ANO VIII E NÚMERO 27 DITORIAL Este Boletim Epidemiológico é o primeiro a ser publicado após a vigência da nova Portaria que elenca os agravos de notificação compulsória no território nacional. Por esta razão, convém ressaltar que foram inseridos novos agravos na Tabela dos Casos Notificados e Investigados pela Equipe de Controle Epidemiológico (ECE) da página sete. Esta mudança se deve a publicação no Diário Oficial da União nº 135, de sexta-feira dia 15 de julho de 2005, da Portaria nº 33, de 14 de julho de 2005, que inclui novas doenças de notificação compulsória e que se encontra publicada, na íntegra, na última página deste boletim. Foram retiradas as notificações das Doenças Sexualmente Transmissíveis, exceto aids e sífilis em gestante, por não constarem na atual Portaria. Tendo em vista a grande incidência da Varicela em Porto Alegre este agravo foi mantido como de notificação no município. A notificação da Caxumba foi mantida para a manutenção da série histórica e monitoramento dessa doença imunoprevinível. Manteve-se, também, a notificação e investigação dos Acidentes com Animais Peçonhentos e Atendimento Anti-rábico por serem de interesse nacional, estadual e municipal e estarem diretamente relacionados à vigilância epidemiológica da raiva e ao controle de imunobiológicos. Desde 1999 a ECE realiza investigação dos eventos adversos pós-vacinais no município. No entanto, esse não constava nas portarias anteriores. Passa a fazer parte como evento de notificação a partir da data de publicação da Portaria nº 33 de 14/07/05. A grande responsabilidade de gerir o Programa Nacional de Imunizações no âmbito municipal levou a ECE, através do seu Núcleo Imunizações, a realizar o programa de Supervisão de Salas de Vacinas. O artigo específico deste tema contém os objetivos e metodologias deste tão importante programa. Os artigos Meningites Virais em Porto Alegre: comportamento incomum em 2005 e Análise comparativa do ingresso de casos novos de tuberculose ocorrido na rede ambulatorial e hospitalar de Porto Alegre nos anos de 2003 e 2004 são exemplos claros de qualidade e de aprimoramento da informação em saúde resultante de investigações epidemiológicas mantidas ao longo do tempo de forma contínua, eficiente e criteriosa. SETEMBRO DE 2005 SUPERVISÃO DE SALAS DE VACINAS: FUNÇÃO TÉCNICA DE CUNHO PEDAGÓGICO Rosane Simas Gralha Enfermeira /supervisora de salas de vacinas Núcleo de Imunizações/ECE/CGVS/SMS Em janeiro de 2005, foi implantado na Equipe de Controle Epidemiológico o trabalho de Supervisão de Salas de Vacinas. Esta atividade, preconizada pelo Ministério da Saúde para todos os municípios do Brasil, busca realizar supervisão sistemática nas salas de vacinas para verificar in locus, com as equipes da rede básica de saúde de POA, o cumprimento das normas do PNI. Estas normas visam garantir a conservação adequada dos imunobiológicos, assim como, reforçar junto à equipe a importância da informação gerada na sala de vacina, possibilitando o planejamento de ações estratégicas que visem a manutenção do controle das doenças imunopreviníveis. Este artigo propõe-se a dar ênfase aos objetivos e a metodologia que vem sendo desenvolvida na execução desta atividade do NI/ECE. Objetivos da Supervisão: conhecer o ambiente de trabalho e a organização do processo de trabalho das equipes nas salas de vacinas; orientar os trabalhadores da sala de vacinas quanto a importância dos registros; qualificar o sistema de registros; discutir a cobertura vacinal das populações da área de atuação da UBS; orientar aspectos técnicos do programa de imunizações; fortalecer o papel do vacinador na apropriação do conhecimento que permita a qualificação de sua prática; estimular a equipe de saúde para o conhecimento e tradução dos dados que produzem informação em saúde; identificar o impacto causado pelas suas ações na comunidade adscrita. Metodologia: A função de supervisão de salas de vacinas busca observar as condições atuais de funcionamento da sala de imunizações das Unidades Básicas de Saúde e o