COLÉGIO PEDRO II – CAMPUS TIJUCA II DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS – COORD.: PROFa. CRISTIANA LIMONGI 1º & 2º TURNOS 3ª SÉRIE / ENSINO MÉDIO REGULAR & INTEGRADO ANO LETIVO 2015 PROFESSORES: FRED & PEDRO MURTA TEXTO COMPLEMENTAR 06 / 2015: APOPTOSE x NECROSE APOPTOSE Os modernos conhecimentos da Biologia Celular têm revelado a cada dia que a morte celular programada e seus indutores e inibidores podem ser a chave para a compreensão de muitas patologias e doenças. Por definição, APOPTOSE ou MORTE CELULAR PROGRAMADA (ou “morte celular não seguida de autólise”) é um tipo de “autodestruição celular” que demanda energia e síntese proteica para a sua execução (diferentemente da necrose). O termo é derivado do grego “apoptwsiz”, que se referia à queda das folhas das árvores no outono – um exemplo de morte programada fisiológica e apropriada que também implica em renovação. Possui importante papel durante o processo de diferenciação, crescimento e desenvolvimento dos tecidos adultos normais e patológicos, exercendo um papel oposto ao da mitose. Isto de certa forma requer uma cascata de fenômenos bioquímicos e moleculares que acabam por proporcionar um fenótipo celular bastante peculiar. Quem primeiro descreveu a morte celular programada foi Kerr (1972) a partir de observações em células do timo (um órgão imunitário bastante ativo durante a infância – produz e amadurece linfócitos T –, mas que regride por volta dos sete anos de idade). Fisiologicamente a apoptose é um dos participantes ativos da homeostase no controle do equilíbrio entre a taxa de proliferação e degeneração com morte das células, ajudando na manutenção do tamanho dos tecidos e órgãos. A perda deste equilíbrio promove o aparecimento de lesões proliferativas e degenerativas como infarto do miocárdio e doença de Alzheimer, dentre outras. Fatores de crescimento, neurotransmissores, glicocorticoides, cálcio, toxinas bacterianas, radicais livres, agentes oxidantes, mutagênicos e outros podem induzir o processo apoptótico. Hormônios esteroides e androgênicos, o íon zinco, fatores da matriz celular e aminoácidos inibem a apoptose. COLÉGIO PEDRO II É um processo rápido, que se completa em aproximadamente três horas e não é sincronizado, com diferentes estágios coexistindo em diversas secções dos tecidos. Devido à taxa rápida de destruição celular é necessário que apenas 2% a 3% das células estejam em apoptose em determinado momento para que se obtenha uma regressão substancial de tecido. Algumas mudanças só podem ser vistas quando a célula é analisada em microscopia eletrônica, mas de uma maneira geral, os fenômenos são: 1. Retração celular, com perda de aderência com a matriz extracelular e células vizinhas, com agregação dos componentes celulares, o que deixa a célula bastante eosinofílica. Com exceção das mitocôndrias, que podem apresentar ruptura da membrana externa, as outras organelas mantêm sua morfologia. 2. O núcleo muda de aspecto, a cromatina se condensa e se prende à carioteca, tomando um aspecto mais denso. Pode ocorrer a fragmentação do núcleo (cariorréxis). 3. A membrana celular gera prolongamentos, que aumentam de número e de tamanho e se rompem, dando origem a estruturas contendo o conteúdo nuclear. Estas partes envoltas pela membrana celular recebem o nome de corpos apoptóticos, sendo fagocitadas pelos macrófagos e removidas rapidamente. Diferente da necrose, não existe liberação do conteúdo celular para o interstício e, portanto, não se observa processo inflamatório ao redor da célula morta. É importante salientar que muitos dos genes que condicionam a proliferação celular (chamados oncogenes e genes supressores de tumores) estão também envolvidos na apoptose, cuja inibição leva à sobrevivência prolongada das células, favorecendo o acúmulo de mutações e a transformação maligna. Assim, a apoptose representa um mecanismo de eliminação seletiva de células cuja sobrevivência poderia prejudicar o bem-estar do organismo. TEXTO COMPLEMENTAR 06 / 2015 PÁGINA 1 DE 4 Figura 1. Alterações celulares na apoptose APOPTOSE FISIOLÓGICA 1. 