O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO DOMICILIAR

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2013
05
O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO
DOMICILIAR
Roberta da Silva Olmedilha¹, Alessandra Mara S. Cappelaro1
¹Universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN-SP, São Paulo, SP, Brasil.
RESUMO
A Atenção Domiciliar (Home Care) é uma modalidade de prestação de serviços na área da saúde que
envolve pacientes idosos, portadores de síndromes e patologias degenerativas ou crônicas e pacientes em
fase terminal, onde os cuidados acontecem num ambiente extra-hospitalar, ou seja, na residência. Nesse
contexto, o profissional farmacêutico é de suma importância, pois além das atividades administrativas
também desenvolve a responsabilidade técnica voltada para o controle, distribuição e dispensação de
medicamentos, acompanhamento farmacoterapêutico voltado para a prescrição dos medicamentos, ou
seja, verificar possíveis problemas relacionados aos medicamentos, reações adversas, interações
medicamentosas e evolução do quadro clínico do paciente de acordo com a terapia medicamentosa
escolhida. A visita domiciliar pode ser entendida como o atendimento realizado por um profissional ou
equipe de saúde na residência do usuário, com o objetivo de avaliar suas necessidades, de seus familiares e
do ambiente onde vive, a fim de estabelecer um plano assistencial voltado à recuperação ou reabilitação.
No momento da visita domiciliar, o processo de atenção farmacêutica domiciliar é muito importante, pois
engloba todas as práticas da atenção farmacêutica, tendo como diferencial a realização de um plano de
adesão totalmente adaptado aos fatores sociais e familiares em que o usuário está inserido. O principal
objetivo deste artigo é demonstrar, através do levantamento de dados bibliográficos dos últimos 20 anos, a
importância do profissional farmacêutico na Atenção Domiciliar, dedicada aos usuários de medicamentos e
seus cuidadores, em um ambiente extra-hospitalar, visto que é uma área da saúde ainda pouco conhecida e
em fase de crescimento em nosso país.
Palavras-chave: Atenção domiciliar, visita domiciliar, atenção farmacêutica domiciliar, assistência
farmacêutica, medicamentos.
ABSTRACT
Home Care is a mode of service delivery in health care involving elderly patients, syndromes and chronic
and degenerative diseases or terminal patients, where care happens in a non-hospital environment, ie, at
the residence. In this context, the pharmacist is extremely important, because besides the administrative
activities also develops technical responsibility focused on the control, distribution and dispensing
medications, monitoring pharmacotherapeutic facing the prescription of drugs, ie, potential problems
related to drugs, adverse reactions, drug interactions and clinical evolution of the patient according to the
drug therapy of choice. Home visits can be understood as a service performed by a health professional or
team at the residence of the user, in order to assess their needs, their families and the environment where
they live, in order to establish a care plan focused on recovery or rehabilitation. At the home visit, the
process of pharmaceutical care home is very important, because it includes all practices of pharmaceutical
care, having the distinction of holding a membership plan fully adapted to social and family factors on which
the user is located. The main objective of this paper is to demonstrate, through the analysis of bibliographic
data of the last 20 years, the importance of the pharmacist in Home Care, dedicated to drug users and their
careers in an environment outside the hospital, since it is an area of health that is still little known and is
growing in our country.
Key-words: Home care, home visit, pharmaceutical care home, pharmaceutical care, medicines.
Endereço para correspondência
Roberta da Silva Olmedilha
Rua Maquiavel, 78 - 09060-780 Santo André, SP, Brasil.
Fone: +55-11-44214160
email: [email protected]
Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37.
INTRODUÇÃO
A Atenção Domiciliar é uma modalidade de
prestação de serviços na área da saúde, onde os
cuidados aos pacientes acontecem fora do
ambiente hospitalar, porém com todas as
exigências previstas para uma melhor qualidade
de vida na sua recuperação (Leme, 2003).
O farmacêutico é o profissional da saúde
que entra em contato com o paciente nos
intervalos das consultas, antes mesmo de se
iniciar a terapia medicamentosa (Planas et al.,
2005).
