56 NEOPOSITIVISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM NEOPOSITIVISM AND PHILOSOPHY OF LANGUAGE Mateus Ramos Cardoso1 RESUMO: Duas são as razões principais da revolução linguística verificada na filosofia: a) a convicção de que muitas discussões filosóficas são devidas a uma insuficiente clareza e à falta de precisão da linguagem; b) o desejo de descobrir uma linguagem universal e um critério de significação absoluto, válido para todas as disciplinas cientifica e filosóficas. Palavras-chave: Revolução linguística. Filosofia. Disciplina cientifica. ABSTRACT: Two are the main reasons of linguistic revolution checked in philosophy: a) the conviction that many philosophical discussions are due to insufficient clarity and lack of precision of language; b) the desire to discover a universal language and an absolute criterion of meaning, valid for all scientific and philosophical disciplines. Keywords: Linguistic revolution. Philosophy. Scientific discipline. INTRODUÇÃO O século XIX, por herança do iluminismo, foi fortemente marcada pela Ciência. Que vinha sendo a grande redentora, fomentando a mentalidade de que seriam resolvidos todos os problemas. Mas no final do mesmo século, têm se uma crise na ciência, as idéias de Newton são colocadas em questão, por Einstein. O mesmo acontece com a Matemática e a Geometria, a obra de Russel da nova direção à matemática, rompendo com a matemática Euclidiana. Toda essa transformação leva a um total descrédito da ciência e da matemática. A problemática atinge de certa forma a filosofia, pois se utiliza informações da ciência e a linguagem da matemática. Com isso começou-se a rever a maneira de fazer filosofia, 1 Matêus Ramos Cardoso. Filósofo, Especialista em Ética e Ciência da Religião. Mestrando em Filosofia na Ufrgs – RS. E-mail: [email protected] Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 57 precisando abandonar a linguagem da ciência e da matemática. Com isso surge a filosofia da linguagem. Alguns manuais não realizam a distinção entre a filosofia da linguagem e o neopositivismo. Outros ainda, distinguem a filosofia analítica, da filosofia da linguagem e do neopositivismo. No trabalho se realizará a distinção entre a filosofia analítica do neopositivismo, baseado na grande maioria dos manuais. O artigo iniciará mostrando as noções gerais, as características e as origens de ambos os movimentos, tentando aplainar o caminho para que o leitor possa melhor compreender o trabalho, de forma geral. Os autores serão divididos em dois grupos: neopositivismo ( Wittgenstein, Carnap e Popper) e os analíticos ( Moore, Ayer e Russel). Embora haja divergências nas divisões dos autores, pois não ficam claros os seus posicionamentos. O artigo será concluído com as influências dos movimentos geraram, o que é de grande enriquecimento para a filosofia. O MOVIMENTO ANALÍTICO E SUA TRAJETÓRIA Inegavelmente também a importância e o desenvolvimento que a ciência lingüística teve em nosso século contribuíram para chamar a atenção dos filósofos para a linguagem. O movimento analítico percorre uma larga trajetória, e pode-se distinguir seu desenvolvimento em três etapas: 1ª. O primeiro estágio é o da construção da filosofia analítica com sua fisionomia própria. Inicia-se com Moore, que introduz a prática da análise lógica de linguagem para classificar os problemas da filosofia. E se desenvolve com Russel e Wittgenstein, que são os fundadores da nova filosofia, e sob cuja tendência se encontra, de um ou outro modo, as subseqüentes correntes. Constitui a chamada escola de Cambridge. 2ª. O segundo estágio forma a corrente do neopositivismo ou positivismo lógico, que surge como escola independente com os autores do círculo de Viena e o círculo de Berlim pelos anos 1920 e 1930. Recebe a influência direta do primeiro Wittgenstein e assume o método de análise da linguagem e o simbolismo lógico, já elaborado por Russell para estabelecer os fundamentos do conhecimento cientifico mediante uma linguajem lógica ou ideal unificado. Sua atitude peculiar é a de uma rejeição radical da Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 58 metafísica e de qualquer conhecimento que supere os dados da ciência empírica; a filosofia se reduzirá a uma lógica do conhecer cientifico. 