alterações Da memória em pacientes com

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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI
FACULDADES IDEAU
ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA EM PACIENTES COM DEPRESSÃO
SANTOS, Kerolen Muara dos¹
[email protected]
DAMO, Flaviane¹
[email protected]
VIAPIANA, Vanisa Fante²
[email protected]
SOARES, Ângela Maria Berlando²
[email protected]
KLAJN, Susana²
[email protected]
MACHADO, Mariana Rodrigues²
[email protected]
RESUMO: Dados da literatura indicam que indivíduos com depressão apresentam dificuldades em recuperar
memórias. No entanto, a relação entre a especificidade da memória e a intensidade dos sintomas depressivos
ainda não está bem estabelecida. Nesse sentido, este estudo investigou possíveis alterações do funcionamento da
memória, sofridas por indivíduos com o transtorno da Depressão. Para tanto, aplicou-se uma entrevista
semiestruturada e o teste RAVLT, em uma amostra de dois participantes com diagnóstico de depressão. Os
resultados indicaram que podem existir alterações significativas na memória de indivíduos com essa patologia,
porém, essas alterações dependem de vários fatores que variam de acordo com o histórico do paciente.
Palavras-chave: memória; depressão; tratamento.
ABSTRACT: Published data indicate that patients with depression have difficulties in retrieving memories.
However, the relationship between memory specificity and intensity of depressive symptoms is not well
established. Therefore, this study investigated possible changes in the functioning of memory, suffered by
individuals with the disorder of depression. Therefore, applied is a semi-structured interview and RAVLT test on
a sample of two participants diagnosed with depression. Results indicated that there may be significant changes
in the memory of individuals with this disease, however, these changes depend on several factors which vary in
accordance with patient history.
Keywords: memory; depression; treatment.
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Acadêmicos do Curso de Psicologia do Instituto de Desenvolvimento Educacional de Passo Fundo.
Docentes do Curso de Psicologia do Instituto de Desenvolvimento Educacional de Passo Fundo.
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo buscou compreender o funcionamento da memória e como as
informações são armazenadas e recuperadas em nosso sistema cognitivo. Analisou-se o
Transtorno Depressivo Maior (DSM-5, 2014) e possíveis alterações da memória que pessoas
diagnosticadas podem apresentar.
O entendimento sobre o funcionamento da memória e as alterações neurocognitivas
presentes em pacientes depressivos foi elaborado de acordo com a bibliografia disponível da
área e com os conhecimentos das disciplinas estudadas no primeiro semestre de 2016, do
Curso de Psicologia da Faculdade IDEAU-Passo Fundo.
Tão importante quanto compreender a capacidade de armazenamento, é entender o
motivo pelo qual essas informações não são armazenadas, e consequentemente, esquecidas da
nossa memória. Para isso, torna-se necessário abordar o funcionamento e as características,
explicando os três tipos de memorização: memória sensorial, de curto e de longo prazo.
Sabe-se que a memória humana é limitada e nem todas as informações são
armazenadas e processadas para posterior recuperação. Trata-se de um processo natural em
que “descartamos” informações consideradas não relevantes. Mas qual a compreensão diante
da alteração entendida como não natural dessa capacidade de memorização?
Nesse contexto, procura-se estudar como a Depressão pode dificultar a codificação
dessas informações. Observa-se que o humor deprimido, a perda de interesse desmotivam o
paciente na procura por novos conhecimentos e desafios. E consequentemente vão se
afastando da família, amigos e demais atividades que antes eram realizadas.
Sendo a alteração da memória uma queixa relevante de pacientes em tratamento para
Depressão procura-se entender através de dados coletados a partir de entrevistas e o Teste de
Aprendizagem Auditivo Verbal (de Rey), qual a relação da patologia com alteração da
memória.
Partindo-se do entendimento de que a produção do conhecimento deve sempre ser
embasada pelo estudo científico, inicialmente apresenta-se uma revisão teórica sobre os
temas: memória e entrevista. Posteriormente, apresenta-se a metodologia, procedimentos de
coleta de dados, procedimentos éticos e de análise de dados. Finaliza-se com a apresentação
dos resultados obtidos com a pesquisa e a conclusão indicando qual foi nosso entendimento
sobre a correlação de memória e depressão.
