As hepatites são doenças do fígado que tanto podem ter um curso

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As hepatites são doenças do fígado que tanto podem ter um curso benigno e auto‐limitado, como evoluir para uma fase crónica e aumentar o risco de alguns tipos de tumores. A recém‐
criada consulta de Hepatologia (doenças do fígado) faz, por isso, todo o sentido num hospital oncológico. Para além do álcool, que se mantém como a principal causa de doença hepática em Portugal, existem outros agentes agressores para o fígado que interessa conhecer. Entre eles contam‐se alguns medicamentos (em doses elevadas ou mesmo standard), suplementos alimentares, vitaminas, chás e outras substâncias adquiridas em ervanárias e ginásios. O seu consumo tende a ser desvalorizado pelos doentes, que os encaram como “produtos naturais” potenciadores do seu bem‐estar. Como na maioria são metabolizados pelo fígado, deve evitar‐se sempre o seu uso sem aconselhamento médico. Contrariamente ao conhecimento popular, não são conhecidos alimentos que façam mal ao fígado (os ácidos como o limão e o vinagre, por exemplo, podem ser consumidos sem problema) nem chás “para o fígado”. Sobre os vírus das hepatites muito se tem falado, mas na prática clínica diária não parece haver menos dúvidas sobre as vias de contágio, precauções a tomar e formas possíveis de tratamento. A Hepatite A é uma doença geralmente benigna, que muitos de nós tiveram na infância e não evolui para a cronicidade. Pode cursar com icterícia (olhos e pele de cor amarela), mas na maior parte dos casos os sintomas são mais inespecíficos e confunde‐se com outro tipo de infecções virais. Por isso, a maior parte dos adultos está imune para a hepatite A e desconhecia já ter tido a infecção. No entanto, é possível e aconselhável vacinar os indivíduos que não tenham tido contacto com o vírus; existe inclusivamente uma vacina Vírus da Hepatite A combinada para as hepatites A e B. A Hepatite B é uma doença cuja vacina faz parte do programa nacional de vacinação desde 2000 e tendencialmente está a diminuir de incidência nos países ditos desenvolvidos. No entanto, existem ainda muitos indivíduos adultos infectados, alguns imigrantes de países africanos, do leste da Europa ou da América do Sul. O vírus transmite‐se pelo sangue e por via sexual, mas não através da saliva, lágrimas ou suor. Cerca de 95% dos indivíduos adultos que contacta com vírus da hepatite B adquire imunidade, ou seja, a infecção não se torna crónica. Na maior parte das vezes esse período não é acompanhado de quaisquer sinais ou sintomas, pelo que os indivíduos desconhecem a infecção passada. Os 5% restantes deverão ser acompanhados numa consulta da especialidade, uma vez que podem ter Vírus da Hepatite B indicação para iniciar tratamento e requerem vigilância periódica. A hepatite B crónica é um dos factores de risco para o desenvolvimento de cirrose hepática, cancro do fígado e outros tipos de tumores, como por exemplo hematológicos (do sangue e sistema linfático). Actualmente existem medicamentos potentes para o vírus da hepatite B, capazes de controlar a infecção e reduzir o risco destas complicações. A Hepatite C é uma doença para a qual ainda não existe vacina e que se transmite exclusivamente através do sangue. Existem alguns grupos de risco óbvios para a infecção, como o dos toxicodependentes de drogas endovenosas, entre os quais 80% contraiu o vírus. Também os doentes que efectuaram transfusões de sangue e derivados antes de 1992 devem ser testados para a doença. No entanto, sensivelmente 40% dos doentes com hepatite C não recorda possíveis vias de contágio, em parte porque não associa alguns hábitos a comportamentos de risco. Entre eles contam‐se a partilha de objectos cortantes ou as idas a barbeiros e centros de estética. Torna‐se, por isso, difícil definir verdadeiros grupos de risco (não seremos todos nós?). Contrariamente ao que acontece para a hepatite B, na hepatite C a grande maioria dos doentes que contacta com o vírus (cerca de 80%) Vírus da Hepatite C
evolui para a forma crónica da doença. Destes, cerca de 25% vem a desenvolver cirrose hepática. A hepatite C, sobretudo se associada ao consumo de álcool, condiciona um risco muito aumentado de desenvolver cancro do fígado, constituindo uma das principais indicações para transplante hepático. O grande problema é que na maioria dos casos a infecção é silenciosa, não apresentando quaisquer sintomas até uma fase avançada da sua história natural. Se detectada, a infecção pode ter cura, em cerca de 45 a 80% dos casos. Ultimamente têm‐se registado progressos assinaláveis no tratamento da hepatite C, que fazem prever taxas de cura mais animadoras num maior grupo de infectados. Em suma, a única abordagem de sucesso para o problema das hepatites assenta numa estratégia conjunta, que conta com a colaboração de todos nós: cidadãos individuais, médicos e decisores políticos. Dessa estratégia, devem fazer parte os seguintes items: 1. Prevenção a) Não ingerir bebidas alcoólicas nem outras drogas (incluindo medicamentos) que não sejam estritamente necessárias; b) Vacinação para as hepatites A e B; c) Usar sempre preservativo; d) Não partilhar objectos potencialmente infectados com sangue, como seringas, corta‐
unhas, pinças, gillettes ou escovas de dentes. 2. Diagnóstico a) As análises do fígado devem fazer parte do check up individual; b) Porque não fazer o teste de rastreio das hepatites B e C de forma mais generalizada? Na verdade, é difícil definir verdadeiros grupos de risco (os óbvios são normalmente rastreados) e as infecções são muitas vezes silenciosas… 3. Tratamento a) Deixar de beber álcool e de consumir drogas desnecessárias; b) Os indivíduos com hepatites B e C crónicas devem ser acompanhados em consultas da especialidade e, caso tenham indicação e assim o desejem, tratados com os medicamentos mais eficazes e actuais. 
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