1 Técnica de restrição e indução do movimento em pacientes com acidente vascular encefálico Rossimar Ayde Mesquita1 [email protected] Pós-Graduação em Fisioterapia Neurofuncional – Faculdade Ávila Resumo O presente estudo é uma revisão bibliográfica de artigos indexados na base de dados PubMed, publicados de janeiro de 2003 a novembro de 2011, tendo como objeto de pesquisa a Técnica e/ou Terapia de Restrição e Indução do Movimento (TRIM) associada à técnica de Mirror Visual Feedback (MVF), aplicada a pacientes pos Acidente Vascular Encefálico. A TRIM é uma técnica de reabilitação formada por três componentes: treino repetitivo de tarefa orientada; restrição da extremidade do membro superior menos acometido e aplicação de um conjunto de métodos comportamentais de adesão de reforço dos ganhos obtidos na clínica para a vida real do paciente; a MVF é uma técnica que promove estímulos visuais através da imagem do membro sadio refletida em um espelho, ela foi inicialmente introduzida para aliviar a dor fantasma, e tem sido aplicada para a melhoria do acidente vascular cerebral hemiparesia sequência. O objetivo deste estudo é realizar uma pesquisa bibliográfica para avaliar a eficácia da TRIM em pacientes acometidos por AVE. Os resultados da pesquisa demonstraram que a TRIM é mais uma alternativa para a recuperação funcional de extremidade superior parética e para a reorganização cortical promovendo assim, a neuroplasticidade de área lesionada do Sistema Nervoso Central (SNC). Palavras-chave: Técnica de Restrição e Indução ao Movimento; Mirror Visual Feedback; Acidente Vascular Encefálico; reabilitação. 1. Introdução Acidente Vascular Encefálico (AVE) é a doença que mais leva a óbito no Brasil e no mundo, estima-se que em 2008, ela foi responsável por cerca de 10% das mortes no mundo, em torno de 6 milhões de óbitos.Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2008 mais de 40 mil casos de AVE foram registrados no Brasil, sem especificação se isquêmico ou hemorrágico. Mas, o que é essa tão terrível doença que acomete tantas pessoas no mundo? Se O acidente vascular encefálico (AVE) é caracterizado pelo surgimento agudo de uma disfunção neurológica devido a uma anormalidade na circulação cerebral, tendo como resultado sinais e sintomas que correspondem ao comprometimento de áreas focais do cérebro. O quadro neurológico apresentado por cada paciente é determinado pela extensão da lesão, a localização da mesma no sistema nervoso central (SNC), a quantidade de fluxo sanguíneo colateral e o tratamento inicial da fase aguda (Grotta, 2004). O Acidente Vascular Encefálico é uma redução focal do fluxo sanguíneo que promove uma série de eventos com a interferência temporária da atividade cerebral, morte de tecidos ou infarto. Importante frisar que mais de 85% dos casos são acometidos após um AVE de uma hemiparesia e de 55% à 75% possuem limitação funcional de extremidade superior (Yen, 2005). A hemiparesia acometida após um AVE tem se observado através de alguns estudos que a recuperação dos membros inferiores evoluem mais rápido que a de membros superiores. O 1 Pós-Graduando em Fisioterapia Neurofuncional 2 paciente recupera a habilidade motora, voltam a andar, mas na maioria dos casos não recupera o braço comprometido. O tratamento pós-AVE deve ser realizado por uma equipe multiprofissional, incluindo intervenções, medicamentosa, apoio psicológico não só ao paciente como também aos seus cuidadores e ainda a intervenção fisioterápica. A fisioterapia objetiva maximizar a capacidade funcional do paciente, lançando mão de diversas técnicas cinésio e eletroterápicas (STOKES,2000). A partir do desenvolvimento científico da fisioterapia no Brasil surgem técnicas e teorias que preconizam a reabilitação por meio de treinamento físico intensivo, dentre elas a Terapia de Restrição e Indução do Movimento (TRIM) (SOUZA, 2007). 