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CIÊNCIA EQUATORIAL
Artigo Original
ISSN 2179-9563
Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012
AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DO ARROIO PESSEGUEIRINHO, SANTA
ROSA-RS
Bruna Gerardon Batista1; Mateus Batista Fucks2
RESUMO
O Arroio Pessegueirinho está em um estado de emergência devido ao alto índice de degradação ambiental
proporcionado pela população que faz ligações da rede de esgoto diretamente no rio. As bactérias coliformes não
causam doenças por habitar o intestino humano, sendo que a presença das bactérias coliformes na água de um rio
significa que esse rio recebeu materiais fecais. São as fezes das pessoas doentes que transportam para as águas os
micróbios patogênicos causadores de doenças. A identificação de coliformes é feita facilmente, já que as bactérias
pertencentes a esse grupo fermentam a lactose do meio de cultura, produzindo gases que são observados nos tubos de
ensaio. As principais doenças de veiculação hídrica são a cólera, hepatite infecciosa tipo A e B, febre tifóide,
gastroenterite. A ocorrência desse tipo de doença pode ser minimizada mediante a adoção de práticas de saneamento
como coleta e tratamento de esgotos domésticos e tratamento de águas de abastecimento. O monitoramento periódico da
qualidade microbiológica da água e a observação das medidas de proteção contra o contato direto com possíveis águas
contaminadas são fatores importantes para a prevenção de doenças de veiculação hídrica. Desta forma, o tratamento e
disposição dos esgotos seriam as mais importantes medidas para reverter essa situação de risco à saúde pública. Essas
medidas, juntamente com um programa de educação sanitária, visariam o esclarecimento e a mudança de hábitos da
população local.
Palavras-chave: Enterotoxinas; Staphylococcus spp.; Intoxicação Alimentar; Detecção de Enterotoxinas.
MICROBIOLOGICAL EVALUATION OF WATER OF PESSEGUEIRINHO ARROIO, SANTA
ROSA-RS
ABSTRACT
The Pessegueirinho river is in a state of emergency due to the high environmental degradation index provided by the
population which makes sewer network links directly into the River. Coliform bacteria do not cause disease by dwell
the human gut, being that the presence of coliform bacteria in water of a river means that this river received fecal
material. The faeces of sick people that carrying water pathogenic microbes causing diseases. The identification of
coliforms is done easily, since bacteria belonging to this group will ferment the lactose of culture medium, producing
gases that are observed in test tubes. The major disease of water are cholera, infectious hepatitis types A and B, typhoid,
gastroenteritis. The occurrence of this type of disease can be minimized by adopting practices of sanitation as collection
and treatment of domestic sewage treatment and water supply. The periodic monitoring of the microbiological quality
of water and the note of the measures of protection against direct contact with potential contaminated waters are
important factors for the prevention of diseases of water. This way, the treatment and disposal of sewage would be the
most important measures to reverse this situation of risk to public health. These measures, together with a program of
health education, would aim the clarification and the changing habits of the local population.
Keywords: Pessegueirinho river, Water microbiology quality, Total coliforms, Fecal coliforms.
A água doce tornou-se cada vez mais
escassa, pelo aumento da população,
deposição de dejetos industriais nas águas dos
rios e a poluição dos mesmos pela própria
população, que incrivelmente necessita desta
água para sobreviver. Sabe-se também que a
água é o elemento mais importante como fonte
de vida para o ser humano, não sendo capaz de
existir vida sem ela. As células necessitam de
água para poderem trocar informações, sendo
que os ciclos de vida do meio ambiente não
funcionariam sem a presença de água. A falta
desta desencadeia em um terrível desequilíbrio
no ecossistema (CAMDESSUS, 2005).
O Arroio Pessegueirinho, que atravessa
o município de Santa Rosa-RS está a cada dia
que passa em um estado de maior emergência,
devido ao alto índice de degradação ambiental,
proporcionado pela própria população que faz
ligações clandestinas da rede de esgoto
diretamente no rio, destruindo também a mata
ciliar que serve como um filtro de proteção
para o rio (SEMA, 2011).
Esses dejetos que são depositados no
rio acabam poluindo as águas com algumas
bactérias que podem habitar os seres humanos
como parte da biota normal como também
podem contaminar a água com vários vírus
patogênicos que podem ser transmitidos com
um possível contato com essa água
contaminada (ANVISA, 2000).
As bactérias coliformes não causam
doenças, ao contrário, vivem no interior do
intestino de todos nós, auxiliando a nossa
digestão. Nossas fezes contêm um número
astronômico dessas bactérias, e cerca de 200
bilhões de coliformes são eliminados por cada
um de nós todos os dias. A presença das
bactérias coliformes na água de um rio
significa, pois, que esse rio recebeu materiais
fecais. Por outro lado, são as fezes das pessoas
doentes que transportam, para as águas ou para
o solo, os micróbios causadores de doenças.
