AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS MORFOFISIOLÓGICOS EM MUDAS DE ORQUÍDEAS UTILIZANDO GIBERELINA NA FASE DE ACLIMATIZAÇÃO. Izabelle T. D. de Siqueira1 , Luiz A. R. dos Santos2, João A. F. Pereira2 e Cláudia Ulisses3 Introdução As orquídeas constituem o grupo de maior representatividade e o mais diverso das epífitas vasculares [1]. Constituem ainda uma das maiores famílias de plantas floríferas, possuindo aproximadamente 25.000 espécies distribuídas em 800 gêneros. Embora as flores apresentem uma estrutura relativamente uniforme, que facilita o reconhecimento da família, a organização dos órgãos vegetativos é bastante diversa, bem como, as formas de crescimento observadas entre as espécies da família. As espécies de orquídeas epífitas possuem adaptações singulares na morfologia interna, que as tornam aptas a ocuparem ambientes onde a escassez de água e nutrientes são freqüentes, como nos ramos e troncos das árvores. Nestas espécies é comum a presença de tecidos especializados para a reserva de água, tanto nas folhas, quanto nas raízes e nos pseudobulbos [2]. O cultivo in vitro de orquídeas surge como uma alternativa de propagação promovendo a produção de mudas tanto pela via assexuada quanto sexuada proporcionando uma maior produção de mudas para abastecer o mercado de plantas de flores ornamentais, evitando a retirada das mesmas da natureza [3]. A utilização de giberelina deve-se ao fato de sua ação no crescimento caulinar, podendo ser aplicada para aumento em produtividade, cujo maior crescimento tem sido observado em gramíneas, hortaliças e ornamentais [4]. A etapa de aclimatização é definida como a adaptação climática de um organismo, especialmente uma planta, que é transferida para um novo ambiente ex vitro. Esta fase é muito delicada, deve-se basicamente aos fatores: estresse hídrico, fotossíntese, absorção de nutrientes e fitossanidade [5]. Sendo necessário que a planta habite um substrato que lhe propicie condições para o seu desenvolvimento. Durante o processo de aclimatização das plantas cultivadas in vitro, ocorrem mudanças morfológicas e fisiológicas, tornando-as capazes de crescer nesse novo ambiente [6]. De acordo com afirmações [7], durante o processo de aclimatização há a conversão da condição heterotrófica para autotrófica e em gradual retorno as características naturais da planta. A perda de mudas durante a aclimatização pode ser muito alta tornando-se um fator limitante no processo de micropropagação [8]. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar os processos morfofisiológicos de mudas de orquídeas da espécie Dendrobium anosmum mediante a utilização exógena de giberelina durante a fase de aclimatização. Material e métodos As mudas de orquídeas da espécie Dendrobium anosmum foram micropropagadas no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da UFRPE, aclimatizadas em substrato específico para orquídeas e mantidas no telado de aclimatização da UFRPE/UAG. As mudas receberam aplicações semanais de giberelina (ácido giberélico - GA3), através de pulverização realizada duas vezes por semana nas seguintes concentrações: 0; 50; 100; 150 e 200mg L-1. As pulverizações foram realizadas na parte aérea e no substrato, com o volume de 5mL por vaso, durante 8 semanas. Uma vez por semana aplicou-se uma adubação foliar com Birlan Plus na concentração de 2mL L-1. A irrigação foi realizada manualmente e diariamente, quando necessário. Foram realizadas medições a cada quinze dias e os parâmetros avaliados foram: comprimento da maior raiz, número de raízes, altura da parte aérea e número de folhas. . Para análise da morfologia interna foram preparadas secções anatômicas transversais das amostras realizadas à mão livre. Em seguida foram diafanizadas em hipoclorito de sódio a 30% por no máximo três minutos, coradas com safrablau e montadas como lâminas semipermanentes, tendo como ________________ 1. Primeiro Autor é Graduando do Curso de Agronomia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Unidade Acadêmica de Garanhuns – UAG, Av. Bom Pastor, S/N, Garanhuns, PE, 55290-000. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Graduando do Curso de Agronomia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Unidade Acadêmica de Garanhuns – UAG, Av. Bom Pastor, S/N, Garanhuns, PE, 55290-000. 