IDADE MÉDIA (BAIXA): TRANSIÇÃO FEUDO-CAPITALISTA CONTEÚDOS A crise do sistema feudal As Cruzadas Renascimento Comercial Renascimento Urbano Guerra / Peste / Fome AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS A crise do sistema feudal Ao longo da Idade Média, a Europa foi gradualmente se pacificando. As invasões bárbaras deixaram de existir e as guerras entre os feudos diminuíram com o avanço das alianças estabelecidas com as relações de suserania e vassalagem. A influência cultural da Igreja Católica que pregava a paz entre os reinos cristãos, também contribuiu para que os conflitos diminuíssem. Esse fator contribuiu para diminuir a alta mortalidade que marcava o feudalismo, principalmente dos nobres que lutavam nas cavalarias. Figura 1 - Redução dos conflitos entre os Feudos Fonte: Tomacco/shutterstock.com Um outro fator é que ao longo dos séculos que marcaram o sistema feudal, os camponeses desenvolveram melhores técnicas e tecnologias na produção de alimentos, o que diminuirá significativamente a fome entre os servos e, em consequência disso, a mortalidade desse grupo, que melhor alimentado, ficava menos sujeito a doenças. Dentre as técnicas desenvolvidas nessa época pode-se destacar: a mudança do arado que deixou de ser atado no focinho do animal para ser atado no seu torso. a mudança da divisão dos mansos de 2 para 3 partes, de modo que fosse possível cultivar de modo rotativo duas delas e deixar uma descansando para evitar o esgotamento do solo. a invenção das rodas d’água e dos moinhos de vento para mover as engenhocas do feudo sem necessitar da tração humana ou de animais. Em síntese, a pacificação da Europa e a melhoria nas técnicas de produção, geraram uma diminuição na mortalidade, quando comparado ao início da Idade Média, e a consequência disso foi um crescimento de população que desestabilizou a organização dos feudos. No caso dos servos, a falta de trabalho marginalizou parte desse grupo que foi expulso dos feudos e que passou a viver escondido em vilas no interior das florestas que existiam entre os feudos. Essa população, os vilões (servos que viviam nas pequenas vilas da floresta), sobrevivia da coleta de alimentos e de pequenos furtos aos viajantes. Curiosidade: A lenda de Robin Hood, conta a história de um herói mitológico inglês, que vivia em uma vila secreta no interior da floresta de Sherwood e, roubava dos ricos para dar aos pobres camponeses e artesões que eram explorados pelos pesados impostos. Figura 2 - Ilustração de Robin Hood Fonte: Wikimedia Commons Apesar de não ser uma história real, observa-se muitas características do período da Baixa Idade Média presentes na fábula. Por exemplo, a ideia do herói ser um vilão, ou seja, um excluído do sistema feudal que vivia dos recursos da floresta e de pequenos assaltos aos viajantes. Já com a nobreza o problema era outro. Como o nobre mantém seu título e seus privilégios, mesmo que não tenha recursos, o crescimento desse grupo acarretará em dois sérios problemas para o feudalismo. O primeiro deles é que os pais não tinham riquezas suficientes para o dote de todas as suas filhas e, por isso, aquelas que não se casassem, deveriam ser colocadas nos conventos, o que superlotaria a Igreja Católica de mulheres. O segundo é que, em tempo de paz, não era necessário manter grandes cavalarias e, com isso, muitos cavaleiros passam a ser errantes de feudo em feudo sem se inserirem socialmente. Nesse caso, os cavaleiros que não pertenciam a nenhuma cavalaria, passaram a serem vistos como uma ameaça, já que eles poderiam se organizar em hordas (grupos mercenários) para lutarem por recompensas ou invadir terras, principalmente as pertencentes a Igreja Católica (já que essas tinham menos chances de defesa). Desse modo, a relativa estabilidade do feudalismo começou a ser abalada pelos roubos dos vilões e pelos grupos armados de cavaleiros que ameaçavam as posses dos senhores feudais e da Igreja Católica. Cruzadas As cruzadas foram expedições militares realizadas pela Igreja Católica para expandir a fé cristã e combater os infiéis. Os objetivos que motivaram as diversas cruzadas foram vários, desde a busca pelo Santo Graal (cálice que Jesus celebrou a última ceia), passando pela busca do Templo de Salomão ou do Santo Sepulcro (catacumba de Jesus), até a reconquista da cidade sagrada