Assim, se a água recebe fezes, ela pode muito
bem estar recebendo micróbios patogênicos.
Isso tem uma grande importância para a
avaliação da qualidade da água dos rios: suas
águas recebem esgotos, fatalmente receberão
coliformes (OLIVEIRA, 2007).
Por isso, a presença de coliformes na
água indica a presença de fezes e, portanto, a
possível presença de seres patogênicos, e
conseqüentemente de várias doenças que são
transmitidas por microorganismos patogênicos
(FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE
SÃO GONÇALO, 2005).
Como a maior parte das doenças
associadas com a água é transmitida por via
fecal, isto é, os organismos patogênicos, ao
serem eliminados pelas fezes, atingem o
ambiente aquático, podendo vir a contaminar
as pessoas que se abasteçam de forma
inadequada dessa água, conclui-se que as
bactérias coliformes podem ser usadas como
indicadoras dessa contaminação. Quanto maior
é a população de coliformes em uma amostra
de água, maior é a chance de que haja
contaminação por organismos patogênicos. A
identificação de coliformes é feita facilmente,
já que as bactérias pertencentes a esse grupo
fermentam a lactose do meio de cultura,
produzindo gases que são observados nos
tubos de ensaio (ANVISA, 2000).
O grupo dos coliformes fecais
compreende o gênero Escherichia e, em menor
extensão, espécies de Klebsiella, Citrobacter e
Enterobacter. Apesar da denominação, o
grupo acaba também por incluir bactérias de
origem não exclusivamente fecal, embora em
proporção bem menor que a do grupo dos
coliformes totais. Algumas espécies são
encontradas em águas ricas em matéria
orgânica, efluentes industriais (por exemplo,
Klebsiella pneumoniae) ou em material
vegetal e solos em decomposição. Além disso,
principalmente em climas tropicais, mesmo
que originalmente introduzidas na água por
poluição fecal, podem adaptar-se ao meio
aquático. Portanto, a utilização dos coliformes
fecais na avaliação da qualidade de águas
naturais, principalmente em países de clima
tropical, também tem sido questionada e a
tendência atual é de se referir ao grupo como
coliformes termotolerantes. Apesar disso e
com base no fato de que entre os cerca de 106108 coliformes fecais/100 mL, usualmente
presentes nos esgotos sanitários predomina a
Escherichia coli (esta sim, uma bactéria de
origem fecal), esses organismos ainda tem sido
largamente utilizados como indicadores de
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INTRODUÇÃO
poluição de águas naturais (SECRETARIA
DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006).
O papel dos microorganismos no
ambiente aquático está vinculado à
transformação da matéria dentro do ciclo dos
diversos elementos. Tais processos são
realizados com o objetivo de fornecimento de
energia
para
a
sobrevivência
dos
microorganismos. Um dos processos mais
significativos é a decomposição da matéria
orgânica, realizada principalmente por
bactérias. Esse processo é vital para o
ambiente aquático, pois a matéria orgânica que
ali chega é decomposta em substâncias mais
simples pela ação das bactérias. Como produto
final
obtém-se
compostos
minerais
inorgânicos, como, por exemplo, nitratos,
fosfatos e sulfatos. O processo de
decomposição, também designado como
mineralização, é um exemplo do papel
benéfico cumprido pelos microorganismos.
Ademais, existem algumas poucas espécies
que são capazes de transmitir enfermidades,
gerando, preocupações de ordem sanitária. O
problema de transmissão de enfermidades e
particularmente importante no caso de águas
de abastecimento, as quais devem passar por
um tratamento adequado. No entanto, a
determinação individual da eventual presença
de cada microorganismo patogênico em uma
amostra de água não pode ser feita
rotineiramente, já que envolveria a preparação
de diferentes meios de cultura, tornando o
procedimento complexo e financeiramente
inviável (BIANCHINI, 2002).
Em 1855, Theodor Escherich isolou
uma bactéria em fezes de crianças, a qual
recebeu a denominação original de Bacterium
coli e mais tarde foi confirmada como
habitante do trato intestinal de seres humanos
e animais de sangue quente (SECRETARIA
DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006).