3º. O terceiro estágio constitui os desenvolvimentos ulteriores da filosofia analítica, que vai desde os anos 1950 a nossos dias. A tendência mais importante dela é dos neo-analistas da chamada escola de Oxford, que conectam com Moore e o segundo Wittgenstein e, rejeitando a análise reducionista da linguajem do positivismo lógico, retornam a dar validez a linguajem comum com seus diferentes usos para denotar valores da realidade. É uma tendência menos dogmática e mais aberta a problemas filosóficos e inclusive metafísicos. Esta corrente floresce também na América junto com os positivistas lógicos (Carnap, Hempel, etc). CARACTERÍSTICAS Cabe a princípio realçar a falta de unanimidade em realizar a distinção entre o Neo-positivismo e a Filosofia da Linguagem. Há autores que não realizam essa estrutura, outros ainda separam a Filosofia da Linguagem da Filosofia Analítica. No trabalho se adotara a divisão mais comum, entre o Neo-positivismo e a Filosofia da Linguagem, que é sinônimo da Analítica. O Neo-positivismo também conhecido como positivismo lógico, ou ainda empirismo lógico. Tem seu início com o círculo de Viena, apresentado sobre tudo duas características: a aversão da metafísica e a valorização das ciências empíricas e da lógica (matematização). Essa valorização das ciências empíricas chega a ponto de criar uma filosofia da ciência, que quer ser como a ciência tendo um método e o mesmo rigor científico. Desta forma a exploração da realidade é tarefa da ciência, cabendo a filosofia ser a metodologia da ciência. Para esse grupo de filósofos “o problema da filosofia (...), não é ´o que é real?`, ´Qual é o conteúdo do ser?`, mas ´o que pretendes dizer propriamente?`.”2 Levando em conta a falta de unidade entre os comentadores, pode-se dizer que Ernst Mach, Moritz Schlick, Ludwig Wittgeinstein, Rudolf Carnap, Hans Reichenbach e Karl Popper são filósofos neo-positivistas. 2 ROVOGHI, S. V. História da Filosofia contemporânea: do século XIX à neoescolástica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2001. p. 474 Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 59 Na filosofia analítica também conhecida como filosofia da linguagem ou filosofia científica. Apresentam o mesmo pensamento quanto à função do filósofo, que é a analise do que é adquirido pela ciência, pois os problemas da filosofia estão ligados ao significado de certos termos, ou seja, está em esclarecer termos. Em ambos os movimentos se apresenta a necessidade de se apresentar um critério de verificação experimental como um critério supremo de significação. Enquanto no neo-positivismo o único saber válido é o da ciência, a filosofia analítica não mantém essa afirmação. Para a analítica não existe um único modelo lingüístico capaz de oferecer a única representação sensata do mundo real, a função da filosofia entre em destaque aí, pois ele é responsável em submeter a analise as diferentes formas lingüísticas. Essa idéia busca seus fundamentos nos princípios do segundo Wittgeinstein. Com controvérsias afirmam-se como filósofos da linguagem: George Edward Moore, Alfred Jules Ayer, Friedrich Waismann, Gilbert Ryle, Jonh Wisdom, Jonh Langshaw Austin e Peter Frederik Strawson. ORIGEM (GEOGRÁFICA E FILOSÓFICA) A filosofia analítica surge na Inglaterra com a obra de Moore e Russel, que adquire sua fisionomia característica com Wittgenstein estendendo-se em diversas escolas e grupos, sobre todo o mundo anglo-americano, constituindo uma das correntes de filosofia dominantes em nosso século. O nome geral de filosofia “analítica” provém de análisis, que significa separação, decomposição ou divisão das partes de um todo, ou de um composto em seus elementos, como há, por exemplo, a análise química. A revolução na filosofia foi qualificada a filosofia analítica por seus mesmos partidários na pequena obra introduzida por G. Ryle. Tal pretensão revolucionária se refere, sobretudo, a mudança colocada na orientação da filosofia inglesa com o ressurgir de uma nova forma de pensamento. Os ambientes intelectuais de Cambridge e Oxford dominavam, nas últimas décadas do século passado e a primeira deste, o neo-kantismo e neo-idealismo importados da Alemanha, cujo os representantes eram Green, Bradley, Bosanquet, Mc Taggart, Ward e outros, sendo sua máxima figura o lógico e metafísico Bradley. Era uma