A facilidade de acesso ao farmacêutico,
sua formação técnica com um amplo
conhecimento sobre medicamentos e, a
necessidade de seu melhor aproveitamento
enquanto profissional da saúde, permite que o
mesmo faça parte de uma equipe multidisciplinar
(Dader, 1999).
É preciso que o profissional tenha
competência técnica para construir um processo
racional que considere tanto as questões
farmacotécnicas
e
farmacológicas
do
medicamento quanto às questões terapêuticas,
clínicas e humanísticas, trazendo contribuições ao
processo de promoção da saúde (Magalhães e
Carvalho, 2003).
A presença do farmacêutico atuando
juntamente com a equipe multidisciplinar é de
fundamental importância para um tratamento
farmacoterapêutico eficiente, pois engloba os
serviços de Atenção Farmacêutica, Assistência
Farmacêutica, Farmacovigilância, Farmácia Clínica
e Auditoria Farmacêutica (Planas et al., 2005).
O modelo de prática profissional que
atende a esses objetivos é a Atenção
Farmacêutica, que propõe ao farmacêutico um
método que lhe permite padronizar sua prática
clínica e realizar intervenções centradas nos
pacientes, baseadas em um processo racional de
tomada de decisões relacionadas à terapia
farmacológica (Ramalho de Oliveira, 2003).
A Atenção Farmacêutica tem como
objetivo prevenir e resolver os Problemas
Relacionados a Medicamentos (PRM’s), com
característica de ser um procedimento centrado
no paciente e não somente no medicamento, é
quando o farmacêutico assume responsabilidades
no cuidado com o paciente (Cipolle et al., 1998).
A proposta do Consenso Brasileiro de Atenção
Farmacêutica (2002), também definiu que a
Assistência
Farmacêutica
e
a
Atenção
Farmacêutica são conceitos distintos. O Consenso
estabeleceu que a Atenção Farmacêutica
estivesse inserida nas atividades específicas do
farmacêutico no âmbito da atenção à saúde,
enquanto a Assistência Farmacêutica envolve um
conjunto mais amplo de ações, com
características multiprofissionais e enfoque em
equipes multidisciplinares (Opas, 2002).
Na Atenção Farmacêutica Domiciliar,
todas as ações construídas com o paciente, com o
intuito de alcançar o objetivo terapêutico, são
registradas incluindo a educação em saúde,
encaminhamento a outros profissionais da saúde,
intervenções na farmacoterapia, medidas não
farmacológicas como incentivo à atividade física e
à reeducação alimentar (Barros, 2005). O
farmacêutico deverá elaborar, em todas as visitas
domiciliares, um plano de cuidado com resultados
positivos
e
negativos
do
tratamento
farmacológico, possibilitando ao paciente
participar de decisões terapêuticas, saber mais
sobre sua doença, obter maiores informações e,
conseqüentemente,
cumprir
melhor
seu
tratamento e obter melhores resultados (Zelmer,
2001; Paulos, 2002).
Neste artigo de revisão utilizaremos a
terminologia Home Care, em substituição à
Atenção Domiciliar, pois apesar de ser uma
palavra em inglês, é mais comumente utilizada.
MATERIAL E MÉTODOS
O material bibliográfico utilizado no presente
estudo resultou de pesquisas em artigos
científicos, teses, dissertações, monografias,
pesquisas por meio de sites e manuais da
biblioteca da Uniban Anhanguera Educacional,
revisados nos últimos 20 anos. Para isso, foram
utilizadas as seguintes palavras-chave: atenção,
assistência, medicamentos, ética e importância do
farmacêutico, utilizando a ferramenta de busca
das bases de dados Bireme, Lilacs e Scielo.
Cada trabalho acessado foi analisado
buscando em cada leitura os consensos quanto à:
- redução no índice de erros no armazenamento
de medicamentos;
- redução no índice de erros na administração de
medicamentos;
- redução dos estoques que evita perdas e
desvios;
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Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37.
- maior interação do profissional Farmacêutico na
Equipe Multidisciplinar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os serviços de home care foram iniciados a mais
de um século nos Estados Unidos através das
Enfermeiras Visitantes da Cruz Vermelha, porém
sua expansão foi prejudicada devido à falta de
exigências e legislações para desempenhar esse
tipo de atendimento. Somente na década de 1980
passou a ser uma ferramenta para a redução de
custos e uma alternativa para a internação
hospitalar.
