Estudo Etnobotânico de plantas medicinais no bairro São Lázaro Marcos Aurélio PANTOJA, Alvanir Carolino da Silva FILHO, Maria Ivaneide da Costa MELO, Francisca Pereira de ARAÚJO, Karina Nonato RIBEIRO, Marion Moreira FARIAS, Marcos Alexandre Santos Correia PINTO Escola Municipal Anastácio Assunção, MANAUS - AM Resumo Estudo etnobotânico de plantas medicinais no bairro de São Lázaro. Com o objetivo de entender e descobrir a cultura popular pela cura alternativa através das plantas, exóticas ou locais, mais cultivadas pela população do bairro de São Lázaro, zona sul de Manaus. Tomou-se por base uma amostragem, bem pulverizada, dos moradores onde esta distribuição de coletas estendeu-se à ruas limítrofes e centrais. Chamou-nos atenção a falta de espaços disponíveis nas residências apropriadas para cultivo de plantas. Dos entrevistados apenas 35% cultiva algum exemplar de planta medicinal, sendo a hortelã a mais cultivada seguida do crajirú. Ainda 90% dos moradores afirmam saber utilizar as propriedades das plantas medicinais e não discriminam incompatibilidade de seu uso concomitante aos fármacos alopáticos. Além das visitas a domicílios, alunos da E.E Senador Antóvila Mourão Vieira e E.M.E.F. Anastácio Assunção, foram mobilizados a levar para casa, desde que morassem em São Lázaro, um kit coletor contendo papelão retangular medindo 50cm x 35cm dobrado ao meio para acondicionar partes da planta mais o questionário padrão elaborado. Muitos foram encorajados a adotarem o cultivo em vasos e o risco de mau uso das plantas na confecção das porções terapêuticas e modo de utilizá-las é notório pelas diferentes citações para a mesma espécie. PALAVRAS-CHAVE: São Lázaro, Manaus, estudo etnobotânico, plantas medicinais Introdução A FITOTERAPIA, que é o conjunto das técnicas de utilização dos vegetais no tratamento das doenças e na recuperação da saúde, nasceu com os antigos egípcios que se especializaram na arte de embalsamar os cadáveres. Para tanto, experimentaram muitas plantas cujo poder curativo descobriram ou confirmaram. O Brasil é um país privilegiado porque dispõe de uma flora medicinal das mais vastas do mundo e, nós 48 vol. 1(1) 2012: 48 - 52 pantoja et al. brasileiros devemos aprender a utilizá-las a nosso favor. A floresta amazônica é fantástica. Agredida sob as mais diversas desculpas abriga, nas suas fauna e flora, princípios ativos ainda não estudados. Na cidade de Manaus e mais precisamente no bairro de São Lázaro, ainda é comum o cultivo de algumas espécies de plantas medicinais nos quintais e varandas das casas. Levando-se em consideração que a cada dia que passa, agrava-se a situação da saúde do povo e os remédios estão com preços exorbitantes, torna-se necessário construir junto aos nossos alunos o conhecimento sobre plantas medicinais. O uso das plantas medicinais se usada de forma correta não prejudica o organismo. Pelo contrário, beneficia, purifica e cura. No desejo de os alunos ampliarem seus conhecimentos e adquirirem gosto pelo cultivo dessas plantas, surgiu a idéia desse projeto. Objetivos Geral: Proceder ao estudo etnobotânico de plantas medicinais usadas(cultivadas) no bairro São Lázaro. Específicos: -Levantamento bibliográfico sobre a temática do projeto; -Realização de seminário para apresentar os principais resultados do projeto; -Proceder pesquisa-ação participante na comunidade com o fim de estreitar os laços com os entrevistados; -Coleta de plantas relatadas na entrevista; -Produção de exsicatas das espécies relatadas na entrevista e Identificação Botânica por comparação no herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA; -Montagem de um pequeno herbário com as plantas coletadas. Procedimentos metodológicos Coleta de dados e determinação botânica. Foram realizadas entrevistas por meio de questionário estruturado (anexo 1 ) sobre as plantas de uso medicinal no bairro São Lázaro, aplicadas entre fevereiro e abril de 2012 nas famílias de alunos da Escola