preparo dos funcionários que nela atuam, a fim de identificar as dificuldades enfrentadas pela equipe de saúde e os problemas relacionados à estrutura física e à assistência prestada aos usuários dos serviços. A coleta de dados pela supervisão dá-se através de uma entrevista semi-estruturada e na observação sistemática da sala de vacinas e do vacinador escalado para atuar na sala no dia da visita. Verificou-se que o turno da tarde era mais favorável para o enfermeiro e o vacinador dispensarem um tempo para responder ao instrumento (questionário) permitindo assim, uma reflexão sobre o seu processo de trabalho. Cabe salientar que a supervisão constitui meta do serviço de imunização do município de POA e o instrumento utilizado é aquele preconizado pelo Ministério da Saúde. Este inclui dados de identificação da UBS, o horário de funcionamento, quais vacinas são aplicadas naquele serviço e a relação de funcionários, especificando a formação e a capacitação daqueles que atuam na sala de vacinas. O questionário possui blocos de perguntas sobre aspectos a serem observados, abaixo descritos: Aspectos gerais da sala de vacina: sala de vacina com tamanho mínimo de 6m², de cor clara e fácil higienização, com piso resistente, com a instalação de uma pia e bancada seca e limpa para o acondicionamento de seringas e agulhas de uso diário. Também é observada a proteção contra luz solar direta, as condições de conservação e limpeza da sala, assim como a temperatura ambiente em torno de 18ºC e 20ºC. Verifica-se a presença ou não de objetos de decoração, a distribuição funcional dos mobiliários e a apresentação e organização dos impressos e materiais de expediente. Observa-se ainda se há horário contínuo de vacinação durante o expediente e se a sala é de uso exclusivo para este fim. Procedimentos técnicos: Avalia-se o vacinador na observação ou não da idade e intervalo entre as doses, a orientação e investigação de eventos adversos à dose anterior, o aprazamento e validade da vacina tanto na carteira quanto na abertura dos frascos, o acondicionamento e descarte do material perfurocortante. Também verifica-se a organização do fichário, se há busca de faltosos, bem como se a quantidade de seringas, agulhas e vacinas recebidas são suficientes para a Unidade. 02 Rede de frio: no refrigerador, observa-se a capacidade, conservação, limpeza (processo de degelo), composição da rede de frio e o funcionamento do mesmo, assim como, o uso exclusivo deste para imunobiológicos. Também verifica-se a existência e uso correto do termômetro digital, e a organização interna dos imunobiológicos quanto ao lote e validade nas respectivas prateleiras. Sistema de informação - SI: observa-se a existência de impressos necessários para os registros de doses aplicadas, o movimento de imunobiológicos utilizados e notificação de agravos. Em relação aos manuais de normas técnicas observa-se a localização (acesso) dos mesmos e se o vacinador os utiliza para suporte nas situações de dúvida. Também avalia-se, junto ao vacinador e o enfermeiro, o conhecimento ou não da cobertura vacinal e da taxa de abandono na área de atuação de seu serviço, trabalhando assim o impacto das ações na comunidade atendida. Eventos adversos pós vacinação: avalia-se o conhecimento sobre as vacinas e seus respectivos eventos adversos, a fim de avaliar a conduta do servidor frente a esta informação (notificação, investigação). Imunobiológicos especiais: também avalia-se o conhecimento prévio da existência do CRIE (Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais), das indicações e fluxos dos mesmos. Vigilância epidemiológica: verifica-se o conhecimento ou não da ocorrência de casos de doenças imunopreviníveis na área de atuação, a participação em vacinação de bloqueio e a notificação de casos suspeitos de doenças de notificação obrigatória. Educação em saúde: observa-se se há parcerias com outros segmentos sociais e também se ocorrem ações extra-muro para divulgação das vacinas. Nestes blocos há questões que apresentam pontos críticos e