de Jerusalém (controlada pelos muçulmanos). Na época, a Igreja Católica defendia entre seus fiéis que todos aqueles que lutassem nas cruzadas seriam perdoados de seus pecados e garantiriam um lugar privilegiado no paraíso após a sua morte. Dessa forma, ela atraiu grandes contingentes de nobres cavaleiros que se motivaram a lutar em nome da fé e outros tantos servos que acompanhavam a peregrinação como escudeiros (indivíduos que carregavam as armas dos nobres) e tratadores dos cavalos. Figura 3 - Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém para os cruzados Fonte: Wikimedia Commons Como o caminho do ocidente para o oriente era bastante longo, a viagem dos grupos cruzados levava vários dias. Assim, esses viajantes eram obrigados a fazer paradas durante o caminho. Esse fator fez com que mosteiros, hospedarias, estábulos e até mesmo pequenas vilas, surgissem para atender esses guerreiros peregrinos. As cruzadas tiveram pouco sucesso, na reconquista de Jerusalém. Um dos fatores que contribuíram para esse fracasso foi o pequeno número de cavaleiros, enviados em cada uma das cruzadas, quando comparado com o número de muçulmanos que habitavam essa região. Além disso, o conhecimento científico e tecnológico dos muçulmanos era bem maior que o dos católicos, o que lhes conferia vantagens nas batalhas. Figura 4 - Cavaleiro Cruzado Fonte: Nejron Photo/ shutterstock.com Saiba Mais: A seguir, encontra-se a lista das cruzadas organizadas durante a Baixa Idade Média. Preste atenção que houve duas cruzadas “não oficiais”, onde percebe-se uma clara estratégia de eliminar o excesso de população marginalizada. 1. Não oficial - Cruzada dos Mendigos (1096) 2. Primeira Cruzada (1096-1099) 3. Segunda Cruzada (1147-1149) 4. Terceira Cruzada (1189-1192) 5. Quarta Cruzada (1202-1204) 6. Não oficial - Cruzada das Crianças (1212) 7. Quinta Cruzada (1217-1221) 8. Sexta Cruzada (1228-1229) 9. Sétima Cruzada (1248-1254) 10. Oitava Cruzada (1270) 11. Nona Cruzada (1271-1272) Figura 5 - Cruzados do século 11 ao 13 Fonte: Wikimedia Commons Desse modo, a principal consequência das cruzadas era que muitos dos nobres e servos que se dedicaram a essa luta, morreram em batalha, diminuindo com isso o problema de excesso de população que o feudalismo apresentava. Assim, pode-se dizer que a Igreja Católica e os grandes senhores feudais se favoreceram das cruzadas para diminuir a tensão populacional que ameaçavam suas terras. Mesmo sem grande chance de sucesso, ricos cavaleiros, fundaram com o apoio da Igreja Católica, poderosos grupos para lutarem nas cruzadas. Esses nobres se autodenominavam os Soldados de Cristo e acreditavam que sua luta era santificada. Nesse contexto, a Ordem de São João de Jerusalém (Hospitalários) e a Ordem dos Cavaleiros Templários foram as mais poderosas. Em geral, elas protegiam os peregrinos, construindo abrigos ao longo do caminho das rotas cruzadas para que os viajantes pudessem descansar durante o percurso e favoreciam esses peregrinos com atendimento médico e serviços de depósito e resgate de valores para se evitar assaltos. Renascimento Comercial Após o contato entre o ocidente e o oriente ter se reestabelecido, com o advento das cruzadas, o interesse dos europeus pelos produtos típicos do continente asiático (principalmente da Índia e China) cresceu bastante. O que mais chamou a atenção dos europeus foi a rica variedade de temperos como a pimenta do reino, o noz-moscada, o açafrão, gengibre, alecrim, o anis, o cravo, a canela dentre outros, que além de dar novos sabores aos alimentos, ainda conseguiam preservar algumas comidas por mais tempo sem estragar. Dessa forma, esse conjunto de produtos, passou a ser chamado de especiarias. Figura 6 – Especiarias indianas Fonte: Wikimedia Commons As especiarias, tornaram-se produtos de luxo na Europa, já que além das suas funções alimentares elas também passaram a ser usadas na fabricação de remédios e perfumes. Isso fez com que se tornassem muito desejadas pela nobreza e pelo alto clero que pagavam por elas, altos preços. Dessa forma, alguns homens livres que viviam marginalizados no sistema feudal, passaram a se dedicar ao comércio desses produtos, trazendo dessas regiões da Ásia as especiarias e outras novidades para os europeus como o papel, a seda e a pólvora. Os lucros desses comerciantes de