O SR. NILSON MOURÃO (PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desde 2006, o Brasil é autosuficiente em petróleo. Com efeito, graças a uma luta que já tem mais de 50 anos, hoje produzimos petróleo na escala necessária para suprir nossas necessidades. Entretanto, essa auto-suficiência, embora real, é apenas volumétrica. Explico. Em 2008, a Petrobrás exportou um recorde de 673 mil barris/dia de petróleo e derivados e a sua balança comercial registrou um superávit de 103 mil barris/dia. Em outras palavras, nossas exportações de petróleo e derivados superaram amplamente as nossas importações. Contudo, os dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) demonstram que, no mesmo ano, a nossa balança comercial do petróleo e derivados (incluindo gás natural) registrou um déficit financeiro de US$ 11, 9 bilhões. Como isso é possível? Metodologias contábeis a parte, há dois fatores reais básicos que explicam essa discrepância. Em primeiro lugar, o óleo produzido atualmente no Brasil é um óleo pesado de baixa qualidade e de refino mais difícil. Nosso país exporta esse óleo com um considerável deságio e importa óleo leve de boa qualidade, que é mais fácil de refinar, mas consideravelmente mais caro. Em segundo, o Brasil ainda tem uma baixa capacidade de refino e de produção de derivados de petróleo, o que o obriga a importar grandes quantidades desses caros produtos, especialmente quando a economia cresce. Foi o que aconteceu no ano passado. Com o grande aquecimento da sua economia, o Brasil foi obrigado a gastar US$ 5,14 bilhões somente com importações de óleo diesel. Isso indica que é preciso passar da auto-suficiência apenas volumétrica para a autosuficiência financeira, logística e tecnológica da nossa produção de petróleo e derivados. Obviamente, o pré-sal pode ser a grande ferramenta para conduzir a bom termo esse processo de independência. Além do grande volume das reservas, que irão, pelo menos, duplicar nossa capacidade de produção, é preciso considerar que o petróleo do présal é de excelente qualidade, com alto preço no mercado internacional. Há, porém, um problema. A depender do marco regulatório a ser implantado, o Brasil poderá ou não desenvolver a sua capacidade de 1 refino e produção dos estratégicos derivados de petróleo. As grandes empresas multinacionais de petróleo têm tecnologia e capacidade de refino e produção concentradas em suas matrizes. Elas não têm interesse em investir nessa área no Brasil. Querem apenas o acesso ao óleo bruto. Quem tem interesse em investir nessa área crucial para o Brasil é a Petrobrás. Por isso, a nossa empresa de petróleo está investindo na construção de cinco novas refinarias que nos permitirão dar um salto logístico na economia do petróleo. Contudo, se o modelo a ser adotado para a exploração do présal for o da concessão, como querem as multinacionais e os conservadores, é provável que esses estratégicos investimentos não tenham continuidade. É que as multinacionais, que estão muito capitalizadas, mas que não têm acesso a novas reservas, estão desesperadas para explorar o pré-sal. Como no modelo de concessão ganha o acesso às reservas aquela companhia que pagar mais, é evidente que elas jogarão muito pesado para desbancar a Petrobrás. Assim, a nossa companhia de petróleo, que não está capitalizada como as multis, teria de endividar-se e abandonar seus investimentos para conseguir ganhar algum leilão dos blocos do pré-sal, o que prejudicaria todo seu planejamento estratégico. Na prática, o modelo de concessão significaria, dessa forma, o comprometimento do processo da nossa auto-suficiência financeira, comercial logística e tecnológica na área do petróleo e derivados. Ora, não podemos ser apenas exportadores de óleo cru. Temos de construir toda uma cadeia produtiva baseada no petróleo que agregue valor, gere empregos e tecnologia e estimule outros segmentos da economia, como o da indústria de construção naval, por exemplo. Foi por isso que o governo optou pelo modelo de partilha e por tornar a Petrobrás a grande operadora das reservas. Optou-se por investir em nossa independência, garantindo-se, ao mesmo tempo, a participação lucrativa das multinacionais que quiseram aderir ao novo modelo. Ressalte-se que o modelo da partilha é adotado por todos os membros da OPEP. Coincidência? Atraso? Não. É que ele assegura o controle estratégico da reservas. Trocando em miúdos: com esse modelo podemos ditar o ritmo e o volume da exploração das reservas, de acordo com os interesses do país, pois o óleo permanece como propriedade da União, mesmo depois de retirado das jazidas. Não fosse a partilha, a OPEP não conseguiria modular a contento o preço 2 do petróleo no mercado internacional. Assim sendo, a opção posta nos parece clara: ou continuamos com o modelo da concessão, que nos converterá em meros exportadores de óleo bruto, ou adotamos o modelo de partilha, que nos possibilitará, em conjunto com outras medidas, dar um salto de qualidade em nosso desenvolvimento econômico e social. Mesmo com a retirada da urgência dos projetos, não podemos atrasar demasiadamente essa decisão. A pressa é dada pelo tempo de maturação dos investimentos que terão de ser feitos. Toda a licitação do pré-sal está paralisada até que façamos essa escolha estratégica. É conveniente que tudo esteja resolvido até o final deste ano, ou, no mais tardar, até o início do próximo ano. Pode parecer pouco tempo, mas, para quem pensa na construção de um grande país, é mais do que suficiente. Era o que tinha a dizer 3