindíveis para correto planejamento orçamentário na área da saúde (ressalte-se que as medicações empregadas no tratamento, seja das hepatites ou do HIV, são de custo bastante elevado). 2. OBJETIVOS 2.1 Geral Determinar o perfil soro-epidemiológico das hepatites virais B e C em pacientes adultos portadores do HIV, assistidas nos serviços de referência para AIDS da cidade de Porto Velho-RO (Policlínica Rafael Vaz e Silva – Pol.RVS e Policlínica Oswaldo Cruz – POC). 2.2 Específicos Determinar as prevalências de infecção pregressa, infecção crônica, imunidade, susceptibilidade para VHB na referida população; Determinar a prevalência de soropositividade para VHC na referida população; Descrever a freqüência com que fatores de risco classicamente relacionados a aquisição de hepatites virais crônicas e HIV ocorrem nesta população. 3. METODOLOGIA 3.1. Tipo de estudo O desenho do estudo foi de um corte transversal por amostragem na população de pacientes portadores do vírus HIV atendidos em serviços de referência na cidade de Porto Velho, capital de Rondônia. 3.2. Local da pesquisa Entrevista e coleta de amostras biológicas: o Serviço Ambulatorial Especializado (SAE) da Policlínica Oswaldo Cruz, situado em Porto Velho-RO e pertencente à Secretaria Estadual de Saúde de Rondônia, sendo referência estadual para atendimento ambulatorial de pacientes portadores de HIV/AIDS residentes em cidades do interior do estado de Rondônia. o Serviço Ambulatorial Especializado (SAE) da Policlínica Rafael Vaz e Silva, situado em Porto Velho-RO e pertencente à Secretaria Municipal de Saúde, sendo referência municipal para atendimento ambulatorial de pacientes portadores de HIV/AIDS residentes na capital do estado de Rondônia, região amazônica brasileira. Processamento das amostras: Laboratório de sorologia das hepatites virais do Instituto de Pesquisas em Patologia Tropical (IPEPATRO). 3.3. População de estudo A população de referência para o estudo foi representada pelos pacientes com diagnóstico de infecção pelo HIV comprovada e em acompanhamento ambulatorial nos referidos serviços especializados. 3.4. Seleção da amostra 3.4.1. Critérios de amostragem: Foram selecionados para participar do estudo pacientes que compareceram ao SAE da Policlínica Oswaldo Cruz entre agosto e dezembro de 2007; e ao SAE da Pol. Rafael Vaz e Silva entre agosto de 2008 e julho de 2009, em dia e horário convenientes com a oportunidade da presença de um dos membros do grupo de pesquisa. 3.4.2. Critérios de inclusão: Pacientes matriculados nos SAEs, com idade maior que 18 anos. Aceitação por escrito de participação no estudo. 3.4.3. Critérios de exclusão: Pacientes menores de 18 anos. Mullheres gestantes Índios Pacientes que se negaram a participar do estudo. 3.5. Fluxograma do projeto Aqueles pacientes que compareceram aos referidos ambulatórios durante o período da pesquisa especificado acima, em dia e horário convenientes com a oportunidade de presença de colaborador da pesquisa foram informados sobre a mesma durante a consulta médica pelo profissional responsável, e assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A) concordando em participar da pesquisa, submetendo-se aos seguintes procedimentos: a) Preenchimento de ficha de inscrição (APÊNDICE B) com questões padronizadas relativas a variáveis demográficas, socioeconômicas e fatores de risco para hepatites B e C, e AIDS/HIV. A aplicação do questionário foi feita por ocasião de uma consulta de retorno, por uma única pessoa, e em condições que permitissem privacidade. b) Coleta de 10ml de sangue venoso periférico em tubo seco sem anticoagulante; com a amostra biológica sendo encaminhada ao Laboratório de Sorologias de Hepatites Virais do IPEPATRO onde se realizou a separação manual do soro através de centrifugação e armazenamento em Eppendorf® em duas alíquotas de 1000µL à temperatura de -20ºC. c) Após realização das análises propostas, os resultados foram compilados em banco de dados específico, e concomitantemente disponibilizados individualmente nos prontuários de cada paciente, em seu respectivo serviço ambulatorial de origem. 