são passíveis de escore com a seguinte classificação: ideal 100% a 90%, bom 89% a 76%, regular 75% a 50% e insuficiente <50%. A supervisão de salas de vacinas dá-se com cunho pedagógico, onde o ensinar e o aprender partem do que acontece na realidade do que gerou o problema, buscando, desta forma, adotar medidas oportunas para retificar as deficiências detectadas. Nesta linha pedagógica a empatia entre supervisor e a equipe supervisionada se estabelece dizimando mal entendidos a respeito da função e desempenho desta ação. BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005 Considerações: O projeto de Supervisão de Salas de Vacinas pretende uma aproximação mais sistemática do Núcleo de Imunizações e da Equipe de Epidemiologia com as Unidades Básicas de Saúde da rede municipal de Porto Alegre. O trabalho que vem sendo desenvolvido tem provocado momentos de reflexão e análise dos processos de trabalho imbricados, vislumbrando assim um engajamento de todos na busca de tecnologias que possam dizimar as dúvidas e as causas da baixa cobertura vacinal. Referências Bibliográficas: BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Geral do Programa de Imunizações - Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações - Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão de Salas de Vacina .Manual do Usuário, Rio de Janeiro, 2003. internet: www.datasus.gov BRASIL. Ministério da Saúde. Revista do Sistema Único de Saúde do Brasil Epidemiologia e Serviços de Saúde Vol.12 - Nº3 - julho/set de 2003. MENINGITES VIRAIS EM PORTO ALEGRE: COMPORTAMENTO INCOMUM EM 2005 O primeiro semestre de 2005 foi marcado por um comportamento incomum das meningites virais no município de Porto Alegre. No período de 30 de abril a 28 de junho foram investigados três surtos da doença em escolas infantis da cidade. Em seus 11 anos de atuação na vigilância das meningites, a Equipe de Controle Epidemiológico/CGVS havia investigado apenas um surto de meningite viral, em escola infantil, ocorrido no ano 2000. O quadro a seguir resume as informações levantadas na investigação dos casos de meningite viral vinculados aos três surtos. Além da investigação epidemiológica destes surtos, as equipes de Vigilância de Serviços de Interesse a Saúde e de Vigilância das Águas, que integram a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) realizaram a avaliação dos ambientes físicos e dos procedimentos de rotina nos estabelecimentos envolvidos. Através da investigação epidemiológica evidenciou-se que, no período de detecção dos casos de meningite viral, estavam ocorrendo casos de febre acompanhados de diarréia e ou dor abdominal em outros alunos das três escolas e, em uma das escolas, os sintomas afetaram também adultos. Na revisão de procedimentos em relação ao ato de cuidar das crianças, foram detectadas algumas situações facilitadoras para a transmissão de enteroviroses. Com o objetivo de identificar o vírus envolvido nos surtos em investigação, foram coletadas 15 amostras de fezes de doentes e seus comunicantes. Até o momento da redação deste artigo, 12 amostras tiveram resultado negativo, 02 estavam em processamento e em 01 foi detectada presença de enterovírus não pólio, ainda em fase de identificação. A observação da ocorrência de casos de Meningite Viral em Porto Alegre nos últimos cinco anos permite informar sobre alguns aspectos de seu comportamento. A maior incidência de casos ocorreu nas faixas etárias compreendidas entre zero e nove anos de idade, concentrando 70% dos casos ocorridos no período 2000 a 2004, como pode ser observado no gráfico 1. Gráfico 1 - Incidência (casos/100.000 hab) por faixa etária dos Casos de Meningite Viral em residentes no Município de Porto Alegre, período 2000 a 2004. Tabela 1 - ________________________________________ ________________________________________ Número de casos por escola Idade das crianças afetadas Sintomas apresentados Escola 1: 05 casos 10% menores de 01 ano Febre: 100% dos casos Escola 2: 03 casos 30% com 03 anos Escola 3: 02 casos 40% com 04 