2. 3. 4. 5. 4. 5. 6. Nos casos de involução de estruturas fetais durante o desenvolvimento embrionário do feto (membranas interdigitais, fusão do palato, involução do ducto tireoglosso e da notocorda – figura 2). Situações de corte no suprimento de hormônios estimulatórios [como menopausa (atresia folicular ovariana) e retração do útero pós parto]. Tecidos onde há uma constante renovação celular, com células lábeis (desenvolvimento da mucosa intestinal e da pele – as células mais velhas sofrem apoptose para que o número de células no tecido continue constante). Estimulada pelo linfócito T citotóxico (quando uma célula do organismo é infectada por um vírus e passa a apresentar antígenos deste vírus em sua membrana. As células T citotóxicas reconhecerão este antígeno e induzirão a apoptose na célula infectada. Este processo é muito importante na eliminação de um vírus do organismo e também na geração de sintomas em várias patologias). Após uma resposta imunológica do organismo a um agente biológico (é preciso que haja eliminação da superpopulação de leucócitos que foram usados na defesa do organismo). Na maturação linfoide e prevenção de autoimunidade. No núcleo das células fibrosas que originam o cristalino. Nos anfíbios, na regressão da cauda do girino, durante sua metamorfose para a fase adulta (figura 3). COLÉGIO PEDRO II Figura 2. Apoptose na involução das membranas interdigitais Figura 3. Apoptose na regressão da cauda de girinos APOPTOSE PATOLÓGICA 1. 2. Casos de lesão do material genético (DNA) da célula, através de estímulos radioativos, químicos ou virais. Quando a lesão causada ao DNA é maior que a capacidade da célula de revertê-la, é mais seguro para o organismo que o programa de morte celular seja ativado, já que a multiplicação de uma célula mutante pode dar origem a tumores. Nos casos de lesão por isquemia ou hipóxia pode resultar em necrose ou apoptose. Certos estímulos à morte celular por necrose também desencadeiam a morte celular por apoptose. TEXTO COMPLEMENTAR 06 / 2015 PÁGINA 2 DE 4 CASCATA DE EVENTOS E CASPASES As células têm um conjunto de proteínas capazes de atuar como armas de autodestruição. Enquanto a célula é útil ao organismo, ela reprime este mecanismo. Se, no entanto, a célula comprometer a saúde do organismo ou deixar de ser necessária, a apoptose é desencadeada, levando à morte celular. Na grande maioria das células em apoptose, observa-se a destruição do material genético, o ácido desoxirribonucleico (DNA). Células eucariotas têm cromossomos formados por unidades repetitivas, os nucleossomos. Antes da morte da célula, o DNA é cortado por enzimas em regiões específicas entre os nucleossomos. Para a ativação dessas enzimas, por exemplo, a CAD (caspase-activated DNAase), deve ocorrer toda uma cascata de eventos moleculares. A apoptose pode ser ativada por vários fatores como a remoção de sinais químicos da célula (fatores de crescimento ou de sobrevivência), o ignorar de mensagens químicas por alguns receptores internos e externos, ou pela presença de sinais com informação contraditória. O primeiro vínculo entre a ação de uma caspase e o corte do DNA foi constatado há pouco. Caspases são um grupo de proteases com importância fundamental no processo de apoptose. Encontram-se no citoplasma celular sob forma inativa. Várias proteínas são apontadas como “alvos”. Quando ativada, inibe uma proteína (ICAD, de inhibitor of caspase-activated DNAase) normalmente ligada a uma DNAase (CAD) no citoplasma. CAD se torna ativa, entra no núcleo e começa a cortar pontos específicos de DNA (clivagem entre nucleossomos), desencadeando o processo de morte celular programada. NECROSE Pode-se definir necrose como as alterações morfológicas que acontecem após a morte celular em um tecido vivo, devido à ação progressiva de enzimas nas células que sofreram uma lesão exógena