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2 Referencial Teórico
A memória envolve a capacidade que o cérebro humano tem de aquisição,
armazenamento e recuperação de informações ao longo da vida. A aquisição acontece quando
recebemos a informação através de nossos sentidos, o armazenamento seria a forma de
guardar essas informações para em seguida poder recuperá-las quando necessário e a
recuperação seria o mecanismo pelo qual as recordações disponíveis se tornam acessíveis. O
funcionamento mnemônico adequado está relacionado a outras funções cognitivas como a
percepção e a atenção, que são fundamentais para que as informações sejam armazenadas
com êxito.
A memória está presente em grande parte das atividades humanas, inclusive no
simples fato de conversar e de realizar as tarefas diárias, pois é necessário ter a capacidade da
lembrança para executá-las. Ela quem forma a base do sentimento de identidade, orienta
nossos pensamentos e permite que possamos tomar decisões com base em nossas experiências
prévias, sendo assim, influencia nossas reações emocionais e nos permite aprender. A
memória humana tem a capacidade de contemplar o passado e planificar o futuro.
Existem três formas de memória que possibilitam o armazenamento de diferentes
informações: memória sensorial, memória de curto prazo e de longo prazo. Na memória
sensorial primeiramente as informações passam pelos órgãos dos sentidos e são armazenados
no sistema, se a pessoa não estiver atenta à informação, ela se perde numa fração de segundos,
e se prestar atenção, esses dados vão para a memória de curto prazo.
Já a memória de curto prazo é um tipo de memória imediata, limitada em tamanho e
duração, “[...] É um sistema de memória de capacidade limitada, que mantém informações na
consciência por um breve período de tempo [...]” (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005 pg.
218). Podendo ser esquecida ou se tornar memória de longo prazo. Esta memória de curto
prazo ou memória imediata também decide se a informação recebida é útil e se precisa ser
armazenada, verificando se existem outras informações parecidas em nossos arquivos de
memória e, por fim, se a mesma informação deve ser rejeitada quando já existe.
Memória de longo prazo refere-se a todas as lembranças que armazenamos em nosso
cérebro por minutos, horas ou muitos anos. Engloba diferentes módulos (ex: memória
procedimental, declarativa, semântica e episódica).
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Para Davidoff (2001), as lembranças que envolvem fatos emocionais tendem a ser
recuperadas com mais facilidade. E a memorização depende da importância que damos aos
fatos:
A MLP é moldada por numerosas influências, incluindo conhecimento anterior,
experiência posterior, incitamento, repetição, exposição, atenção, distribuição de
sessões práticas, organização, integração, outras táticas ativas e estados físicos
durante a codificação e a recuperação. (pg. 221-222).
De acordo com a autora, a repetição de informação diminui o esquecimento e nos
ajuda a armazenar com mais facilidade. Com isso vemos que é importante manter atenção e
organização, para facilitar esse processo. Desta forma, para a informação ser guardada na
memória de longo prazo é necessário repetí-la por algumas vezes de forma a processá-la mais
profundamente, caso contrário, ela poderá se perder mesmo estando reservada na memória de
curto prazo.
A perda de memória pode ocorrer por meio de diversos fatores, como por exemplo,
problemas na tireóide, carência de vitaminas, déficit de atenção, diabetes, entre outros.
Sintomas como estresse, ansiedade e depressão também podem causar alterações da mesma.
A depressão pode dificultar a atenção e a concentração, o que pode afetar a memória
significativamente. Estresse e ansiedade também podem ficar no caminho da concentração.
Quando você está tenso e sua mente está superestimulada ou distraído, sua capacidade de
lembrar pode sofrer. O estresse causado por um trauma emocional também pode levar ao
esquecimento.