anos Total: 10 casos 20% com 05 anos Resultado da análise citoquímica dos LCR coletados Leucócitos: 30% dos casos com menos de 100 cel/mm³; 40% dos casos entre 100 e 200 cel/mm³ e 30% dos casos Vômitos: entre 200 e 300 cel/mm³. 90% dos casos 40% dos casos apresentaram Rigidez de nuca: predomínio de linfócitos. A glicorraquia apresentou 60% dos casos valores superiores a 69mg/dl. Dor abdominal: Os valores de proteínas no 20% dos casos LCR variaram entre 21 e 46 mg/dl. Fonte: ECE/CGVS/SMS BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005 A Meningite Viral vem sendo diagnosticada e investigada pela ECE ao longo de todos os meses do ano. No gráfico 2 é possível observar um pico sazonal a cada ano, coincidindo com os meses de outono ou primavera. No inverno ocorre um 03 declínio no número de casos. Ainda desta observação, detecta-se que, no período considerado, o ano de 2002 apresentou o maior número de casos e em 2003 ocorreu o menor número. Estas variações no comportamento ainda carecem de uma investigação mais aprofundada. Descarta-se a interferência do processo de detecção de casos pela vigilância uma vez que esta não sofreu alterações no período. Já a comparação do comportamento da doença nos anos de 2004 e 2005 permitem definir a manutenção da freqüência em patamares mais elevados do que em anos anteriores, podendo vir a alcançar, em 2005, os níveis de 2002, caso venha ocorrer novo pico sazonal nos meses de primavera. Gráfico 2 - Distribuição mensal dos casos de Meningite Viral, em residentes do município de Porto Alegre, 2000 a 2005. situação fez com que a Equipe de Controle Epidemiológico divulgasse o alerta epidemiológico, através do qual os serviços de saúde foram informados sobre a ocorrência de surtos, buscando, desta forma, a participação dos serviços na pesquisa do agente etiológico. Por outro lado, com o objetivo da prevenção de um novo pico sazonal da doença, as coordenações de escolas infantis foram informadas e orientadas quanto aos procedimentos frente a casos de Meningite Viral e/ou sintomas gastrointestinais em integrantes do corpo docente e discente. Nesta orientação constou a informação sobre meningites, sinais/sintomas, modo de transmissão e formas de romper a cadeia de transmissão. Ainda nesse informe, a ECE passou a recomendar, formalmente, o afastamento por dez dias, a contar da data de início dos sintomas, das pessoas acometidas por meningite viral ou por diarréia. ANÁLISE COMPARATIVA DO INGRESSO DE CASOS NOVOS DE TUBERCULOSE OCORRIDO NA REDE AMBULATORIAL E HOSPITALAR DE PORTO ALEGRE NOS ANOS DE 2003 E 2004 Márcia Cambraia Calixto Enfermeira da ECE/CGVS O comportamento das Meningites Virais em Porto Alegre é coerente com o descrito pela literatura. Sabe-se que cerca de 90% das meningites virais são causadas por enterovírus, habitantes freqüentes do nosso trato gastro-intestinal. Estes vírus são mais comuns durante o verão e o outono. Crianças e adolescentes são mais suscetíveis, entretanto, os adultos também podem infectar-se. Os sintomas da infecção por enterovírus, que geralmente antecedem a meningite, são manifestações gastrointestinais tais como vômitos, diarréia e erupções cutâneas. Retomando as informações contidas no primeiro parágrafo deste artigo bem como no quadro 1, verifica-se que, mesmo não tendo ocorrido descrição de sintomas gastrointestinais nos casos diagnosticados de Meningite Viral, estes estavam temporal e espacialmente relacionados com casos de outras crianças e adultos com sintomas gastrointestinais. Assim, ainda que não se tenha obtido, até o momento, o diagnóstico etiológico destes casos investigados, os eventos observados corroboram com a hipótese de infecção por enterovírus. Esta 04 No ano de 2000 foi municipalizado o sistema de informação de agravos e notificação compulsória da tuberculose (SINAN/TB) nos estabelecimentos hospitalares e nos ambulatórios de referência do Programa de Controle da Tuberculose (PCT) de Porto Alegre, de acordo com a Portaria Ministerial n°993 de 04/09/2000. Após um período de qualificação