2. Acidente Vascular Encefálico O Acidente Vascular Encefálico conhecido pelas siglas AVE e AVC (Acidente Vascular Cerebral) e em inglês pelo termo stroke, que descreve o comprometimento funcional neurológico. Se apresenta em duas formas de AVE são anóxico-isquêmicas (falência vasogênica para suprir adequadamente o tecido cerebral de oxigênio e substratos) e hemorrágicas (extravasamento de sangue para dentro ou para o entorno das estruturas do sistema nervoso central). Os subtipos isquêmicos são lacunares, ateroscleróticos e embólicos, e os hemorrágicos são intraparenquimatosos e subaracnóide. A aterotrombose é a principal causa de AVE, a incidência de estenose ou oclusão carotídea de alto grau como causa de AVE isquêmico diminui ainda mais pelo uso de Doppler e ressonância magnética, aumentando a freqüência relativa de embolia, especificamente cardíaca (FOULKES et al, 2005). Com expansão das técnicas diagnósticas, a categoria de causa desconhecida, o chamado infarto criptogênico, foi melhor definido (PHILIP et al, 1992). Ocorre quando estudos convencionais de imagem cerebral não identificam infarto, mas o Doppler ou a angiografia não descartam estenose extra ou intracraniana, a avaliação cardíaca não mostra fonte nesse órgão, ou a procura por doenças sistêmicas não evidencia estados pró-trombóticos. O desfecho negativo da avaliação convencional não é incomum, e o AVE criptogênico pode contribuir com 30% ou mais dos casos. Outra categoria proposta é a patologia arterial tandem, que se refere a infartos com mais de um sítio de doença (tandem, do latim par) ao longo do trajeto das artérias que suprem a região cerebral onde ocorreu o infarto (PHILIP et al, 1992). O acréscimo dessas duas categorias reduziu a freqüência de AVE aterosclerótico para valores em torno de 6%. Esses achados, com ênfase no diagnóstico de embolia e na prevenção de recorrência, reforçaram a importância de diagnosticar-se subtipos de AVE. As terapias emergentes exigem maior diferenciação de subtipo de evento isquêmico para possibilitar interrupção efetiva e segura do AVE, na fase aguda, e prevenir recorrência. Dados comparáveis estão aparecendo lentamente em outros países, mas ainda não se conhece a distribuição mundial dos subtipos de AVE. O aumento do interesse em chegar ao diagnóstico do subtipo isquêmico decorre dessa mudança de visão, pois poderá orientar a escolha de terapias específicas para subtipos. Um outro efeito é a substituição do conceito anterior de entidade única para o de conjunto de transtornos, como ocorre com enfermidades infecciosas e neoplásicas. Essa patologia tem com principais fatores de risco comportamentais, hereditariedade, etnia, idade, sexo e outros. Como pode ser observado na tabela abaixo: Riscos Modificáveis Hipertensão Arterial Diabetes Fumo Fibrilação Atrial Outras doenças cardíacas Hiperlipidemias Sedentarismo Estenose carotídeas assintomática Riscos Não Modificáveis Idade Sexo Raça Etnia Hereditariedade Outros Álcool Antifosfolipídeo Homocisteína Elevada Processo Inflamatório Infecção 3 Ataque isquêmicos transitórios Fonte: Revista Brasileira de Hipertensão (2000) Tabela 1 – Fatores de risco estabelecidos para AVE Esses fatores estão intrinsecamente ligados a hábitos comportamentais não saudáveis que ao longo do tempo coloca em risco a vida da pessoa e doenças adquiridas ao longo do tempo em decorrencia desse comportamento, descreveremos a seguir alguns desse fatores que poderão resultar em um AVE: a) A Hipertensão arterial surge como um dos principais fator de risco para AVE. Tanto a pressão arterial elevada quanto a baixa são prejudiciais; a melhor solução é a prevenção. Deve-se entender que qualquer um pode se tornar hipertenso. A hipertensão arterial acelera o processo de aterosclerose, além de poder levar a uma ruptura de um vaso sangüíneo ou a uma isquemia; b) As Doença cardíaca são a segunda maior causa de mortalidade no mundo, sendo que qualquer doença cardíaca, em especial as que produzem arritmias, podem determinar um AVE. Se o ritmo cardíaco não estiver normal poderá ocorrer uma dificuldade para o sangue alcançar o cérebro, além dos outros órgãos, podendo levar a uma isquemia. As principais situações em que isto pode ocorrer são arritmias, infarto do miocárdio, doença de Chagas, problemas nas válvulas, etc; c) O colesterol é uma substância existente em todo o nosso corpo, presente nas gorduras animais; ele é produzido principalmente no fígado e adquirido através da dieta rica em gorduras. Seus níveis alterados, especialmente a elevação da fração LDL (mau colesterol, presente nas gorduras saturadas, ou seja, aquelas de origem animal, como carnes, gema de ovo etc.) ou a redução da fração HDL (bom colesterol) estão relacionados à formação das placas de aterosclerose; d) O hábito do tabagismo é prejudicial à saúde em todos os aspectos, principalmente naquelas pessoas que já têm outros fatores de risco. O fumo acelera o processo de aterosclerose, diminui a oxigenação do sangue e aumenta o risco de hipertensão arterial; e) Consumo excessivo de bebidas alcoólicas: quando isso ocorre por muito tempo, os níveis de colesterol se elevam; além disso, a pessoa tem maior propensão à