2.1 ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA EM PACIENTES COM DEPRESSÃO
A depressão se caracteriza por afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a com
sentimento de tristeza e desmotivação, ela pode ocorrer por diversos fatores como:
desequilíbrio químico do cérebro, fatores genéticos, choque emocional. “[...] Uma das
psicopatologias mais diagnosticadas pelos profissionais da saúde mental na atualidade é a
depressão [...]” (YOUNG; BECK; WEINBERGER, 1999, pg. 15). Está se tornando cada vez
mais comum, vermos ou ouvirmos casos de pessoas que sofrem com esse transtorno, homens
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e mulheres, de qualquer faixa etária, podem ser atingidos, no entanto, segundo vários artigos
estudados, mulheres são duas vezes mais afetadas que os homens.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (2014) “[...] O
transtorno de humor depressivo geralmente inicia na idade adulta, e caracteriza-se por um
sentimento geral de abatimento, tristeza, desânimo, e infelicidade [...]” O paciente perde a
capacidade de resolver problemas diários, não consegue adaptar-se ao meio em que está
inserido, reforçando suas ideias de incapacidade e menos valia.
Trata-se de uma doença em que ocorrem alterações químicas referentes à transmissão
dos neurotransmissores no cérebro do paciente. Acredita-se que os problemas psicológicos e
sociais, não necessariamente ocasionem a patologia, mas sim, se tornam consequência da
mesma. Em pessoas com predisposição genética, os fatores externos podem ocasionar com
mais facilidade a patologia.
Pessoas com diminuição considerável dos neurotransmissores (noradrenalina e
serotonina), hormônios que auxiliam na comunicação entre neurônios do sistema límbico do
cérebro, (parte anatômica responsável pelas emoções e comportamento social), tem mais
chances de desenvolver a doença. Isso se deve porque esses hormônios dão sensação de
conforto, prazer, e bem estar.
A depressão acarreta uma série de danos na vida do paciente, dentre eles: prejuízos
pessoais, ocupacionais, econômicos e sociais. A depressão faz com que o indivíduo se sinta
desmotivado, ocasionando dificuldade de concentração, e no que diz respeito à aprendizagem,
o raciocínio fica mais lento, gerando com mais frequência o esquecimento.
Existem vários estudos que mostram que a depressão pode alterar o funcionamento da
memória. De acordo com Dr Ivan Baremboim:
A depressão altera estruturas do cérebro que estão envolvidas tanto na
regulação emocional quanto nas funções cognitivas como memória e atenção.
Uma destas regiões do cérebro é o hipocampo que chega a ter dimensões
reduzidas em casos de depressão crônica. (2005, pg.67)
Segundo Dr. Ivan, a diminuição do hipocampo (região do cérebro que é responsável
por converter a memória de curto prazo e guardá-la, transformando-a em memória de longo
prazo), pode acarretar vários problemas para o paciente, pois irá influenciar não só nas tarefas
cotidianas onde se precisa muito da memória, como também no comportamento do mesmo,
causando estresse e ansiedade por estar com uma função do cérebro comprometida.
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Também se fala sobre alterações referentes à memória correspondente com o humor e
memória autobiográfica supergeneralizada. Segundo Perguer (2006) “[...] Em linhas gerais, as
pesquisas sobre a memória na depressão têm sido direcionadas para dois grandes fenômenos:
a memória congruente com o humor e as memórias autobiográficas supergeneralizadas [...]”
A memória correspondente com o humor refere-se à tendência que os indivíduos têm
de recuperar lembranças cujo conteúdo emocional esteja de acordo com seu humor no
momento. Assim, “[...] indivíduos deprimidos acessam com maior facilidade memórias
negativas, da mesma forma que, indivíduos que estejam experimentando um humor eufórico
recuperam mais lembranças positivas [...]” (ELLIS; MOORE, 1999).
Já a memória autobiográfica é aquela em que as pessoas conseguem recordar
experiências ou episódios vividos no passado, e percebeu-se através de pesquisas e estudos
que a mesma também pode ser afetada.
Segundo os autores Baddeley (2009), Sheen e Kemp (2001) “[...] Uma característica
importante dos sujeitos com depressão é a dificuldade para recordar eventos específicos da
vida. [...]”
Segundo Eich e Macaulay (1994) “[...] Quando, na memória autobiográfica, as
lembranças são difusas e inespecíficas, diz-se que ela é supergeneralizada [...]”. A
supergeneralização (propensão a recordar o próprio passado de maneira demasiadamente
genérica e inespecífica) pode aumentar algumas disfunções identificadas em pessoas com
depressão, como por exemplo, dificuldades para imaginar o futuro.
