1 O que é? É uma micose sistêmica que acomete animais e humanos, causada por um fungo denominado Histoplasma capsulatum. Este agente apresenta três variedades relacionadas a três diferentes micoses, quanto ao aspecto clínico e epidemiológico. O H. capsulatum var. capsulatum é responsável pela Histoplasmose Clássica que é uma doença cosmopolita, já o H. capsulatum var. duboisii é responsável pela Histoplasmose Africana que está restrita ao continente Africano, e o H. capsulatum var. farciminosum esta relacionado a Linfangite epizoótica eqüina, doença restrita a Europa, Ásia e África. HISTOPLASMOSE CLÁSSICA É uma micose sistêmica normalmente relacionada a alterações pulmonares de evolução aguda ou crônica. No Brasil, a histoplasmose tem alta freqüência no Rio Grande do Sul, sendo considerada endêmica e até mesmo hiperendêmica, principalmente nos arredores do rio Jacuí. Sobre o fungo Histoplasma capsulatum var. capsulatum é um fungo dimórfico que cresce saprofiticamente na forma filamentosa no solo, especialmente em locais abrigados e com acúmulo de excretas de aves e morcegos como cavernas, grutas, ocos de arvores, galinheiros, construções abandonadas entre outros. As aves ao contrario dos morcegos, não se infectam e logo, não são dispersadoras do fungo. Já os morcegos são suscetíveis a infecção e podem eliminar células viáveis de H. capsulatum pelo conteúdo intestinal. 2 Como a doença é transmitida? A infecção ocorre pela dispersão dos conídios, quando locais com acúmulo de fezes são revirados (varridos), o que faz com que estas estruturas fúngicas se dispersem no ar, sendo inaladas por animais e humanos. Dentre os animais, os cães jovens com idade inferior a quatro anos especialmente das raças Weimaraner, Pointers e Brittany Spaniels são mais suscetíveis, sendo que normalmente a infecção se dissemina causando a morte. Em humanos, os indivíduos com idade inferior a 1 ano e superior a 50 anos são mais predispostos a desenvolver infecções graves, por vezes fulminantes. Sintomatologia clínica A DOENÇA EM ANIMAIS Diferentes formas clínicas podem ser observadas sendo: assintomática, pulmonar aguda, pulmonar crônica ou disseminada. A forma assintomática normalmente é diagnosticada em estudos epidemiológicos através da reação à histoplasmina. Essa forma já foi descrita em diversas espécies como caninos, felinos, eqüinos, bovinos, ovinos e suínos, nos quais a micose apresenta regressão espontânea com auto-cura. Entretanto, nos caninos a histoplasmose pode ocorrer na sua forma progressiva como histoplasmose pulmonar ou gastrintestinal. A forma pulmonar cursa com emagrecimento, febre, mucosas pálidas, secreção nasal, tosse, dispnéia e nódulos calcificados no parênquima pulmonar. A forma gastrintestinal é caracterizada diarréia crônica mucóide, tenesmo e presença de sangue podendo esplenomegalia, icterícia, ascite e linfadenopatia. ocorrer hepatomegalia, 3 A DOENÇA EM HUMANOS A infecção por H capsulatum var. capsulatum pode resultar em diferentes formas clínicas, dependentes do status imunitário do hospedeiro, quantidade e virulência fúngica. Assim, podem ser classificadas em assintomáticas ou sintomáticas, as quais resultam em sinais que variam desde um quadro gripal até formas graves e disseminadas. As formas assintomática e pulmonar aguda são regressivas e observadas geralmente em hospedeiros imunocompetentes enquanto que as formas, pulmonar crônica e disseminada, são progressivas e observadas em pacientes com deficiência imunológica ou defeito anatômico estrutural pulmonar. A forma assintomática ocorre em indivíduos que habitam áreas endêmicas, onde cerca de 95% das infecções resultam em formas assintomáticas ou subclínicas, que podem cursar com um quadro gripal. São reconhecidas atraves de teste da histoplasmina, evidencias radiológicas com nódulos pulmonares calcificados, infiltrados pulmonares ou linfoadenomegalias hílares ou mediastinicas. A forma pulmonar aguda se caracteriza por manifestações clínicas mais intensas e evidentes especialmente, em indivíduos provenientes de áreas não endêmicas. Os principais sintomas são cefaléia, febre, mialgia e astenia, juntamente com sinais respiratório como tosse seca, dor ou opressão retroesternal e dispnéia de intensidade variável. Lesões cutâneas podem ser observadas em 15% dos pacientes, caracterizadas por eritema nodoso, multiforme ou exantema maculopapular difuso. A forma pulmonar crônica esta relacionada a presença de cavitações ou consolidação pulmonares que favorecem a instalação do foco inicial da doença. É mais freqüente em indivíduos do sexo masculino, acima de 30 anos de idade que residem em áreas endêmicas, e praticamente exclusiva de pacientes com enfisema. 