hipertensão arterial; f) Diabetes: é uma doença em que o nível de açúcar (glicose) no sangue está elevado. A medida da glicose no sangue é o exame de glicemia. Se um portador desta doença tiver sua glicemia controlada, tem AVC menos grave do que aquele que não o controla. g) Idade: quanto mais idosa uma pessoa, maior a sua probabilidade de ter um AVC. Isso não impede que uma pessoa jovem possa ter; h) Sexo: até aproximadamente 50 anos de idade os homens têm maior propensão do que as mulheres; depois desta idade, o risco praticamente se iguala; i) Obesidade: aumenta o risco de diabetes, de hipertensão arterial e de aterosclerose; assim, indiretamente, aumenta o risco de AVC; j) Anticoncepcionais hormonais: Atualmente acredita-se que as pílulas com baixo teor hormonal, em mulheres que não fumam e não tenham outros fatores de risco, não aumentem, significativamente, a ocorrência de AVC; k) Condições de vida: Pessoas que procuram fazer uma dieta alimentar mais saudável e a pratica de exercícios físicos diminuem os risco da ocorrência do AVC; l) Malformação arteriovenosa cerebral: Distúrbio congênito dos vasos sangüíneos do cérebro nos sítios onde exista uma conexão anormal entre as artérias e as veias. Após um AVE mais de 80% dos casos os pacientes tem sequêlas como: dificuldade de mover o rosto; dificulade motora em membros superiores e inferiores; dificuldade de falar e se expressar; problemas de visão. O processo de reabilitação poderá ser longo dependendo do tipo de AVE e da região afetada. Esse diagnóstico é primordial para traçar a linha de tratamento do paciente, pois um AVE 4 pode comprometer todo o Sistema Nervoso Central, como o cérebro, o tronco encefálico, o cerebelo e a medula espinhal. Quanto mais rápido haver a intervensão de técnicas de recuperação, melhores são as respostas dos membros acometidos e a melhora na qualidade de vida do paciente. A recuperação após o AVE é amplamente estudada quanto à melhora funcional, geralmente obtida nos três primeiros meses, enquanto o maior ganho na recuperação da sensibilidade tem sido observado nos primeiros seis meses pós-AVE (JORGENSEN et al, 1995). No membro superior, a reduzida recuperação funcional associada à perda sensorial explica-se, ao menos em parte, pelo mecanismo de “não-uso” aprendido, documentado em estudos com modelos humanos e animais com comprometimento somatossensorial (TAUB et al, 1999). Os avanços tecnológicos da neurociência proporcionam hoje a aplicação de técnicas que ao longo dos anos tem se aprimorado e tem-se obtido grandes resultados, principalmente no que abrange a neuroplasticidade, que tem contribuído para o desenvolvimento de novas técnicas e tratamentos. 3. Neuroplasticidade A Neuroplasticidade é a adaptação do sistema nervoso, especialmente dos neurônios, às mudanças nas condições do ambiente que ocorrem no dia a dia da vida dos indivíduos. Isto é, à capacidade do sistema nervoso de alterar algumas das propriedades morfológicas e funcionais em resposta a alterações do ambiente, é a adaptação e reorganização da dinâmica do sistema nervoso frente às alterações. A plasticidade nervosa não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume também funções extremamente importantes no funcionamento normal do indivíduo. A plasticidade neural é maior durante a infância, e declina gradativamente, sem se extinguir na vida adulta, e ocorre tanto no hemisfério intacto como no lesionado3. Há várias formas de plasticidade, regenerativa, axônica, sináptica, dendrítica, somática e habituação que é uma de suas formas mais simples. A forma regenerativa consiste no recrescimento dos axônios lesados. É mais comum no SNC periférico; a axönica ou plasticidade ontogenética ocorre de zero a 2 anos de idade, é a fase crítica, fundamental para o desenvolvimento do SNC; a sináptica é a capacidade de alterar a sinapse entre as células nervosas; a dendrítica são alterações no número do comprimento, na disposição espacial e na densidade das espinhas dendríticas, isso corre na fase inicial do desenvolvimento do indivíduo; já a somática é a capacidade de regular a proliferação ou morte de células nervosas. Somente o sistema nervoso embrionário é dotado dessa capacidade (HAASE at al 2010). Já a forma de habituação consiste de uma maneira simples de aprendizado em que a força de uma resposta a um determinado estímulo diminui com as suas apresentações repetidas. Exemplo disso um indivíduo muda-se para determinado lugar onde o barulho seja intenso como o centro de uma grande cidade, inicialmente terá dificuldade para dormir com o grande barulho, com o passar do tempo deixa de perceber a maior parte dos ruídos através do processo de habituação. 