especiarias eram bastante altos e logo eles tornaram-se mercadores ricos. Alguns investiram em embarcações para facilitar o transporte das mercadorias e criaram feiras para comercializar seus produtos. Em torno dessas feiras nasceram as primeiras cidades chamadas de Burgos e logo esses comerciantes e alguns artesãos que passaram a viver nelas, foram chamados de burgueses. Assim, nasceu uma nova classe na organização social da Baixa Idade Média, a burguesia. Mas atenção, os burgueses por mais que tivessem capital e riquezas, jamais pertenceriam a classe nobre que continuaria sendo a camada privilegiada dessa sociedade. Saiba mais: Os comerciantes de especiarias mais ricos e famosos da Europa eram os que habitavam as cidades de Gênova e Veneza (região norte da atual Itália). Eles eram os detentores das rotas marítimas do mediterrâneo e estabeleceram entrepostos comerciais em diversas regiões da Europa, interligando o ocidente ao oriente. Figura 7 – Esquema das principais rotas marítimas de Gênova e Veneza Fonte: Fundação Bradesco Renascimento Urbano Durante o feudalismo da Alta Idade Média, as antigas cidades ficaram abandonadas, essa decadência do mundo urbano deu-se devido à violência e a miséria desse período em que o comércio praticamente desapareceu no território europeu. Porém, na Baixa Idade Média essa situação mudou, as cruzadas reestabeleceram o contato do Ocidente com o Oriente e o lucrativo comércio das especiarias, fez renascer as cidades como importantes centros mercantis. Os burgos, no geral, nasciam em torno das feiras, nos “nós de estrada” (local onde cruzavam muitas vias locais e que tinha uma grande circulação de pessoas). Conforme essa cidade se estabelecia era construída uma muralha que a cercava para garantir a segurança de seus habitantes. As moradias e os comércios eram extremamente simples e praticamente não havia nenhum tipo de saneamento básico (água e esgoto). Apesar de sujas e sujeitas a constantes epidemias essas cidades medievais passaram a ter prestígio econômico e relativa autonomia com relação aos feudos. Figura 8 – Cidade de Óbidos em Portugal construída aos moldes de um burgo medieval Fonte: Wikimedia Commons Mesmo assim, alguns burgos ainda mantinham vínculos com os mais poderosos senhores feudais que controlavam os domínios territoriais em que elas se encontravam e, por isso, nasceu entre os séculos 11 e 13, o movimento comunal, que tinha a intenção de emancipar essas cidades por meio de um pagamento ao senhor feudal que a controlava, ou por meio de luta armada. Esse fator fez com que muitos grupos burgueses apoiassem a formação de monarquias. A consequência desse movimento foi, que ao se tornarem independentes, essas cidades passaram a chamar-se comunas tornando-se autônomas. Os burgueses de maior riqueza e influência ocupavam os principais cargos administrativos dessas cidades, elaborando as leis que as regiam, criando tributos que seriam cobrados dos cidadãos e realizando construções e obras para o seu desenvolvimento urbano. Os burgueses que se dedicavam ao comércio, passaram a se organizar em Guildas, que eram uma espécie de corporação, com o objetivo de garantir o monopólio do comércio e controlar os preços das mercadorias. Saiba mais: As diversas atividades artesanais dos burgos (sapateiros, alfaiates, boticários, construtores, ferreiros, etc.) eram controladas, cada uma delas, por sua Corporação de Ofício. Dessa forma, ela controlava os preços estabelecidos, a produção e qualidade do trabalho dos artesões e garantia o monopólio das suas atividades para determinados “mestres” (o artesão que detinha os conhecimentos plenos da atividade e era dono da oficina e das ferramentas utilizadas no seu trabalho). As Corporações de Ofício, também regulavam as relações entre o mestre artesão e os trabalhadores que atuavam em sua oficina, como era o caso dos “companheiros” (trabalhadores já com algum conhecimento que eram contratados por um salário) e dos “aprendizes” (trabalhadores sem experiência que se submetiam a trabalhar em troca de pouso e comida para aprender as técnicas de produção de um ofício). Figura 9 – Oficina do ferreiro medieval Fonte: RHBJ História Guerra / Peste / Fome A relativa pacificação da Europa Medieval, não durou por muito tempo, logo novos conflitos e guerras vieram novamente marcar o cotidiano