IDADE MÉDIA (BAIXA): TRANSIÇÃO FEUDO-CAPITALISTA

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IDADE MÉDIA (BAIXA): TRANSIÇÃO FEUDO-CAPITALISTA
CONTEÚDOS

A crise do sistema feudal

As Cruzadas

Renascimento Comercial

Renascimento Urbano

Guerra / Peste / Fome
AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS
A crise do sistema feudal
Ao longo da Idade Média, a Europa foi gradualmente se pacificando. As invasões
bárbaras deixaram de existir e as guerras entre os feudos diminuíram com o avanço das
alianças estabelecidas com as relações de suserania e vassalagem. A influência cultural
da Igreja Católica que pregava a paz entre os reinos cristãos, também contribuiu para que
os conflitos diminuíssem. Esse fator contribuiu para diminuir a alta mortalidade que marcava
o feudalismo, principalmente dos nobres que lutavam nas cavalarias.
Figura 1 - Redução dos conflitos entre os Feudos
Fonte: Tomacco/shutterstock.com
Um outro fator é que ao longo dos séculos que marcaram o sistema feudal, os
camponeses desenvolveram melhores técnicas e tecnologias na produção de alimentos, o
que diminuirá significativamente a fome entre os servos e, em consequência disso, a
mortalidade desse grupo, que melhor alimentado, ficava menos sujeito a doenças. Dentre
as técnicas desenvolvidas nessa época pode-se destacar:
 a mudança do arado que deixou de ser atado no focinho do animal para ser atado no
seu torso.
 a mudança da divisão dos mansos de 2 para 3 partes, de modo que fosse possível
cultivar de modo rotativo duas delas e deixar uma descansando para evitar o
esgotamento do solo.
 a invenção das rodas d’água e dos moinhos de vento para mover as engenhocas do
feudo sem necessitar da tração humana ou de animais.
Em síntese, a pacificação da Europa e a melhoria nas técnicas de produção,
geraram uma diminuição na mortalidade, quando comparado ao início da Idade Média, e a
consequência disso foi um crescimento de população que desestabilizou a organização dos
feudos.
No caso dos servos, a falta de trabalho marginalizou parte desse grupo que foi
expulso dos feudos e que passou a viver escondido em vilas no interior das florestas que
existiam entre os feudos. Essa população, os vilões (servos que viviam nas pequenas vilas
da floresta), sobrevivia da coleta de alimentos e de pequenos furtos aos viajantes.
Curiosidade: A lenda de Robin Hood, conta a história de um herói mitológico inglês, que
vivia em uma vila secreta no interior da floresta de Sherwood e, roubava dos ricos para
dar aos pobres camponeses e artesões que eram explorados pelos pesados impostos.
Figura 2 - Ilustração de Robin Hood
Fonte: Wikimedia Commons
Apesar de não ser uma história real, observa-se muitas características do período da
Baixa Idade Média presentes na fábula. Por exemplo, a ideia do herói ser um vilão, ou
seja, um excluído do sistema feudal que vivia dos recursos da floresta e de pequenos
assaltos aos viajantes.
Já com a nobreza o problema era outro. Como o nobre mantém seu título e seus
privilégios, mesmo que não tenha recursos, o crescimento desse grupo acarretará em dois
sérios problemas para o feudalismo.
O primeiro deles é que os pais não tinham riquezas suficientes para o dote de todas
as suas filhas e, por isso, aquelas que não se casassem, deveriam ser colocadas nos
conventos, o que superlotaria a Igreja Católica de mulheres.
O segundo é que, em tempo de paz, não era necessário manter grandes cavalarias
e, com isso, muitos cavaleiros passam a ser errantes de feudo em feudo sem se inserirem
socialmente. Nesse caso, os cavaleiros que não pertenciam a nenhuma cavalaria,
passaram a serem vistos como uma ameaça, já que eles poderiam se organizar em hordas
(grupos mercenários) para lutarem por recompensas ou invadir terras, principalmente as
pertencentes a Igreja Católica (já que essas tinham menos chances de defesa).