3.1 Desenvolvendo a plasticidade Com a idade o grau de plasticidade neural varia no indivíduo. Durante o desenvolvimento do SNC é mais plástico, principalmente as fases denominadas de períodos críticos que é mais susceptíveis as transformações. Os nascimentos dos órgãos do Sistema Nervoso já estão praticamente formados anatomicamente, mas as sinapses não, nessa fase é importante a maturação nervosa para a aprendizagem: aprender significa que estamos usando uma sinapse normalmente não utilizada. 5 A lesão promove no Sistema Nervoso Central diversos eventos concomitantes: as células traumatizadas liberam seus aminoácidos e neurotransmissores, os quais, em alta concentração tornam os neurônios excitados e mais vulneráveis à lesão. Neurônios muito excitados podem liberar o neurotransmissor glutamato, o qual alterará o equilíbrio do íon cálcio e induzira seu influxo para o interior das células nervosas, ativando varias enzimas que são tóxicas e levam os neurônios à morte, o que é chamado de excitotoxidade. Após o evento lesivo, ocorre a ruptura de vasos sanguínea e/ou isquemia cerebral, diminuindo os níveis de oxigênio e glicose, que são essenciais para a sobrevivência de todas as células. A falta de glicose gera a insuficiência da célula nervosa em manter seu gradiente transmembrânico, permitindo a entrada de mais cálcio dentro da célula, ocorrendo um efeito cascata. A lesão promove três situações: uma que o corpo celular do neurônio foi atingido e ocorre a morte do neurônio, sendo, neste caso, o processo irreversível; o corpo celular íntegro e seu axônio esta lesado ou o neurônio se encontra em um estágio de excitação diminuído. As variáveis que afetam a recuperação funcional são: localização de lesão; extensão e severidade do comprometimento neuropsicológico, etiologia e curso de progressão do processo patológico, idade do inicio, tempo transcorrido desde o inicio do quadro, variações na organização cerebral das funções, condições ambientais, estilo de vida, fatores agravantes internos ou externos. Em todas as doenças neurológicas um programa de tratamento que incorpore principalmente o treino de atividades funcionais, é sempre essencial para uma maior independência dos pacientes, acredita-se que um dos elementos que permitem a evolução clínica desses pacientes é que o treino dessas atividades interfira de forma benéfica na neuroplasticidade estimulandoa. Porém essa hipótese e os fatores determinantes da plasticidade neural após uma lesão não estão totalmente esclarecidos, então a intenção desta revisão é atualizar nossos conhecimentos sobre a relação entre a prática de atividades motoras ou a aprendizagem das mesmas com a neuroplasticidade. A reorganização neural é um objetivo preliminar da recuperação neural para facilitar a recuperação da função e pode ser influenciado pela experiência, comportamento, prática de tarefas em resposta as lesões cerebrais. Um consenso na literatura sobre a plasticidade cerebral é que o aprendizado de determinada atividade ou a somente prática da mesma, desde que não seja simples repetição de movimentos, induza mudanças plásticas e dinâmicas no SNC. Sendo o SNC é altamente “plástico” essa característica permanece durante toda a vida, em condições normais ou patológicas. O córtex motor pode reorganizar-se em resposta ao treinamento de tarefas motoras especializadas depois de uma lesão isquêmica, acredita-se que regiões corticais não lesadas assumam a função perdida da área afetada. Os exercícios assistidos estimulam a sinaptogênese e promove o crescimento de espinhos dendríticos no córtex e poderão aumentar a neurogênese, a plasticidade sináptica e o aprendizado. 4.Terapia e/ou técnica de restrição e indução do movimento Os avanços tecnológicos da neurociência proporcionam hoje a aplicação de técnicas que ao longo dos anos tem se aprimorado e tem-se obtido grandes resultados, principalmente no que abrange a neuroplasticidade, que tem contribuído para o desenvolvimento de novas técnicas e tratamentos. Os estudos tem se baseado em novos modelos de controle motor e na teoria da aprendizagem, pesquisadores vêm buscando respostas que possam recuperar funcionalmente o membro superior afetado. Estudos esses conhecidos como Mirror Visual Feedback e visa recuperação motora do membro superior hemiparético integrando estímulos sensoriais à resposta motora, remodelando conexões