RPIF 2013 05 O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO DOMICILIAR Roberta da Silva Olmedilha¹, Alessandra Mara S. Cappelaro1 ¹Universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN-SP, São Paulo, SP, Brasil. RESUMO A Atenção Domiciliar (Home Care) é uma modalidade de prestação de serviços na área da saúde que envolve pacientes idosos, portadores de síndromes e patologias degenerativas ou crônicas e pacientes em fase terminal, onde os cuidados acontecem num ambiente extra-hospitalar, ou seja, na residência. Nesse contexto, o profissional farmacêutico é de suma importância, pois além das atividades administrativas também desenvolve a responsabilidade técnica voltada para o controle, distribuição e dispensação de medicamentos, acompanhamento farmacoterapêutico voltado para a prescrição dos medicamentos, ou seja, verificar possíveis problemas relacionados aos medicamentos, reações adversas, interações medicamentosas e evolução do quadro clínico do paciente de acordo com a terapia medicamentosa escolhida. A visita domiciliar pode ser entendida como o atendimento realizado por um profissional ou equipe de saúde na residência do usuário, com o objetivo de avaliar suas necessidades, de seus familiares e do ambiente onde vive, a fim de estabelecer um plano assistencial voltado à recuperação ou reabilitação. No momento da visita domiciliar, o processo de atenção farmacêutica domiciliar é muito importante, pois engloba todas as práticas da atenção farmacêutica, tendo como diferencial a realização de um plano de adesão totalmente adaptado aos fatores sociais e familiares em que o usuário está inserido. O principal objetivo deste artigo é demonstrar, através do levantamento de dados bibliográficos dos últimos 20 anos, a importância do profissional farmacêutico na Atenção Domiciliar, dedicada aos usuários de medicamentos e seus cuidadores, em um ambiente extra-hospitalar, visto que é uma área da saúde ainda pouco conhecida e em fase de crescimento em nosso país. Palavras-chave: Atenção domiciliar, visita domiciliar, atenção farmacêutica domiciliar, assistência farmacêutica, medicamentos. ABSTRACT Home Care is a mode of service delivery in health care involving elderly patients, syndromes and chronic and degenerative diseases or terminal patients, where care happens in a non-hospital environment, ie, at the residence. In this context, the pharmacist is extremely important, because besides the administrative activities also develops technical responsibility focused on the control, distribution and dispensing medications, monitoring pharmacotherapeutic facing the prescription of drugs, ie, potential problems related to drugs, adverse reactions, drug interactions and clinical evolution of the patient according to the drug therapy of choice. Home visits can be understood as a service performed by a health professional or team at the residence of the user, in order to assess their needs, their families and the environment where they live, in order to establish a care plan focused on recovery or rehabilitation. At the home visit, the process of pharmaceutical care home is very important, because it includes all practices of pharmaceutical care, having the distinction of holding a membership plan fully adapted to social and family factors on which the user is located. The main objective of this paper is to demonstrate, through the analysis of bibliographic data of the last 20 years, the importance of the pharmacist in Home Care, dedicated to drug users and their careers in an environment outside the hospital, since it is an area of health that is still little known and is growing in our country. Key-words: Home care, home visit, pharmaceutical care home, pharmaceutical care, medicines. Endereço para correspondência Roberta da Silva Olmedilha Rua Maquiavel, 78 - 09060-780 Santo André, SP, Brasil. Fone: +55-11-44214160 email: [email protected] Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37. INTRODUÇÃO A Atenção Domiciliar é uma modalidade de prestação de serviços na área da saúde, onde os cuidados aos pacientes acontecem fora do ambiente hospitalar, porém com todas as exigências previstas para uma melhor qualidade de vida na sua recuperação (Leme, 2003). O farmacêutico é o profissional da saúde que entra em contato com o paciente nos intervalos