No Brasil, essa modalidade encontra-se
em fase de crescimento até hoje, com o
surgimento de leis que regulamentam essa
atividade e profissionais cada vez mais
capacitados para desempenhar suas funções.
e familiares. A equipe possui um papel
fundamental no atendimento domiciliar, devendo
conhecer a situação real do paciente,
aproximando familiares, esclarecendo as dúvidas,
propiciando conforto e ajudando na reabilitação
do paciente. Todos devem participar desta
situação, que é nova para os familiares. Além
disso, é preciso ter a prerrogativa de educar os
envolvidos
neste
processo,
tanto
o
paciente/cliente quanto seus familiares, para que
se obtenha uma resposta mais adequada ao
tratamento, possibilitando assim o sucesso dos
serviços, com uma maior integração (Galvão e
Pinochet, s.d.).
Os serviços de Home Care abrangem
quatro modalidades diferentes de atenção
domiciliar à saúde: atenção domiciliar,
atendimento domiciliar, internação domiciliar e
visita domiciliária. Essa divisão é baseada na
Resolução RDC nº 11, de 26 de janeiro de 2006 e
em documento publicado pelo Ministério da
Saúde no ano de 2004 (Brasil, 2006).
Atenção domiciliar
Historia do Home Care
A Atenção Domiciliar (Home Care) é uma
modalidade contínua de serviços na área da
saúde, onde suas atividades são dedicadas aos
pacientes/clientes, familiares e cuidadores em um
ambiente extra-hospitalar. Tem como objetivo
promover, manter e/ou restaurar a saúde,
aumentando o nível de independência do
paciente/cliente, enquanto diminui os efeitos
debilitantes das várias patologias e condições que
gerencia (Leme, s.d.).
É o atendimento de saúde realizado no
domicílio do paciente. Uma excelente alternativa,
tanto para casos simples (banhos, curativos),
como para os procedimentos mais complexos,
classificados como internação domiciliar. Conta
com os profissionais necessários para esse tipo de
assistência: médicos, enfermeiros, nutricionistas,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos e
outros especialistas, compondo o que chamamos
de equipe multiprofissional. Essa gama de serviços
é desenhada para atender às demandas dos
pacientes/clientes com qualidade e segurança,
criando um vínculo de confiança entre a equipe, o
paciente/cliente e sua família (Dal Ben, s.d.).
Da equipe multiprofissional do Home Care
se exige conhecimento científico, experiência
profissional e competência técnica, bem como
habilidade nas relações interpessoais para lidar
com as emoções e valores dos pacientes/clientes
A prática do Home Care é muito natural nos EUA
há mais de um século, pois está associado a
conforto, compaixão e segurança, já que os
cuidados com o paciente acontecem em suas
residências, deixando com que a família
acompanhe todo o processo de recuperação mais
de perto (Leme, s.d.).
Na França, a internação domiciliar é uma
alternativa assistencial do setor de saúde que
consiste em um modelo organizado capaz de
dispensar um conjunto de cuidados e atenção
para pacientes/clientes em seu domicílio, que não
necessitam da infra-estrutura hospitalar, mas
precisam de vigilância ativa e assistencial
completa (Nogueira et al., 2000).
O pioneiro em atendimento domiciliar no
Brasil foi o Hospital do Servidor Público Estadual
de São Paulo em 1967, com o objetivo principal de
reduzir o número de leitos ocupados. Para tanto,
foi implantado um tipo restrito de atendimento
domiciliar, englobando os cuidados de baixa
complexidade clínica. Mas somente em 2002 a Lei
nº 10.424 regulamentou a assistência domiciliar
no Sistema Único de Saúde. Apesar desta
experiência, foi apenas no início da década de 90
que o setor privado começou a reconhecer a
importância deste serviço com a criação das
primeiras empresas focadas em internação
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Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37.
domiciliar, contando com o apoio logístico de
equipamentos, materiais, medicamentos e
profissionais especializados (Galvão e Pinochet,
s.d.).