corticais e promovendo modificações das áreas de 6 representação cortical. Esta intervenção está embasada na técnica proposta por Ramachadran (2005) para tratamento da dor fantasma. Dentre as intervenções propostas para o membro superior parético após o AVE, apontam que os treinamentos sensóriomotor e de reaprendizagem motora – o qual inclui o recurso à imagem mental, estimulação elétrica isolada ou em combinação com retroalimentação –, a participação do paciente em movimentos repetitivos, a introdução de novas tarefas e o treinamento motor no ambiente real podem ser efetivas na redução do comprometimento motor. Na terapia de imagem mental IM, quando o processo de imaginar o movimento de um objeto ou pessoa se refere ao movimento corporal, tem sido utilizado o termo imagem motora (FORMISANO, 2005). Na estratégia somatomotora, o sujeito sente a si próprio executando uma determinada ação: considera-se esse efeito uma retroalimentação (feedback) intrínseca, como a utilizada na pratica mental. O uso da IM na hemiparesia crônica propiciou maior reaprendizagem de tarefas treinadas e não-treinadas, aumento na habilidade de reter as tarefas treinadas e transferência destas para outras não-treinadas. Quando a simulação da imagem corporal se baseia na percepção visual do movimento imaginado, considera-se como uma estratégia de imaginação externa, um feedback externo, como o efeito obtido pelo estímulo visual do espelho. Altschuler et al.(2006) referem que a terapia do espelho influenciou a recuperação motora da amplitude, velocidade e precisão dos movimentos do membro superior afetado na hemiparesia crônica. Esse efeito ocorreu por propiciar ao paciente um estímulo visual apropriado, possivelmente substituindo a percepção, a qual, com freqüência, se encontra diminuída ou mesmo ausente. A hipótese subjacente é a de que o uso da imagem motora pode consistir em uma estratégia de “cópia motora” para o membro superior parético, por um feedback externo com o uso do espelho, e um feedback interno com a prática mental de atividades funcionais. Na terapia de movimento induzido por restrição, o desenvolvimento da habilidade motora com aumento no uso do membro superior afetado após o AVE foi obtido, tanto por imobilização do Membro superior intacto como por treinamento do membro superior afetado, procedimento baseado em pesquisas com primatas. Este estudo teve por objetivo investigar o efeito da associação das terapias que recorrem à imagem motora e ao movimento induzido por restrição na reeducação funcional do membro superior afetado de paciente hemiparético crônico com déficit sensório-motor devido a AVE. Segundo Morris et al (2001), Há muito se sabe que ocorre plasticidade substancial no desenvolvimento do sistema nervoso. Com o aprimoramento dos métodos de pesquisa, está ficando claro que significante plasticidade permanece na fase adulta. A aparente facilidade com que os mapas corticais podem ser alterados por aferências periféricas tem significância especial. Depois de uma lesão ou doença central, algumas respostas plásticas favorecem a recuperação, mas outras são contraproducentes Morris et al (2001). A técnica de Mirror Visual Feedback desenvolve - MVF promovendo estímulos visuais oferecidos através da imagem do membro sadio refletida em um espelho. O paciente recebe constantes comandos para movimentar o membro sadio ao mesmo tempo em que o comprometido, enquanto olhava através do espelho. Dessa forma, criou – se a sensação de que o membro afetado se movimentava. A visão do membro acometido realizando as funções através do espelho facilitaria a excitabilidade do córtex motor primário ipsilateral, fornecendo uma evidência neurofisiológica para a aplicação da técnica de MVF após o AVE, na ausência do movimento ativo essa técnica poderia favorecer a aquisição de movimentos, porém a funcionalidade poderá ficar limitada, isso se deve ao fato do paciente utilizar apenas o membro não afetado de forma compensatória dificultando ou impedindo a recuperação funcional do membro parético, a isso dar-se o nome de “não uso aprendido”. 