CIÊNCIA E MEIO AMBIENTE Prof. Dr. Anderson Orzari Ribeiro Tópico: A economia relacionada ao petróleo Objetivos: i) Identificar a cadeia de produção de bens a partir da extração e refino de petróleo ii) Discutir o impacto econômico, social e ambiental da cadeia de produção de derivados do petróleo iii) Discutir sobre a emissão de poluentes e o impacto ambiental dos combustíveis não renováveis O OURO NEGRO Porque o petróleo é tão valioso? Porque o petróleo é conhecido como “ouro negro”? Onde, além dos combustíveis (gás natural, gasolina, querosene, diesel), o petróleo é empregado? Quão dependente deste óleo é a sociedade moderna? Quais as consequências econômicas, sociais e ambientais desta dependência? Estas são algumas das questões que iremos discutir nesta aula. O Departamento Nacional de Produção Mineral do Brasil – DNPM (http://www.mme.gov.br/spg/) apresenta em seu site a seguinte definição para o termo “petróleo” (do latim petra oleum – “óleo de pedra”): uma substância oleosa, inflamável e menos densa que a água. Pode-se concluir, ao analisar os tópicos e textos apresentados no site, que o petróleo tem duas vertentes principais de aplicação: 1) como matéria prima para a produção de uma enorme gama de bens materiais e, 2) na geração de energia, como combustíveis para empresas, automóveis, aviões e outros utilitários móveis. Todo o processo referente ao uso do petróleo tem início na extração. Depois de extraído, o petróleo é refinado e seus componentes são separados. Neste estágio, são obtidos os gases, a gasolina, o querosene, o diesel, os óleos lubrificantes e o asfalto, além de outros. Cada um destes produtos é encaminhado para empresas que os empregam como fonte de energia ou os processam e transformam em uma enorme gama de produtos comercializáveis. Figura 1: Representação do processo e extração, refino e produção de produtos a partir do petróleo. Voltando um pouco na história do nosso país, para 1954, como resultado da campanha chamada “O Petróleo é nosso”, promovida pelo então presidente Getúlio Vargas, a PETROBRAS foi criada e a ela dada a exclusividade de exploração e refino do petróleo no território brasileiro. Ao longo dos anos, a empresa passou da produção de 2.700 barris (em 1954) para 2,1 milhão de barris por dia, graças aos investimentos tecnológicos da empresa e da descoberta de novas reservas. Mais recentemente, no então governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, entra em vigor a Lei no 9.478/97, que marca o fim do monopólio estatal brasileira na exploração, desenvolvimento, produção e transporte do petróleo. Outras petrolíferas do mundo passam então a ter uma concessão para explorar e retirar petróleo de algumas reservas brasileiras, pagando ao governo um imposto sobre a comercialização, além de alguns royalties, que é uma compensação paga pelo direito de exploração da terra. Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona uma nova lei, criando um novo modelo de exploração do petróleo, o modelo de partilha. Este modelo será o empregado para o petróleo a ser obtido em uma região marinha conhecida por camada do pré-sal, onde são estimadas reservas que alçam o Brasil a 6ª posição mundial em reservas deste “ouro negro” (http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/exploracao-e-producao-depetroleo-e-gas/pre-sal/). Ao longo destes anos, apesar das alterações na lei, a Petrobras investiu em tecnologia de extração e refino do petróleo, ampliando sua atuação para os setores de transporte, produção e venda de produtos oriundos desta matéria prima, tornando-se a 4ª maior empresa do mundo. Além da brasileira, outras petrolíferas como a Exxon Mobil, a Shell e a BP fazem parte do ranking das maiores empresas do planeta. E tudo isso graças a enorme gama de aplicação dos derivados do petróleo e, consequentemente, de sua importância estratégica e econômica. Para que possamos continuar a discussão sobre a importância do petróleo como matéria prima, vamos analisar o esquema abaixo. Figura 2: Esquema simplificado da cadeia produtiva petroquímica Pode-se constatar no esquema a origem de alguns dos produtos de nosso dia a dia. Como exemplo, o processo de produção do plástico PVC tem origem em um gás obtido no refino do petróleo, o “eteno”, que é reagido com o cloro obtido em um processo de eletrólise da água do mar (lembra da eletrólise, usada para separar o alumínio do oxigênio no processo descrito na aula 4? Neste caso, a eletrólise é empregada para separar o cloro do sódio na molécula de sal dissolvida na água do mar). As três empresas envolvidas no