desse continente. Nesse contexto, observa-se que as primeiras instabilidades surgiram, devido ao excesso de população nobre (composta por cavaleiros armados com título de nobreza mas que não estavam ligados a defesa de um feudo), que se organizavam em hordas compostas por mercenários que lutavam em algumas batalhas em troca de uma recompensa e, também, tentavam conquistar as terras mais vulneráveis que pertenciam a um determinado senhor feudal ou a Igreja Católica. As cruzadas, nesse sentido, contribuíram para a redução desse grupo de cavaleiros, uma vez que muitos deles foram recrutados para lutar em nome do Papa no oriente e, por fim, acabaram morrendo por lá. Porém, aqueles que sobreviveram regressaram à Europa e acabaram se tornando “Cavaleiros Andantes”, ou seja, eles viviam vagando de um feudo para outro, atuando em contratações temporárias que eram remuneradas de forma pontual ao término dos serviços prestados. Deste modo, alguns senhores feudais poderiam contratar temporariamente esses cavaleiros para reforçar seus exércitos para impor a sua autoridade aos senhores feudais menores em um processo de centralização política, que mais tarde, dará início a formação das monarquias nacionais. Além das guerras, outro grave problema que a Europa enfrentou, durante a Baixa Idade Média, foi a epidemia de Peste Negra que matou mais da metade de sua população. Figura 8 – Bispo abençoando os enfermos da peste negra Fonte: Wikimedia Commons A peste negra, ou peste bubônica, originou-se no continente asiático, mais precisamente na China, e a sua chegada à Europa, durante o século 14, está relacionada às caravanas de comércio que vinham do oriente através do Mar Mediterrâneo. As péssimas condições de higiene dos burgos foram propícias para o rápido espalhar dessa doença, que pode ser transmitida pelas pulgas dos ratos, pelos objetos contaminados com fluidos do doente e, também, pelo ar por meio de gotículas de saliva expelidas nos espirros. Curiosidade: O nome Peste Negra foi dado devido aos enfermos apresentarem manchas escuras pelo corpo, principalmente próximo as articulações. A morte, nesses casos era relativamente rápida levando de 3 a 5 dias no máximo. Para marcar as cidades e navios que tinham a presença da peste, era hasteada uma bandeira preta. Isso fez com que muitos navios piratas usassem essa tática para se aproximar de outras embarcações (que vinham ao encontro deles com o intuito de ajudar) e saqueá-las. Figura 9 – Navio pirata Fonte: Fundação Bradesco A falta de conhecimento médico para tratar a doença, fez com que as cidades com suspeitas da infecção fossem colocadas em quarentena, ou seja, um isolamento de toda a população por 40 dias. O número de mortos tornou-se tão grande que no auge da propagação da peste, os cadáveres passaram a ser queimados ao invés de enterrados. Dessa forma, a doença começou a ser controlada devido ao fogo eliminar os possíveis focos de contaminação dessa doença. Mudanças climáticas intensas fizeram que a produção de alimentos da Baixa Idade Média caísse bastante. Muitas safras foram perdidas e a consequência da falta de alimentos foi uma crise de fome generalizada que atingia principalmente as famílias de menos recursos. Assim, o aumento da mortalidade, seja pelas guerras, pela peste, e pela fome, fez com que a transição da Idade Média para a Idade Moderna fosse bem traumática. ATIVIDADES 1. (ENEM-2006) Os cruzados avançavam em silêncio, encontrando por todas as partes ossadas humanas, trapos e bandeiras. No meio desse quadro sinistro, não puderam ver, sem estremecer de dor, o acampamento onde Gauthier havia deixado as mulheres e crianças. Lá os cristãos tinham sido surpreendidos pelos muçulmanos, mesmo no momento em que os sacerdotes celebravam o sacrifício da Missa. As mulheres, as crianças, os velhos, todos os que a fraqueza ou a doença conservava sob as tendas, perseguidos até os altares, tinham sido levados para a escravidão ou imolados por um inimigo cruel. A multidão dos cristãos, massacrada naquele lugar, tinha ficado sem sepultura. J. F. Michaud. História das cruzadas. São Paulo: Editora das Américas, 1956 (com adaptações). Foi, de fato, na sexta-feira 22 do tempo de Chaaban, do ano de 492 da Hégira, que os franj* se apossaram da Cidade Santa, após um sítio de 40 dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso; seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espelham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas. (*franj = cruzados) Amin Maalouf. As Cruzadas vistas pelos árabes. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1989 (com adaptações). Avalie as seguintes afirmações a respeito dos textos, que tratam das Cruzadas. I. Os textos referem-se ao mesmo assunto - as Cruzadas, ocorridas no período medieval mas apresentam visões distintas sobre a realidade dos conflitos religiosos desse período histórico. II. Ambos os textos narram partes de conflitos ocorridos entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Média e revelam como a violência contra mulheres e crianças era prática comum entre adversários. III. Ambos narram conflitos ocorridos durante as Cruzadas medievais e revelam como as disputas dessa época, apesar de ter havido alguns confrontos militares, foram resolvidas com base na ideia do respeito e da tolerância cultural e religiosa. É correto apenas o que se afirma em a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III. 2. Sobre os burgos da Baixa Idade Média, explique: a) Porque eles simbolizavam um local de maior liberdade e autonomia quando se comparado a um feudo? b) Porque as epidemias, como foi o caso da Peste Negra, se propagavam de forma muito veloz nessas cidades? 3. Durante a Baixa Idade Média, as feiras nascidas nos nós de estrada constituíam a) território sagrado para as práticas religiosas dos cruzados. b) pontos de câmbio das diversas moedas medievais europeias. c) locais de comércio de diversos produtos vindos do oriente. d) regiões para comercialização da produção dos feudos apenas. e) áreas de combate ao comércio que era visto como uma heresia. LEITURA COMPLEMENTAR Ordem dos Templários Foi criada em 1118, em Jerusalém, uma Ordem de Cavalaria chamada de Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, famosa como Ordem dos Templários. Ela era composta por nove cavaleiros franceses, entre eles Hugo de Payens e Geoffroy de Saint-Omer. Seu objetivo, pelo menos aparentemente, era velar pelas conveniências e pela proteção dos peregrinos cristãos no território sagrado. Os templários estavam, nesta época, cravados no núcleo central do território de seus adversários, pois sua sede estava instalada em um edifício vizinho da Mesquita de Alaqsa, uma doação do rei Balduíno II, o que sobrara do Templo de Salomão. Este grupo logo se consagrou, tornando-se poderoso nas esferas política, bélica e econômica. Ao longo do tempo, esta Ordem obteve um sem número de territórios europeus, doados por benfeitores cristãos os mais diversos, dominando, desta forma, grande parte da Europa. A ordem dos Templários era uma espécie de sincretismo entre a fé monacal e a coragem de guerreiros de alto nível, constituindo assim uma das mais destemidas e poderosas congregações militares do período marcado pela presença das Cruzadas. Os cavaleiros que fundaram a Ordem realizaram, na época, um voto de pobreza. A recémnascida instituição passava a ter como símbolo um cavalo montado por dois cavaleiros. Dizem as lendas que, na primeira década de vida, os cavaleiros da Ordem teriam achado sob as bases da sede um grande tesouro, documentos e outros objetos preciosos que teriam lhes concedido um intenso poder. Outras histórias narram o suposto encontro do Santo Graal, o cálice sagrado dos cristãos. As duas versões acreditam que os guerreiros teriam transportado para Europa seus achados, e obtido do Papa Inocêncio II poderes sem limites, em troca do tesouro conquistado. Seja como for, os templários se desenvolveram com uma velocidade surpreendente, tanto numericamente quanto em domínio político, somando terras e juros de empréstimos concedidos a reis e nobres, bem como ao clero, semeando assim o futuro intercâmbio bancário. Tanto poder e riqueza lhes angariaram rivalidades e temores, sentimentos que no século 14 se concretizaram sob a forma de um complô armado pela cumplicidade entre o rei francês Filipe IV e o Papa Clemente V. Os dois se uniram e teceram um plano cruel contra os templários. O Papa forjou acusações pretensamente inspiradas por uma visão divina, na qual os monges guerreiros são declarados culpados de heresia, de difamação do nome de Deus, bem como das coisas sagradas, de adorar outros deuses, de