da vigilância epidemiológica da tuberculose, já é possível fazer uma análise do ingresso e da evolução dos casos em relação ao local de diagnóstico. Pela definição da norma técnica do Programa de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde, o conceito de caso novo é: "Indivíduo doente que nunca se submeteu a tratamento ou que o fez por um período menor de 30 dias ou há mais de 5 anos". Neste artigo, serão analisados os casos que se enquadram nesta definição técnica. No ano de 2004, a Equipe de Controle Epidemiológico (ECE), responsável pela vigilância epidemiológica da tuberculose, registrou 1432 casos novos de tuberculose, sendo que 29% desses casos foram diagnosticados durante a BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005 internação hospitalar e 71% nos ambulatórios de referência. Os números não diferem muito do ano anterior (2003), quando ocorreram 1463 casos novos, sendo 31% diagnosticados durante a internação hospitalar e 69% nos ambulatórios de referência. O gráfico 1 ilustra os números relatados. Gráfico 1 - Distribuição dos casos novos - todas as formas clínicas de tuberculose por origem de estabelecimento no ano de 2003 e 2004. Os gráficos 2 e 3 que demostram a evolução dos casos novos de tuberculose que foram diagnosticados durante a internação hospitalar nos anos de 2003 e 2004. Constata-se que, em média, nesses dois anos, em torno de 63% dos casos vincularam ao PCT após a alta hospitalar. Porém, cerca de 13% não se vincularam a nenhuma unidade de referência da tuberculose. Observase ainda que, na mesma internação, 24% evoluíram para óbito. Destes óbitos, em torno de 69% são casos que apresentaram HIV positivo. Gráfico 2 - Distribuição da evolução dos casos novos de tuberculose diagnosticados em hospitais no ano 2003. Os gráficos acima que demostram a evolução dos casos novos de tuberculose que foram diagnosticados durante a internação hospitalar nos anos de 2003 e 2004. Constata-se que, em média, nesses dois anos, em torno de 63% dos casos vincularam ao PCT após a alta hospitalar. Porém, cerca de 13% não se vincularam a nenhuma unidade de referência da tuberculose. Observase ainda que, na mesma internação, 24% evoluíram para óbito. Destes óbitos, em torno de 69% são casos que apresentaram HIV positivo. A tabela 1, demonstra que grande percentual dos óbitos hospitalares tem a co-infecção TB/HIV e que, em média, 50% dos casos novos notificados durante a internação hospitalar apresentam coinfecção TB/HIV. Isto está diretamente relacionado a interação da epidemia do HIV/aids com a tuberculose. Segundo a literatura, a epidemia da infecção pelo HIV causou uma dramática piora da situação da tuberculose e, em muitos pacientes, o desenvolvimento da tuberculose clínica pode ser o primeiro sinal de infecção pelo HIV. Citando Alves & Natal, 2002, "enquanto indivíduos infectados por M. tuberculosis e HIV negativo apresentam um risco de adoecimento médio durante a vida de 5% a 10%, os HIV positivos passam a ter um risco de adoecer de 5% a 10% ao ano". Num indivíduo com infecção pelo HIV, a presença de outras infecções, incluindo a tuberculose, pode ocasionar uma replicação mais rápida do HIV, acelerando a progressão da imunodeficiência, com subseqüente diminuição da sobrevida do paciente. Tabela1 - Casos novos de tuberculose-todas as formas clínicas- diagnosticados durante a internação hospitalar e a co-infecção TB/HIV, POA, 2003 e 2004. Ano Casos novos notificados Casos novos notificados HIV positivo N % N % 2003 457 100 212 46 2004 420 100 213 51 Fonte: SINAN/Equipe de Controle Epidemiológico/CGVS/SMS/PMPA Dados sujeitos à revisão Tabela 2 - Total de óbitos dos casos novos notificados durante a internação hospitalar e percentual dos óbitos dos casos com HIV positivo, POA, 2003 e 2004. Gráfico 3 - Distribuição da evolução dos casos novos de tuberculose diagnosticados em hospitais no ano de 2004. Ano Total de óbitos Óbitos HIV positivos N % N % 2003 105 100 71 68 2004 101 100 75 74 Fonte: SINAN/Equipe de Controle Epidemiológico/CGVS/SMS/PMPA