3.6. Exames laboratoriais realizados As amostras de sangue foram submetidas a exames sorológicos tipo ELISA utilizando kits comerciais da marca DiaSorin, Inc seguindo as normas do fabricante, para os seguintes marcadores: Anti-HBc total (ETI-AB-COREK-2): Determinação qualitativa dos anticorpos totais anti-antígeno nuclear do VHB, utilizando princípio de teste competitivo; a positividade indica contato prévio com VHB. HBsAg (ETI-MAK-3): Determinação qualitativa do antígeno de superfície do vírus da heptite B, utilizando princípio de teste direto tipo sanduíche. Identifica o estado de portador do HBV. Este marcador representa o antígeno de superfície do vírus da hepatite B e sua presença indica infecção por este vírus, sem diferenciar uma infecção aguda de uma crônica. Anti-HBs (ETI-AB-AUK-3): determinação qualitativa dos anticorpos anti antígeno de superfície do vírus da hepatite B, utilizando princípio de teste sanduíche não competitivo. A presença deste marcador indica imunidade contra HBV, seja ela adquirida através de cura de infecção ativa, ou através de imunização ativa (vacina contra vírus B) ou passiva recente (imunoglobulina anti-hepatite B). Anti-HCV (ETI-AB-HCVK-3): determinação qualitativa dos anticorpos contra o vírus da hepatite C, utilizando princípio de teste imunométrico. Indica infecção prévia com o vírus HCV. Como este agente apresenta elevado índice de cronicidade, à primeira vista é tido praticamente como um indicador de estado de portador do vírus. 3.7. Análise estatística Os dados de cada paciente foram armazenados e analisados pelo programa Epi-info 3.5.1 e Epi 6.04. A análise estatística foi feita de forma univariada, utilizando os testes qui-quadrado e exato de Fisher, conforme o tamanho da amostra pra cada variável, com vistas a determinar as taxas de soroprevalência e seus intervalos de confiança dos diversos marcadores e descrever as associações entre possíveis fatores de risco e a presença de tais marcadores sorológicos das hepatites B e C. 3.8. Considerações Éticas A pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do CEPEM através do Parecer 041/CEP/CEPEM e foi registrada no CEP sob o número 054/08; um termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A) foi lido e assinado por cada um dos participantes desta pesquisa. 4. RESULTADOS Foram inscritos na pesquisa 220 pacientes matriculados nos dois serviços ambulatoriais supracitados. Destes, 36 foram excluídos da análise por indisponibilidade de resultaods no momento da análise dos dados (4 por amostra inadequada; 19 por resultados pendentes em virtude de impedimento burocrático; e 13 por resultados indeterminados). Do total de 184 pacientes analisados com perfil sorológico proposto completo, 83 (45,1%) eram homens e 101 (54,9%) eram do sexo feminino. A idade média foi de 38,8 anos variando de 18 a 87 anos ( ♂ = 41 e ♀ = 36,9). (TABELA 01). Tabela 01. Distribuição de características demográficas e fatores de risco pra hepatites de 184 pacientes HIV positivos. Porto Velho-RO (2007-2009). Variável N % SEXO Masculino 83 45 Feminino 101 55 IDADE MÉDIA UDI 38,8 (± 10,4) # Sim 4 2 Não 180 98 Regular 154 84 Esporádico 30 16 177 96 7 4 Sim 107 58 Não 77 42 Sim 57 31 Não 127 69 Sim 29 16 Não 155 84 Sim 8 4 Não 176 96 Uso de Preservativo Atividade sexual Heterossexual Homo/Bissexual Cirurgia prévia Hemotransfusão Tatuagem Piercing # UDI: Uso de Droga Injetável Tabela 02. Distribuição do perfil sorológico pra hepatite B em 184 pacientes HIV + . Porto Velho-RO (2007-2009). PERFIL SOROLÓGICO N % (IC95%) Portador crônico Infecção curada 22 61 11,96 (7,84-17,26) 33,15 (26,63-40,20) Anti-HBc (+) isolado 24 13,04 (8,74-18,50) Imunizados por vacina 19 10,33 (6,52-15,37) Susceptíveis 58 31,52 (25,12-38,50) As ocupações (profissões declaradas) mais freqüentes foram ―autônomo‖ e ―do lar‖. Em toda a amostra, 96% se declarou