perversões sexuais e de praticarem magia. O Pontífice alega ter obtido do Criador orientações para depurar o Planeta, com a tortura dos cavaleiros templários, para assim convencê-los a confessar suas pretensas heresias. Figura 10 - Jacques de Molay Wikimedia Commons in: Bibliotheque Nationale de France Tudo corre como esperado. Do dia 12 para 13 de outubro de 1307, edifícios e todas as sedes dos templários são invadidos, os soldados são presos, torturados e consumidos nas fogueiras, como se fossem realmente hereges. O último grão-mestre desta ordem, Jacques de Molay, ao ser executado em meio às chamas, teria lançado maldições a todos os seus perseguidores, principalmente ao Rei, ao Papa e a um cavaleiro, Guilherme de Nogaret, executor das ordens reais. Dentro de um ano, prazo estabelecido por Jacques para o encontro de seus adversários com Deus, os três amaldiçoados morrem. Filipe IV não consegue dar prosseguimento à sua descendência no trono, o que acarreta uma grave crise, a qual culmina na Guerra dos Cem Anos. O Rei tenta se apoderar dos tesouros da Ordem, mas estes desaparecem sem nenhuma explicação. A esquadra dos templários, com a suposta riqueza, nunca mais é vista. Alguns dizem que os tesouros foram parar em território português, outros acreditam que eles estão ocultos na Inglaterra, outros ainda creem na Escócia como o melhor destino. Muitos pesquisadores estabelecem até mesmo uma possível relação entre a maçonaria e os templários. SANTANA, Ana Lucia. Ordem dos Templários. Infoescola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/ordem-dos-templarios/>. Acesso em: 18 fev. 2016. 11h. REFERÊNCIAS BATISTA NETO, Jônatas. História da Baixa Idade Média (1066-1453). Coleção Básica Universitária, São Paulo: Ática, 1989. FRANCO JR, Hilário. As Cruzadas. Guerra Santa entre ocidente e oriente. São Paulo: Moderna, 1999. INEP. Prova Amarela do Enem de 2006. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2006/2006_amarela.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2016. 15h. MAALUF, Amin. As cruzadas vistas pelos árabes. São Paulo: Brasiliense, 2001. MELLO, José Roberto. As cruzadas. São Paulo: Ática, 1989. NEJRON PHOTO IN: SHUTTERSTOCK. 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Já nas cidades, os comerciantes e artesões enriquecidos (apesar da sua origem serva) conseguiam manter alguns privilégios e controlar o poder local desses burgos. Muitos deles desempenhavam papéis administrativos e tinham relativa autonomia nas suas decisões. Eles estavam livres da maioria das obrigações servis (já que não estavam atrelados ao domínio de um senhor feudal) e os tributos que eles pagavam geralmente eram revertidos como investimentos para o desenvolvimento da sua cidade. b) As cidades medievais eram extremamente sujas, devido à falta de uma estrutura mínima de saneamento (água e esgoto) dessa forma, doenças transmitidas pela urina e fezes eram comuns. A presença de muitos ratos que eram atraídos pela sujeira e restos de alimentos, contribuíam para a propagação de inúmeras doenças que esse animal era vetor, como por exemplo: a raiva, a leptospirose e a própria peste negra. Outro fator, é que os burgos eram limitados ao espaço interno de suas muralhas, assim, conforme essas cidades cresciam, as casas acabavam construídas muito coladas umas às outras de forma que se restringia a circulação de ar e a entrada de luz solar nos ambientes. Esse fator insalubre favorecia a propagação de fungos, lodo e bolor e todas as doenças que precisam de um ambiente com umidade e pouca ventilação para se propagar. Além de todo esse ambiente hostil (que era propício a propagação de doenças) nos burgos havia uma grande concentração de pessoas que viviam amontoadas. Esse contato direto e próximo também favorecia a propagação das doenças de indivíduo para individuo até atingir todos os moradores da cidade. 3. Alternativa C. Comentário: As feiras eram locais onde se comercializavam principalmente os produtos trazidos do Oriente como as especiarias. Por isso geralmente elas apareciam nos locais de maior circulação de pessoas que pudessem comprar seus produtos. A partir delas, surgiram algumas das grandes cidades comerciais (burgos) da Baixa Idade Média. Esse processo de reaparecimento do comércio e das cidades deu-se o nome de Renascimento Comercial e Urbano.