das consultas, antes mesmo de se iniciar a terapia medicamentosa (Planas et al., 2005). A facilidade de acesso ao farmacêutico, sua formação técnica com um amplo conhecimento sobre medicamentos e, a necessidade de seu melhor aproveitamento enquanto profissional da saúde, permite que o mesmo faça parte de uma equipe multidisciplinar (Dader, 1999). É preciso que o profissional tenha competência técnica para construir um processo racional que considere tanto as questões farmacotécnicas e farmacológicas do medicamento quanto às questões terapêuticas, clínicas e humanísticas, trazendo contribuições ao processo de promoção da saúde (Magalhães e Carvalho, 2003). A presença do farmacêutico atuando juntamente com a equipe multidisciplinar é de fundamental importância para um tratamento farmacoterapêutico eficiente, pois engloba os serviços de Atenção Farmacêutica, Assistência Farmacêutica, Farmacovigilância, Farmácia Clínica e Auditoria Farmacêutica (Planas et al., 2005). O modelo de prática profissional que atende a esses objetivos é a Atenção Farmacêutica, que propõe ao farmacêutico um método que lhe permite padronizar sua prática clínica e realizar intervenções centradas nos pacientes, baseadas em um processo racional de tomada de decisões relacionadas à terapia farmacológica (Ramalho de Oliveira, 2003). A Atenção Farmacêutica tem como objetivo prevenir e resolver os Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM’s), com característica de ser um procedimento centrado no paciente e não somente no medicamento, é quando o farmacêutico assume responsabilidades no cuidado com o paciente (Cipolle et al., 1998). A proposta do Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica (2002), também definiu que a Assistência Farmacêutica e a Atenção Farmacêutica são conceitos distintos. O Consenso estabeleceu que a Atenção Farmacêutica estivesse inserida nas atividades específicas do farmacêutico no âmbito da atenção à saúde, enquanto a Assistência Farmacêutica envolve um conjunto mais amplo de ações, com características multiprofissionais e enfoque em equipes multidisciplinares (Opas, 2002). Na Atenção Farmacêutica Domiciliar, todas as ações construídas com o paciente, com o intuito de alcançar o objetivo terapêutico, são registradas incluindo a educação em saúde, encaminhamento a outros profissionais da saúde, intervenções na farmacoterapia, medidas não farmacológicas como incentivo à atividade física e à reeducação alimentar (Barros, 2005). O farmacêutico deverá elaborar, em todas as visitas domiciliares, um plano de cuidado com resultados positivos e negativos do tratamento farmacológico, possibilitando ao paciente participar de decisões terapêuticas, saber mais sobre sua doença, obter maiores informações e, conseqüentemente, cumprir melhor seu tratamento e obter melhores resultados (Zelmer, 2001; Paulos, 2002). Neste artigo de revisão utilizaremos a terminologia Home Care, em substituição à Atenção Domiciliar, pois apesar de ser uma palavra em inglês, é mais comumente utilizada. MATERIAL E MÉTODOS O material bibliográfico utilizado no presente estudo resultou de pesquisas em artigos científicos, teses, dissertações, monografias, pesquisas por meio de sites e manuais da biblioteca da Uniban Anhanguera Educacional, revisados nos últimos 20 anos. Para isso, foram utilizadas as seguintes palavras-chave: atenção, assistência, medicamentos, ética e importância do farmacêutico, utilizando a ferramenta de busca das bases de dados Bireme, Lilacs e Scielo. Cada trabalho acessado foi analisado buscando em cada leitura os consensos quanto à: - redução no índice de erros no armazenamento de medicamentos; - redução no índice de erros na administração de medicamentos; - redução dos estoques que evita perdas e desvios; 32 Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37. - maior interação do profissional Farmacêutico na Equipe Multidisciplinar. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os serviços de home care foram iniciados a mais de um século nos Estados Unidos através das Enfermeiras Visitantes da Cruz Vermelha, porém sua expansão foi prejudicada devido à falta de exigências e legislações para desempenhar esse tipo de atendimento. Somente na década de 1980 passou a ser uma ferramenta para a redução de custos e uma alternativa para a internação hospitalar. No Brasil, essa modalidade encontra-se em fase de crescimento até hoje, com o surgimento de leis que regulamentam essa atividade e profissionais cada vez mais capacitados para desempenhar suas funções. e familiares. A equipe possui um papel fundamental no atendimento domiciliar, devendo conhecer a situação real do paciente, aproximando familiares, esclarecendo as dúvidas, propiciando conforto e ajudando na reabilitação do paciente. Todos devem participar desta situação, que é nova para os familiares. Além disso, é preciso ter a prerrogativa de educar os envolvidos neste processo, tanto o paciente/cliente quanto seus familiares, para que se obtenha uma resposta mais adequada ao tratamento, possibilitando assim o sucesso dos serviços, com uma maior integração (Galvão e Pinochet, s.d.). Os serviços de Home Care abrangem quatro modalidades diferentes de atenção domiciliar à saúde: atenção domiciliar, atendimento domiciliar, internação domiciliar e visita domiciliária. Essa divisão é baseada na Resolução RDC nº 11, de 26 de janeiro de 2006 e em documento publicado pelo Ministério da Saúde no ano de 2004 (Brasil, 2006). Atenção domiciliar Historia do Home Care A Atenção Domiciliar (Home Care) é uma modalidade contínua de serviços na área da saúde, onde suas atividades são dedicadas aos pacientes/clientes, familiares e cuidadores em um ambiente extra-hospitalar. Tem como objetivo promover, manter e/ou restaurar a saúde, aumentando o nível de independência do paciente/cliente, enquanto diminui os efeitos debilitantes das várias patologias e condições que gerencia (Leme, s.d.). É o atendimento de saúde realizado no domicílio do paciente. Uma excelente alternativa, tanto para casos simples (banhos, curativos), como para os procedimentos mais complexos, classificados como internação domiciliar. Conta com os profissionais necessários para esse tipo de assistência: médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos e outros especialistas, compondo o que chamamos de equipe multiprofissional. Essa gama de serviços é desenhada para atender às demandas dos pacientes/clientes com qualidade e segurança, criando um vínculo de confiança entre a equipe, o paciente/cliente e sua família (Dal Ben, s.d.). Da equipe multiprofissional do Home Care se exige conhecimento científico, experiência profissional e competência técnica, bem como habilidade nas relações interpessoais para lidar com as emoções e valores dos pacientes/clientes A prática do Home Care é muito natural nos EUA há mais de um século, pois está associado a conforto, compaixão e segurança, já que os cuidados com o paciente acontecem em suas residências, deixando com que a família acompanhe todo o processo de recuperação mais de perto (Leme, s.d.). Na França, a internação domiciliar é uma alternativa assistencial do setor de saúde que consiste em um modelo organizado capaz de dispensar um conjunto de cuidados e atenção para pacientes/clientes em seu domicílio, que não necessitam da infra-estrutura hospitalar, mas precisam de vigilância ativa e assistencial completa (Nogueira et al., 2000). O pioneiro em atendimento domiciliar no Brasil foi o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo em 1967, com o objetivo principal de reduzir o número de leitos ocupados. Para tanto, foi implantado um tipo restrito de atendimento domiciliar, englobando os cuidados de baixa complexidade clínica. Mas somente em 2002 a Lei nº 10.424 regulamentou a assistência domiciliar no Sistema Único de Saúde. Apesar desta experiência, foi apenas no início da década de 90 que o setor privado começou a reconhecer a importância deste serviço com a criação das primeiras empresas focadas em internação 33 Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37. domiciliar, contando com o apoio logístico de equipamentos, materiais, medicamentos e profissionais especializados (Galvão e Pinochet, s.d.). A primeira empresa privada deste segmento foi fundada em 1986 no Rio de Janeiro, porém atuava com exclusividade para o Plano de Saúde Amil. Nos anos seguintes foram fundadas empresas em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, que não tinham exclusividade com nenhum plano de saúde. Também foi o início da implementação de leis que regulamentam o setor e a criação da Associação das Empresas de Medicina Domiciliar – ABEMID (Leme, s.d.). Em 1996 foi criado o NADI (Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar) do Hospital de Clínicas de São Paulo que no início tinha como foco desospitalizar o paciente garantindo um tratamento mais humanizado. Porém, após alguns anos o objetivo passou a ser de dar um atendimento interdisciplinar na própria residência do paciente, levando em conta o tipo de doença, a piora do quadro clínico ou a impossibilidade de comparecer ao hospital e buscar melhor qualidade de vida para pacientes em fase terminal (Yamaguchi et al., 2010). Atuação do farmacêutico no Home Care As atribuições internas do farmacêutico no Home Care têm algumas semelhanças com as atividades do mesmo em Farmácia Hospitalar, diferente apenas quando o atendimento é voltado para as visitas domiciliares (Yamaguchi et al., 2010). As atribuições são regulamentadas pela Resolução nº 386/02 do Conselho Federal de Farmácia, onde o profissional presta orientações quanto ao uso, indicações, interações (medicamentosas e alimentares), efeitos colaterais, medicamentos via sondas (enterais e nasoenterais), guarda, administração e descarte de medicamentos para a equipe multidisciplinar, para o paciente e seus familiares. Além disso, gerencia o armazenamento dos medicamentos e materiais médicos garantindo que cheguem ao domicílio com qualidade e segurança (CRF, 2013). Internamente, o profissional farmacêutico é responsável pelo Ciclo da Assistência Farmacêutica que compreende processos desenvolvidos para reposição do estoque de medicamentos e materiais. Dentro desse ciclo podemos citar a seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação dos itens existentes na instituição. Também atua, como integrante da equipe multidisciplinar, na padronização dos medicamentos estocados (Nunes, 2010). No ambiente externo, que tem como foco a visita domiciliar, o profissional farmacêutico atua no gerenciamento de risco no uso de medicamentos (farmacovigilância), participa de grupos e comissões multiprofissionais, gerenciamento de suprimentos e logística, no controle de estoque e condições de armazenamento dos medicamentos e materiais nas residências. E, em alguns casos também pode-se citar a Farmácia Clínica, que avaliando a prescrição médica observa e notifica casos de interação medicamentosa, reação adversa e superdosagem (Nunes, 2010). O farmacêutico deve estabelecer uma relação de ética entre a organização que o contrata e os pacientes que solicitam o serviço de Home Care, incluindo alguns pré-requisitos como: treinar o paciente, a família e o cuidador para administrar corretamente os medicamentos; avaliar se as prescrições médicas estão adequadas ao Home Care, bem como, a indicação, dose, via e método de administração dos medicamentos; nos casos em que a primeira dose do medicamento seja administrada em domicílio, o farmacêutico deve avaliar juntamente com o médico titular, enfermeiro e cuidador, se o procedimento é seguro; também deve monitorar através de exames laboratoriais apropriados, se a terapia medicamentosa está respondendo positivamente (ASHP, 2000). A documentação completa do paciente como dados pessoais, histórico de patologias anteriores, diagnósticos e resultados dos exames, local de aplicação intravenosa, início da terapia medicamentosa, perfil das medicações prescritas e não-prescritas, limitações funcionais, bem como toda evolução do quadro clínico do paciente é muito importante para o farmacêutico no que diz respeito à terapia medicamentosa prescrita. Também cabe ao farmacêutico a escolha adequada dos produtos, dispositivos e suprimentos incluídos na terapia do paciente, levando em conta a estabilidade e a compatibilidade dos medicamentos prescritos no dispositivo de infusão. Deve-se elaborar um plano de cuidado no início da terapia e revisá-lo regularmente (ASHP, 2000). O profissional farmacêutico acompanha a equipe em domicílio para verificar o armazenamento e o cuidado com os 34 Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37. medicamentos e passa orientações ao cuidador sobre o uso adequado dos mesmos. O farmacêutico clínico atua participando do momento da prescrição, contribuindo para a assistência e atenção farmacêutica e demonstrando a importância da prática multiprofissional e sua participação pró-ativa no atendimento ao paciente (Yamaguchi