Desse modo, a relativa estabilidade do feudalismo começou a ser abalada pelos
roubos dos vilões e pelos grupos armados de cavaleiros que ameaçavam as posses dos
senhores feudais e da Igreja Católica.
Cruzadas
As cruzadas foram expedições militares realizadas pela Igreja Católica para
expandir a fé cristã e combater os infiéis. Os objetivos que motivaram as diversas cruzadas
foram vários, desde a busca pelo Santo Graal (cálice que Jesus celebrou a última ceia),
passando pela busca do Templo de Salomão ou do Santo Sepulcro (catacumba de Jesus),
até a reconquista da cidade sagrada de Jerusalém (controlada pelos muçulmanos).
Na época, a Igreja Católica defendia entre seus fiéis que todos aqueles que
lutassem nas cruzadas seriam perdoados de seus pecados e garantiriam um lugar
privilegiado no paraíso após a sua morte. Dessa forma, ela atraiu grandes contingentes de
nobres cavaleiros que se motivaram a lutar em nome da fé e outros tantos servos que
acompanhavam a peregrinação como escudeiros (indivíduos que carregavam as armas dos
nobres) e tratadores dos cavalos.
Figura 3 - Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém para os cruzados
Fonte: Wikimedia Commons
Como o caminho do ocidente para o oriente era bastante longo, a viagem dos grupos
cruzados levava vários dias. Assim, esses viajantes eram obrigados a fazer paradas
durante o caminho. Esse fator fez com que mosteiros, hospedarias, estábulos e até mesmo
pequenas vilas, surgissem para atender esses guerreiros peregrinos.
As cruzadas tiveram pouco sucesso, na reconquista de Jerusalém. Um dos fatores
que contribuíram para esse fracasso foi o pequeno número de cavaleiros, enviados em
cada uma das cruzadas, quando comparado com o número de muçulmanos que habitavam
essa região. Além disso, o conhecimento científico e tecnológico dos muçulmanos era bem
maior que o dos católicos, o que lhes conferia vantagens nas batalhas.
Figura 4 - Cavaleiro Cruzado
Fonte: Nejron Photo/ shutterstock.com
Saiba Mais: A seguir, encontra-se a lista das cruzadas organizadas durante a Baixa Idade
Média. Preste atenção que houve duas cruzadas “não oficiais”, onde percebe-se uma
clara estratégia de eliminar o excesso de população marginalizada.
1. Não oficial - Cruzada dos Mendigos (1096)
2. Primeira Cruzada (1096-1099)
3. Segunda Cruzada (1147-1149)
4. Terceira Cruzada (1189-1192)
5. Quarta Cruzada (1202-1204)
6. Não oficial - Cruzada das Crianças (1212)
7. Quinta Cruzada (1217-1221)
8. Sexta Cruzada (1228-1229)
9. Sétima Cruzada (1248-1254)
10. Oitava Cruzada (1270)
11. Nona Cruzada (1271-1272)
Figura 5 - Cruzados do século 11 ao 13
Fonte: Wikimedia Commons
Desse modo, a principal consequência das cruzadas era que muitos dos nobres e
servos que se dedicaram a essa luta, morreram em batalha, diminuindo com isso o
problema de excesso de população que o feudalismo apresentava. Assim, pode-se dizer
que a Igreja Católica e os grandes senhores feudais se favoreceram das cruzadas para
diminuir a tensão populacional que ameaçavam suas terras.
Mesmo sem grande chance de sucesso, ricos cavaleiros, fundaram com o apoio da
Igreja Católica, poderosos grupos para lutarem nas cruzadas. Esses nobres se
autodenominavam os Soldados de Cristo e acreditavam que sua luta era santificada. Nesse
contexto, a Ordem de São João de Jerusalém (Hospitalários) e a Ordem dos Cavaleiros
Templários foram as mais poderosas. Em geral, elas protegiam os peregrinos, construindo
abrigos ao longo do caminho das rotas cruzadas para que os viajantes pudessem
descansar durante o percurso e favoreciam esses peregrinos com atendimento médico e
serviços de depósito e resgate de valores para se evitar assaltos.