7 A Técnica ou Terapia de Restrição e Indução ao Movimento (TRIM ) “Constant Induced Movement Therapy”, é uma técnica nova que tem por objetivo a recuperação da funcionalidade de extremidade superior parético de pacientes com seqüelas motoras de lesões encefálicas adquiridas através de tratamento intensivo e uso de restrição como luva ou tipóia no membro superior não-parético durante 90% do dia. A TRIM teve o seu início com pesquisas pré-clínicas em primatas machos jovens e possui embasamento teórico pela superação da Teoria do Desuso “learned nonused”, pela qual os primatas voltaram a utilizar o membro superior parético nas atividades cotidianas após o uso forçado do membro superior não-parético durante duas semanas. Atualmente o protocolo mais utilizado da TRIM é o de duas semanas consecutivas, com 6 horas diárias de prática supervisionada “shaping procedures e task pratice”, com o uso de uma restrição durante 90% do dia e realização do pacote de transferência, que consiste no contrato comportamental, aplicação diária da avaliação “Motor Activity Log” e prática de exercícios domiciliares. Esta terapêutica tem-se mostrado eficaz em estudos envolvendo populações com AVE, traumatismo crânio-encefálico, paralisia cerebral, e em estudos que envolvam técnicas de imagem. Essa restauração é atribuída a uma reorganização cortical uso-dependente que interrompe um processo cíclico chamado não uso aprendido (MILTNER et al., 1999, p. 586). A reorganização cortical uso dependente é um fenômeno de plasticidade cerebral onde o tamanho da área de representação cortical do membro superior por exemplo, é diretamente proporcional ao uso do mesmo. Esse fenômeno foi evidenciado em estudos (LIEPERT et al., 2000; LEVY et al., 2001; SCHAECHTER et al., 2002; PARK et al., 2004) que relatam alterações no padrão de atividade cerebral e aumento da área de representação cortical do membro superior acometido pelo AVE após a TCI (PARK et al., 2004, p. 95). Schaechter et al. (2002, p. 326) em seu estudo de neuro-imagem mostrou que a resposta de uma região cortical de um músculo da mão eliciada por ressonância magnética é quase o dobro depois da TCI em pacientes hemiplégicos crônicos comparado ao período pré tratamento. Liepert et al. (2000, p. 1210) sugerem a possibilidade que o aumento do uso do membro mais afetado produzido pela TCI resulta em um aumento da representação cortical desse membro, que proporciona uma base neural para um aumento do uso do membro. Com base nesta perspectiva, a eficácia da aplicação da TRIM tem sido atribuída à carga expressiva e repetitiva de treinamento motor focado em um único objetivo: a melhora substancial na quantidade do uso da extremidade superior hemiparética nas atividades de vida diária do paciente (SOUZA, 2007). A função motora pode desse modo, retornar gradualmente como resultado da recuperação espontânea e reabilitação. Esse treinamento produz uma significante melhora na qualidade de movimento e um substancial aumento na quantidade de uso da extremidade superior mais afetada nas atividades de vida diária (SOUZA, 2007). Estudos apontam que pacientes submetidos ao tratamento da TRIM, são favorecidos com a melhora da coordenação motora como, por exemplo, a execução de ações como escovar os dentes, como também foi verificado em nosso estudo (SOUZA, 2007). 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES A presente revisão baseou-se em artigos indexados na base de dados Pubmed, publicados no período de janeiro de 2003 a novembro de 2011. Foram feitas referências relevantes por meio dos descritores, em língua inglesa: “cerebrovascular accident”, “stroke”, “constraint induced movement therapy” e “Mirro Visual Feedback”. Utilizou-se um total de 15 artigos, sendo que 4 aplicados a pacientes amputados; 03 em crianças com paralisia cerebral; 01 em 8 pacientes com fibromialgia e 01 aplicados em pacientes jovens masculinos sadios e 03 aplicados em pacientes que haviam sido acometidos pelo AVE. A Técnica de Restrição e Indução do Movimento (TRIM) consiste da restrição do membro superior não acometido para que as atividades da vida diária do paciente sejam realizadas com a extremidade superior hemiparértica. Essa técnica foi inicialmente desenvolvida pelo Dr. Edward Taub que utilizaou inicialmente em primatas e posteriormente em humanos. Segundo Grotta et al (2004) a TRIM é baseada na teoria do “não uso apreendido”, que se desenvolve durante os primeiros estágios após o AVE, quando o paciente começa a utilizar movimentos compensatórios pela dificuldade de uso do membro afetado. Para Diniz et al. (2003) e Schaechter et al. (2002), a TRIM consiste em um conjunto de técnicas de reabilitação física do membro superior, que induzem o paciente a um grande aumento do uso do membro superior acometido pelo AVE, através treinamento repetitivo de atividades motoras juntamente com a restrição do membro não afetado. Os pacientes dos artigos pesquisados foram submetidos a técnica de Mirror Visual