filosofia cultivada, sobretudo, por clérigos e aspirantes ao clero, que veriam no espiritualismo idealista um apoio para a teologia e a religião. Mas com a Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 60 secularização dos centros universitários, as gerações de estudiosos laicos aspiravam as formas de pensamento em conformidade com as exigências das novas ciências e seus métodos científicos. Surge grande reação contra o idealismo com a obra de Moore e Russell, que constroem novos métodos de análise empírica combatendo e separando o monismo idealista. A Filosofia Analítica é o retorno da antiga tradição inglesa do empirismo e nominalismo, como modesta análise dos fatos de experiência presentes na linguagem proposicional e rejeitando simultaneamente a analise psicologista das sensações e de idéias mentais de Locke e de Stuart Mill. E se desenvolvido sobre o chão do empirismo anglo-saxão e antimetafísico, na direção da análise lógica e lingüística, seja de linguagem comum ou a linguagem da ciência e da matemática, como uma filosofia que tenta esclarecer a chave lógica e semântica dos resultados das ciências positivas. NEO POSITIVISMO O CARÁTER GERAL DA FILOSOFIA DE WITTGENSTEIN A filosofia de Wittgenstein é antiteórica. É certo que em sua primeira fase ele efetivamente produziu uma teoria da lógica e da linguagem, mas era uma teoria que demonstrava sua própria falta de sentido. Depois de 1929, ele se absteve completamente de teorizar. A tarefa da filosofia, como ele dizia agora, não era jamais explicar, mas apenas descrever. Uma vez que a filosofia ocidental havia sido concebida principalmente como uma busca de explicações num nível bem alto de generalidade, sua obra se situava à margem da tradição. Wittgenstein não era um cético. A razão pela qual rejeitou a teorização filosófica não era o fato de ele considera-la demasiado arriscada e sujeita a erro, mas o de acreditar que esta era a maneira errada de filósofos trabalharem. “A filosofia não poderia, e não deveria tentar, emular a ciência”3. Este é um ponto de afinidade com Kant. Seu método consistia em conduzir qualquer teoria filosófica de volta ao ponto em que se originou, o que poderia ser alguma prática rotineira bastante simples, observável na vida dos animais, mas tornada ininteligível pela exigência de uma justificação intelectual. 3 BUNNIN, N. Compêndio de filosofia. São Paulo: Loyola, 2002, p. 682 Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 61 A explicação do grande apelo de sua obra da segunda fase não é só estilística. Ele está pondo por terra uma tradição filosófica que remonta à antiguidade. Esta é uma maneira de tratar o passado encontrado em muitas outras disciplinas. O “TRACTATUS LOGICO-PHILOSOPHICUS” As teses fundamentais do Tractatus são as seguintes: "o mundo é tudo o que acontece” (prop. 1); "o que acontece, o fato, é a existência dos fatos atômicos" (prop. 2); "a representação lógica dos fatos é o pensamento" (prop. 3); "o pensamento é a proposição exata" (prop. 4); "a proposição é uma função de verdade das proposições elementares" (prop. 5); "a formula geral da função de verdade é [r, z, N(e)]: essa é a fórmula geral da proposição" (prop. 6); "aquilo de que não se pode falar, deve-se calar" (prop. 7). A teoria da realidade corresponde à teoria da linguagem. Segundo o Wittgenstein do Tractatus (ou como se diz, o "primeiro" Wittgenstein), a linguagem é uma representação projetória da realidade. "Nós fazemos representações dos fatos" (prop. 2.1). "A representação é um modelo da realidade" (prop. 2.12). E "o que a representação deve ter em comum com a realidade para poder representa-la exatamente ou falsamente -, segundo o seu próprio modo, é a forma de representação" (prop. 2.17). Assim, o pensamento ou proposição representa ou espelha projetivamente a realidade. E a cada elemento constitutivo do real corresponde outro elemento do pensamento. A realidade consta de fatos que se resumem em fatos atômicos, compostos por seu turno de objetos simples. Analogamente, a linguagem é formada de proposições complexas (moleculares), que pode ser dividida em proposições simples ou atômicas (elementares), não ulteriormente divisíveis em outras proposições. Essas proposições elementares constituem o correspondente dos fatos atômicos. E são combinações