Renascimento Comercial
Após o contato entre o ocidente e o oriente ter se reestabelecido, com o advento
das cruzadas, o interesse dos europeus pelos produtos típicos do continente asiático
(principalmente da Índia e China) cresceu bastante.
O que mais chamou a atenção dos europeus foi a rica variedade de temperos como
a pimenta do reino, o noz-moscada, o açafrão, gengibre, alecrim, o anis, o cravo, a canela
dentre outros, que além de dar novos sabores aos alimentos, ainda conseguiam preservar
algumas comidas por mais tempo sem estragar. Dessa forma, esse conjunto de produtos,
passou a ser chamado de especiarias.
Figura 6 – Especiarias indianas
Fonte: Wikimedia Commons
As especiarias, tornaram-se produtos de luxo na Europa, já que além das suas
funções alimentares elas também passaram a ser usadas na fabricação de remédios e
perfumes. Isso fez com que se tornassem muito desejadas pela nobreza e pelo alto clero
que pagavam por elas, altos preços. Dessa forma, alguns homens livres que viviam
marginalizados no sistema feudal, passaram a se dedicar ao comércio desses produtos,
trazendo dessas regiões da Ásia as especiarias e outras novidades para os europeus como
o papel, a seda e a pólvora.
Os lucros desses comerciantes de especiarias eram bastante altos e logo eles
tornaram-se mercadores ricos. Alguns investiram em embarcações para facilitar o
transporte das mercadorias e criaram feiras para comercializar seus produtos. Em torno
dessas feiras nasceram as primeiras cidades chamadas de Burgos e logo esses
comerciantes e alguns artesãos que passaram a viver nelas, foram chamados de
burgueses. Assim, nasceu uma nova classe na organização social da Baixa Idade Média,
a burguesia. Mas atenção, os burgueses por mais que tivessem capital e riquezas, jamais
pertenceriam a classe nobre que continuaria sendo a camada privilegiada dessa sociedade.
Saiba mais: Os comerciantes de especiarias mais ricos e famosos da Europa eram os
que habitavam as cidades de Gênova e Veneza (região norte da atual Itália). Eles eram
os detentores das rotas marítimas do mediterrâneo e estabeleceram entrepostos
comerciais em diversas regiões da Europa, interligando o ocidente ao oriente.
Figura 7 – Esquema das principais rotas marítimas de Gênova e Veneza
Fonte: Fundação Bradesco
Renascimento Urbano
Durante o feudalismo da Alta Idade Média, as antigas cidades ficaram
abandonadas, essa decadência do mundo urbano deu-se devido à violência e a miséria
desse período em que o comércio praticamente desapareceu no território europeu. Porém,
na Baixa Idade Média essa situação mudou, as cruzadas reestabeleceram o contato do
Ocidente com o Oriente e o lucrativo comércio das especiarias, fez renascer as cidades
como importantes centros mercantis.
Os burgos, no geral, nasciam em torno das feiras, nos “nós de estrada” (local onde
cruzavam muitas vias locais e que tinha uma grande circulação de pessoas). Conforme
essa cidade se estabelecia era construída uma muralha que a cercava para garantir a
segurança de seus habitantes. As moradias e os comércios eram extremamente simples e
praticamente não havia nenhum tipo de saneamento básico (água e esgoto). Apesar de
sujas e sujeitas a constantes epidemias essas cidades medievais passaram a ter prestígio
econômico e relativa autonomia com relação aos feudos.
Figura 8 – Cidade de Óbidos em Portugal construída aos moldes de um burgo medieval
Fonte: Wikimedia Commons
Mesmo assim, alguns burgos ainda mantinham vínculos com os mais poderosos
senhores feudais que controlavam os domínios territoriais em que elas se encontravam e,
por isso, nasceu entre os séculos 11 e 13, o movimento comunal, que tinha a intenção de
emancipar essas cidades por meio de um pagamento ao senhor feudal que a controlava,
ou por meio de luta armada. Esse fator fez com que muitos grupos burgueses apoiassem
a formação de monarquias. A consequência desse movimento foi, que ao se tornarem
independentes, essas cidades passaram a chamar-se comunas tornando-se autônomas.