processo de produção do PVC estão representadas na Figura 3. Após sua produção, o plástico é vendido em forma de grãos para outras empresas que o processam e transformam em canos e outros objetos. Figura 3: Esquema das empresas envolvidas na produção do PVC Também, uma garrafa PET tem origem no composto “para-xileno” obtido no refino do petróleo. Uma indústria petroquímica, como a Petroquímica Suape (www.petroquimicasuape.com.br), transforma o composto “para-xileno” obtido do refino do petróleo em seu derivado “ácido tereftálico - PTA”. Outra empresa utiliza este ácido como matéria prima para a produção do polímero chamado “polietileno-tereftalato - PET”, que é vendido em forma de grãos ou de modelos (chips) para garrafas. Uma indústria de refrigerantes, por exemplo, transforma estes chips em garrafas de diferentes volumes instantes antes de envasar seu produto (Estes modelos (chips) de garrafas são aquelas em que se vendem temperos nos supermercados). Até o ano de 2010, o Brasil importava toda a quantidade de PTA que consumia e, consequentemente, todo o plástico PET que utilizava. Todo o volume do composto primário, oriundo do refino do petróleo, no caso o “para-xileno”, era vendido e todos os seus compostos de maior valor agregado (PTA e PET) eram comprados do exterior. Somente em 2011 o Complexo Petroquímico Suape começou a funcionar e a produzir o ácido e o polímero aqui no Brasil. É mais um exemplo do descaso que reinou no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 quando se trata de agregar valor aos produtos do nosso país. Outro complexo petroquímico (COMPERJ) está sendo construído pela Petrobrás no estado do Rio de Janeiro para agregar valor ao petróleo. Vejam o vídeo no youtube sobre o projeto (http://www.youtube.com/watch?v=5wxjUYestHo). Não deixem de assistir! O projeto tem como intuito agregar empresas para o processamento dos produtos oriundos do refino do petróleo, tentando reverter o processo até então em voga de vender o petróleo bruto e comprar os produtos industrializados, sempre com saldo negativo na negociação. O vídeo apresentado acima aborda algumas vantagens sobre as cadeias integradas de produção, como no caso do complexo petroquímico COMPERJ e SUAPE. Para exemplificar, duas outras cadeias de produção integradas que agregam valor aos produtos à medida que se avança no processo são, por exemplo, a cadeia formada por milho e soja rações carnes e também a formada por minério de ferro aço máquinas (cadeia esta que discutimos na aula passada!). Uma preocupação que salta aos olhos quando analisamos os projetos e dados apresentados nos textos é a questão da sustentabilidade. O vídeo sobre o complexo COMPERJ alega que o Brasil deverá consumir, nos próximos 30 anos, o dobro do que consome atualmente com relação aos derivados de petróleo. É de se esperar que o consumo de garrafas e derivados plásticos aumente na mesma proporção! E o que fazer com tamanho volume de embalagens após o uso? Será que, atualmente, existe um processo de reciclagem do plástico que seja eficiente? Quanto do material plástico usado no Brasil é reciclado e quanto vai para o lixo? Outro ponto importante a ser ressaltado no emprego do petróleo é seu uso como combustível. Do seu refino são obtidos gasolina, diesel e querosene que sustentam a imensa quantidade de veículos existentes hoje no mundo. (Eu disse em uma aula passada e vou repetir: existe uma previsão que em 2.050 o número de automóveis no planeta seja o dobro do número atual. E uma pequeníssima quantidade será movido à eletricidade ou etanol. A grande maioria vai depender da gasolina e do diesel para se mover, o que evidencia que a exploração e refino do petróleo só tende a aumentar!). Outro aspecto quando se trata de combustíveis é seu uso para gerar energia para as empresas. Os fornos e processos que necessitam de aquecimento na indústria são sustentados por gás natural (obtido na extração do petróleo), carvão mineral ou pelos combustíveis do refino do petróleo. O gráfico abaixo mostra a importância de cada um destes na geração de energia e na produção industrial. Figura 4: Combustíveis empregados na geração de energia para a produção de bens na indústria. Neste contexto, outra preocupação evidente é com a emissão de gases do efeito estufa, mais notadamente o gás carbônico, CO2. Já é praticamente consenso na comunidade científica que a quantidade emitida de CO2 oriunda de combustíveis fósseis (como os citados acima) está provocando um desequilíbrio térmico no planeta, que tende a se acentuar se não mudarmos nosso padrão de consumo. E as