Estadual Senador Antóvila Mourão Vieira e Escola Municipal Anastácio Assunção. Ao todo foram entrevistados 50 moradores selecionados por estudantes regularmente matriculados nas escolas supracitadas que levaram os kits de coleta composto de um papelão retangular, medindo 50cmX35cm, dobrado ao meio contendo questionário em papel ofício A4 e descrito em seu anverso orientações de alerta quanto ao correto uso dos fitoterápicos quanto a suas indicações, posologias, tempo de tratamento, possíveis reações adversas e contraindicações. A identificação taxonômica das amostras foram feitas por comparação de amostras já catalogadas no herbário do INPA. Com isso a confecção de exsicatas e a montagem de um pequeno herbário em nossa própria escola complementou a necessidade de mantermos uma particular coleção de fitoterápicos. Visitamos algumas residências nas quais registramos com fotografias e foi na oportunidade que identificamos a enorme falta de espaços físicos próprios para o cultivo das plantas, deixando como orientação a alternativa do cultivo em vasos. 49 vol. 1(1) 2012: 48 - 52 pantoja et al. Resultados finais Acreditamos que desenvolvemos um trabalho potencialmente inclusivo, pois as divergências entre o conhecimento da escola e o conhecimento do público que a frequenta vêm provocando, entre outras coisas, o distanciamento entre a escola e a comunidade, e sabemos que para oferecer ensino de qualidade necessitamos nos integrar. Uma das formas que vêm fazendo com que alcancemos bons resultados é a valorização dos saberes populares, o que dentro da disciplina Ciências pode ser realizado no trabalho do conhecimento das plantas medicinais, bem como de forma interdisciplinar. Nesse contexto, os alunos puderam observar que a escola poderia oferecer mais que o ensino formal e que, uma vez na escola, o aluno poderá também desenvolverse por meio de atividades de pesquisa que colaborem com uma formação cidadã. Por meio do trabalho nós tiramos dúvidas, aprendemos os tipos de plantas que podem ou não ser usadas, formas corretas de preparo e outros benefícios. Também foi feita uma pesquisa que buscava saber quais plantas as pessoas conheciam e como eram preparadas. O resultado foi surpreendente, pois o modo de preparo quase nunca era seguido de forma correta. A aquisição das mudas medicinais deve obedecer um rigoroso exercício de cuidado com a procedência. Muitas ervas de espécies diferentes recebem um mesmo nome popular, como acontece com o boldo, a erva cidreira e o capim limão. Conclusão As plantas não só nos proporcionam alimentos saudáveis e saborosos, como também toda classe de remédios para a recuperação ou conservação da nossa Saúde. Por muito tempo a terapêutica vegetal esteve sob o domínio do povo comum, especialmente, dos homens do campo. Outrora, muitos médicos, desprezavam a botânica farmacêutica, considerando-a como curandeirismo ou charlatanismo. Hoje, porém, graças ao progresso das investigações científicas, a medicina vegetal se elevou à dignidade de Fitoterapia. Podemos comparar o mundo, com as suas múltiplas enfermidades a um vasto hospital, e a natureza com sua infinidade de plantas, a uma farmácia, na qual todos podemos encontrar um bálsamo para qualquer espécie de dor. E o melhor é saber que, para aproveitar todo benefício que vem das plantas, é perfeitamente possível criar o seu próprio canteiro de ervas medicinais, em casa ou até na escola. Fontes consultadas Abuquerque, Ulysses Paulino de. 2002. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de Caatinga no Estado de Pernambuco. Nordeste do Brasil. Acta bot.bras. 16(3): 273-285. Amorozo, M.C.de M. 1996. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais em Plantas medicinais: arte e ciências. Um guia de estudo interdisciplinar.Luis Cláudio Di Stasi organizador.