Com base nos princípios éticos, a pesquisa e coleta de dados foi realizada, utilizandose de “[...] uma linguagem precisa, clara, inteligível e concisa, ou seja, devem-se restringir
pontualmente as informações que se fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de
consideração que não tenha relação com a finalidade do documento específico [...]” (Conselho
Federal de Psicologia, 2010).
Considerando o respeito à dignidade humana referente à proteção aos participantes nas
pesquisas científicas, conforme resolução n. 466: “todo o progresso e seu avanço devem
sempre respeitar a dignidade, a liberdade, a autonomia do ser humano.” Visando assegurar os
direitos e deveres dos participantes envolvidos. Fez-se necessário o consentimento esclarecido
do participante, explicando-se com linguagem clara e acessível, as formas de realização da
pesquisa. Garantindo-se confidencialidade e privacidade nas informações oferecidas.
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Tendo em vista a relação entre a depressão e déficits de memória este estudo tem
como objetivo avaliar as possíveis alterações sofridas por indivíduos com depressão e com
isso compreender melhor o funcionamento dessas patologias.
3 METODOLOGIA
O presente artigo foi realizado através de pesquisas com auxílio de livros que
fundamentassem sobre o tema em questão, e pesquisas em artigos. Ocorreu também a
orientação dos docentes da turma em diferentes momentos da execução do projeto durante o
semestre letivo, sendo executado com base na pesquisa da bibliografia existente.
3.1 Amostra
A pesquisa contou com 2 participantes, sendo 1 mulher e 1 homem, respectivamente
com idades de 35 e 29 anos. Os participantes residem em uma pequena cidade do Rio Grande
do Sul e possuem diagnóstico de depressão. Os mesmos concordaram em participar do estudo
mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
3.2 Instrumentos
Os instrumentos utilizados no estudo foram: entrevista semiestruturada, teste de
aprendizagem de Rey. Esses instrumentos estão descritos a seguir:
3.2.1 Entrevista Semiestruturada: esse tipo de entrevista contou com a utilização de um
roteiro previamente estabelecido com cinco perguntas abertas as mesmas estão a seguir
relacionadas.
ENTREVISTA
1. Como era sua memória antes de ser diagnosticado (a) com depressão?
2. Você percebeu alguma alteração após os sintomas depressivos começarem? Se
sim, Quais?
3. Sente alguma dificuldade em relação à memória no seu dia a dia?
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4. Você está em tratamento para depressão no momento? Que tipo de
tratamento? Se sim, percebeu alterações na memória?
5. Você se lembra de algum evento marcante em sua vida? Se sim, conte um
pouco sobre ele.
3.2.2 Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey (RAVLT): Tem como objetivo a
mensuração da memória recente, aprendizagem, interferência, retenção e memória de
reconhecimento. O teste consiste em uma tarefa de recordação de palavras. Primeiramente, o
examinador lê uma lista de 15 palavras (lista A) para o sujeito e é solicitado que ele repita
tantas palavras quanto lembrar. A lista de palavras é lida cinco vezes consecutivas, cada uma
seguida por um teste de lembrança realizado com o sujeito. Essa parte de recordação imediata
avalia a memória de curto prazo. Posteriormente, o examinador lê uma lista de interferência
(lista B), seguida do teste de lembrança dessa lista. Imediatamente após, pede-se ao sujeito
que recorde as palavras da lista A, sem reapresentá-la. Após 20 minutos, testa-se , mais uma
vez a lembrança da lista A. As duas vezes em que se pede para recordar a lista de palavras
sem apresentá-la anteriormente avalia a memória de longo prazo do participante. Finalmente,
o examinador lê uma lista de 50 palavras e solicita que o sujeito reconheça quais palavras
estavam presentes nas listas A e B.
