vitamina e - International Life Sciences Institute

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Volume 23
Série de Publicações ILSI Brasil
Funções Plenamente
Reconhecidas de Nutrientes
Vitamina E
Célia Cohen
Nutricionista Doutoranda do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP
Camila Siqueira Silva
Nutricionista Mestre e Doutora pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP
Helio Vannucchi
Professor Titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP
Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos
Comitê de Nutrição
ILSI Brasil
Setembro 2014
© 2014 ILSI Brasil International Life Sciences Institute do Brasil
ILSI BRASIL
INTERNATIONAL LIFE SCIENCES INSTITUTE DO BRASIL
Rua Hungria, 664 - conj.113
01455-904 - São Paulo - SP - Brasil
Tel./Fax: 55 (11) 3035 5585 e-mail: [email protected]
© 2014 ILSI Brasil International Life Sciences Institute do Brasil
ISBN: 978-85-86126-48-2
Funções Plenamente Reconhecidas de Nutrientes - Vitamina E / ILSI Brasil (2014)
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1. ESTRUTURA
O termo vitamina E é usado para uma família de oito moléculas de estrutura semelhante. Os quatro
tocoferóis consistem de um anel cromanol com padrões diferentes de substituição de grupos metil
nas posições 5,7 e 8 do grupo principal (α, β, δ, γ) e uma cadeia lateral fitil com 16 carbonos
saturados. Os tocoferóis possuem três centros quirais nos carbonos 2, 4’ e 8’, e os isômeros de
ocorrência natural possuem a configuração R nas 3 posições. Os tocotrienóis possuem o mesmo
padrão de substituição no anel cromanol com uma cadeia lateral isoprenoide com 16 carbonos
insaturados e ligações duplas nas posições 3’, 7’ e 11’ (Figura 1) (1).
Figura 1: Estrutura química de tocoferóis e tocotrienóis (1).
2. METABOLISMO
A vitamina E é captada na forma alcoólica livre (6-hidroxil) pelo intestino sem discriminação dos
isômeros individuais, não havendo diferença na cinética de absorção entre o alfa-tocoferol livre
e seus ésteres acetato ou succinato após a administração oral (2). O alfa-tocoferol absorvido é
secretado pelo intestino em quilomícrons e os remanescentes de quilomícron são capturados pelo
fígado, que secreta o alfa-tocoferol em VLDL (3). O metabolismo do VLDL resulta na incorporação
de alfa-tocoferol pelo LDL e HDL (4, 5).
Dos 4 tocoferóis e 4 tocotrienóis (designados como alfa-, beta-, gama- e sigma-) encontrados nos
alimentos, apenas o alfa-tocoferol supre as necessidades humanas de vitamina E (6). Apesar de todas
essas vitaminas Es apresentarem funções antioxidantes similares (taxas constantes para doação de
átomos H dentro de uma ordem de magnitude), não-alfa-tocoferóis são pouco reconhecidos pela
proteína transportadora de alfa-tocoferol (alfa-TTP). Desta forma, o alfa-TTP é responsável pela
manutenção das concentrações de alfa-tocoferol plasmáticas (7).
Na ausência de alfa-TTP, a via padrão resulta no acúmulo lisossomal de alfa-tocoferol e na sua
excreção, em vez da secreção de alfa-tocoferol no plasma, como mostrado em pacientes com
defeito na alfa-TTP (8).
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Os metabólitos da vitamina E são os CEHC (2’-carboxietil-6-hidroxicromano) produtos das
respectivas formas de vitamina E, isto é, alfa-, beta-, gama- e sigma-CEHC. As várias formas
de vitamina E são w-oxidadas pelos citocromos P450s (CYPs), seguidos da beta-oxidação e são
conjugados e excretados na urina (9) ou bile (10). De forma similar a outros xenobióticos, CEHCs
são sulfatadas (11) ou glicuronidadas (12-14). A excreção urinária de alfa-CEHC é positivamente
correlacionada com a concentração plasmática de alfa-TOH e pode refletir a quantidade de alfaTOH que excede o requerimento corporal ou capacidade de fatores envolvidos (15).
3. FUNÇÃO
A principal atividade fisiológica da vitamina E é a sua ação antioxidante, sendo o alfa-tocoferol a
isoforma com maior atividade (16). A vitamina E está presente de forma abundante nas membranas
biológicas, onde protege os ácidos graxos poli-insaturados da peroxidação, contribuindo assim
para a manutenção da integridade e estabilidade de estruturas celulares (17, 18). O a-tocoferol
reage com radicais peroxila e hidroxila, impedindo a propagação das reações em cadeia induzidas
pelos radicais livres (19).
Além de possuir propriedades de captura de radicais, o alfa-tocoferol pode agir como um potente
redutor e um agente eletrofílico em reações químicas (20). O alfa-tocoferol e seus isômeros
podem estar envolvidos na progressão da oxidação de LDL e na aterosclerose, não apenas por suas
propriedades anti ou pró-oxidantes, mas também por sua capacidade de regular a expressão gênica.