Dados sujeitos à revisão BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005 05 Nas tabela 3 e 4 observa-se que, nos ambulatórios de referência, a relação casos novos e pacientes com co-infecção TB/HIV resultam num percentual em torno de 20%. A evolução para óbito dos casos ambulatoriais, em média de 5%, é menor que o percentual dos óbitos que ocorreram na internação hospitalar. Destes óbitos, cerca de 40% são sabidamente confirmados como portadores do HIV, conforme pode ser observado na tabela 4. Tabela 3 - Casos novos de tuberculose - todas as formas clínicas- notificados pelas unidades de referência e a co-infecção TB/HIV, POA, 2003 e 2004. Ano Total Casos Novos Notificados Este nível, de acordo com a categorização de Clancy, 1991 (tabela 5), é considerado de alto risco. A taxa de co-infecçãoTB/HIV em Porto Alegre, já apresentada no artigo Boletim Epidemiológico n° 23 de maio de 2004, tem se mantido na média de 29%. Esta alta taxa de co-infecção pode ser melhor entendida quando se relaciona a alta incidência da tuberculose com a condição do portador do HIV exposto a este nível de incidência. Tabela 5 - Níveis de gravidade para o risco de tuberculose, conforme as taxas de incidência: Coeficiente de Incidência Risco de TB Casos Novos Notificados HIV Positivo >1.000/100.000 Epidemia >100/100.000 Alto risco Baixo risco N % N % ~10/1000.000 2003 1006 100 224 22 1/100.000 Em eliminação 2004 1012 100 201 20 0,1/100.000 Eliminada Fonte: Clancy,1991. Fonte: SINAN/Equipe de Controle Epidemiológico/CGVS/SMS/PMPA Dados sujeitos à revisão Tabela 4 - Total de óbitos dos casos novos notificados pelas unidades de referência e percentual dos óbitos dos casos com HIV positivo, POA, 2003 e 2004. Ano Total de óbitos Óbitos HIV positivos N % N % 2003 49 100 20 41 2004 32 100 16 50 Fonte: SINAN/Equipe de Controle Epidemiológico/CGVS/SMS/PMPA Dados sujeitos à revisão Ao analisar os casos novos de tuberculose em Porto Alegre nos últimos cinco anos (gráfico 4), percebe-se que a incidência se mantem estável, na média de 100 casos para cada 100.000 habitantes. Gráfico 4 - Incidência/100.000 hab da Tuberculose todas as formas clínicas, em residentes do município de Porto Alegre, 2000 a 2004. A OMS, já em 1998, na publicação TB/HIV Manual Clínico para o Brasil, adverte que "a tuberculose associada ao HIV (HIV/TB) é problema comum em várias populações, especialmente na África Sub-sahariana. E, nos últimos anos, vem aumentando na Ásia e América do Sul. Em muitos destes países existem programas nacionais de controle da tuberculose. A infecção pelo HIV aumenta a demanda de atividades de controle nestes programas, pois resulta no aumento da incidência de casos de tuberculose". Com as informações apresentadas neste artigo conclui-se que o monitoramento sistemático da origem das notificações de tuberculose pode ser entendido como sinalizador da necessidade de ações de saúde que possibilitem uma captação mais precoce dos casos de tuberculose no nível ambulatorial. Desta forma, ocorreria uma diminuição da taxa de diagnóstico hospitalar; controlando, de forma prioritária, os egressos hospitalares, grupo de maior risco para a adesão ao tratamento, bem como, de maior risco para desenvolvimento de formas mais graves da doença e de mortalidade, constituído pela população co-infectada TB/HIV. Referências Bibliográfica: SANT'ANA, C. C. Tuberculose na Infância e na Adolescência. São Paulo: Ed Atheneu, p. 05 a 15. 2002. OMS.TB/HIV Manual Clínico, revisão de Hijjar, Miguel/ Programa Nacional de Tuberculose, Medeiros e Velose e Griszentein/ Coordenação Nacional de DST/AIDS/MS, p. 11,1998. 