3.3 Procedimentos de coletas de dados
As avaliações foram realizadas, individualmente com os entrevistados, na casa de
ambos, com duração de aproximadamente 45 minutos. Nas duas entrevistas, inicialmente, foi
lido e assinado o termo de consentimento enfatizando sobre o sigilo da entrevista. Na
sequência, perguntamos ao entrevistado se poderíamos gravar o processo para que não
houvesse erros de correção, ambos concordaram. Então passamos as orientações sobre
RAVLT . Fizemos uma parte do teste e explicamos ao entrevistado que fariamos uma pausa e
depois de 20 minutos continuaríamos. Então, começamos a entrevista, após ter transcorrido os
20 minutos realizamos a segunda parte do RAVLT. Concluímos agradecendo a participação e
colaboração dos sujeitos para a pesquisa.
3.4 Procedimentos éticos
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Conforme já mencionado no item 3.3, antes de ser realizada a aplicação da entrevista e
o RAVLT, fizemos a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde
enfatizou-se sobre o sigilo da entrevista, explicou-se que não seria exposta nenhuma
informação pessoal, que seriam usados nomes fictícios para descrever o que foi avaliado, foi
informado que a participação era voluntária e se o entrevistado não se sentisse à vontade,
poderia interromper o procedimento quando quisesse, todos esses passos seguindo a
rigorosidade dos procedimentos éticos para realização da pesquisa científica.
3.5 Procedimentos de análise de dados
As entrevistas gravadas foram transcritas na íntegra, para posteriormente serem
analisadas pelas pesquisadoras. Selecionaram-se os aspectos mais relevantes para o
entendimento do funcionamento da memória no dia a dia dos participantes. No que se referem
ao RAVLT, os dados coletados foram interpretados de acordo com as tabelas normativas do
instrumento.
Após a comparação dos resultados obtidos pelos participantes e dos resultados
esperados para sua idade e sexo (de acordo com a normatização do teste na população
brasileira). Calculou-se o Escore Z de cada participante. O Escore Z é uma maneira de
interpretar os escores dos testes a partir de um escore-padrão. Ele representa, em unidades de
desvio-padrão, a quantidade de pontuação que desvia da média da população brasileira,
possibilitando a identificação de déficit de memória. Seguem os valores numéricos
acompanhados dos níveis de desempenho:
Z ENTRE -1,0 E -1,5 DP - Sugestivo de alerta para déficit;
Z MAIOR OU IGUAL -1,5DP - Sugestivo de déficit;
Z ENTRE -1,6 E -2,0 - Sugestivo de déficit moderado a severo;
Z maior ou igual a -2,0 - Sugestivo de déficit de gravidade importante;
4. RESULTADOS E ANÁLISE
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4.1 Apresentação descritiva das entrevistas
Para manter o sigilo da identidade dos participantes foram usados nomes fictícios de
João e Maria para apresentar os resultados e transcrever as entrevistas apresentar os resultados
do teste aplicado.
Participante 1 - João
João tem 29 anos, é solteiro, trabalha como auxiliar administrativo, reside em uma
cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul. João contou que está em tratamento
medicamentoso com acompanhamento psiquiátrico para Depressão há dois anos.
Quando questionado sobre como considerava sua memória, João diz ter percebido
alterações significativas após ter o diagnóstico da depressão “às vezes quando estou
conversando com alguém tenho dificuldades em lembrar fatos ou coisas que aconteceram,
acabo contando a mesma história várias vezes, e também quando começo uma frase eu tenho
dificuldade de formular.” Também disse que percebe dificuldades no dia-a-dia, “dá um
branco” e não consigo lembrar coisas simples.”
Quando pedimos ao mesmo que relatasse sobre um evento marcante em sua vida,
contou sobre a descoberta de ser adotado, “eu tinha 5 ou 6 anos de idade e lembro que num
dia de manhã a minha mãe me chamou no quarto dela; meu pai sempre trabalhou como
motorista de caminhão e dificilmente estava em casa, naquele dia, estávamos sozinhos e aí eu
lembro como se fosse hoje, ela me chamou e explicou que minha mãe biológica não tinha
condições de me criar e que me doou quando eu era recém nascido.”
Participante 2 – Maria
Maria tem 35 anos, reside em uma cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul, é
casada e tem dois filhos. Ao ser questionada se está em tratamento para depressão atualmente,
relata que está em tratamento medicamentoso e faz psicoterapia.