A primeira empresa privada deste
segmento foi fundada em 1986 no Rio de Janeiro,
porém atuava com exclusividade para o Plano de
Saúde Amil. Nos anos seguintes foram fundadas
empresas em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba,
que não tinham exclusividade com nenhum plano
de saúde. Também foi o início da implementação
de leis que regulamentam o setor e a criação da
Associação das Empresas de Medicina Domiciliar –
ABEMID (Leme, s.d.).
Em 1996 foi criado o NADI (Núcleo de
Assistência Domiciliar Interdisciplinar) do Hospital
de Clínicas de São Paulo que no início tinha como
foco desospitalizar o paciente garantindo um
tratamento mais humanizado. Porém, após alguns
anos o objetivo passou a ser de dar um
atendimento interdisciplinar na própria residência
do paciente, levando em conta o tipo de doença,
a piora do quadro clínico ou a impossibilidade de
comparecer ao hospital e buscar melhor
qualidade de vida para pacientes em fase terminal
(Yamaguchi et al., 2010).
Atuação do farmacêutico no Home Care
As atribuições internas do farmacêutico no Home
Care têm algumas semelhanças com as atividades
do mesmo em Farmácia Hospitalar, diferente
apenas quando o atendimento é voltado para as
visitas domiciliares (Yamaguchi et al., 2010).
As atribuições são regulamentadas pela
Resolução nº 386/02 do Conselho Federal de
Farmácia, onde o profissional presta orientações
quanto
ao
uso,
indicações,
interações
(medicamentosas
e
alimentares),
efeitos
colaterais, medicamentos via sondas (enterais e
nasoenterais), guarda, administração e descarte
de medicamentos para a equipe multidisciplinar,
para o paciente e seus familiares. Além disso,
gerencia o armazenamento dos medicamentos e
materiais médicos garantindo que cheguem ao
domicílio com qualidade e segurança (CRF, 2013).
Internamente, o profissional farmacêutico
é responsável pelo Ciclo da Assistência
Farmacêutica que compreende processos
desenvolvidos para reposição do estoque de
medicamentos e materiais. Dentro desse ciclo
podemos citar a seleção, programação, aquisição,
armazenamento, distribuição, prescrição e
dispensação dos itens existentes na instituição.
Também atua, como integrante da equipe
multidisciplinar,
na
padronização
dos
medicamentos estocados (Nunes, 2010).
No ambiente externo, que tem como foco a visita
domiciliar, o profissional farmacêutico atua no
gerenciamento de risco no uso de medicamentos
(farmacovigilância), participa de grupos e
comissões multiprofissionais, gerenciamento de
suprimentos e logística, no controle de estoque e
condições de armazenamento dos medicamentos
e materiais nas residências. E, em alguns casos
também pode-se citar a Farmácia Clínica, que
avaliando a prescrição médica observa e notifica
casos de interação medicamentosa, reação
adversa e superdosagem (Nunes, 2010).
O farmacêutico deve estabelecer uma relação de
ética entre a organização que o contrata e os
pacientes que solicitam o serviço de Home Care,
incluindo alguns pré-requisitos como: treinar o
paciente, a família e o cuidador para administrar
corretamente os medicamentos; avaliar se as
prescrições médicas estão adequadas ao Home
Care, bem como, a indicação, dose, via e método
de administração dos medicamentos; nos casos
em que a primeira dose do medicamento seja
administrada em domicílio, o farmacêutico deve
avaliar juntamente com o médico titular,
enfermeiro e cuidador, se o procedimento é
seguro; também deve monitorar através de
exames laboratoriais apropriados, se a terapia
medicamentosa está respondendo positivamente
(ASHP, 2000).
A documentação completa do paciente
como dados pessoais, histórico de patologias
anteriores, diagnósticos e resultados dos exames,
local de aplicação intravenosa, início da terapia
medicamentosa, perfil das medicações prescritas
e não-prescritas, limitações funcionais, bem como
toda evolução do quadro clínico do paciente é
muito importante para o farmacêutico no que diz
respeito à terapia medicamentosa prescrita.
