Diário dos Açores ID: 21448424 22-07-2008 Tiragem: 3580 Pág: 21 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 24,29 x 20,53 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 Descoberta nova classe de bactérias no Mar Vermelho Uma equipa de investigadores de Portugal, Alemanha e Estados Unidos da América descobriu uma nova classe de bactérias no Mar Vermelho, totalmente desconhecida, anunciou ontem a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). A nova classe de microrganismos foi encontrada no fundo das fossas salgadas do Mar Vermelho, a 1.447 metros de profundidade, onde não há luz nem oxigénio. “É simplesmente um micróbio espampanante que dá a conhecer uma maneira de vida até agora desconhecida”, disse ontem à Lusa Milton Costa, um dos coordenadores do grupo português que participou na descoberta. A caracterização dos novos microrganismos foi concluída por uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), coordenada por aquele professor catedrático do Departamento de Bioquímica e por André Antunes, do Centro de Neurociências e Biologia Celular. “É como termos descoberto o primeiro mamífero, a primeira ave ou o primeiro insecto”, afirmou Milton Costa, sublinhando que a última classe de bactérias tinha sido descoberta há mais de 20 anos. Os microrganismos agora encontrados apresentam uma “morfologia estranhíssima, inédita, pois possuem tentáculos que dão origem às células descendentes”, referiu o investigador de Coimbra. Um dos micróbios descobertos foi designado pelos cientistas por E.T. (nome científico é Haloplasma contractile) e representa “um grupo de bactérias que nunca se imaginava que existisse, importantíssimo para o estudo da evolução das bactérias, porque tem uma linhagem evolutiva diferente de todas as existentes”, refere uma nota ontem divulgada pela FCTUC. Em termos de microbiologia fundamental, acrescenta a mesma nota, é “o micróbio mais estranho e interessante descoberto nas últimas duas décadas, completamente diferente do que se conhecia no mundo”. “Sendo o E.T. um micróbio do outro mundo é muito difícil percebêlo e por isso há muitos estudos a realizar, estudos que passam, por exemplo, por sequenciar o genoma do micróbio, caracterizar o seu ambiente, entre muitos outros”, adiantou Milton Costa. A mobilidade do ET está já a ser estudada por um investigador do Instituto Max-Planck, na Alemanha. A descoberta foi pu- blicada em Junho no Journal of Bacteriology - jornal de referência da Microbiologia, e, segundo a nota da FCTUC, “está a agitar a comunidade científica mundial”. Surge na sequência de uma investigação iniciada em 2004 com uma expedição ao Mar Vermelho, organizada por investigadores ale- mães e na qual participou André Antunes. Com recurso a uma sonda, os cientistas retiraram amostras da interface entre o solo e a salmoira da fossa abissal de Shaban, sendo a primeira vez que foram recolhidos organismos do fundo das fossas salgadas do Mar Vermelho. Posteriormente, os microorganismos foram isolados na Alemanha, com a colaboração de Robert Huber e do seu grupo da Universidade de Regensburg. Trata-se do “terceiro micróbio até agora encontrado naquela fossa de salmoiras a mais de mil metros de profundidade, com 25% de sal e muito enxofre”, declarou Milton Costa.