Maria diz que antes de ser diagnosticada com depressão, ela se recordava com mais
facilidade dos compromissos, conseguia se organizar melhor nas tarefas do dia-a-dia.
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“Eu esqueço mais das coisas e fico chateada quando isso acontece”. E reforça dizendo
que com frequência esquece de palavras que parecem estar na ponta da língua. “Na hora de
falar não consigo lembrar”.
A entrevistada diz que sente dificuldade de memorização no seu dia-a-dia: “Eu percebo
que estou mais atrapalhada, e seguidamente tenho que sair a procura das coisas. Esses dias,
esqueci o celular na dispensa.” Maria relata se lembrar de dois eventos marcantes em sua
vida, o nascimento dos seus dois filhos. Descreveu o fato “Os dois foram por cesárea pelo
Dr. Enio aqui no hospital em Casca. Me lembro como se fosse hoje.”
4.2 Apresentação de resultados do RAVLT
Após aplicação do teste de Aprendizagem Auditivo verbal de Rey, foram realizados os
cálculos necessários com auxílio das docentes da turma, realizados conforme as médias
normativas para o mesmo gênero e faixa etária para chegar aos resultados mostrados a seguir:
Participante 1 – João
RESULTADO
MÉDIA NORMATIVA
ESCORE Z
Classificação
A1
7
6,5
0,2941
Adequado
A2
8
8,7
0,4117
Adequado
A3
10
10,4
0,1904
Adequado
A4
10
11,4
0,6086
Adequado
A5
9
12,5
2,6923
Adequado
A6
9
10,6
-1
A7
8
10,5
1,6666
Alerta para
déficit
Adequado
B1
LOT (Taxa de
aprendizagem)
4
5,1
1,2222
Adequado
TOTAL
65
LISTA
Abaixo da
média
9
6,1
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Participante 2 - Maria
LISTA
A1
RESULTADO
5
MÉDIA NORMATIVA
6,2
ESCORE Z
0,8
A2
6
8,9
-1,61
A3
7
10,5
-1,66
A4
4
12,0
-4,21
A5
A6
5
5
13,0
5,0
-5,33
1
A7
5
11,0
-3,77
B1
LOT (Taxa de
aprendizagem)
6
10,7
-4,38
TOTAL
43
2
Classificação
Adequado
Sugestivo de
déficit
Sugestivo de
déficit
Sugestivo de
déficit
Sugestivo de
déficit
Adequado
Sugestivo de
Défict
Sugestivo de
déficit
Abaixo da
média
2
4.3 Análise interpretativa
Observou-se em ambos os casos que o controle para possíveis recaídas de crises
depressivas se dá pelo tratamento medicamentoso e psicoterápico, auxiliado por
acompanhamento médico e psicológico. Ambos os participantes relataram dificuldade de
memorização e alteração na atenção, trazendo prejuízos na realização de tarefas diárias em
decorrência da patologia.
Ao ser questionado de como considera sua memória depois de diagnosticado com
depressão e início do tratamento, João, relata sentir dificuldade em lembrar palavras e
formular frases. “Às vezes quando estou conversando com alguém tenho dificuldades de
lembrar fatos ou coisas... e também quando começo uma frase tenho dificuldade de formular.”
Dificuldades estas que estão relacionadas à memoria semântica de longo prazo. Os resultados
do RAVLT confirmam tais dificuldades. Os escores de João foram em sua maioria adequado,
de A1 a A5 (memória de curto prazo) foram todos dentro do esperado para sua idade e sexo,
ouve apenas alerta de déficit no escore de A6 (memória de longo prazo, de forma mais
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recente). O índice LOT (taxa de aprendizagem) também foi baixo, o que também nos mostra
dificuldades para guardar informações na memória de longo prazo.
A participante Maria relata que antes do diagnóstico, se recordava com mais facilidade
dos compromissos e conseguia se organizar melhor nas tarefas do dia-a-dia. Observou-se
durante as entrevistas e aplicação do teste, uma considerável lentidão no processamento
cognitivo, sendo necessário reformular as questões para que houvesse uma maior
compreensão.