de nomes, correspondentes aos objetos: "O nome significa o objeto. O objeto é o seu significado (...)" (prop. 3.203). A ANTIMETAFÍSICA DE WITTGENSTEIN "A maior parte das proposições e das questões escritas em matéria de filosofia não são falsas, mas insensatas. Por isso, não podem os de modo algum responder a questões desse gênero, mas somente estabelecer a sua insensatez. A maior parte das Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 62 questões e proposições de filosofia deriva do fato de não compreendermos a lógica da nossa linguagem. (São questões do tipo da questão de se o bem é mais ou menos idêntico que o belo.) e não há que se maravilhar que os mais profundos problemas não sejam propriamente problemas" (prop. 4.003). Assim, a filosofia se transforma de doutrina em atividade clarificadora das afirmações das ciências empíricas, das tautologias lógicas e das assertivas matemáticas e atividade dissolutória das pseudo-assertivas da metafísica. Mas Wittgenstein se dá conta de que, embora a ciência represente projetivamente o mundo, entretanto, além da ciência e do mundo, "há verdadeiramente o inexprimível. Ele se mostra: é aquilo que é místico" (prop. 6.522). "O sentido do mundo deve se encontrar fora dele. No mundo, tudo é como é e acontece como acontece: nele não há nenhum valor - e, se houvesse, não teria nenhum valor (...)" (prop. 6.41). E "nós sentimos que, ainda que todas as possíveis perguntas da ciência recebessem resposta, os problemas da nossa ida não seriam sequer arranhados. Claro, não resta então nenhuma pergunta - e essa é precisamente a resposta" (prop. 6.52). "O problema da vida se resolve quando se desvanece" (prop. 6.521). Nessas afirmações consiste precisamente aquilo que é chamada a parte mística do Tractatus. DIFERENÇAS ENTRE O PRIMEIRO E SEGUNDO WITTGENSTEIN Duas alterações se fazem notar nas doutrinas de Wittgenstein, entre os períodos inicial e final de seu pensamento. Em primeiro lugar, foi por ele abandonada a idéia de que a estrutura da realidade determina a estrutura da linguagem, passando a ser sugerido que realmente ocorre o contrário: nossa linguagem determina a concepção que temos da realidade, porque através da linguagem é que são vistas as coisas. “Conseqüentemente, deixou ele de acreditar que seja possível deduzir a preexistente estrutura da realidade a partir da premissa segundo a qual todas as línguas têm certa estrutura comum.”4 Essa alteração do ponto de vista solapa qualquer teoria que tente apoiar um padrão de pensamento ou uma prática lingüística, tal como a inferência lógica, num alicerce independente, colocado no real, se aquelas coisas (padrões de pensamento e práticas lingüísticas) requerem qualquer justificação, ela deve estar no seu próprio interior porque não há, externamente a elas, pontos de apoio independentes. Aquela espécie de 4 REALE, G. História da Filosofia. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1991, vol. 3. p. 659 Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 63 objetivismo é uma ilusão, produzida e sem dúvida pelo caráter não tranqüilizador da explicação verdadeira, a de que qualquer apoio vem do centro, do próprio homem. A segunda alteração doutrinária importante diz respeito à teoria da linguagem. No tractatus havia ele sustentado que as línguas partilham de uma estrutura lógica uniforme, que não se apresenta necessariamente à superfície, mas que pode ser desvelada pela análise filosófica. As diferenças entre as formas lingüísticas pareciamlhe variações superficiais em torno de um tema único, nascido da lógica. Ao início de seu segundo período de atividade filosófica, chegou a uma concepção diametralmente oposta. A linguagem não tem uma essência comum ou, se a tiver, será mínima, incapaz de explicar as relações entre suas várias formas. Estas se ligam entre si de maneira apenas aproximada, como os jogos ou como rostos de pessoas que pertencem à mesma família. Inevitavelmente, as pessoas perguntam que mensagem pode ser extraída da filosofia de Wittgenstein. Se uma mensagem é uma teoria, então, como vimos, a mensagem é que não há mensagem. Como qualquer outro filósofo, ele levou a busca por compreensão além do ponto em que os critérios ordinários para a compreensão são satisfeitos. Se puder discernir uma única estrutura em sua