Os burgueses de maior riqueza e influência ocupavam os principais cargos
administrativos dessas cidades, elaborando as leis que as regiam, criando tributos que
seriam cobrados dos cidadãos e realizando construções e obras para o seu
desenvolvimento urbano. Os burgueses que se dedicavam ao comércio, passaram a se
organizar em Guildas, que eram uma espécie de corporação, com o objetivo de garantir o
monopólio do comércio e controlar os preços das mercadorias.
Saiba mais: As diversas atividades artesanais dos burgos (sapateiros, alfaiates,
boticários, construtores, ferreiros, etc.) eram controladas, cada uma delas, por sua
Corporação de Ofício. Dessa forma, ela controlava os preços estabelecidos, a produção
e qualidade do trabalho dos artesões e garantia o monopólio das suas atividades para
determinados “mestres” (o artesão que detinha os conhecimentos plenos da atividade e
era dono da oficina e das ferramentas utilizadas no seu trabalho).
As Corporações de Ofício, também regulavam as relações entre o mestre artesão e os
trabalhadores que atuavam em sua oficina, como era o caso dos “companheiros”
(trabalhadores já com algum conhecimento que eram contratados por um salário) e dos
“aprendizes” (trabalhadores sem experiência que se submetiam a trabalhar em troca de
pouso e comida para aprender as técnicas de produção de um ofício).
Figura 9 – Oficina do ferreiro medieval
Fonte: RHBJ História
Guerra / Peste / Fome
A relativa pacificação da Europa Medieval, não durou por muito tempo, logo novos
conflitos e guerras vieram novamente marcar o cotidiano desse continente. Nesse contexto,
observa-se que as primeiras instabilidades surgiram, devido ao excesso de população
nobre (composta por cavaleiros armados com título de nobreza mas que não estavam
ligados a defesa de um feudo), que se organizavam em hordas compostas por mercenários
que lutavam em algumas batalhas em troca de uma recompensa e, também, tentavam
conquistar as terras mais vulneráveis que pertenciam a um determinado senhor feudal ou
a Igreja Católica.
As cruzadas, nesse sentido, contribuíram para a redução desse grupo de cavaleiros,
uma vez que muitos deles foram recrutados para lutar em nome do Papa no oriente e, por
fim, acabaram morrendo por lá. Porém, aqueles que sobreviveram regressaram à Europa
e acabaram se tornando “Cavaleiros Andantes”, ou seja, eles viviam vagando de um feudo
para outro, atuando em contratações temporárias que eram remuneradas de forma pontual
ao término dos serviços prestados. Deste modo, alguns senhores feudais poderiam
contratar temporariamente esses cavaleiros para reforçar seus exércitos para impor a sua
autoridade aos senhores feudais menores em um processo de centralização política, que
mais tarde, dará início a formação das monarquias nacionais.
Além das guerras, outro grave problema que a Europa enfrentou, durante a Baixa
Idade Média, foi a epidemia de Peste Negra que matou mais da metade de sua população.
Figura 8 – Bispo abençoando os enfermos da peste negra
Fonte: Wikimedia Commons
A peste negra, ou peste bubônica, originou-se no continente asiático, mais
precisamente na China, e a sua chegada à Europa, durante o século 14, está relacionada
às caravanas de comércio que vinham do oriente através do Mar Mediterrâneo. As
péssimas condições de higiene dos burgos foram propícias para o rápido espalhar dessa
doença, que pode ser transmitida pelas pulgas dos ratos, pelos objetos contaminados com
fluidos do doente e, também, pelo ar por meio de gotículas de saliva expelidas nos espirros.
Curiosidade: O nome Peste Negra foi dado devido aos enfermos apresentarem manchas
escuras pelo corpo, principalmente próximo as articulações. A morte, nesses casos era
relativamente rápida levando de 3 a 5 dias no máximo.
Para marcar as cidades e navios que tinham a presença da peste, era hasteada uma
bandeira preta. Isso fez com que muitos navios piratas usassem essa tática para se
aproximar de outras embarcações (que vinham ao encontro deles com o intuito de ajudar)
e saqueá-las.
