CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE GENÓTIPOS DE FEIJÃO COMUM CULTIVADOS NAS REGIÕES SUL E SUDESTE DO BRASIL. Franciele Barros de Souza1, Pablo Diego Silva Cabral 1, Diogo Souza Alves1, Yaska Janaína Bastos Soares2, Sebastião Martins Filho3, Olavo dos Santos Pereira Júnior1, Frederico de Pina Matta1, Fábio Demolinari de Miranda1, Taís Cristina Bastos Soares1 1 Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, UFES. Alto Universitário, s/nº Alegre, ES – 29.500-000, [email protected] 2 Universidade Estadual do Norte Fluminense /Doutoranda em Produção Vegetal, Campos do Goytacazes, R.J., [email protected] 3 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Estatística, Viçosa, MG - 36571-000 Resumo- O feijão é um alimento de grande importância na dieta do brasileiro, além de um produto agrícola de relevância econômica e social. No estado do Espírito Santo é o terceiro produto agrícola de importância econômica, e aumento da produtividade pode ocorrer caso sejam utilizadas sementes melhoradas e selecionadas para cada região. O uso de marcadores moleculares de DNA, como RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA) são muito utilizados para a análise de diversidade genética em feijão. Neste trabalho foram analisadas 19 variedades da EMBRAPA, 23 genótipos locais, e mais dez cultivares comerciais de feijão. As amostras foram submetidas a análises de divergência genética, sendo que o genótipo E 17 apresentou grande similaridade genética com a cultivar MINUANO, o que ocorreu também entre o genótipo FORT 26 e a cultivar SERRANO, indicando que esses genótipos (E 17 e FORT 26) possam ser promissores para o cultivo na região sul do Espírito Santo. Palavras-chave: Feijão, marcadores moleculares, diversidade genética, RAPD. Área do Conhecimento: Agronomia/Fitotecnia/Melhoramento Vegetal Apoio financeiro: FAPES, UFES, Petrobrás Introdução As leguminosas são uma das mais importantes fontes de abastecimento alimentar do mundo. Além da grande importância do feijão na dieta do brasileiro, ele é um produto agrícola de relevância econômica e social, por ser cultivado tanto por agricultores de subsistência como por produtores que utilizam alta tecnologia em todas as etapas do processo de produção (COSTA, 2004). No estado do Espírito Santo o feijão é o terceiro produto agrícola de importância econômica, ocupando uma área de aproximadamente 24,4 mil hectares com a produção de 19,1 mil toneladas, e produtividade de 783 Kg/hectare na safra de 2006/2007 (CONAB, 2007). O aumento da produtividade pode ocorrer caso sejam utilizadas sementes melhoradas e selecionadas para cada região, assim como espaçamento e densidade de plantios adequados. A caracterização genética, mediante o uso de marcadores moleculares de DNA, poderá oferecer algumas informações mais estáveis que o caráter fenotípico. Assim, marcadores moleculares têm sido utilizados no estabelecimento de filogenia, determinação de similaridade genética, estudos evolucionários, mapeamento de genes, piramidação de genes, dentre outras análises. Os marcadores moleculares mais utilizados para a análise de diversidade genética em feijão são os RAPDs (Random Amplified Polimorphic DNA) (MÉTAIS et al., 2000). As informações geradas com o uso dos marcadores RAPD serão usadas para seleção de genótipos mais adaptados à região sul do estado do Espírito Santo, e posteriormente, estes genótipos serão fornecidos aos pequenos agricultores da região. Metodologia Neste experimento foram utilizados 19 variedades de feijão (EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), 23 genótipos locais de feijoeiro pertencentes à comunidade da Fortaleza no município de MuquiES, e mais dez cultivares comerciais: Pérola, Carioca, Serrano, IAPAR 81, Monte Alegre, Ouro Negro, Fortuna, IAPAR 31, Minuano, IAPAR 44 (Tabela 1). Esses genótipos foram plantados em copos plásticos contendo substrato comercial e acondicionados em casa de vegetação até que estes tivessem as primeiras folhas trifolioladas as quais foram coletadas para a extração de DNA. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Tabela 1- Nomes dos genótipos utilizados no estudo de diversidade genética. Pérola FORT 26 Minuano FORT 04 IAPAR 81 E 08 FORT 05 Carioca E 09 FORT 06 Serrano E 10 FORT 09 FORT 30 E 11 FORT 11 FORT 31 E 12 FORT 12 FORT 32 E 13 FORT 13 FORT 33 E 14 FORT 14 FORT 34 E 15 FORT 16 Monte Alegre E 16 FORT 17 Ouro Negro E 17 FORT 19 Fortuna E 18 FORT 20 E 01 E 19 FORT 21 E 02 IAPAR 44 FORT 22 E 03 E 21 FORT 23 E 04 E 22 FORT 24 IAPAR 31 FORT 25 E 06 Prefixo FORT: genótipos cedidos pela comunidade Fortaleza, Muqui –ES; Prefixo E: genótipos cedidos pela EMBRAPA, Os outros são genótipos comerciais As folhas de cada planta foram coletadas e identificadas e posterior realizada a extração de DNA, feita de acordo com o protocolo de Doyle e Doyle (1990), com algumas modificações propostas por Abdelnoor et al. (1995). Amostras de DNA dos cultivares foram amplificadas pela técnica de RAPD, de acordo com Alzate-Marin et al. (2001) utilizando primers RAPD da “Operon Technologies” (Alameda, CA, EUA) tomados ao acaso. O registro de dados moleculares foi feito a partir das bandas polimórficas detectadas entre os cultivares. Assim, foi gerada uma matriz de valores binários, onde a codificação (0) significará ausência e (1) presença da banda. As estimativas de dissimilaridade genética (dij) foram feitas de acordo com o complemento aritmético do coeficiente de Jaccard (1901). Os valores de dissimilaridade genética foram organizados em matrizes, para serem empregadas na análise de agrupamento pela ligação média entre grupos (UPGMA). As análises de divergência genética e de agrupamento foram realizadas com o auxílio do programa Genes (CRUZ, 2001). Resultados De acordo com o modelo de análise multivariada foram computadas as medidas de dissimilaridade com base em variáveis binárias, essas são expressas pela distância entre pares de genótipos (dii’). Os 52 genótipos analisados formaram agrupados de forma onde exista homogeneidade dentro do grupo e heterogeneidade entre os grupos, formando assim o dendrograma, representado na Figura 1. O critério de agrupamento adotado pelo método UPGMA, representado na Figura 1, estabelece que primeiramente é formado um grupo de genótipos similares, e as distâncias dos demais são calculadas em relação aos grupos formados (CRUZ & CARNEIRO, 2003). Portanto os genótipos agrupados em um mesmo grupo são mais similares geneticamente. Assim, podemos perceber, na figura 1, que há uma diversidade genética considerável entre os genótipos analisados. Discussão Os genótipos E 08 e E 17, de acordo com o resultado, foram os mais similares entre si, entretanto, não apresentaram similares aos cultivares comerciais, adaptados ao cultivo no sul do estado do Espírito Santo. Já o MINUANO e o E 17 apresentaram muita semelhança genética (d MINUANO; E 17= 0,15), dessa forma, o E 17 pode ser considerado um genótipo promissor para o cultivo na região sul do Espírito Santo, uma vez que MINUANO (cultivar comercial do grupo preto, moderadamente resistente a antracnose, ferrugem, crescimento bacteriano e resistente ao mosaico comum), é adaptável em diversas regiões do Brasil. Assim como os genótipos FORT 26 com SERRANO, também apresentam muita semelhança (d FORT 26; SERRANO= 0,2), dessa forma, o FORT 26 também pode ser considerado um genótipo promissor para o cultivo na região sul do Espírito Santo, uma vez que o SERRANO é um cultivar comercial bastante aceito pelos agricultores do estado. O genótipo FORT 22 obteve a maior divergência, em média, em comparação aos outros, assim esse genótipo deve ser melhor estudado para uma possível introgressão em um programa de melhoramento genético de feijão. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 Figura 1: Dendrograma obtido pelo método UPGMA a partir da medida de dissimilaridade entre os 52 genótipos apresentados na tabela 1. Ao analisar os genótipos tanto da Comunidade Fortaleza (locais) quanto os da Embrapa, percebemos que há uma variabilidade genética ampla, enquanto que, entre as cultivares comerciais observou-se uma grande similaridade genética entre elas, sendo um exemplo as cultivares IAPAR 81 e CARIOCA (d(Iapar81;carioca)’= 0,19). Isso demonstra haver grande variabilidade genética nos genótipos em poder dos pequenos agricultores, enquanto que isso não ocorre entre as cultivares comerciais de feijão em estudo. Observou-se ainda que alguns genótipos da comunidade Fortaleza e da Embrapa possuem similaridade genética com os comerciais, o que XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 pode ser útil para melhoria no cultivo na região sul do Espírito Santo, uma vez que esses genótipos podem ter as características desejáveis encontradas nas cultivares comerciais. Conclusão - ALZATE-MARIN, A.L.; COSTA, M.R.; SARTORATO, A.; RAVA, C.,; BARROS, E.G. de; MOREIRA, M.A. Use of markers as a tool to investigate the presence of disease resistance genes in common bean cultivars. Crop Breeding and Applied Biotechnology, v.1, p.125-133, 2001. De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que os marcadores moleculares do tipo RAPD são eficientes para caracterização da diversidade genética de acessos de feijoeiro. - CONAB–Companhia Nacional de Abastecimento. 4º Levantamento de grãos 2006/2007. 2007. Disponível em: http://www.conab.gov.br/conabweb Acesso em: 25 de janeiro de 2007. Os genótipos da comunidade Fortaleza e também os da Embrapa apresentaram uma variabilidade genética significativa, ao contrário do que aconteceu com as cultivares comerciais em estudo. - COSTA, Márcia Regina, M. S., Universidade Federal de Viçosa, fevereiro de 2004. Introgressão de genes de resistência à antracnose, ferrugem e mancha-angular no cultivar de feijão Diamante Negro. Orientador: Everaldo Gonçalves de Barros. Conselheiros: Maurilio Alves Moreira e José Eustáquio de Souza Carneiro. As análises de dissimilaridade nos permitiram selecionar alguns genótipos, tanto da Embrapa quanto da comunidade de Fortaleza, sendo que os mais semelhantes aos genótipos comerciais foram FORT 26 e o E 17, e o mais distante geneticamente foi o FORT 22. Portanto, estão sendo realizadas novas análises moleculares empregando um número maior de marcadores, para servirem de referência, de forma a possibilitar uma melhor seleção dos genótipos resgatados e, posteriormente, serem realizadas análises morfoagronômicas para otimizar esta seleção. Referências - CRUZ, C.D. GENES – versão Windows. Editora UFV. Viçosa, MG. 642p. 2001. - CRUZ, C.D.; CARNEIRO, P.C.S. Modelos Biométricos aplicados ao Melhoramento Genético. Viçosa: UFV,v2, p585, 2003. - DOYLE, J.J.; DOYLE, J.L. Isolation of plant DNA from fresh tissue. Focus, v.12, p.13-15, 1990. - JACCARD, P. 1901. Ètude comparative de la distribution florale dans une portion des Alpes et des Jura Bull. Society Vaudoise Scientific Nature, v. 37, p. 547-579. - ABDELNOOR, R.V.; BARROS, E.G. de; MOREIRA, M.A. Determination of genetic diversity within Brazilian soybean germplasm using random amplified polimorphic DNA techniques and comparative analysis with pedigree. Revista Brasileira de Genética, v. 18, p.265-273, 1995. - MÉTAIS, I.; AUBRY, C.; HAMON, B.; JALOUZOT, R.; PELTIER, D., 2000. Description and analysis of genetic diversity between commercial bean lines (Phaseolus vulgaris L.). Theoretical and Applied Genetics, v.101, p.1207– 1214. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4