filosofia, esta consiste em sua rejeição de todo apoio ilusório, independente para nossos modos de pensamento. Teorias rígidas do significado tratam as regras lingüísticas como autoridades independentes às quais nós, que as seguimos, somos inteiramente subservientes. Mas Wittgenstein afirma que isso é ilusão, pois o sistema de instrução e obediência envolve uma contribuição de cada indivíduo, e pressupõe uma similaridade mental básica. Do mesmo modo, a necessidade da matemática é algo que projetamos de nossa prática e então erroneamente saudamos como o fundamento de nossa prática. Por certo, ele estava rejeitando o realismo, mas seu tratamento das regras mostra que não recomendava o convencionalismo em seu lugar. Sem dúvida, suas investigações possuem uma estrutura, mas não a estrutura da filosofia tradicional. Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 64 RUDOLF CARNAP (1891-1970). PONTO DE PARTIDA PARA SEU PENSAMENTO. Para Carnap a tarefa da filosofia não é a construção de teorias e sistemas, mas se encontra em elaborar um método, para com ele peneirar as afirmações dos vários campos do saber. O novo método terá que realizar duas funções. A primeira será eliminar as palavras desprovidas de significado e as pseudoproposições. A segunda função é esclarecer os conceitos com significados, para poder dar um fundamento lógico as ciências empíricas e a física. MÉTODO DE VERIFICAÇÃO Carnap acredita, que antes de tentar responder qualquer problema filosófico é necessário responder a uma pergunta: “Em que consiste o significado de uma palavra, de uma proposição?”5 Só há uma resposta para Carnap, o significado da proposição está no método de sua verificação. Desta forma para a proposição significar alguma coisa deve necessariamente tratar de um dado empírico. Já algo que estivesse além do empírico não poderia ser dito, nem pensado e nem posto em questão. O que seria o método de verificação? “O método de verificação consiste, portanto, em se traduzir numa série de proposições experimentais a proposição cujo significado se quer determinar. Quando não é traduzível de forma empírica, (...) ela não é uma asserção e nada diz, a não ser uma série de palavras vazias; ela é simplesmente sem sentido.”6 Com a aplicação do método de verificação chega-se a mesma conclusão de Wittgeinstein. Dando valor só a linguagem científica enquanto a linguagem metafísica, ética, religiosa, estética e literária só apresentam significado emotivo. 5 MONDIN, B. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1997, vol. 3. p. 211 6 MONDIN, B. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1997, vol. 3. p. 212 Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 65 METAFÍSICA E RELIGIÃO (DEUS) Coloca a metafísica juntamente com a religião por chão, pois não é possível uma visão do mundo, que de a chave para os problemas últimos. Carnap deixa claro que nenhuma forma de compreender o mundo tem experiência do transcendente, ou seja, daquilo que está além da experiência. Para Carnap “não existe, na verdade, nenhuma filosofia como teoria, como sistema de proposições com características próprias, que possa colocar-se ao lado da ciência”7. Ou seja, a religião não passa de uma expressão medíocre do sentimento vital. O termo Deus pode ser entendido em três sentidos. No primeiro chamado “sentido mitológico”, aqui Deus é compreendido como um ser corpóreo, igual ao ser humano, porém mais poderoso. Com o passar do tempo vai-se do mitológico primitiva para outra imagem, ainda mitológica; em que se retira de Deus o corpo, mas ele possui o poder de agir no mundo. No segundo sentido, o “sentido metafísico”, retira-se todos os elementos antropomórficos, apresentando-o como ´causa primeira` e ´ser absoluto`. Num terceiro sentido “sentido misto”, a palavra Deus é o resultado da mistura dos dois primeiros significados. Mas para Carnap “nas três acepções acima o termo ´Deus` equivale a um conceito semanticamente sem sentido, constituído pela reunião de quatro letras ao acaso, sendo toda proposição em que ele entrar apenas uma ´proposição aparente` (scheinsatz).”8 KARL POPPER: SUA ANÁLISE FILOSÓFICA Popper é considerado um positivista lógico e grande expoente do Circulo de Viena. Porém ele prefere ser chamado de critico do Circulo de Viena, e diz que, o que lhe atraiu nesta Escola foi à atitude racional que caracterizava os filósofos. Diferencia-se da posição de Carnap, Wittgenstein e outros neopositivistas lógicos, principalmente não campo da epistemologia, no qual possui duas inovações: primeiro no que se refere à concepção de ciência, e depois ao critério de demarcação entre teorias cientificas e não cientificas, ou seja, empíricas e não empíricas. 