As TIC e o Mar

Propaganda
As TIC e o Mar
INTRODUÇÃO
Não será claro para todos a ligação das TIC ao mar ou, como hoje se costuma dizer, à
“economia do mar”. As primeiras são empresas ligadas a tecnologia de ponta e à inovação. A
economia do mar, pelo menos em Portugal, é geralmente associadas a sectores tradicionais
como as pescas, os portos e aos transportes marítimos distantes dos níveis de inovação e de
investimento em investigação e desenvolvimento que caracterizam os sectores “clientes” das
empresas TIC.
Mas há uma ligação das TIC à “economia do mar” e um grande potencial para reforçar essa
ligação.
A ECONOMIA DO MAR É UM SECTOR EM CRESCIMENTO
A importância da economia do mar, no dealbar deste século XXI, é clara e o seu crescimento
será inexorável. Fala-se numa corrida aos oceanos para extração de recursos naturais,
incluindo energéticos, para ocupação de espaço e uso de novas tecnologias, ou para fazer
progredir áreas-chave do conhecimento científico e compreendermos melhor o (estado) do
planeta.
O aumento da importância do mar justifica-se igualmente porque há uma forte componente
marítima em muitos dos grandes desafios que enfrentamos à escala planetária. A globalização
continua a aumentar e não é mais do que o crescimento do comércio mundial e das trocas
entre países, sendo que 90% desse comércio é realizado pela via do transporte marítimo.
Globalização significa, assim, mais portos, logística, transporte marítimo (embarcações) e
construção e reparação navais, o que requer novos investimentos e uma incorporação elevada
de TIC. O desafio energético, por sua vez, implica um aumento exponencial da exploração
offshore de combustíveis fósseis, com ênfase no gás natural (40% do petróleo e 60% do gás
natural consumido hoje na Europa é gerado no offshore), bem como no desenvolvimento de
energias renováveis (eólica, ondas ou biodiesel gerado por macro-algas). A segurança do
fornecimento energético, outro dos desafios que a Europa, em especial, enfrenta e requer
maior variedade das rotas e meios de transporte energéticas, o que significa mais transporte
de energia por mar, mais terminais portuários energéticos e maior uso do mar para pipelines
e gasodutos.
As alterações climáticas também implicam o mar em todas as suas vertentes: pela absorção
no mar de grande parte do CO2 emitido, pelo papel do sistema oceânico na regulação do
clima e na mitigação dos efeitos das alterações climáticas, pelo impacte que essas alterações
1
causarão nas zonas costeiras e pelos investimentos colossais que irão ser feitos na adaptação
dessas zonas aos impactos negativos das alterações climáticas. De tudo isto resulta que, cada
vez mais no futuro, será necessário saber com antecipação o clima do mar, prevendo-o,
prevenindo alterações e monitorizando-o. Ou seja, como para a nova e crescente indústria da
energia offshore, também para a indústria do clima, da investigação do mar e do
conhecimento dos riscos ligados às alterações climáticas as TIC serão determinantes.
O mesmo é válido para desafios ligados à preservação da biodiversidade marinha e ao
consequente surgimento de sectores da economia ligados à monitorização, à gestão e à
preservação do ambiente e dos ecossistemas marinhos. Ou para tudo o que se prende com a
segurança não apenas da navegação, mas de um continente como a Europa, em que dois
terços das suas fronteiras são fronteiras marítimas. Ou seja, também os desafios ambientais e
de segurança com que nos confrontamos incluem uma forte componente marítima e também
eles vão exigir novos investimentos e o auxílio das TIC.
PORTUGAL E O MAR
Compreender isto é compreender alguns dos fatores que irão influenciar a evolução da
procura mundial nos próximos anos e décadas. E se isso é importante para qualquer país, para
Portugal, que dispõe de um avassalador território marítimo, isso afigura-se primordial. Sendo
certo que o País atravessou as últimas décadas virado de costas para o mar, é certo também
que hoje são fortes os sinais de que isso está a alterar-se e de que o mar se está a tornar
acertadamente num desígnio nacional. Sendo as TIC um sector em crescimento na economia
portuguesa e com grande vocação exportadora, não deverá ignorar os grandes desígnios
nacionais, mas antes constituir-se como uma ferramenta de consolidação desses desígnios.
O desígnio do mar assume-se de uma naturalidade impressionante para um país como Portugal
e espanta como tem de ser reinventado. Na realidade, o país possui a maior Zona Económica
Exclusiva da União Europeia, está apostado em conseguir a delimitação de uma das dez
maiores plataformas continentais marítimas do mundo e possui uma localização geográfica
central na confluência de continentes e de rotas mundiais de transporte marítimo. Para além
disso, não obstante o desinvestimento no mar das últimas décadas, Portugal pode beneficiar
de uma perceção externa relativamente forte da associação do nosso país ao mar, o que se
devidamente explorado poderá constituir uma poderosa marca e logo uma mais valia (good
will) para as empresas exportadoras de produtos ligados à economia do mar, incluindo as
empresas TIC.
Deve referir-se que a Europa sozinha responde por 40% do mercado mundial da aplicação de
TIC a sectores da economia do mar, o mercado designado de “Marine IT”, o que é explicado
pela posição dominante a nível mundial da Europa nas indústrias dos transportes marítimos,
2
construção naval e das indústrias de energia offshore. A projeção do crescimento do sector
das “Marine IT” na Europa, de acordo com a consultora Douglas and Westwood, era entre
2004 e 2009 de seis vezes o valor inicial, sendo a principal concorrência gerada pela China e
pela Índia.
Estes dados são relevantes porque, não obstante já haver empresas TIC atuantes nos sectores
domésticos dos portos e da logística ou noutros sectores da nossa “economia do mar”, ainda
assim o alvo das “Marine IT” portuguesas deverá ser também e obrigatoriamente o mercado
europeu e mesmo mundial.
Este facto não deve, contudo, significar que as empresas TIC portuguesas que se desejem
posicionar na prestação de produtos e serviços à “economia do mar” não devam pensar
igualmente no mercado nacional. Neste mercado, para além do sector mais relevante dos
portos e logística, já referido, haverá cada vez mais lugar à aplicação de TIC na automação de
navios e plataformas offshore, na automação da aquacultura, nos sistemas de segurança e
vigilância marítimos, nas empresas da futura green economy ligadas ao mar e ao ambiente
marinho (a blue economy) e, espera-se, no futuro na exploração dos recursos naturais da
extensa plataforma continental portuguesa.
CONCLUSÃO
As projeções económicas internacionais para o sector das “Marine IT” é de um franco
desenvolvimento. E a forte condicionante marítima dos grandes desafios mundiais, aqui
referida, reforça essas projeções. As empresas TIC baseadas em Portugal podem posicionar-se
de forma mais esclarecida nesse mercado e podem contribuir de forma importante para que
Portugal consolide o mar como um desígnio nacional. Essa contribuição ajudará a transformar
a “economia do mar” nacional da economia antiga que hoje é numa economia inovadora,
geradora de um mundo de valor.
O potencial natural do país, baseado na dimensão e na geografia, por um lado, e a perceção
externa capaz de associar e assegurar uma marca forte e credível à “economia do mar”
portuguesa, por outro, determinam o sucesso numa aposta na geração de valor a partir do
mar. E o sector das TIC pode ser uma componente relevante dessa aposta, contribuindo para
reconciliar o país com a sua geografia e para gerar do mar uma base produtiva inovadora para
o país.
Tiago Pitta e Cunha
Presidente do 22º Congresso das Comunicações
3
Download