- São Paulo: Editora UNESP- (Natura naturata) p. 47 - 68. Amorozo, M.C.de M. 2002. Uso da diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio de Leverger, MT, Brasil. Acta. Bot. Bras. .16. São Paulo. Versão eletrônica do artigo em www.scielo.br Barriga, H. G. 1974. Flora medicinal da Colômbia. Botânica Médica. Inst. Cien. Nat. Univ. Bogotá. 3 vols.: 1-75. 5. Berg, M.E. Van. Den. 1982. Plantas medicinais na Amazônia; contribuição ao seu conhecimento sistemático. Belém, CNPq/Programa trópico Úmido, 223 p. 6. Berg, M.E. van den. & Silva, M.H.L. da. 1984. Contribuição ao conhecimento da flora medicinal de Roraima. In: SIMPÓSIO DE PALNTAS MEDICINAIS DO BRASIL, 8, Manaus, Anais...Manaus, s.ed. 7. BALLABH, B., CHAURASIA, O.P., AHMED, Z., SINGH, S.B. 2008 .Traditional medicinal plants of cold desert Ladakh-Used against kidney and urinary disorders Journal of Ethnopharmacology. 118 (2), pp. 331-339 8. Carneage, Perla; Guillaume, Viviam; Villar, Tânia. 1995. Fitoterapia em estomatologia. Ciudad de La Habana, Cuba: Editorial Ciências Médicas. 63 p. 9. Corthout, J., Pieters, L., Claeys, M., Geerts, S., Vanden Berghe, D., Vlietinck, A. 1994. Antibacterial and molluscicidal phenolic acids from spondias mombin. Dept. of Pharmaceutical Sciences, University of Antwerp, Universiteitsplein 1, B-2610 Antwerp, Belgium. 10. Chakraborty, A., Devi, R.K.B., Rita, S., Sharatchandra, Kh., Singh, Th.I. 2004. Preliminar y studies on antiinflammatory and analgesic activities of Spilanthes acmella in experimental animal models. Indian Journal of Pharmacology 36 (3), pp. 148-150. Anexo 1 Etinoespécies Familia Espécie Uso(s) Abacate Abóbora Açaí Algodão Alho Amapá Amor-crescido Lauraceae Cucurbitaceae Arecaceae Malvaceae Lilliaceae Moraceae Portulacaceae Persea americana Mill. Cucurbita pepo L. Euterpe precatoria Mar t. Gossypium barbadense L. Alliumsativum L. BrosimumparinarioidesDucke Portulaca pilosa L. anemia vermífugo depurar o sangue, anemia, desinflamar o fígado gripe forte, dor muscular, infecção nos rins gripe tuberculose, gripe, tosse, câncer,estômago gastrite, queda de cabelo, cicatrizante. Parte da planta folha semente raiz folha folha exudato folha Anador Lamiaceae PlectranthusbarbatusBenth. dor, febre folha Andiroba Meliaceae CarapaguianensisAublet Arruda Babosa Banana Boldopequeno Breu Rutaceae Lilliaceae Musaceae Preparo decocção torra e come decocção decocção maceração decocção decocção; pilado decocção / maceração semente óleo Rutagraveolens L. Aloe vera L. Musa paradisiaca L. pneumonia, gripe do peito, ferimento interno, catarro dor de estômago, cólica de criança asma, queda de cabelo, câncer, gastrite cicatrizante, queimadura folha folha exudato decocção; tintura decocção puro Labiatae PlectranthusneochilusSchltr. dor de estômago folha infusão Burseraceae Protium spp. gripe exudato decocção 50 vol. 1(1) 2012: 48 - 52 pantoja et al. Anexo 1 Etinoespécies Familia Catinga-demulata Café Caju Cana-mansa; pobre-velho Capim-limão; capim-santo Espécie Lamiaceae Uso(s) Parte da planta Preparo dor de estômago, mãe do corpo, cólica folha infusão Coffeacanephora Pierre ex A. pressão alta Froehner Anacardiaceae Anacardiumoccidentale L. diarréia, cicatrizante folha decocção casca infusão Costaceae CostusspicatusSw. infecção urinária; fígado folha; raiz decocção Poaceae CymbopogoncitratusStapf gases, calmante folha decocção fígado, malária casca decocção resfriado, inflamação febre calmante, dor de barriga anemia, controle sangue, fígado, rins, inflamação depura o sangue inflamação, golpe, tosse, inchaço, garganta, cicatrizante casca folha folha decocção decocção decocção folha decocção fruto puro exudato óleo folha sumo batido com leite moça Rubiaceae Coco AspidospermanitidumBenth. exMüll. Arg. Lecythidaceae Bertholletia excelsa Bonpl. Asteraceae Chrysanthemum spp. Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N. E. Brown Bonamiaferruginea (Choisy) Capparidaceae House Fabaceae Cocos nucifera L. Copaíba Crassulaceae CopaiferamultijugaHayne Corama Bignoniaceae Kalanchoe brasiliensis Cambess analgésico, antiinflamatório, gripe, gastrite Crajiru Asteraceae Arrabidaea chica (Humb. &Bonpl.) B. Verl. anemia, inflamação Cuia-mansa Fabaceae Acanthospermumsp. tira aborrecimento Cumaru Indeterminada Dipteryxodorata (Aubl.) Willd. (1) pneumonia, dor de ouvido (2) dor de cabeça semente Embaúba Cecropiaceae Cecropiasp. (1) para tirar catarro, (2) inflamação no útero folha Erva-depassarinho Loranthaceae PhthirusapyryfiliaEich. câncer no estômago folha sumo Escada-dejabuti Fabaceae BauhiniaguianensisAubl. casca (1) decocção (2) incenso Goiaba Hortelã Hortelãzinho Jambú Japana-branca Myrtaceae Lamiaceae Lamiaceae Asteraceae Asteraceae Psidiumguajava L. Menthapiperita L. Menthapulegium L. SpilanthesacmellaMurr. EupatoriumayapanaVeuten Jatobá Fabaceae Hymenaeacourbaril L. (1) rins, asseio mulher, inflamação (2) gripe, (3) tosse Jucá Fabaceae Caesalpiniaferrea Mar t. (1) inflamação, baque (2) falta de ar, estômago Jurubeba Laranja Lima Malvarisco; hortelã-grande Mamão Solanaceae Rutaceae Rutaceae Solanumpaniculatum L. CitrussinensisOsbeck CitrusaurantifoliaSwingle artrose, coluna, rins, inflamação calmante Lamiaceae PlectranthusamboinicusLour (1) gripe, dor de cabeça; (2) inflamação Caricaceae Caricapapaya L. Mangarataia Zingiberaceae ZingiberofficinaleRoscoe verminose, coceira (1) gripe, asma, cólica menstruação (2) resfriado Carapanaúba Castanheira Cibalena Cidreira Cipó-tuíra Apocynaceae 51 vol. 1(1) 2012: 48 - 52 (1) estômago, diurético, for talece útero, ameba, (2) defumação dor de barriga gripe, intestino, estômago, febre chazinho de bebê fígado estômago, fígado pantoja et al. folha seca / verde folha folha folha folha folha folha (1,2) casca, (3) fruto decocção maceração (1) decocção, (2) tintura (1) decocção, (2) infusão decocção decocção decocção decocção decocção (1,3) decocção, (2) xarope (1) xarope (2) infusão, quebra e coloca de molho folha, raiz decocção casca decocção folha decocção (1) decocção; (2) folha xarope raiz infusão (1) raiz, (1, 2) decocção (1) (2) folha sumo com limão (1) fruto, (2)folha Anexo 1 Etinoespécies Familia Maracujá Espécie Uso(s) decocção Preparo coração, nervoso, gastrite estômago, verme, pneumonia, cicatrizante, Chenopodium ambrosioides Chenopodiaceae gripe, Ber t. exStend dor, tosse, bronquite Piperaceae Piper cf. callosum Ruiz &Pav. dor de ouvido Euphorbiaceae Jatrophacurcas L. picada de cobra, afinar o sangue Euphorbiaceae Jatrophagossypiifolia L. picada de inseto folha decocção folha folha folha pilado morno sumo, decocção sumo Solanaceae reumatismo folha infusão/ tintura Preciosa Quebra-pedra Caryocarvillosum (Aubl.) Pers. Lauraceae Anibacanelilla (Kunth) Mez Euphorbiaceae Phyllanthusniruri L. gases, substitui o café rins decocção decocção Romã Punicaceae inflamação na garganta, câncer na garganta Sacaca Euphorbiaceae CrotoncajucaraBenth. antiinflamatório, não engravidar, estômago, fígado, intestino (ameba) folha folha, raiz semente, casca folha, casca Samabaiabrava Sellaginelaceae Selaginela spp. câncer, afrodisíaco raiz Mastruz Óleo-elétrico Peão-branco Peão-roxo Pimentamalagueta Piquiá Passifloraceae Passiflora edulisSims Parte da planta folha Capsicumfrutescens L. Caryocaraceae Saracura-mirá Rhamnaceae Punica granatum L. Ampelozizyphus amazonicus Ducke Saratudo Sena Malpighiaceae Byrsonima intermedia L. Fabaceae Senna alexandrina Mill. Sucuba Apocynaceae Trevo-cumaru Acanthaceae Unha-de-gato Vassourinha Vindicá Himatanthussucuuba (Spruce) Woodson 52 vol. 1(1) 2012: 48 - 52 decocção, infusão enxaqueca, mazela pelo corpo, depura o sangue casca, e for tifica, malária, baque folha decocção, infusão, sumo tudo, inflamação, gastrite suspensão menstrual decocção decocção pneumonia casca folha casca, exudato, folha fruto calmante casca decocção infecção urinária raiz decocção gripe folha maceração intestino, gripe, inflamação JusticiapectoralisJacq. Uncaria tomentosa (Willd. ex Rubiaceae Roem &Schult) DC Scrophulariaceae Scopariadulcis L. Alpiniazerumbet (Pers.) Zingiberaceae B.L.Burtt&R.M.Sm. puro pantoja et al. decocção, com café