A captação dietética de vitamina E pelo intestino é inespecífica, mas seu transporte pela VLDL
é regulado por proteínas citosólicas envolvidas no tráfego intracelular de tocoferóis hidrofóbicos
(1). Todas as formas de vitamina E ativam a expressão gênica pelo receptor pregnano X (21). Esse
receptor nuclear é conhecido por regular enzimas metabolizadoras de drogas como CYP3A4 (20).
Mecanismos alternativos envolvendo efeitos anti-inflamatórios e na sinalização intracelular têm
sido o foco de investigações intensas (22).
O alfa-tocoferol atua como regulador da expressão gênica por meio de duas vias centrais de
transdução de sinais, a proteína C quinase e a fosfatidilinositol 3-quinase, que regulam inúmeros
fatores de transcrição. Dessa forma, mudanças na atividade destas quinases podem influenciar uma
série de eventos altamente relevantes às funções celulares (23-25). Apesar de a sua capacidade de
modular a transdução de sinal e expressão gênica ser descrita em vários estudos, os mecanismos
moleculares ainda devem ser mais bem elucidados. Embora nem todos os genes sejam diretamente
modulados pelo sistema tocoferol-proteína C-quinase, todos os fenômenos correlacionados tornam
ainda mais difícil a análise da expressão gênica ou eventos sob controle direto do alfa-tocoferol.
A ingestão elevada de vitamina E, seja por alimentos ou suplementos, está envolvida na modulação
do sistema imune e interações das células inflamatórias com tecidos-alvo por meio de vários
mecanismos (26-28), incluindo a inibição da oxidação de LDL-colesterol, redução da liberação de
citocinas, inibição da agregação plaquetária, alteração na proliferação das células do músculo liso
e controle do tônus vascular, bem como redução da interação do endotélio vascular com células do
sistema imune e inflamatórias (29).
Funções Plenamente Reconhecidas de Nutrientes - Vitamina E / ILSI Brasil (2014)
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4. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE VITAMINA E
Segundo Sauberlich (30), os parâmetros mais utilizados para a avaliação do estado nutricional
de vitamina E são o grau de hemólise dos eritrócitos, a concentração de tocoferol no plasma ou
soro, a concentração de tocoferol em eritrócitos, linfócitos ou plaquetas e as medidas de produtos
de peroxidação (31). Assim, são considerados deficientes indivíduos que possuam concentração
sérica de alfa-tocoferol inferior a 5ug/mL e hemólise eritrocitária acima de 20% (30).
5. DEFICIÊNCIA DE VITAMINA E
A vitamina E é amplamente encontrada na alimentação, e por isso sua deficiência é rara, sendo
as principais causas representadas por anormalidades nas lipoproteínas, defeitos no gene da alfaTTP e síndromes de má-absorção por insuficiência pancreática, doença de Crohn, doença celíaca,
indivíduos desnutridos com AIDS, entre outras (32, 33). Baixos níveis de vitamina E no plasma
podem ocorrer em condições clínicas agudas, como traumas, sepse e processos inflamatórios
(33). Além disso, há maior exigência desta vitamina antioxidante em pacientes queimados (34). A
deficiência de vitamina E induz a peroxidação lipídica em diferentes condições como nefrectomia,
processos inflamatórios, alcoolismo agudo (35-37). Indivíduos com deficiência de vitamina E e
ataxia possuem uma neuropatia periférica caracterizada pela morte dos axônios de grande calibre
nos nervos sensoriais (38). Pacientes com essa síndrome possuem concentração reduzida de
vitamina E em seus nervos previamente ao aparecimento da função nervosa anormal (39).
6. RECOMENDAÇÕES
O nível recomendado de ingestão média diária para adultos de ambos os gêneros foi aumentado
pelo Food and Nutrition Board (FNB) da Academia Nacional de Ciências (6) e leva em
consideração apenas a forma alfa-tocoferol (AT) da vitamina E. No passado, a atividade de
vitamina E nos alimentos era expressa como equivalentes de alfa-tocoferol (ATEs) porque
pensava-se que as outras formas de ocorrência natural (β, γ, δ-tocoferol e tocotrienóis) também
contribuíam para tal (40). As recomendações de ingestão de vitamina são descritas na tabela 1.
Tabela 1: Recomendação de ingestão de vitamina E (6).
Idade
AI (mg/dia)
EAR (mg/dia)
RDA (mg/dia)
UL (mg/dia)
0-6 meses
4
7-12 meses
5
1-3 anos
5
6
200
4-8 anos
6
7
300
9-13 anos
9
11
600
14-18 anos
12
15
800
19- > 70 anos
12
15
1000
Gestação
12
15
800
Lactação
16
19
800
6
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7. FONTES
A vitamina E é um nutriente essencial e, portanto, deve ser obtido por alimentos e suplementos
(41). Os oito isômeros são amplamente distribuídos na natureza, sendo a vitamina E detectada
em composições diversas nas plantas (4-160μg/g de peso fresco) (42). As fontes mais ricas desta
vitamina são os lipídeos do látex (8% peso/v), seguido por óleos vegetais (43).
8. CONSUMO NO BRASIL
No Brasil, a ingestão de vitamina E é inadequada em adolescentes de ambos os sexos entre 10 e 18
anos, entre adultos de 19 a 59 anos e em idosos de 60 anos ou mais, tanto em áreas urbanas quanto
rurais (44).
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