Maria relata perceber mudanças em sua memória após os sintomas depressivos. “Eu
esqueço mais das coisas... na hora de falar não consigo lembrar”. Refere-se as palavras que
parecem estar na “ponta da língua”. No entanto, no caso de Maria, o RAVLT demonstra
dificuldades tanto de memória de curto prazo (resultados de A1 a A5) quanto de longo prazo
(A6 e A7). Também obteve um índice LOT bem abaixo do adequado.
Segundo Neto (2014) “[...] Pacientes em tratamento para depressão podem apresentar
comprometimento específico na evocação de informações organizadas por suas categorias
semânticas, quando comparados com indivíduos sem patologia depressiva [...]”
Cabe ressaltar que a avaliação negativa que os participantes fazem de sua memória
poderia também estar relacionada à sintomatologia depressiva, que faz com que o paciente
valorize os aspectos negativos de si mesmo e do mundo. Apesar dos sintomas da Depressão
estarem controlados com tratamento medicamentoso, a medicação utilizada também poderia
ocasionar dificuldades na codificação dessas informações. Existem estudos que demostram
essa alteração no que diz respeito ao uso dos benzodiazepínicos, conhecidos como
ansiolíticos, os conhecidos remédios de “tarja preta” que podem acarretar prejuízos no que
diz respeito à memória de curto prazo, também conhecida como memória de fixação,
necessária para adquirir novos conhecimentos .
Estudos demostram que antidepressivos utilizados por longo período de tempo podem
se tornar vilões para a memória. Os calmantes e remédios para dormir, bem como seu uso
indiscriminado, e tendo em vista, à medida que o paciente vai envelhecendo, cada vez mais
vai sendo difícil eliminar do organismo. Sendo desta forma, indispensável o acompanhamento
médico.
Ao serem questionados de lembranças em suas vidas, os dois participantes resgataram
com facilidade situações que lhes foram marcantes. O que permitiu compreender que
realmente as lembranças que envolvem fatos emocionais tendem a ser recuperadas com mais
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facilidade, conforme já havia sido mostrado teoricamente. As situações de vida que foram
armazenadas na memória de longo prazo denominadas como memórias episódicas também
foram relatadas sem dificuldades.
Referente à realização do teste, observou-se que ambos relataram dificuldades de
memorização, e os mesmos apresentaram índice LOT abaixo da média, isso significa que eles
não conseguiram reter as palavras e armazenar na memória de curto prazo. Também indica
que eles tiveram um índice de aprendizagem baixo, comparado a outras pessoas testadas com
mesmo gênero e faixa etária.
5 CONCLUSÃO
A problemática apresentada foi abordada nesse presente trabalho sob as visões
anatômicas e neuropsicológicas, possibilitando maior entendimento referente à alteração da
memória em pacientes que apresentam depressão. O tratamento de um paciente depressivo é
bastante complexo, devem-se considerar as dificuldades emocionais e também cognitivas
acarretadas pela patologia.
A avaliação neuropsicológica tem um papel importante para o tratamento da
depressão. Este tipo de avaliação tem por objetivo identificar as potencialidades e dificuldades
referentes à atividade cognitiva do paciente. Para tanto, utiliza diferentes técnicas, tais como
as entrevistas com pacientes e familiares e testes neuropsicológicos.
Se tratando de pacientes deprimidos avaliar as funções cognitivas, em especial a
memória, pode auxiliar no diagnóstico clínico e no planejamento de intervenções adequadas.
Sendo assim, o entendimento quanto às alterações de memória de cada paciente com
depressão pode auxiliar o profissional psicólogo ou psiquiatra na condução do tratamento para
depressão.
Percebe-se a importância de alinhar resultados de testes psicológicos com entrevistas
para uma melhor compreensão do quadro existente. O teste nos possibilita avaliar o paciente
baseando-se em dados científicos e estatísticos que nos mostram como ele está, comparado ao
restante da população. E por outro lado, a entrevista nos possibilita compreendê-lo,
identificando como ele se vê, e assim compreender melhor a situação do mesmo.
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REFERÊNCIAS
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