Também cabe ao farmacêutico a escolha
adequada dos produtos, dispositivos e
suprimentos incluídos na terapia do paciente,
levando em conta a estabilidade e a
compatibilidade dos medicamentos prescritos no
dispositivo de infusão. Deve-se elaborar um plano
de cuidado no início da terapia e revisá-lo
regularmente (ASHP, 2000).
O profissional farmacêutico acompanha a
equipe em domicílio para verificar o
armazenamento e o cuidado com os
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Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37.
medicamentos e passa orientações ao cuidador
sobre o uso adequado dos mesmos. O
farmacêutico clínico atua participando do
momento da prescrição, contribuindo para a
assistência
e
atenção
farmacêutica
e
demonstrando a importância da prática
multiprofissional e sua participação pró-ativa no
atendimento ao paciente (Yamaguchi et al., 2010).
Cabe ao farmacêutico a monitorização
clínica da terapia de acordo com o que foi
estabelecido no plano de cuidado, a
responsabilidade pela documentação de todos os
aspectos da farmacoterapia clínica, a liderança no
desenvolvimento de um programa que monitore
e documente possíveis reações adversas e erros
de prescrição. A participação do farmacêutico na
elaboração de políticas e procedimentos dentro
da organização é essencial para a qualidade desse
atendimento (ASHP, 2000).
O acompanhamento farmacoterapêutico
é responsável por garantir a utilização adequada,
efetiva e segura dos medicamentos pelos
pacientes,
seja
em
âmbito
hospitalar,
ambulatorial ou Home Care, maximizando os
resultados da farmacoterapia e minimizando
riscos e erros, eventos adversos e custos. O
farmacêutico, como membro da equipe
multiprofissional de saúde, realiza a revisão,
avaliação e otimização da farmacoterapia utilizada
pelos
pacientes,
a
reconciliação
da
farmacoterapia quando do internamento e alta do
Home Care; realiza visitas clínicas ao domicílio do
paciente para monitorar uso, reações adversas e
interações medicamentosas; orienta o paciente
sobre o processo de uso correto dos
medicamentos; participa na elaboração de
políticas de medicamentos, protocolos clínicos e
padronização de medicamentos nas instituições
onde atua, com base nas relações risco-benefício
e custo-eficácia (Nunes, 2010).
Realizar
o
Acompanhamento
Farmacoterapêutico (AFT) requer um método de
trabalho rigoroso por várias razões. Se por um
lado se trata de uma atividade clínica e, portanto,
condicionada à decisão livre e responsável de um
profissional, por outro lado exige que seja
realizada com o máximo de informação possível.
Isto é, trabalhar para que algo tão pouco
previsível como a resposta e o benefício de uma
ação em um paciente, se produza com a maior
probabilidade de êxito. Por esse motivo, os
profissionais clínicos necessitam nessas atividades
de protocolos, manuais de atuação, consensos,
etc, para sistematizar parte do seu trabalho. O
AFT, como qualquer outra atividade sanitária
necessita, para ser realizado com a máxima
eficiência, de procedimentos de trabalho
protocolizados e validados, por meio da
experiência, que permitam uma avaliação do
processo e, sobretudo, dos resultados (Llimós et
al., 2003).
O Documento de Consenso em Atenção
Farmacêutica, propiciado pelo Ministerio Español
de Sanidad y Consumo, define Seguimento do
Tratamento Farmacológico personalizado como a
prática profissional na qual o farmacêutico se
responsabiliza pelas necessidades do paciente
relacionadas com os medicamentos. Isto se realiza
mediante a detecção, prevenção e resolução de
problemas relacionados com os medicamentos
(PRM). Este serviço implica um compromisso, e
deve ser fornecido de forma continuada,
sistematizada e documentada, em colaboração
com o próprio paciente e com os demais
profissionais do sistema de saúde, com o objetivo
de alcançar resultados concretos que melhorem a
qualidade de vida do paciente (Espejo et al.,
2002).
O Método Dáder se baseia na obtenção
da história Farmacoterapêutica do paciente, isto
é, os problemas de saúde que ele apresenta e os
medicamentos que utiliza, e na avaliação de seu
estado de situação em uma data determinada a
fim de identificar e resolver os possíveis
Problemas Relacionados com os Medicamentos
(PRM) apresentados pelo paciente. Após esta
identificação, se realizarão as intervenções
farmacêuticas necessárias para resolver os PRM e
posteriormente se avaliarão os resultados obtidos
(Machuca; Fernández-Llimós; Faus, 2004).