06 BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005 TABELA DO NÚMERO DE CASOS NOTIFICADOS E INVESTIGADOS PELA EQUIPE DE CONTROLE EPIDEMIOLÓGICO NO ANO DE 2005, SE 1 À SE 35. Agravos Acidentes com animais peçonhentos Aids >13 anos < 13 anos Atendimento anti-rábico Botulismo Carbunculo ou Antraz Caxumba Cólera Coqueluche Dengue** Difteria Doença de Creutzfeld-Jakob Doença Chagas Aguda Doenças exantemáticas Rubéola Sarampo Esquistossomose Eventos Adversos Pós-Vacinação Febre Amarela Febre do Nilo Ocidental Febre Maculosa Febre Tifóide Gestantes HIV + e criança exposta Hanseníase Hantavirose Hepatite viral Hepatite A Hepatite B Hepatite C Hepatite B+C Hepatite A/B ou A/C Leishmaniose cutânea Leishmaniose visceral ** Leptospirose Malaria** Meningites Doença meningocócica M. bacteriana não identificada M. criptococos M. Haemophilus M. não identificada M. outras bacterias identificadas M. pneumococo M. tuberculosa M. viral Peste Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda Raiva Humana Sífilis Congênita Sífilis em gestante Síndrome da Rubéola Congênita Tétano acidental Tétano neonatal Tularemia Tuberculose Casos Novos Varicela Varíola Total Total de Casos Investigados Confirmados 77 930 2621 2 0 41 0 107 38 0 1 41 90 82 8 2 253 0 0 0 0 319 26 2 882 3 2 165 6 520 0 4 0 24 NI 2 1 0 0 1234 549 0 8032 NA: Não se aplica (considerado caso pela notificação) NI: não implantado até o momento BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005 Casos Residentes em POA Investigados Confirmados 77 930 906 24 2621 2 0 NA 0 68 14 0 1 0 0 0 0 0 253 0 0 0 0 319 26 0 823 163 69 547 37 7 0 0 47 4 414 34 38 18 1 39 0 8 18 258 0 0 0 19 NI 0 0 0 0 1234 948 NA 0 33 674 2176 2 0 38 0 60 30 0 0 41 86 79 7 0 253 0 0 0 0 216 14 1 799 3 0 90 3 318 0 2 0 24 NI 1 0 0 0 940 509 0 6399 33 674 659 15 2176 2 0 NA 0 34 11 0 0 0 0 0 0 0 253 0 0 0 0 216 14 0 746 150 62 498 31 5 0 0 24 2 256 14 16 12 0 19 0 5 8 182 0 0 0 19 NI 0 0 0 0 940 772 NA 0 * dados sujeitos a revisão ** casos confirmados importados 07 PORTARIA Nº. 33, DE 14 DE JULHO DE 2005 Inclui doenças à relação de notificação compulsória, define agravos de notificação imediata e a relação dos resultados laboratoriais que devem ser notificados pelos Laboratórios de Referência Nacional ou Regional. O SECRETÁRIO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, no uso das atribuições que lhe confere o Art. 36 do Decreto nº. 4.726, de 9 de junho de 2003 e, considerando o disposto no Art. 4o- da Portaria nº 2.325, de 8 de dezembro de 2003, resolve: Art. 1º - Incluir à Lista Nacional de Agravos de Notificação Compulsória, os casos suspeitos ou confirmados de Doença de Creutzfeldt - Jacob; Sífilis em Gestante; Síndrome Febril Íctero-hemorrágica Aguda; e Eventos Adversos Pós-Vacinação, conforme disposto no Anexo I desta Portaria. Parágrafo único. A ocorrência de agravo inusitado à saúde, independentemente de constar da Lista Nacional de Agravos de Notificação Compulsória, deverá também ser notificado imediatamente ás autoridades sanitárias mencionadas no caput deste artigo. Art. 2º - As doenças e agravos relacionados no Anexo II desta Portaria, para todo território nacional, devem ser notificados de forma imediata às Secretarias Estaduais de Saúde, e estas deverão informar imediatamente à SVS/MS, por meio de: I. correio eletrônico [email protected]; ou II. por telefone: 061 33153659 ou fax: 061 33153658, da Gerência Técnica de Doenças Emergentes e Reemergentes - GTDER/CGDT/DEVEP/ MS, sem prejuízo do registro das notificações pelos procedimentos rotineiros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN. Art. 3º - Os profissionais de saúde no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e ensino, em conformidade com a Lei nº. 6259 de 30 de outubro de 1975, são obrigados a comunicar aos gestores do Sistema Único de Saúde - SUS a ocorrência de casos suspeitos ou confirmados das doenças relacionadas no Anexo I desta Portaria. Parágrafo único. O não cumprimento desta obrigatoriedade será comunicado aos conselhos de entidades de Classe e ao Ministério Público para que sejam tomadas as medidas punitivas cabíveis. Art. 4º. Os resultados dos exames laboratoriais das doenças relacionadas no Anexo III desta Portaria, devem ser notificados pelos laboratórios de referência nacional, regional e laboratórios centrais de saúde pública de cada Unidade Federada, concomitantemente às Secretarias Estaduais de Saúde, Secretarias Municipais de Saúde e a