heterossexual. Tabela 03 - Distribuição da soropositividade para Anti-HBc em 184 pacientes HIV positivos, de acordo com a presença de fatores de risco. Porto Velho-RO (2007-2009). Variável Anti-HBc + (%) Anti-HBc – (%) TOTAL SEXO Masculino 51 (27,7) 32 (17,4) 83 Feminino 56 (30,4) 45 (24,5) 101 40,54 (±10,54) 36,4 (± 9,67) IDADE MÉDIA Sim 3 (1,6) 1 (0,5) 4 Não 104 (56,5) 76 (41,4) 180 Uso de Preservativo Regular 88 (47,8) 66 (35,9) 154 Esporádico 19 (10,3) 11 (6,0) 30 Atividade sexual Homo/Bissexual P 1,28 (0,71-2,31) 0,41 < 0,01 UDI*** Heterossexual OR* (IC95%)** 104 (56,5) 73 (39,7) 177 3 (1,6) 4 (2,2) 7 Cirurgia prévia Sim 60 (32,6) 47 (25,5) 107 Não 47 (25,5) 30 (16,4) 77 Hemotransfusão Sim 41 (22,3) 16 (8,7) 57 Não 66 (35,9) 61 (33,2) 127 Tatuagem Sim 17 (9,2) 12 (6,5) 29 Não 90 (48,9) 65 (35,3) 155 Piercing Sim 5 (2,8) 102 (55,4) 107 Não 3 (1,6) 74 (40,2) 77 2,19 (0,20-56,75) 0,49 0,77 (0,34-1,73) 0,53 1,90 (0,34-11,22) 0,45 0,82 (0,45-1,48) 0,50 2,37 (1,21-4,65) 0,01 1,02 (0,46-2,29) 0,96 1,21 (0,24-6,70) 1,00**** *OR: odds ratio; **IC: Intervalo de confiança; ***Uso de Droga Injetável; ****Teste exato de Fischer. A prevalência de soropositividade para Anti-HBc foi de 58,2%. Destes 107 pacientes, 57% (61pctes) mostravam perfil de cura, 20,6% (22pctes) eram portadores crônicos, e 22,4% (24pctes) tinham positividade isolada do anti-HBc. (TABELAS 02 e 03). Dos 23 pacientes co-infectados HIV-VHB (HBsAg positivos), 61% eram do sexo masculino com média de idade de 41,3 anos; e 39% mulheres, com média de idade de 35,3 anos. (TABELA 04) Tabela 04 - Distribuição da soropositividade para HBsAg em 184 pacientes HIV positivos, de acordo com a presença de fatores de risco. Porto Velho-RO (2007-2009). Variável HBsAg + (%) HBsAg – (%) TOTAL SEXO Masculino 14 (7,6) 69 (37,5) 83 Feminino 8 (4,9) 93 (50) 101 38,82 (±10,65) 38,81(± 10,36) IDADE MÉDIA Sim 1 (0,5) 3 (1,6) 4 Não 21 (11,4) 159 (86,4) 180 Uso de Preservativo Regular 16 (8,7) 138 (75,0) 154 Esporádico 6 (3,3) 24 (13) 30 Atividade sexual Homo/Bissexual P 2,07 (0,85-5,07) 0,10 0,94 UDI*** Heterossexual OR* (IC95%)** 20 (10,9) 157 (85,3) 177 2 (1,1) 5 (2,7) 7 Cirurgia prévia Sim 13 (7,1) 94 (51,0) 107 Não 9 (4,9) 68 (37,0) 77 Hemotransfusão Sim 6 (3,3) 51 (27,7) 57 Não 16 (8,7) 111 (60,3) 127 Tatuagem Sim 4 (2,2) 25 (13,6) 29 Não 18 (9,8) 137 (74,4) 155 Piercing Sim 0 (0) 8 (4,3) 8 Não 22 (12,5) 154 (83,2) 176 2,39 (0,00-28,28) 0,42**** 0,46 (0,17-1,30) 0,14 0,30 (0,05-2,73) 0,21**** 1,05 (0,42-2,58) 0,92 0,82 (0,30-2,21) 0,69 1,15 (0,30-4,04) 0,76 0 (0,00-4,94) 0,60 *OR: odds ratio; **IC: Intervalo de confiança; ***Uso de Droga Injetável; ****Teste exato de Fischer. Entre os fatores de risco clássicos para aquisição de hepatite B analisados, apenas a hemotransfusão mostrou-se estatisticamente significativo, conforme ilustrado na tabela 03. Ademais, a idade mais avançada também revelou associação positiva com o risco de contato prévio com o VHB. Com relação a co-infecção HIV-VHC, detectou-se na amostra estudada a presença de 3 pacientes (1,6%) soropositivos para Anti-HCV, com idade média de 48,3 anos. (TABELA 05). Tabela 05. Soropositividade para HCV (1 amostra) em 184 pacientes soropositivos para o HIV. Porto Velho-RO (2007-2009). PERFIL SOROLÓGICO Anti-HCV positivo N % (IC95%) 3 1,63 (0,42-5,07) Não foi identificado nenhum caso de co-infecção HBV-HCV. 5. DISCUSSÃO Dada a significativa confluência epidemiológica entre as pandemias de HIV e hepatites virais crônicas, é fundamental reconhecer regionalmente a situação destas infecções crônicas, com vistas a suportar planejamento de políticas públicas de enfrentamento, seja no âmbito da prevenção, tratamento ou redução de danos. Este trabalho envolvendo portadores de HIV/AIDS mostrou elevada soropositividade para o anti-HBc (58,2%), indicando alta freqüência de contaminação da população com o vírus da hepatite B. Ainda que se trate de população de reconhecida alta endemicidade, esses valores sugerem algo diferenciado para