3. Terceiro Autor é Professor Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Unidade Acadêmica de Garanhuns – UAG, Av. Bom Pastor, S/N, Garanhuns, PE, 55290-000. Apoio financeiro: CNPq. meio de montagem glicerina. As seções transversais das raízes e das folhas foram analisadas em imagens digitais obtidas de câmera digital acoplada ao microscópio óptico. Resultados e discussão As plantas aclimatizadas nas condições experimentais deste trabalho apresentaram baixo índice de sobrevivência. Esses resultados podem estar relacionados à forma de aclimatização individual. Pois em experimentos posteriores, em aclimatização coletiva, as plantas obtiveram 90% de sobrevivência. As plantas que receberam tratamento com 50mg L-1 de GA3 se destacaram nas variáveis altura da planta, número de raízes e comprimento da maior raiz em relação dos demais tratamentos, enquanto que as plantas cultivadas sem adição de giberelina (controle) se destacaram apenas na variável número de folhas (Tabela 1). Em todos os tratamentos observou-se a ausência de pelos radiculares. O córtex da planta controle não apresentou distribuição uniforme de células, deixando espaçamento entre uma célula e outra (Fig. 01), enquanto que os demais tratamentos apresentaram distribuição uniforme com células arredondadas (Fig. 02). As raízes das plantas em corte transversal apresentaram características típicas da família Orquidaceae, como velame e córtex com exoderme definida (Fig. 02), endoderme em processo de formação próximo ao cilindro vascular poliarco (Fig. 03). O velame das plantas de todos os tratamentos apresenta duas camadas de células. A endoderme não apresentou paredes espessadas, somente leve espessamento de paredes próximas ao floema (Fig. 04). O velame das orquídeas pode variar de espessura conforme com o ambiente de cultivo e apresenta função evidente de reserva, atuando como esponja, permitindo à raiz manter um reservatório temporário de água e sais minerais. Plantas in vitro apresentam o velame com menor espessura, provavelmente devido o ambiente protegido e com alta umidade relativa, enquanto que as plantas ex vitro podem apresentar velame com maior número de células [9]. O número de camadas de células no velame e no córtex é variável de acordo com a espécie [10]. O cilindro vascular das plantas de todos os tratamentos apresentou medula e reduzido número de pólos vasculares (sete pólos de xilema e floema) (Fig. 05). Os estômatos das plantas de todos os tratamentos encontram-se bem distribuídos nas células da epiderme, apresentando em menor número na face adaxial e maior número na face abaxial (Fig. 06). Estômatos apresentaram células guarda em formato reniforme, deixando-o ligeiramente arredondado (Fig. 07). Agradecimentos Ao CNPq/UFRPE. Referências [1] ELY, Francisca; TORRES, Fresia; RADA, Fermin; LÉON, Yelitza. Estudo morfo-anatómico de orquíedas de una selva nublada tropical. Interciencia, Caracas, Venezuela, v. 32. n. 006, p. 410-418, junio, 2007. [2] PEREIRA, L.G.; CASTRO, N. M. de; Anatomia foliar de quatro espécies de orquidcaeae epífitas das matas ciliares do Rio Araguari (Triângulo Mineiro). Anais UFU – 2008. [3] ARDITTI, J. Aspects of the physiology of orchids. Advances in Botanical Research, v. 7, p. 421-655, London, 1979. [4] MARTINS, Maria Bernardete Gonçalves e CASTRO, Paulo Roberto de Camargo e. Efeitos de giberelina e etephon na anatomia de plantas de cana-de-açúcar. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.34, n. 10, p. 1855-1863, out. 1999. [5] TOMBOLATO, A. F. C.; COSTA, A. M. M. Micropropagação de plantas ornamentais. Boletim Técnico, Campinas, v.174, p.1-72, 1998. [6] Sutter, E.G.; Shackel, K. & Díaz, J.C. 1992. Acclimatization of tissue cultured plants. Acta Horticulturae 314: 115-119. [7] DIÁZ-PÉREZ, J.; SHACKEL, K. A.; SUTTER, G. G. Acclimatization and subsequent gas exchange, water relations, surviral and growth of microculture apple plantlets after transplanting them in soil. Physiologia Plantarum, Copenhagen, v.9, p.225-232, 1995. [8] GRATTAPAGLIA, D.; MACHADO, M. A. Micropropagação. In: TORRES, A. C.; CALDAS, L. S. (Ed.). Técnicas e aplicações da cultura de tecidos de plantas. Brasília: ABCTP/Embrapa, 1990. p.99-170. [9] Mayer, Ribas, Bona & Quoirin: Anatomia comparada das folhas e raízes de Cymbidium Hort. (Orchidaceae) cultivadas ex vitro e in vitro. Acta bot. bras. 22(2): 323-332. 2008. [10] SILVA, C.I. & Milaneze-Gutierre, M.A. 2004. Caracterização morfo-anatômica dos órgãos vegetativos de Cattleya walkeriana Gardner (Orchidaceae). Acta Scientiarum. Biological Sciences 91-100. 26: Tabela 1: Desenvolvimento fisiológico das mudas de D. anosmums durante 60 dias após o transplantio. Tratamento 0 50mg.L-1 100mg.L-1 150mg.L-1 200mg.L-1 Altura da planta 3,8 4,04 1,95 3,0 2,63 Número de folhas 5,2 5,0 4,0 5,0 5,0 Número de raízes 8,0 10,0 5,0 8,0 8,0 v Comprimento maior raiz 1,85 4,80 1,90 1,85 2,70 cv xl fl c ex 03 en c 01 02 04 m 05 06 07 Figuras 01-07. Estrutura da morfologia interna de Dendrobium anosmum. 01- Secção transversal da raiz evidenciando células do córtex no tratamento controle; 02 - Secção transversal da raiz com velame pouco formado e presença de lignina (células coradas em vermelho); 03-05. Seção transversal da raiz de plantas tratadas com 50mg L-1 evidenciando xilema, floema e cilindro vascular; 06-07. (Epiderme da face abaxial da folha com a presença de estômatos). C = córtex. cv = cilindro vascular. ex = exoderme. em = endoderme. fl = floema. m = medula. xl = xilema. v = velame.