et al., 2010). Cabe ao farmacêutico a monitorização clínica da terapia de acordo com o que foi estabelecido no plano de cuidado, a responsabilidade pela documentação de todos os aspectos da farmacoterapia clínica, a liderança no desenvolvimento de um programa que monitore e documente possíveis reações adversas e erros de prescrição. A participação do farmacêutico na elaboração de políticas e procedimentos dentro da organização é essencial para a qualidade desse atendimento (ASHP, 2000). O acompanhamento farmacoterapêutico é responsável por garantir a utilização adequada, efetiva e segura dos medicamentos pelos pacientes, seja em âmbito hospitalar, ambulatorial ou Home Care, maximizando os resultados da farmacoterapia e minimizando riscos e erros, eventos adversos e custos. O farmacêutico, como membro da equipe multiprofissional de saúde, realiza a revisão, avaliação e otimização da farmacoterapia utilizada pelos pacientes, a reconciliação da farmacoterapia quando do internamento e alta do Home Care; realiza visitas clínicas ao domicílio do paciente para monitorar uso, reações adversas e interações medicamentosas; orienta o paciente sobre o processo de uso correto dos medicamentos; participa na elaboração de políticas de medicamentos, protocolos clínicos e padronização de medicamentos nas instituições onde atua, com base nas relações risco-benefício e custo-eficácia (Nunes, 2010). Realizar o Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT) requer um método de trabalho rigoroso por várias razões. Se por um lado se trata de uma atividade clínica e, portanto, condicionada à decisão livre e responsável de um profissional, por outro lado exige que seja realizada com o máximo de informação possível. Isto é, trabalhar para que algo tão pouco previsível como a resposta e o benefício de uma ação em um paciente, se produza com a maior probabilidade de êxito. Por esse motivo, os profissionais clínicos necessitam nessas atividades de protocolos, manuais de atuação, consensos, etc, para sistematizar parte do seu trabalho. O AFT, como qualquer outra atividade sanitária necessita, para ser realizado com a máxima eficiência, de procedimentos de trabalho protocolizados e validados, por meio da experiência, que permitam uma avaliação do processo e, sobretudo, dos resultados (Llimós et al., 2003). O Documento de Consenso em Atenção Farmacêutica, propiciado pelo Ministerio Español de Sanidad y Consumo, define Seguimento do Tratamento Farmacológico personalizado como a prática profissional na qual o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do paciente relacionadas com os medicamentos. Isto se realiza mediante a detecção, prevenção e resolução de problemas relacionados com os medicamentos (PRM). Este serviço implica um compromisso, e deve ser fornecido de forma continuada, sistematizada e documentada, em colaboração com o próprio paciente e com os demais profissionais do sistema de saúde, com o objetivo de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente (Espejo et al., 2002). O Método Dáder se baseia na obtenção da história Farmacoterapêutica do paciente, isto é, os problemas de saúde que ele apresenta e os medicamentos que utiliza, e na avaliação de seu estado de situação em uma data determinada a fim de identificar e resolver os possíveis Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM) apresentados pelo paciente. Após esta identificação, se realizarão as intervenções farmacêuticas necessárias para resolver os PRM e posteriormente se avaliarão os resultados obtidos (Machuca; Fernández-Llimós; Faus, 2004). O conceito de Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM) encontra-se definido no Segundo Consenso de Granada como: problemas de saúde, entendidos como resultados clínicos negativos, derivados do tratamento farmacológico que, produzidos por diversas causas têm como conseqüência, o não alcance do objetivo terapêutico desejado ou o aparecimento de efeitos indesejáveis. Assim, PRM é uma variável de resultado clínico, uma falha do tratamento farmacológico que conduz ao aparecimento de um problema de saúde, a um mau controle da doença ou a algum efeito indesejado. Estes PRM podem ser de três tipos: relacionados com a necessidade de medicamentos por parte do paciente, com sua efetividade ou segurança. 