esse grupo populacional. É sabido que em regiões hiperendêmicas, como é a amazônia brasileira, a prevalência da infecção pelo vírus B é mantida sobretudo através da transmissão vertical e/ou horizontal na infância precoce, caracterizada por altos índices de cronificação conforme comentado anteriormente, e portanto gerando disseminadores ―vitalícios‖ da infecção 18 24 . A população aqui estudada, particularizada por ser portadora do HIV, parece ter risco adicional de infectar-se com o VHB. É razoável supor que este risco tenha íntima relação com o comportamento sexual, aliás, via de infecção compartilhada por ambos os vírus. A pesquisa evidenciou também alta taxa de prevalência de portadores crônicos de co-infecção com hepatite B, na ordem de 11,96%, bastante acima da estimativa para a população geral do Brasil, conforme documentado por diversos trabalhos ilustrados na figura 2; e ainda significativamente maior que a da população rondoniense e de outros estados da região norte do país, destaque-se, diferenciada do restante do território nacional por ser de alta endemicidade para o vírus da hepatite B. É provável que essas destacadas prevalências sejam efeito somatório da alta endemicidade regional de hepatite B na população geral e do compartilhamento por ambas infecções da principal via de contágio representada pela relação sexual desprotegida, acrescidas da reduzida capacidade dos soropositivos para o HIV de suprimirem adequadamente a replicação do VHB quando de sua infecção aguda. Referência, ano Local n Anti-HBc + % (IC95%) HBsAg + % (IC95%) Anti-HCV + % (IC95%) Pavan MHP, 1995 (Campinas-SP) 34 226 44 5,3 - Mendes-Correa MCJ, 2000 (São Paulo-SP) 28 1693 38,6 5,7 - Souza MG, 2004 (Ribeirão Preto-SP) 41 401 39,7 8,5 - Segurado et AL, 2004 (Santos-SP) # 24 495 - - 36,2 (31,9-40,4) Monteiro MR, 2004 (Belém-PA) 31 406 45,1 (40,3-49,9) 7,9 (5,3-10,5) - De Almeida Pereira RAR, 2006 (Cuiabá-MT) 11 1000 40 (36,9-43,1) 3,7 (2,6-5,2) - Carvalho FHP, 2006 (Recife-PE) 10 343 - - 4,1 Marchesini AM e AL, 2007 (São Paulo-SP) * 26 205 53,2 27,3 (22-36) 82,4 Figura 2 - Prevalência de VHB e HVC em populações HIV-positivas relatadas em diferentes estudos brasileiros. Fonte: Adaptado de DE ALMEIDA PEREIRA, R.A.R., 2006, p.5. # 24% da amostra é usuária de droga injetável. * Amostra exclusiva de usuários de drogas injetáveis. De qualquer forma, os números aqui registrados trazem importantes implicações tanto para os gestores de saúde, quanto para os elementos efetores do serviço de saúde, especialmente médicos envolvidos em seu atendimento. A infecção viral crônica pelos vírus hepatotrópicos, em especial o vírus B, deve ser rotineira e eletivamente investigada, em todo portador do HIV; e obrigatoriamente lembrada como diagnóstico diferencial diante de paciente com síndrome clínica sugestiva de hepatopatia crônica ou crônica agudizada. Quando do início da terapia antirretroviral, o conhecimento do perfil sorológico para hepatite B pode ser decisivo na escolha das drogas que comporão o esquema, se drogas com atividade exclusiva contra o HIV, ou com efeito supressivo sobre o vírus B também, como é o caso do tenofovir e da lamivudina, geralmente utilizados em associação neste contexto clínico 8. Estudo populacional na comunidade geral de Rio Branco-AC, publicado em 2004, mostrava prevalência de exposição prévia ao vírus da hepatite B em torno de 40%; com hepatite B crônica em 3,3% da amostra 43. Os dados apresentados evidenciam baixa taxa de imunidade específica nos não infectados pelo vírus B da hepatite; sabe-se que nas recomendações para terapia antirretroviral em adultos infectados pelo HIV do Ministério da Saúde do Brasil há orientação para vacinação de todos os portadores de HIV/AIDS susceptíveis a hepatite B, entre outras morbidades; portanto é necessária uma análise mais rigorosa para definir se este achado se deve a baixa cobertura vacinal, ou seja, ao não cumprimento desta recomendação; ou se é fruto de profunda imunodepressão