Figura 9 – Navio pirata
Fonte: Fundação Bradesco
A falta de conhecimento médico para tratar a doença, fez com que as cidades com
suspeitas da infecção fossem colocadas em quarentena, ou seja, um isolamento de toda a
população por 40 dias. O número de mortos tornou-se tão grande que no auge da
propagação da peste, os cadáveres passaram a ser queimados ao invés de enterrados.
Dessa forma, a doença começou a ser controlada devido ao fogo eliminar os possíveis
focos de contaminação dessa doença.
Mudanças climáticas intensas fizeram que a produção de alimentos da Baixa Idade
Média caísse bastante. Muitas safras foram perdidas e a consequência da falta de
alimentos foi uma crise de fome generalizada que atingia principalmente as famílias de
menos recursos. Assim, o aumento da mortalidade, seja pelas guerras, pela peste, e pela
fome, fez com que a transição da Idade Média para a Idade Moderna fosse bem traumática.
ATIVIDADES
1. (ENEM-2006)
Os cruzados avançavam em silêncio, encontrando por todas as partes ossadas humanas,
trapos e bandeiras. No meio desse quadro sinistro, não puderam ver, sem estremecer de
dor, o acampamento onde Gauthier havia deixado as mulheres e crianças. Lá os cristãos
tinham sido surpreendidos pelos muçulmanos, mesmo no momento em que os sacerdotes
celebravam o sacrifício da Missa. As mulheres, as crianças, os velhos, todos os que a
fraqueza ou a doença conservava sob as tendas, perseguidos até os altares, tinham sido
levados para a escravidão ou imolados por um inimigo cruel. A multidão dos cristãos,
massacrada naquele lugar, tinha ficado sem sepultura.
J. F. Michaud. História das cruzadas. São Paulo: Editora das Américas, 1956 (com adaptações).
Foi, de fato, na sexta-feira 22 do tempo de Chaaban, do ano de 492 da Hégira, que os franj*
se apossaram da Cidade Santa, após um sítio de 40 dias. Os exilados ainda tremem cada
vez que falam nisso; seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos
aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espelham pelas ruas o sabre
cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas,
saqueando as mesquitas. (*franj = cruzados)
Amin Maalouf. As Cruzadas vistas pelos árabes. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1989 (com adaptações).
Avalie as seguintes afirmações a respeito dos textos, que tratam das Cruzadas.
I. Os textos referem-se ao mesmo assunto - as Cruzadas, ocorridas no período medieval mas apresentam visões distintas sobre a realidade dos conflitos religiosos desse período
histórico.
II. Ambos os textos narram partes de conflitos ocorridos entre cristãos e muçulmanos
durante a Idade Média e revelam como a violência contra mulheres e crianças era prática
comum entre adversários.
III. Ambos narram conflitos ocorridos durante as Cruzadas medievais e revelam como as
disputas dessa época, apesar de ter havido alguns confrontos militares, foram resolvidas
com base na ideia do respeito e da tolerância cultural e religiosa.
É correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
2. Sobre os burgos da Baixa Idade Média, explique:
a) Porque eles simbolizavam um local de maior liberdade e autonomia quando se
comparado a um feudo?
b) Porque as epidemias, como foi o caso da Peste Negra, se propagavam de forma muito
veloz nessas cidades?
3. Durante a Baixa Idade Média, as feiras nascidas nos nós de estrada constituíam
a) território sagrado para as práticas religiosas dos cruzados.
b) pontos de câmbio das diversas moedas medievais europeias.
c) locais de comércio de diversos produtos vindos do oriente.
d) regiões para comercialização da produção dos feudos apenas.
e) áreas de combate ao comércio que era visto como uma heresia.
LEITURA COMPLEMENTAR
Ordem dos Templários
Foi criada em 1118, em Jerusalém, uma Ordem de Cavalaria chamada de Ordem
dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, famosa como Ordem dos
Templários. Ela era composta por nove cavaleiros franceses, entre eles Hugo de Payens e
Geoffroy de Saint-Omer. Seu objetivo, pelo menos aparentemente, era velar pelas
conveniências e pela proteção dos peregrinos cristãos no território sagrado.