Feedback, e seus autores concluíram que houve ganhos na recuperação motora substancial, porém não houve ganhos funcionais no membro acometido. Um dos autores concluiu que a utilização clínica de Mirror Visual Feedback (MVF) foi inicialmente introduzido para aliviar a dor fantasma, e tem sido aplicado para a melhoria da acidente vascular cerebral hemiparesia sequência. No entanto, não se sabe se MVF pode restaurar a função motora através da produção de alterações plásticas no córtex motor primário humano. Já os pacientes que foram submetidos à Técnica e/ou Terapia de Restrição e Indução ao Movimento geraram resultados através da superação do “não-uso aprendido” devido ao esforço do uso freqüente do membro acometido e pela reorganização cortical uso-dependente através do treinamento repetitivo e sustentado reverte à perda da representação cortical do membro, que tem sido causada pelo não-uso. A TRIM tem mostrado ser mais efetiva que as terapias tradicionais para promover estas mudanças representacionais corticais. Acredita-se que esse processo possa ser usado para melhorar sistemas patológicos e que à ele se deva parte dos resultados favoráveis obtidos com a TRIM.O curto período de tempo do tratamento, 14 dias, faz a formação de novas conexões anatômicas por meio de brotamentos colaterais como um mecanismo improvável relacionado a neuroplasticidade induzida pela TRIM, porque claras evidências do crescimento axonal não tem sido encontradas até meses após ocorrência de uma lesão neurológica. O mecanismo mais provável é uma redução na atividade de interneurônios inibitórios locais, desmacarando assim conexões excitatórias pré-existentes. Um mecanismo alternativo e complementar possível é o aumento na potência das conexões sinápticas presentes. Segundo Liepert (1998), A TRIM hoje tem sido mensionada preferivelmente como uma técnica modelo para avaliar à neuroplasticidade uso dependente em pacientes com AVE. Segundo Diniz et al. (2003), a TRIM, pelo treinamento repetitivo, conduz um recrutamento de um amplo número de neurônios adjacentes à lesão, para a inervação dos músculos paréticos do membro superior afetado pelo AVE (SOUZA, 2007). Porém, segundo Schaechter et al. (2002), a melhora na função motora produzida pela TRIM em pacientes de AVE, está associada a mudanças na lateralidade da ativação cortical no hemisfério não lesado, em relação ao hemisfério ipsilateral, ou seja, o tratamento pode promover a recuperação motora pela mudança de posição de recrutamento cortical em direção ao hemisfério cerebral não lesado. Diante disso, Schaechter et al. (2002) sugerem que o córtex motor do hemisfério não lesado pode ser um alvo efetivo para as intervenções fisioterápicas de reabilitação direcionadas à melhora funcional após o AVE . De acordo com Souza et al. (2007), as atividades repetitivas, que demandam atenção e recompensa, têm o potencial de facilitar a aprendizagem motora e a neuroplasticidade, tanto na área lesada quanto em áreas não afetadas. Além disso, segundo Diniz et al. (2003), a TRIM tem mostrado ser mais efetiva que as terapias tradicionais para promover tais mudanças na 9 representação cortical e acredita-se que esse processo neuroplástico possa ser usado para melhorar sistemas patológicos e que é justamente por isso que à neuroplasticidade se deve a maior parte dos resultados favoráveis obtidos com a TRIM. A TRIM foi comparada com outras técnicas de treinamento, alguns autores realizaram estudo comparando a eficácia da TRIM com o treinamento bimanual intensivo baseado em tratamento de neurodesenvolvimento e obtiveram melhora estatísticas significativas. A aplicação da TRIM após a técnica MVF, especialmente no estágio crônico após o AVC, procedimentos como a TRIM podem aumentar a ativação no córtex pré-motor e somato sensorial ipsilateral resultando em reorganização cortical e melhora do desempenho motor. Novas técnicas estão sendo utilizadas na tentativa de recuperar o membro superior parético sendo uma delas a MVF, porém os resultados mostram apenas recuperação motora do membro superior, o que não representa atividade funcional, o que sugere a necessidade da aplicação de TRIM, que é uma técnica que promove a melhora da atividade funcional, após a recuperação motora do membro superior parético. 