comprometendo a soroconversão potencialmente induzida pela vacina. Dado o impacto negativo desta co-infecção, e a disponibilidade gratuita de imunização, os médicos devem estar atentos para o diagnóstico de susceptibilidade a hepatite B, e encaminhar os pacientes aos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais a fim de imunizá-los especificamente, para em médio prazo, alcançar-se uma significativa redução desta taxa de prevalência de coinfecção. Considerando todos os pacientes com positividade para o anti-HBc (n=107), 22,4% apresentaram positividade exclusiva para este marcador, sugerindo infecção oculta pelo vírus B, que seria caracterizada por viremia positiva, porém baixa, e indetectáveis níveis séricos do antígeno de superfície do VHB. Tais pacientes, que requerem confirmação diagnóstica através de métodos de biologia molecular (reação em cadeia de polimerase), são de particular importância por dois motivos principais: Primeiro pelo risco de serem triados equivocadamente como não portadores de hepatite B, já que são negativos para seu marcador clássico de infecção crônica (HBsAg), e, segundo, pelo reconhecido acréscimo de risco de evoluírem para doença hepática terminal quando comparados aos portadores assintomáticos clássicos. A relativa baixa taxa de imunização da população estudada requer melhor investigação para se reconhecer se é resultado de inadequada recomendação médica da vacinação específica para hepatite B protocolada pelo Ministério da Saúde do Brasil, ou má adesão dos pacientes a essa recomendação, ou ainda, se é resultado de deficiente resposta imune à vacinação realizada. A resposta a estas questões permitirá adoção de pertinentes intervenções modificadoras desta situação, fundamentadas na idéia de prevenção, em geral muito mais barata e efetiva que a abordagem terapêutica. A casuística mostrou significância estatística de risco para aquisição de hepatite B em pacientes com antecedente de transfusão sanguínea. É provável que outros fatores de risco classicamente reconhecidos não tenham sido flagrados de forma significativa por conta de sua baixa representatividade na amostra em questão, como é o caso de uso de drogas endovenosas e uso de piercings. Aliando-se essa elevada taxa de prevalência atual, à grande velocidade de crescimento da epidemia de HIV/AIDS na capital no estado de Rondônia, e em especial na capital Porto Velho, 3ª maior incidência entre as capitais brasileiras, e a recente explosão populacional decorrente de imigração motivados por grandes empreendimentos de infra-estrutura de ordem nacional, é mister considerar essa questão como prioritária e decisiva nas elaborações de políticas públicas de tratamento e prevenção destas duas viroses potencialmente crônicas e letais. A soroprevalência de infecção por vírus C da hepatite nesta população infectada pelo HIV mostrou-se baixa. E pode ainda ser menor, levando-se em conta que o diagnóstico foi feito com apenas uma amostra testada para anti-HCV, e sendo assim, é pelo menos teoricamente possível que algum(s) dos 3 pacientes soropositivos para HCV representem de fato resultados falso-positivos. Infelizmente, não se conseguiu oportunamente nova amostra dos pacientes em questão para confirmação ou descarte da co-infecção. Dados de serviço especializado em AIDS na capital de Pernambuco, região nordeste do Brasil, revelaram prevalência de co-infecção HIV-HCV da ordem de 4%, número discretamente maior que o da pesquisa atual 10 . Entretanto, dados do Rio Grande do Sul revelam prevalência de co-infecção de 38,4% 45. E outro estudo envolvendo pacientes portadores do HIV em Santos-SP, importante cidade portuária brasileira, revelou co-infecção em 36,2% dos pacientes; quando analisados apenas os usuários de drogas injetáveis, esta prevalência atingiu alarmantes 84,8% 38. É possível então que a baixa taxa de prevalência na população soropositiva para HIV atendida nos centros de referência da capital de Rondônia seja decorrente de uma menor participação das drogas endovenosas em relação as drogas inaladas no âmbito da drogadicção ilícita. Reconhece-se que o desenho do estudo pode ter permitido um viés de amostragem em virtude do critério de seleção por conveniência, o que compromete, pelo menos em tese, a aleatoriedade da amostra. Mas, tendo em vista que a presença de pesquisador nas referidas unidades não obedeceu a um critério específico, por exemplo, dia da semana, médico assistente em particular, ou outro qualquer, considera-se incerto e duvidoso quanto isto pode ter influenciado nos resultados. 