35 Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37. O Segundo Consenso de Granada estabelece uma classificação de PRM’s em seis categorias, que por sua vez se agrupam em três subcategorias, como apresenta o Quadro 1. Quadro 1. Classificação de PRM do Segundo Consenso de Granada. PRM 1: O paciente apresenta um problema de saúde por não utilizar a farmacoterapia que necessita. Necessidade PRM 2: O paciente apresenta um problema de saúde por utilizar um medicamento que não necessita. PRM 3: O paciente apresenta um problema de saúde por uma inefetividade não quantitativa da farmacoterapia. Efetividade PRM 4: O paciente apresenta um problema de saúde por uma inefetividade quantitativa da farmacoterapia. PRM 5: O paciente apresenta um problema de saúde por uma insegurança não quantitativa de um medicamento. Segurança PRM 6: O paciente apresenta um problema de saúde por uma insegurança quantitativa de um medicamento. Entende-se por problema de saúde (PS) a definição que considera: “qualquer queixa, observação ou fato percebido pelo paciente ou pelo médico como um desvio da normalidade que afetou, pode afetar ou afeta a capacidade funcional do paciente” (Wonca, 1995). multidisciplinar é composta por diversos profissionais da saúde, inclusive farmacêuticos. O atendimento domiciliar possibilita uma maior interação entre o paciente e os profissionais envolvidos, aumentando a aceitação dos familiares e agilizando o processo de recuperação. O trabalho interdisciplinar é, atualmente, uma das bases para a mudança do modelo de assistência à saúde. No decorrer deste estudo, percebeu-se a importância da contribuição de outros profissionais da equipe de saúde para a resolução de PRM e para a melhora dos pacientes. Além disso, a realização de visitas domiciliares é fundamental para conhecer melhor o ambiente familiar e para facilitar a identificação de problemas que possam interferir no sucesso do plano terapêutico. Desta forma, o atendimento farmacêutico no âmbito do domicílio, sua inserção no currículo dos cursos de farmácia e sua inserção na equipe básica da Estratégia de Saúde da Família, possibilitariam a detecção e resolução dos erros relacionados ao uso do medicamento, tornando-se uma importante ferramenta para o sucesso da farmacoterapia. Portanto, o farmacêutico desempenha papel importante tanto administrativamente como tecnicamente, pois também está incluído na equipe multidisciplinar. O Brasil está em fase de reestruturação na área do medicamento, envolvendo desde a formação e prática dos profissionais de saúde até o bem estar e qualidade de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASHP - Guidelines on the pharmacist’s role in home care. Am J Health-Sys Pharm. 2000; 57:1250-5. CONCLUSÃO A Atenção Domiciliar ainda é uma modalidade de prestação de serviço pouco conhecida, mas está em fase de expansão em nosso país, pois hoje temos várias legislações que contribuem para seu crescimento e divulgação. Muitos acreditam que esse serviço envolve apenas médicos e profissionais de enfermagem, porém a equipe Barros JAC. Atenção Farmacêutica implantação passo-a-passo. Belo Horizonte: Faculdade de Farmácia, 2005. CRF (Conselho Regional de Farmácia). Cartilha de Farmácia Hospitalar. Comissão Assessora de Farmácia Hospitalar. 2013. Brasil. Conselho Federal de Farmácia. RE 386/2002. Dispõe sobre as atribuições do farmacêutico no âmbito da assistência domiciliar em equipes multidisciplinares. Dispõe sobre as 36 Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37. atribuições do farmacêutico no âmbito da assistência domiciliar em equipes multidisciplinares. Brasil. Serviço de Atenção Domiciliar. RDC 11/2006. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam Atenção Domiciliar. Cipolle RJ, Strand LM, Morley PC. Pharmaceutical Care Practice. New York: McGraw-Hill, 1998. OPAS; Organização Mundial de Saúde – OMS – Ministério da Saúde. Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica (Proposta). Brasília: Organização Pan Americana de Saúde, 2002. Dader MJ, Romero FM. La atención farmacêutica em farmácia comunitária: evolución de conceptos, necesidades de formación, modalidades y estratégias para su puesta em marcha. Pharm Care Esp. 1999; 1:52-61. Dal Ben LW. Disponível em: http://www.dalben.com.br/medicos/o-que-ehome-care/>. 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