Os templários estavam, nesta época, cravados no núcleo central do território de
seus adversários, pois sua sede estava instalada em um edifício vizinho da Mesquita de Alaqsa, uma doação do rei Balduíno II, o que sobrara do Templo de Salomão. Este grupo
logo se consagrou, tornando-se poderoso nas esferas política, bélica e econômica. Ao
longo do tempo, esta Ordem obteve um sem número de territórios europeus, doados por
benfeitores cristãos os mais diversos, dominando, desta forma, grande parte da Europa.
A ordem dos Templários era uma espécie de sincretismo entre a fé monacal e a
coragem de guerreiros de alto nível, constituindo assim uma das mais destemidas e
poderosas congregações militares do período marcado pela presença das Cruzadas. Os
cavaleiros que fundaram a Ordem realizaram, na época, um voto de pobreza. A recémnascida instituição passava a ter como símbolo um cavalo montado por dois cavaleiros.
Dizem as lendas que, na primeira década de vida, os cavaleiros da Ordem teriam
achado sob as bases da sede um grande tesouro, documentos e outros objetos preciosos
que teriam lhes concedido um intenso poder. Outras histórias narram o suposto encontro
do Santo Graal, o cálice sagrado dos cristãos. As duas versões acreditam que os guerreiros
teriam transportado para Europa seus achados, e obtido do Papa Inocêncio II poderes sem
limites, em troca do tesouro conquistado.
Seja como for, os templários se desenvolveram com uma velocidade surpreendente,
tanto numericamente quanto em domínio político, somando terras e juros de empréstimos
concedidos a reis e nobres, bem como ao clero, semeando assim o futuro intercâmbio
bancário. Tanto poder e riqueza lhes angariaram rivalidades e temores, sentimentos que
no século 14 se concretizaram sob a forma de um complô armado pela cumplicidade entre
o rei francês Filipe IV e o Papa Clemente V. Os dois se uniram e teceram um plano cruel
contra os templários.
O Papa forjou acusações pretensamente inspiradas por uma visão divina, na qual
os monges guerreiros são declarados culpados de heresia, de difamação do nome de Deus,
bem como das coisas sagradas, de adorar outros deuses, de perversões sexuais e de
praticarem magia. O Pontífice alega ter obtido do Criador orientações para depurar o
Planeta, com a tortura dos cavaleiros templários, para assim convencê-los a confessar suas
pretensas heresias.
Figura 10 - Jacques de Molay
Wikimedia Commons in: Bibliotheque Nationale de France
Tudo corre como esperado. Do dia 12 para 13 de outubro de 1307, edifícios e todas
as sedes dos templários são invadidos, os soldados são presos, torturados e consumidos
nas fogueiras, como se fossem realmente hereges. O último grão-mestre desta ordem,
Jacques de Molay, ao ser executado em meio às chamas, teria lançado maldições a todos
os seus perseguidores, principalmente ao Rei, ao Papa e a um cavaleiro, Guilherme de
Nogaret, executor das ordens reais. Dentro de um ano, prazo estabelecido por Jacques
para o encontro de seus adversários com Deus, os três amaldiçoados morrem. Filipe IV não
consegue dar prosseguimento à sua descendência no trono, o que acarreta uma grave
crise, a qual culmina na Guerra dos Cem Anos.
O Rei tenta se apoderar dos tesouros da Ordem, mas estes desaparecem sem
nenhuma explicação. A esquadra dos templários, com a suposta riqueza, nunca mais é
vista. Alguns dizem que os tesouros foram parar em território português, outros acreditam
que eles estão ocultos na Inglaterra, outros ainda creem na Escócia como o melhor destino.
Muitos pesquisadores estabelecem até mesmo uma possível relação entre a maçonaria e
os templários.
SANTANA, Ana Lucia. Ordem dos Templários. Infoescola. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/historia/ordem-dos-templarios/>. Acesso em: 18 fev. 2016. 11h.