7 MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2000, vol. 1. p. 402 MONDIN, B. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1997, vol. 3. p. 213 8 Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 66 CONCEPÇÃO POPERIANA DE CIÊNCIA Ele critica o método indutivo de Bacon, o qual afirma que toda ciência parte da observação e vai progredindo lentamente até chegar às teorias. Ele diz: “A epistemologia empirista tradicional e a historiografia da Ciência – escreve Popper – são profundamente influenciadas pelo mito baconiano de que toda ciência parte da observação para, em seguida, caminhar lenta e cautelosamente para as teorias. Mas não é assim. O primum (“ primeiro “) (lógico e genético) na edificação da ciência são os problemas e, com eles, as hipóteses e as conjecturas, e não a observação”9. CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO OU DE FALSIFICABILIDADE Popper rejeitava o critério neopositivista de verificação experimental, o qual diz que uma teoria para ser cientificamente aprovada deve ser verificável. Como para ele todo o conhecimento é hipotético e conjetural (suposição), não existe conhecimento absoluto. E que o aumento do conhecimento, principalmente o cientifico consiste em aprendermos dos erros que cometemos. Popper considera que uma teoria que não pode ser refutada por nenhum evento concebível não é cientifica.Então para uma teoria ser considerada cientifica é necessárias duas condições: ser falsificável, isto é, poder ser, em linha de principio, desmentida ou contraposta. E ainda não ter sido considerada falsa de fato. Portanto o critério de demarcação entre as teorias cientificas empíricas e as não empíricas, como é o caso da metafísica, da religião, das éticas, não é a sua verificabilidade, mas sim sua falsificabilidade. CRÍTICAS A FALSIFICABILIDADE Muitos criticaram Popper dizendo que na verdade o principio de falsificabilidade pode distinguir apenas entre teorias falsas e teorias falsificáveis e não entre cientificas e não cientificas, é o que afirma Mondin: “O principio de falsificabilidade pode distinguir somente entre teorias falsas e teorias falsificáveis, não entre teorias cientificas e não cientificas (metafísicas, éticas, religiosas, etc.). As teorias falsas são aquelas que, 9 MONDIN, B. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1997, vol. 3. p. 270-271. Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 67 submetidas aos devidos controles, caíram por terra (talvez de pois de terem sido aceitas como verdadeiras por muitos séculos) ; as segundas são aquelas que continuam a resistir”.10 Para ele as teorias falsas são aquelas que foram superadas e abandonadas depois de serem submetidas a controles rigorosos, mesmo que já tivessem sido utilizados por muitos séculos. E as teorias falsificáveis são aquelas que continuam a resistir, sendo que para Popper todos os conhecimentos humanos considerados como verdadeiro (científicos, os comuns, religiosos, os éticos e os metafísicos) são falsificáveis. FILOSOFIA ANALÍTICA ALFRED JUNES AYER Nos seus principais escritos como no pequeno livro Linguagem, verdade e lógica, ele escreve a posição do circulo de Viena, mas que não se depara somente a esse passo, tira das idéias neopositivistas todas as conseqüências que assim aplica a ética e a teologia, isso para assim obter uma filosofia alternativa à metafísica tradicional. O PRINCIPIO DE VERIFICAÇÃO. É o critério usado para determinar a autenticidade e importâncias das premissas. Esta possui varias formulações: a) Uma afirmação é verificável quando ela mesma resulta uma afirmação de observação ou que implique em outras afirmações de observação. b) Uma afirmação é indiretamente verificável quando em primeiro lugar ela com outras premissas devem implicar uma ou mais informações verificáveis, e em segundo quando as outras premissas não podem incluir afirmações que não sejam analíticas ou diretamente verificáveis. c) As únicas proposições sensatas são as relativas ao horizonte empírico, pois são hipóteses prováveis. 