irreversível letal. As células necróticas não conseguem manter a integridade da membrana plasmática, extravasam seu conteúdo e podem causar inflamação no tecido adjacente. O estímulo nocivo desencadeará vários processos intracelulares como dano: Afeta mitocôndrias (diminui a produção de ATP, com perda das funções celulares dependentes de energia, contribuindo para o aumento da glicólise anaeróbica e diminuição das reservas de glicogênio, aumentando o ácido lático e fosfatos inorgânicos, com diminuição do pH, prejudicando a atividade de muitas enzimas celulares). Afeta lisossomos (causa digestão enzimática dos componentes celulares). Afeta a membrana plasmática em si (culminando na perda do conteúdo celular). Causa deficiência na bomba de cálcio, devido à falta de energia, que leva ao aumento do cálcio intracelular e das espécies reativas de oxigênio ou “radicais livres”): leva a proteólise e danos ao DNA). O cálcio ativa muitas enzimas que levam à degradação celular, como as endonucleases e as proteases. A atividade da bomba de sódio e potássio na membrana plasmática diminui, acumulando sódio intracelularmente e levando à perda de potássio para o meio externo: edema celular e dilatação do Retículo Endoplasmático, formando bolhas. Por fim, a diminuição da síntese proteica resulta em dano às membranas mitocondriais e lisossomais. LESÃO REVERSÍVEL x LESÃO IRREVERSÍVEL A lesão caracteriza-se como reversível enquanto houver alterações na membrana plasmática, alterações mitocondriais, dilatação do retículo endoplasmático, degeneração gordurosa e alterações nucleares que possam ser revertidos pela célula. O dano passa a ser irreversível na medida em que a célula é incapaz de reverter os danos mitocondriais (ausência de fosforilação oxidativa e geração de ATP), com alterações profundas na função da membrana. As células sofrem essas alterações bioquímicas e morfológicas conforme a lesão progride, evoluindo para morte celular e necrose. CAUSAS DE LESÃO CELULAR 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Ausência de oxigênio (hipóxia). Agentes físicos (traumas, temperatura, radiação, choque). Agentes químicos e drogas. Agentes infecciosos. Reações imunológicas. Distúrbios genéticos. Desequilíbrios nutricionais. COLÉGIO PEDRO II TEXTO COMPLEMENTAR 06 / 2015 PÁGINA 3 DE 4 MORFOLOGIA DA NECROSE Morfologicamente, as células necróticas apresentam um aumento da eosinofilia, causada pelo RNA e proteínas plasmáticas desnaturadas. O citoplasma apresenta vacúolos e o citoplasma com um aspecto corroído. As células são vistas ao microscópio eletrônico com descontinuidade de membranas plasmáticas e organelas. A fragmentação do DNA leva a alterações nucleares que podem aparecer na forma de três padrões: cariólise (DNA em degradação), picnose (encolhimento do núcleo, pela condensação do DNA) e cariorréxis (fragmentação do núcleo, com seu posterior desaparecimento). A maioria das células necróticas e de seus fragmentos acaba desaparecendo, devido à digestão enzimática e à fragmentação, seguidas da fagocitose por macrófagos e leucócitos. Se essa fagocitose e destruição dos restos celulares necróticos não ocorrer rapidamente, sais de cálcio e outros minerais podem ser atraídos, acontecendo calcificação no local. Esse fenômeno é denominado calcificação distrófica, que causará também a formação de um processo inflamatório local. Fontes (com diversas adaptações): http://www.guia.heu.nom.br/apoptose.htm http://www.infoescola.com/citologia/apoptose/ http://www.ogrupo.org.br/9-artigos-timo.htm http://www.virtual.unifesp.br/unifesp/bio40/apoptose/ind ex-3.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Apoptose http://www.inca.gov.br/rbc/n_53/v03/pdf/revisao4.pdf http://www.digimed.ufc.br/wiki/index.php/Necrose_e_Ap optose http://minutosaber.blogspot.com.br/2010/08/caracteristi cas-celulares-da-necrose-e.html Figura 4. Alterações celulares na necrose e na apoptose COLÉGIO PEDRO II TEXTO COMPLEMENTAR 06 / 2015 PÁGINA 4 DE 4