5. Dificuldades apresentadas Durante a aplicação da TRIM foram percebidas algumas dificuldades como transtornos psicológicos enfrentados por pacientes submetidos a. De acordo com Souza et al. (2007), a TRIM pode desencadear frustração e ansiedade, na medida em que exige considerável esforço dos pacientes, confrontando-os diretamente com suas dificuldades. A TRIM tem sido descrita pelos profissionais fisioterapeutas como uma técnica de difícil implementação, devido ao desconforto demonstrado pelos pacientes . Uma revisão sistemática, realizada por Hakkennes at al (2005), com o objetivo de investigar os efeitos na qualidade de vida, gastos em saúde e a satisfação do paciente submetido à TRIM, constatou que, em um estudo realizado, 63% dos 208 pacientes entrevistados disseram que não participariam da TRIM caso viessem a sofrer um AVE e a principal razão apontada pelos indivíduos foi a preocupação com a quantia de tempo usando o dispositivo de restrição e o número de horas de terapia (SOUZA, 2007). Segundo Yen et al. (2005), um dispositivo de restrição deixa os pacientes hesitados e com medo de participar do programa. Dromerick et al. (2000) demonstraram em seu estudo, realizado com 23 pacientes de AVE na fase aguda, submetidos à TRIM, que nenhum desses indivíduos se retirou da intervenção, o que, segundo os autores, sugere que o excesso de uso e a frustração não são obstáculos para o uso da TRIM em pacientes pós-AVE. Um estudo realizado por Boylstein et al. (2005), com o objetivo de pesquisar o processo de interação entre o paciente e o terapeuta durante 10 sessões de TRIM, por meio de entrevistas qualitativas em 15 pacientes e 6 fisioterapeutas, evidenciou que a interação social entre paciente e terapeuta a respeito do progresso físico feito diariamente representa grande influência na atitude do paciente em relação a TRIM. O estudo enfatiza que, através do encorajamento fornecido pelo terapeuta e da ilustração das melhoras obtidas, a relação social entre ambos é fortalecida e a motivação pessoal para a TRIM torna-se mais positiva, pois quando a melhora funcional não é contemplada com admiração pelo terapeuta, a melhora é ignorada pelo paciente. CONCLUSÃO Sendo o Acidente Vascular Encefálico uma das causas de grande mortalidade no Brasil e no Mundo, ficando atrás somente das doenças coronarianas e neoplásicas, e sendo muito mais incapacitante aos seus sobreviventes. O desenvolvimento de técnicas que busque a recuperação da funcionalidade motora é primordial para a promoção de maior dependência e qualidade de vida dos pacientes. 10 A Técnica e/ou Terapia de Restrição e Indução ao Movimento (TRIM) é sem dúvida uma alternativa importante para a reabilitação funcional de extremidade superior comprometido pós um Acidente Vascular Encefálico. O treinamento motor repetitivo é fonte de desenvolvimento cerebral pois induz à neuroplasticidade. Os estudos analisados demonstraram grande efetividade da TRIM na reorganização cortical, superação do “não-uso aprendido”, qualidade e quantidade de movimento do membro superior parético e melhora substancial na qualidade de vida dos pacientes crônicos pós-AVE. Uma das dificuldades apontadas em relação à aplicação da TRIM se refere aos possíveis transtornos psicológicos, como ansiedade e frustração, enfrentadas pelos pacientes submetidos à intervenção. Um fator negativo apontado por alguns autores é o uso de padrões motores alternativos adquiridos pelos pacientes ao realizarem suas tarefas. Por causa da restrição bibliográfica, existem ainda vários itens a serem esclarecidos a respeito da TRIM, tais como a criação de protocolos fisioterapêuticos específicos; investigação dos efeitos da TRIM sobre a espasticidade dos pacientes após o AVE. Os estudos demonstraram resultados positivos quanto ao uso da técnica podendo ser associada a técnica de Mirror Visual Feedback. Mas ainda há muito a se presquisar, e explorar, detalhar melhor seus ganhos e ajuste do protocolo. Enfim, enquanto o tratamento de cura para lesões neurológicas não é conhecido, são de grande utilidade a pesquisa de procedimentos conservadores como este, que levam à uma melhora funcional do paciente. Bibliografia AHMED S, MAYO NE, HIGGINS J, SALBACH NM, FINCH L, WOOD-DAUPHINÉE SL. A avaliação de Reabilitação Curso de Movimento (stream): uma comparação com outras medidas utilizadas para avaliar os efeitos de acidente vascular cerebral e reabilitação. Phys Ther. 2003; 83 (7) :617-30. ALTSCHULER EL, WISDOM SB, STONE L, FOSTER C, GALASKO D, LLEWELLYN ME, et al. Rehabilitation of hemiparesis after stroke with a mirror. Lancet. 1999;353:2035-6. BOYLSTEIN C, RITTMAN M, GUBRIUM J, BEHRMAN A, DAVIS S. The social organization in constraintinducedmovement therapy. 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