SVS/MS, por meio da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Publica - CGLAB/DEVEP/SVS. Art. 5º - A definição de caso para cada doença relacionada no Anexo I desta Portaria, deve obedecer à padronização definida pela SVS/MS. Art. 6º - Aos gestores municipais e estaduais do SUS é vedada a exclusão de doenças e agravos componentes do elenco nacional de doenças de notificação compulsória. Art. 7º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. JARBAS BARBOSA DA SILVA JÚNIOR ANEXO I Lista Nacional de Agravos de Notificação Compulsória I. Botulismo II. Carbúnculo ou "Antraz" III. Cólera IV. Coqueluche V. Dengue VI. Difteria VII. Doença de Creutzfeldt-Jacob VIII. Doenças de Chagas (casos agudos) IX. Doenças Meningocócica e outras Meningites X. Esquistossomose (em área não endêmica) XI. Eventos Adversos Pós-Vacinação XII. Febre Amarela XIII. Febre do Nilo Ocidental XIV. Febre Maculosa XV. Febre Tifóide XVI. Hanseníase XVII. Hantaviroses XVIII. Hepatites Virais XIX. Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana - HIV em gestantes e crianças expostas ao risco de transmissão vertical XX. Leishmaniose Tegumentar Americana XXI. Leishmaniose Visceral XXII. Leptospirose XXIII. Malária XXIV. Meningite por Haemophilus influenzae XXV. Peste XXVI. Poliomielite XXVII. Paralisia Flácida Aguda XXVIII. Raiva Humana XXIX. Rubéola XXX. Síndrome da Rubéola Congênita XXXI. Sarampo XXXII. Sífilis Congênita XXXIII. Sífilis em gestante XXXIV. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS XXXV. Síndrome Febril Íctero-hemorrágica Aguda XXXVI. Síndrome Respiratória Aguda Grave XXXVII. Tétano XXXVIII. Tularemia XXXIX. Tuberculose XL. Varíola ANEXO II Agravos de notificação imediata via fax, telefone ou e-mail, além da digitação e transferência imediata, por meio magnético, através do SINAN I. Caso suspeito de: a) Botulismo b) Carbúnculo ou Antraz c) Cólera d) Febre Amarela e) Febre do Nilo Ocidental f) Hantavirose g) Peste h) Raiva Humana i) Síndrome Febril Íctero-hemorrágica Aguda j) Síndrome Respiratória Aguda Grave k) Varíola l) Tularemia II. Caso confirmado de: a) Poliomielite b) Sarampo c) Tétano Neonatal III. Surto ou agregação de casos ou agregação de óbitos por: a) Agravos Inusitados b) Difteria c) Doença de Chagas Aguda d) Doença Meningocócica e) Influenza Humana ANEXO III Resultados laboratoriais que devem ser notificados pelos Laboratórios de Referência Nacional ou Regional I. Resultado de amostra individual por: a) Botulismo b) Carbúnculo ou "Antraz" c) Cólera d) Febre Amarela e) Febre do Nilo Ocidental f) Hantavirose g) Influenza Humana h) Poliomielite i) Peste j) Raiva Humana k) Síndrome Respiratória Aguda Grave l) Varíola m) Tularemia n) Sarampo II. Resultado de amostras procedentes de investigação de surtos: a) Agravos Inusitados b) Doença de Chagas Aguda c) Difteria d) Doença Meningocócica e) Influenza Humana SECRETÁRIO MUNICIPAL DA SAÚDE: Pedro Gus COORDENADORA DA COORDENADORIA GERAL DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE: Denise Aerts CHEFE DA EQUIPE DE CONTROLE EPIDEMIOLÓGICO: Lisiane M. W. Acosta MEMBROS DA EQUIPE DE CONTROLE EPIDEMIOLÓGICO: Adelaide Kreutz Pustai / Ana S. de G. Munhoz / Ana Sir C. Gonçalves Ângela M. L. Echevarria / Cláudio R. de J. Rodrigues / Débora B. G. Leal / Edi de Souza Eliane C. Elias / Eliane N. Siqueira / Isete Maria Stella / Liane Oliveira Fetzer Lisiane M. W. Acosta / Mara B. S. Ourives / Márcia C. Calixto / Márcia C. Santana Maria Alice P. de Graña Calvete / Maria Aparecida M. Vilarino / Maria da G. S. de Bastos Maria de Fátima de Bem Rigatti / Maria R. V. Brito / Mariloy T. Viegas Maristela Fiorini / Maristela A. Moresco / Naiar S. Marques / Neiva Isabel R. Wachholz Niraci P. Perin / Patricia C. Wiederkehr / Patrícia Z. Lopes / Paulina B. Cruz Rosana I. Ouriques / Rosane Simas Gralha / Rosane T. da C. Linck Rute da S. Lopes / Sônia Eloisa O. de Freitas / Sônia V. Thiesen Vera L. J. Ricaldi / Vera R. da S Carvalho 08 BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - Ano VIII, nº 27, Setembro 2005