10 MONDIN, B. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1997, vol. 3. p. 274. Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 68 CRITICA A TEOLOGIA E A ÉTICA. Para ele a preposição que afirma a existência de Deus é sem sentido, pois, não é necessária, não diz algo da realidade, e tampouco sintética, pois não se pode experimentá-las, ou verificá-las. Já na questão da ética, para ele as preposições de valores quando são significativas são afirmações cientificas normais, do contrario são somente expressões de emoção, que não podem ser verdadeiras nem falsas. O momento valorativo equivale a um determinado tom de voz ou ao acréscimo de algum ponto de exclamação a uma preposição declarativa normal. A TAREFA DA FILOSOFIA. Para Ayer esta será exclusivamente analítica, pois ela não pode dizer se uma proposição é falsa ou verdadeira quando interpretar o sentido, mas tentará ver se existe um sentido e o determinara com precisão. A filosofia buscará mediante as definições usuais traduzir certas proposições que aparecem ambigüidade, está pois, a filosofia no âmbito da analise de termos e a um horizonte lingüístico. GEORGE EDWARD MOORE: SUA ANALISE FILOSÓFICA Seu ponto em questão é da analise do significado de expressões empregados na linguagem corrente e as empregadas nas proposições dos filósofos. A linguagem corrente (do cotidiano) Moore aceita seus significados como verdadeiros e os acha suficientemente claro. Mesmo que as proposições não possam ser provadas ou contestadas, é melhor aceitá-las como verdadeiras, pois, caso contrario, chegaremos a muitos paradoxos. Enquanto as proposições dos filósofos além de terem necessidade de investigação da linguagem empregada, é necessário indagar sobre sua verdade ou falsidade. Seu método analítico consiste numa pratica metodológica, constituída por inúmeras regras. Um exemplo interessante da aplicação de sua analítica esta na obra Princípios Éticos. Onde o autor elaborar uma doutrina objetivista da natureza da moral, investigando o significado da palavra Bom. Para Moore é noção simples (predicado básico) precisamente como o “amarelo”. É noção simples, e que do mesmo modo como não há meio de explicar a alguém que Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 69 ainda não o saiba o que é amarelo, também não há modo de explicar o que é bem. Quando indagado o que é o bem ele diz: “bem” é algo que se intui. CRÍTICAS Foi considerado filósofo do senso comum por ser defensor deste conhecimento. Também bastante criticado por seu método analítico, que seria mais fácil de seguir do que expor, devido ao excesso de regras: „ O método analítico de Moore consiste mais numa pratica metodológica do que propriamente num método rigorosamente elaborado. Isso significa que não se possa averiguar o que seja seu método, mas é necessário aceitar o fato de que ele não é constituído por uma série de regras, como o método baconiano, por exemplo. Como conseqüência, toda exposição do pensamento de Moore exige que se siga sua pratica. Em outros termos, é mais fácil seguir do que expor o método de Moore”‟11. BERTRAND RUSSEL: O PROBLEMA LÓGICO São importantes na lógica as definições dos indivíduos, das classes, dos tipos e das descrições. A propriedade dos indivíduos é serem membros de uma classe, e propriedade das classes serem membros de um ou mais tipos. O individuo não é membro de si mesmo, mas somente de um superior, dos tipos. Pedro é pescador que é vinculado à associação dos pescadores de Santa Catarina, que é vinculada a nacional. Existe diferença entre significação e denotação. Os nomes dos indivíduos não só significam, mas também denotam alguma coisa, designam uma entidade real. Já as classes e tipos somente possuem significação, são símbolos incompletos. Completos são somente os que possuem a denotação e significação. Aqui está sua posição aristotélica, somente existem os indivíduos, e com isso rejeita Platão no que diz respeito às idéias universais. As descrições, os títulos no apossem valor de nomes próprios, e por isso não denotam nenhuma entidade real. Agora nomes próprios denotam o objeto real por correspondência, por isso, as descrições são símbolos incompletos. O símbolo incompleto tem a função de privar a função denotativa das proposições nas quais figuram, com isso ele tenta varrer as entidades fantásticas. 