6. CONCLUSÕES Este estudo envolvendo adultos portadores de HIV/AIDS atentidos em serviços especializados da capital de Rondônia demonstrou: Elevada soroprevalência de co-infecção HBV-HIV, seja infecção pregressa ou estado de portadores crônicos, mesmo quando comparada a outras cidades da região norte do país, reconhecidamente de alta endemicidade para hepatite B. Baixo nível de imunização ativa protetora contra hepatite B, com subseqüente relativo alto índice de susceptibilidade. Baixa prevalência de infecção conjunta com o vírus C. Associação significativa de passado de hemotransfusão com o risco de aquisição de hepatite B. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALTER, M.J. et al. Epidemiology of viral hepatitis and HIV co-infection. Jornal of Hepatology, 44:S6-S9. 2006. 2. BICA, I. et al. Increasing mortality due to end-stage liver disease in patients with human immunodeficiency virus infection. Clin. Infect. Dis., 32:492–497. 2001. 3. BONGAARTS, J.; PELLETIER, F.; GERLAND, P. Global Trends in AIDS Mortality. In: Poverty, gender, and youth – Working paper N° 16, New York, The Population Council, Inc. 2009 4. BRASIL, L.M. et al. Prevalência de marcadores para o vírus da hepatite B em contatos domiciliares no Estado do Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 36:565-570, 2003. 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico: DST/AIDS versão preliminar. 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Pesquisadores e instituições envolvidas: Coordenador: Dr. Juan Miguel Villalobos Salcedo - IPEPATRO Colaboradores: Marcelo Setton Sampaio de Carvalho – SESAU / Sarah Dellabianca – SESAU / Stella Taralo– SESAU / Sérgio de Almeida Basano – SESAU / Elba Oliveira – SESAU / Flávio Augusto de Souza Oliveira – IPEPATRO-PIBIC Objetivo principal: Descrever o perfil epidemiológico das hepatites virais B e C em pessoas que convivem com HIV, assistidas nos serviços de referência para AIDS da cidade de Porto Velho-RO Procedimentos relacionados ao participante: Entrevista e coleta de sangue venoso. Possíveis riscos e desconfortos ao participante: Dor em local de coleta de sangue. Fui informado dos objetivos, procedimentos, riscos e benefícios desta pesquisa. Pelo que os pesquisadores me explicaram, além da entrevista e do exame médico que eles farão comigo, estou ciente de que será necessário tirar sangue de minha veia, para vários exames de laboratório que serão necessários para a pesquisa. Foi explicado que as minhas informações serão guardadas em sigilo e que apenas os dados da pesquisa serão divulgados. Ninguém além dos pesquisadores terá acesso às minhas informações particulares. Foi explicado também que tenho direito a receber informações adicionais sobre a pesquisa a qualquer momento, mantendo contato com o pesquisador principal. Estou ciente de que a minha participação é voluntária e que se eu preferir não participar ou deixar de participar deste estudo em qualquer momento, isso NÃO me acarretará qualquer tipo de penalidade, nem ao menos modificações em meu atendimento e tratamento especializado. Compreendi tudo o que me foi explicado sobre a pesquisa e concordo em participar da mesma. Assinatura do pesquisador principal: ...................................................................... 69 3219-6012 [email protected] Digital Data: ........ de ............................. de 2008. Eu, ..............................................................................................................................................., entendi o que me foi explicado sobre o estudo e concordo em participar do mesmo. Assinaturas: do participante (ou responsável, caso seja menor de idade; ou de duas testemunhas, caso não saiba assinar o nome). ................................................ .................................................... .......................................... Paciente Testemunha Testemunha Informações relevantes ao pesquisador responsável: Res. 196/96 – item IV.2: O termo de consentimento livre e esclarecido obedecerá aos seguintes requisitos: a) ser elaborado pelo pesquisador responsável, expressando o cumprimento de cada uma das exigências acima; b) ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que referenda a investigação; c) ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e cada um dos sujeitos da pesquisa ou por seus representantes legais; e d) ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa ou por seu representante legal e uma arquivada pelo pesquisador. Res. 196/96 – item IV.3: c) nos casos em que seja impossível registrar o consentimento livre e esclarecido, tal fato deve ser devidamente documentado, com explicação das causas da impossibilidade, e parecer do Comitê de Ética em Pesquisa. Casos especiais de consentimento: 1. 2. 3. 4. Pacientes menores de 16 anos – deverá ser dado por um dos pais ou, na inexistência destes, pelo parente mais próximo ou responsável legal; Paciente maior de 16 e menor de 18 anos – com a assistência de um dos pais ou responsável; Paciente e/ou responsável analfabeto – o presente documento deverá ser lido em voz alta para o paciente e seu responsável na presença de duas testemunhas, que firmarão também o documento; Paciente deficiente mental incapaz de manifestação de vontade – suprimento necessário da manifestação de vontade por seu representante legal. APÊNDICE B - Ficha de Inscrição GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE CENTRO DE PESQUISA EM MEDICINA TROPICAL Título do Projeto: PREVALÊNCIA E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO MOLECULAR DA CO-INFECÇÃO HIV E HEPATITES VIRAIS B E C EM RONDÔNIA – AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA. FICHA DE INSCRIÇÃO Unidade: ( ) Policlínica Rafael Vaz e Silva ( ) Policlínica Oswaldo Cruz N.º de matrícula na unidade: I-Identificação Nome: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Data de nascimento: / / Idade: Endereço: Bairro: CEP: Município: Telefone para contato: Profissão: Há quanto tempo tem o diagnóstico de HIV/SIDA ? II- Antecedentes e fatores de risco: Transfusão de sangue, plasma ou derivados: ( ) sim ( ) não Cirurgia: ( )sim ( )não Tatuagem: ( )sim ( )não Tipo: Piercing: ( )sim Ano: ( )não Compartilha material p/ uso de drogas injetáveis e/ou inaláveis? ( )sim ( )não Atividade sexual: ( )Heterossexual ( )Homossexual ( )Bissexual ( ) NR* *=Não Referido Faz uso de preservativo? ( ) sim ( ) não III – Dados laboratoriais Exame Contagem de LT CD4+ Em células/mm3 Contagem de LT CD8+ Em células/mm3 Carga viral (cópias/mL) Resultado Data Carga viral (log) IV- Classificação imunológica da infecção pelo HIV conforme tabela abaixo: Alteração imunológica Ausente (1) Moderado (2) Grave (3) N= Ausência de sinais e/ou sintomas clínicos N1 N2 N3 B= sinais A= sinais e/ou e/ou sintomas sintomas clínicos clínicos leves moderados A1 B1 A2 B2 A3 B3 C= sinais e/ou sintomas clínicos graves C1 C2 C3 V- Histórico vacinal Esquema vacinal Número de doses Completo dT (difteria e tétano) ( ) SIM ( ) NÃO Hepatite B ( ) SIM ( ) NÃO Simples ( ) Dupla ( ) Influenza (gripe) ( ) SIM ( ) NÃO Pneumococo ( ) SIM ( ) NÃO * Encaminhar ao CRIE todo paciente HIV+ sem esquema vacinal ou com esquema vacinal incompleto. Vacina V- COLETA DE MATERIAL ENTRADA Material : sangue/soro EXAME HBsAg Anti-HBc total Anti-HBS (quantitativo) Anti-HCV DATA: D.O/cut-off Resultado PÓS-VACINA DATA: D.O/cut-off Resultado