O conceito de Problemas Relacionados com os
Medicamentos (PRM) encontra-se definido no
Segundo Consenso de Granada como: problemas
de saúde, entendidos como resultados clínicos
negativos, derivados do tratamento farmacológico
que, produzidos por diversas causas têm como
conseqüência, o não alcance do objetivo
terapêutico desejado ou o aparecimento de
efeitos indesejáveis. Assim, PRM é uma variável
de resultado clínico, uma falha do tratamento
farmacológico que conduz ao aparecimento de
um problema de saúde, a um mau controle da
doença ou a algum efeito indesejado. Estes PRM
podem ser de três tipos: relacionados com a
necessidade de medicamentos por parte do
paciente, com sua efetividade ou segurança.
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Olmedilha e Cappelaro/Rev. Pesq. Inov. Farm. 5(1), 2013, 31-37.
O Segundo Consenso de Granada estabelece uma
classificação de PRM’s em seis categorias, que por
sua vez se agrupam em três subcategorias, como
apresenta o Quadro 1.
Quadro 1. Classificação de PRM do Segundo
Consenso de Granada.
PRM 1: O paciente apresenta um
problema de saúde por não utilizar a
farmacoterapia que necessita.
Necessidade
PRM 2: O paciente apresenta um
problema de saúde por utilizar um
medicamento que não necessita.
PRM 3: O paciente apresenta um
problema de saúde por uma
inefetividade não quantitativa da
farmacoterapia.
Efetividade
PRM 4: O paciente apresenta um
problema de saúde por uma
inefetividade quantitativa da
farmacoterapia.
PRM 5: O paciente apresenta um
problema de saúde por uma
insegurança não quantitativa de um
medicamento.
Segurança
PRM 6: O paciente apresenta um
problema de saúde por uma
insegurança quantitativa de um
medicamento.
Entende-se por problema de saúde (PS) a
definição que considera: “qualquer queixa,
observação ou fato percebido pelo paciente ou
pelo médico como um desvio da normalidade que
afetou, pode afetar ou afeta a capacidade
funcional do paciente” (Wonca, 1995).
multidisciplinar é composta por diversos
profissionais da saúde, inclusive farmacêuticos.
O atendimento domiciliar possibilita uma
maior interação entre o paciente e os
profissionais envolvidos, aumentando a aceitação
dos familiares e agilizando o processo de
recuperação.
O trabalho interdisciplinar é, atualmente,
uma das bases para a mudança do modelo de
assistência à saúde. No decorrer deste estudo,
percebeu-se a importância da contribuição de
outros profissionais da equipe de saúde para a
resolução de PRM e para a melhora dos pacientes.
Além disso, a realização de visitas domiciliares é
fundamental para conhecer melhor o ambiente
familiar e para facilitar a identificação de
problemas que possam interferir no sucesso do
plano terapêutico. Desta forma, o atendimento
farmacêutico no âmbito do domicílio, sua inserção
no currículo dos cursos de farmácia e sua inserção
na equipe básica da Estratégia de Saúde da
Família, possibilitariam a detecção e resolução
dos erros relacionados ao uso do medicamento,
tornando-se uma importante ferramenta para o
sucesso da farmacoterapia. Portanto, o
farmacêutico desempenha papel importante
tanto administrativamente como tecnicamente,
pois também está incluído na equipe
multidisciplinar.
O Brasil está em fase de reestruturação na
área do medicamento, envolvendo desde a
formação e prática dos profissionais de saúde até
o bem estar e qualidade de vida.
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CONCLUSÃO
A Atenção Domiciliar ainda é uma modalidade de
prestação de serviço pouco conhecida, mas está
em fase de expansão em nosso país, pois hoje
temos várias legislações que contribuem para seu
crescimento e divulgação. Muitos acreditam que
esse serviço envolve apenas médicos e
profissionais de enfermagem, porém a equipe
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