consequências deste desequilíbrio podem ser desastrosas, inclusive com possíveis cenários catastróficos que ameaçam seriamente a vida no planeta. É claro que há muita discórdia sobre o assunto, e muitos interesses obscuros também. Muita informação é manipulada, escondida ou propositalmente mal interpretada. É necessário um estudo mais profundo das diferentes opiniões para se posicionar. Alguns sites que apresentam dados e discussões interessantes sobre o assunto podem ser vistos em: http://www.agendasustentavel.com.br http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/ Diante de tudo isso que foi apontado, fica clara a importância econômica do petróleo. Muitos produtos (muitos mesmo!) são oriundos desta matéria prima, além de este ser o responsável por grande parte da energia empregada nas indústrias e nos automóveis. Diante disso, possuir reservas deste “ouro negro” pode ser de grande importância para o crescimento e desenvolvimento de uma sociedade. Isso se sua extração e processamento forem bem elaborados, levando em consideração o meio ambiente e a sustentabilidade de todo o processo. Um gráfico elaborado com dados de 2008, apresentado abaixo, mostra a distribuição das reservas de petróleo por região geográfica do mundo. Outro gráfico apresenta o consumo per capita desta matéria prima em cada país, ou seja, a quantidade média de petróleo consumido por cada habitante por ano em cada país. O primeiro ponto de destaque é que EUA e Canadá aparecem como grandes consumidores desta matéria prima, com mais de três toneladas de petróleo por ano por pessoa, mesmo possuindo apenas uma pequena participação nas reservas mundiais. Outro ponto de destaque é que o oriente médio é responsável por mais de 60% das reservas mundiais do petróleo. Com base nestes dados, como você acredita ser a relação entre os EUA e o oriente médio? Que ferramentas utilizam os EUA, país com enorme dependência da matéria prima, para impedir qualquer boicote ou aumento abusivo de preço que poderia ser definido pelos comandantes dos países do Oriente Médio? Seria mais fácil para os EUA manter seus interesses se estes países forem democráticos ou se continuarem como estados sob ditaduras ou governos religiosos? Bom, as guerras e rebeliões recentes podem nos dizer algo sobre isto. Um bom artigo sobre o assunto pode ser encontrado em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17520. No Brasil, com as recentes descobertas, temos petróleo “reservado” suficiente para nosso consumo e para vender para o mundo. Como iremos fazer isso? Venderemos petróleo bruto ou produtos de maior valor agregado? Quem deve se beneficiar com esta riqueza que está, “por acaso”, em nosso território e pertence a todos os brasileiros? E os problemas ambientais? Torceremos para que o consumo de petróleo e seus derivados continuem aumentando, para podermos ganhar dinheiro com o pré-sal e modernizar o país, ou trabalharemos para uma diminuição do consumo, para a reciclagem, o reuso, para energias limpas, e para que o petróleo do nosso solo se torne “sem utilidade”? O que fazer? Bom, acho que já escrevi demais sobre o tema. Fica para vocês as novas pesquisas... finalizo com uma frase interessante, que tem muito a ver com o tema discutido: "O dia em que o clima escapará do controle está próximo. Estamos chegando ao irreversível. Nessa urgência, não há tempo para medidas mornas. É hora de uma revolução em nossas consciências, em nossa economia e em nossa ação política" (Jacques Chirac, ex-presidente da França, em 02.02.2007). Mãos (e intelecto) à obra. Andersn OBS 1: Na atividade 2 desta aula a proposta é a seguinte: Elabore um esquema (uma “árvore”) relacionando os insumos do refino do petróleo necessários para a produção dos seguintes produtos: i) Borracha sintética SBR; ii) garrafa plástica de refrigerante (PET), iii) Isopor, iv) plástico PVC; v) sacola de supermercado (PEBD – Polietileno de baixa densidade) Em suma, correlacione os insumos originados no petróleo com os produtos listados acima. Use o modelo disponibilizado se facilitar para você. (Procure no “repositório” do curso um arquivo explicativo sobre como elaborar o esquema, ou a “árvore”. Você também pode desenhar um esquema (árvore) e fotografar e/ou obter um escâner e enviar o arquivo.) Bibliografia 1) DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral, Economia Mineral do Brasil, Coordenação: Antonio Fernando da Silva Rodrigues, Brasília-DF: DNPM, Brasil, 2009. 2) www.petrobras.com.br, acessado em março de 2011. 3) www.anp.gov.br, acessado em março de 2011. 4) www.planalto.gov.br