4 O quadro clínico e radiológico é praticamente indistinguível da tuberculose pulmonar crônica, estando muitas vezes associado a esta enfermidade. Os pacientes apresentam tosse crônica e produtiva, hemoptiase, dispnéia, fadiga, febre, sudorese noturna e perda de peso, sinais semelhantes aos da tuberculose. A forma disseminada ocorre com mais freqüência em pacientes lactentes ou idosos, ou com imunossupressão. É caracterizada pela presença de lesões extra-pulmonares e extra-ganglionar mediastínica, com disseminação para órgãos como fígado, baço, linfonodos extra-regionais e medula óssea, resultando em perda de peso, hepatomegalia e esplenomegalia, febre e anemia. Lesões cutâneas podem estar presentes em 38 a 90% dos pacientes HIV+, sendo caracterizadas por lesões papulonodulares difusas, com crostas e pústulas. Alem disso, lesões orais ocorrem com mais freqüência na forma disseminada (cerca de 66%), normalmente múltiplas, profundas e infiltradas e localizadas na língua, lábios e orofaringe. Métodos Diagnósticos O diagnóstico de histoplasmose pode ser realizado pela detecção do agente em espécimes clínicas através de exame citopatológico e micológico ou ainda, através de testes imunológicos e moleculares. O exame citopatológico direto pode ser realizado a partir de amostras clínicas de escarro com impregnação por prata, uma vez que outros tipos de colorações e até mesmo o KOH (bastante utilizado para outras micoses) são pouco sensíveis e de difícil interpretação. Na microscopia são observadas células ovais unibrotantes com um halo refringente ao redor que corresponde à parede celular, localizadas dentro de macrófagos. 5 Os cortes histológicos devem ser corados preferencialmente por PAS ou Prata que coram a parede fúngica, resultando na melhor observação do agente. O cultivo é considerado o “teste ouro” para o diagnóstico da histoplasmose, apresentando sensibilidade em torno de 85%. Entretanto, o crescimento fúngico pode levar de 6 a 12 semanas, sendo este, um fator limitante do teste. A pesquisa de anticorpos pode ser realizada pelas técnicas de imunodifusão em gel de ágar (boa especificidade e baixa sensibilidade) e fixação do complemento, as quais se complementam fornecendo um resultado satisfatório. A pesquisa do agente com a utilização de anticorpos anti- Histoplasma é utilizada para espécimes de urina e sangue através de radioimunoensaio e mais recentemente ELISA, sendo o teste padrão ouro para diagnostico e monitoração de recidivas. Controle e Prevenção Limpeza regular dos locais com potencial para se tornar uma fonte de infecção, utilizando máscaras e luvas, como galinheiros, celeiros, forros de construções, etc., são a primeira e principal medida de prevenção da histoplasmose, uma vez que as fezes frescas das aves não representam um habitat ideal para o H. capsulatum, e sim fezes acumuladas que fornecem substrato para o desenvolvimento fúngico. Deve-se ainda, como medida profilática, evitar exposição própria e dos animais a locais contaminados, com acúmulo de excretas, que podem representar uma fonte de infecção, ou realizar a desinfecção desses locais com formalina 3% (utilizando máscara e luvas). 6 Bibliografia complementar CRUZ LCH. Micologia Veterinária. 2ª Ed. Revinter, 2010, 376p. MEIRELES MCA, NASCENTE PS. Micologia Veterinária. Pelotas: Editora Universitária UFPel, 2009, 543p. SIDRIM JJ, ROCHA MF. Micologia Médica à Luz de Autores Contemporâneos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 388p.