REFERÊNCIAS
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Universitária, São Paulo: Ática, 1989.
FRANCO JR, Hilário. As Cruzadas. Guerra Santa entre ocidente e oriente. São Paulo:
Moderna, 1999.
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<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2006/2006_amarela.pdf>.
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MAALUF, Amin. As cruzadas vistas pelos árabes. São Paulo: Brasiliense, 2001.
MELLO, José Roberto. As cruzadas. São Paulo: Ática, 1989.
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Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/medieval-knight-against-hillfull-crosses-92749723?src=1PlLRMV6OEyu5LFCTCKY3Q-3-46>. Acesso em: 03 fev.
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11h.
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<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Obidos_77c.jpg>. Acesso em: 18 fev. 2016. 8h.
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<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Spices_in_an_Indian_market.jpg>. Acesso em:
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Disponível
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<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Robin_shoots_with_sir_Guy_by_Louis_Rhead_1
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WIKIMEDIA COMMONS. Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém para os
cruzados.
Disponível
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<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Roman_du_Chevalier_du_Cygne_f176v_Pierre_
l%27Ermite.jpg>. Acesso em: 17 fev. 2016. 10h.
WILLIAMS, Paul. O guia completo das cruzadas. São Paulo: Madras, 2007.
GABARITO
1. Alternativa D.
Comentário: O item apresenta dois textos que tratam do mesmo assunto, mas por
perspectivas distintas (um mostra a visão do cristão e o outro de um muçulmano). As
afirmativas apresentadas discutem as possíveis interpretações sobre os textos, e assim, a
análise delas aponta que a afirmativa I e II estão corretas, enquanto que a afirmativa III está
errada, pois respeito e tolerância cultural e religiosa, não era uma prática comum nas
cruzadas.
2. Comentários:
a) Nos feudos, todos os habitantes (sejam eles nobres ou servos) estão submetidos a
autoridade do senhor feudal. Por exemplo, todos os servos devem seguir as regras ou leis
impostas por esse senhor e pagar os impostos e tributos que ele determinar. Já nas
cidades, os comerciantes e artesões enriquecidos (apesar da sua origem serva)
conseguiam manter alguns privilégios e controlar o poder local desses burgos. Muitos deles
desempenhavam papéis administrativos e tinham relativa autonomia nas suas decisões.
Eles estavam livres da maioria das obrigações servis (já que não estavam atrelados ao
domínio de um senhor feudal) e os tributos que eles pagavam geralmente eram revertidos
como investimentos para o desenvolvimento da sua cidade.
b) As cidades medievais eram extremamente sujas, devido à falta de uma estrutura mínima
de saneamento (água e esgoto) dessa forma, doenças transmitidas pela urina e fezes eram
comuns. A presença de muitos ratos que eram atraídos pela sujeira e restos de alimentos,
contribuíam para a propagação de inúmeras doenças que esse animal era vetor, como por
exemplo: a raiva, a leptospirose e a própria peste negra. Outro fator, é que os burgos eram
limitados ao espaço interno de suas muralhas, assim, conforme essas cidades cresciam,
as casas acabavam construídas muito coladas umas às outras de forma que se restringia
a circulação de ar e a entrada de luz solar nos ambientes. Esse fator insalubre favorecia a
propagação de fungos, lodo e bolor e todas as doenças que precisam de um ambiente com
umidade e pouca ventilação para se propagar. Além de todo esse ambiente hostil (que era
propício a propagação de doenças) nos burgos havia uma grande concentração de pessoas
que viviam amontoadas. Esse contato direto e próximo também favorecia a propagação
das doenças de indivíduo para individuo até atingir todos os moradores da cidade.
3. Alternativa C.
Comentário: As feiras eram locais onde se comercializavam principalmente os produtos
trazidos do Oriente como as especiarias. Por isso geralmente elas apareciam nos locais de
maior circulação de pessoas que pudessem comprar seus produtos. A partir delas, surgiram
algumas das grandes cidades comerciais (burgos) da Baixa Idade Média. Esse processo
de reaparecimento do comércio e das cidades deu-se o nome de Renascimento Comercial
e Urbano.
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