11 BARAÚNA, J. L. Coleção os Pensadores: Moore. São Paulo: Abril S. A. Cultural e Industrial 1980. p.04. Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 70 O PROBLEMA DO CONHECIMENTO Ele assume uma posição empirista, onde o conhecimento nos vê, a partir dos dados sensoriais, onde ele as chama de sensu-data, tanto o senso comum como o cientifico são construções lógicas tiradas dos dados sensíveis. De Hume ele retira que a pessoa humana é um feixe de sensações que os chama de particulares que o significado dos dados sensoriais. A pessoa também é uma certa serie de experiências, onde cujos membros tem certa relação R entre si de modo que uma pessoa pode ser definida como a classe de todas aquelas experiências que estão unidas entre si pela relação R. O corpo e alma são classes de dados sensoriais, tudo isso trata-se de uma construção lógica tiradas dos particulares que não são nem mentais, e nem materiais, mas neutros. O PROBLEMA DA VERDADE Sua concepção atomista do conhecimento, o problema da verdade é resolvido com a doutrina da correspondência ( adaequatio intellectus et rei), “ adequação do intelecto com a coisa”. De um lado os juízos e preposições e de outro a realidade objetiva os eventos. Aqui entra alguns requisitos como a linguagem logicamente perfeita , pois para Russel numa linguagem perfeita há identidade de estruturas entre o fato afirmado ou negado. INFLUÊNCIAS DEIXADAS PELOS MOVIMENTOS FILOSÓFICOS A grande influência deixada pelo movimento do neo-positivismo é a própria filosofia analítica, que se tornara independente. Do neo-positivismo ficara a aversão a metafísica e a valorização das ciências empíricas e da lógica, causando uma matematização da filosofia. Deixando a forte marca da filosofia como serva da ciência, apenas esclarecendo conceitos. Da visão da filosofia da linguagem, sobre tudo do neo-positivismo nasce a filosofia da ciência, que tem por objetivo servir de ferramenta para a ciência. Pela história e localização geográfica desses movimentos, vê-se a partir de 1945 até os dias de hoje a filosofia anglo-saxônica, quase reduzida a da língua inglesa, ser Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71] 71 principalmente analítica. Não simplesmente simpatizando com esse dois movimentos, mas realizando a pratica de uma filosofia de modo analítico. O que acabou se espalhando por todo o mundo, influenciando o modo de se fazer filosofia. A filosofia analítica sobre tudo abre as portas para a valorização da linguagem dentro da epistemologia, valorizando o conhecimento e a linguagem. CONCLUSÃO Diante de um movimento de tamanha importância e de grandes influências, cabe ressaltar a desvalorização da metafísica e das questões religiosas, em contra partida uma super valorização da linguagem e da ciência. Chegando a tentativa de tornar uma ciência, ou até, tornando a filosofia serva da ciência. Pois a atividade do filósofo se resumiria a analisar termos da ciência. A grande força desse movimento se dá nas regiões de língua inglesa. Que merece grande atenção, pois com ele se dá inicio a um novo modo de se fazer filosofia. Não será uma nova corrente de filósofos, mas essa forma analítica será um “método” utilizado por diversas correntes filosóficas. REFERÊNCIAS BARAÚNA, J. L. Coleção os Pensadores: Moore. São Paulo: Abril S. A. Cultural e Industrial, 1980. p.04. BUNNIN, N. Compêndio de filosofia. São Paulo: Loyola, 2002. GRAYLING, A.C. Wittgenstein. São Paulo: Loyola, 2002. MONDIN, B. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1997, vol. 3. MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2000. MORENO, A.R. Introdução a uma pragmática filosófica. São Paulo: Unicamp, 2005. PORTA, M. A. G. A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Loyola, 2002. REALE, G. História da Filosofia. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1991, vol. 3. ROVOGHI, S. V. História da Filosofia contemporânea: do século XIX à neoescolástica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2001. WITTGENSTEIN, L. Tractatus lógico-philosophicus. 3.ed. São Paulo: Edusp,2001. Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 3, 2015 [p. 56/71]