Subseqüentes tentativas de diferenciar
Bacterium coli de outras bactérias da família
Enterobacteriaceae, entre estas, aquelas mais
nitidamente associadas à contaminação de
natureza fecal deram origem a subclassificação
do grupo coli-aerogenes, ou “coliformes”, e a
definição de sua composição pelos gêneros
Escherichia, Klebsiella e Citrobacter,
posteriormente complementado pela inclusão
do gênero Enterobacter. No desenvolvimento
do conceito de organismos indicadores de
contaminação e de sua aplicação na avaliação
da qualidade sanitária de ambientes e de
produtos de consumo humano, por muito
tempo prevaleceu o emprego da Escherichia
coli. Entretanto, a busca por agilidade e
simplicidade deu lugar à utilização
disseminada dos “coliformes” e, mais tarde,
dos “coliformes fecais”, diferenciados pelo
teste de termotolerância introduzido por
Eijkman ainda em 1904 (SECRETARIA DE
VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006).
As bactérias do grupo coliforme são
definidas na Portaria no 518/2004 como:
-coliformes totais: bacilos gramnegativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos,
não formadores de esporos, oxidase negativos,
capazes de desenvolver-se na presença de sais
biliares ou agentes tenso ativos que fermentam
a lactose com produção de acido, gás e aldeído
a 35 ºC em 24-48 horas e que podem
apresentar atividade da enzima betagalactosidase. A maioria das bactérias do
grupo coliforme pertence aos gêneros
Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e
Enterobacter, embora vários outros gêneros e
espécies pertençam ao grupo.
-Coliformes termotolerantes: subgrupo
das bactérias do grupo coliforme que
fermentam a lactose a 44,5 ºC em 24 horas,
tendo como principal representante a
Escherichia coli, de origem exclusivamente
fecal.
-Escherichia coli: bactéria do grupo
coliforme que fermenta a lactose e o manitol,
com produção de ácido e gás a 44,5 ºC em 24
horas, produz indol a partir do triptofano,
oxidase negativa, não hidrolisa a uréia e
apresenta atividade das enzimas betagalactosidase e beta-glucoronidase, sendo
considerada o mais especifico indicador de
contaminação fecal recente e de eventual
presença de organismos patogênicos (CESAN,
2011).
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A diarréia constitui um sintoma de
diversas etiologias, cada qual com seus
respectivos fatores de risco e atinge mais
facilmente crianças com menos de cinco anos
de idade, sendo a mortalidade mais comum
naquelas menores de dois anos, podendo gerar
duas importantes complicações: a desidratação
e o impacto negativo no estado nutricional da
criança, um dos principais problemas de saúde
pública dessa faixa etária (QUEIROZ;
HELLER; SILVA, 2009).
As principais doenças de veiculação
hídrica que estão emergentes na atualidade são
a cólera, hepatite infecciosa tipo A e B, febre
tifóide, gastroenterite, ascaridíase, amebíase e
esquistossomose.
A cólera (Vibrio cholerae) habita o
intestino provocando diarréia e vômitos
intensos, ficando desidratado rapidamente. A
doença é transmitida, principalmente, por meio
da água contaminada pelas fezes e pelos
vômitos dos doentes. Também pode ser
transmitida por alimentos que foram lavados
com água já contaminada pelo micróbio
causador da doença (NETTO; MORAES,
2003).
A hepatite infecciosa é uma das
enfermidades que também pode ser
transmitida através da água contaminada, em
seus dois tipos, “A” e “B”. Sendo que seus
dois subtipos apresentam um período de
incubação. Os indivíduos doentes podem
transmiti-la pelas fezes, duas semanas antes
até uma semana após o início da icterícia. A
transmissão pode ocorrer também pela
transfusão de sangue. É uma doença endêmica
no nosso meio (POTSH; MARTINS, 2004).
A febre tifóide (Salmonella typhi)
evolui num período de quatro semanas. A
fonte de infecção é o doente, já que os bacilos
persistem em suas fezes. Os sintomas das
doenças são dor de cabeça, mal-estar, fadiga,
boca amarga, febre, calafrios, indisposição
gástrica, diarréia e aumento do baço (LIMA,
2005).
Gastroenterite é uma infecção do
estômago e do intestino produzida por vírus ou
bactérias sendo responsável pela maioria dos
óbitos em crianças menores de um ano de
idade. Sua incidência é maior nos locais em
que não existe tratamento de água, rede de
esgoto, água encanada e destino adequado para
o lixo. Como sintomas, apresentam-se diarréia,
vômitos, febre e desidratação (MURRAY,
2006).
A Entamoeba coli é um parasito que se
localiza no intestino do ser humano, mas que
não o prejudica e, portanto, não precisa ser
tratada. Já a Entamoeba hystolitica é
prejudicial e precisa ser eliminada. Esses
parasitos são eliminados com as fezes que se
entradas em contato com água podem vir a
contaminar
esta
(SEHGAL;
BHATTACHARYA, 1996).
O Ascaris lumbricoides, popular
lombriga, é um verme que vive no intestino
das pessoas e causa uma doença chamada
ascaridíase. Depois de engolidos, os ovos
arrebentam, soltando larvas no intestino. Essas
larvas, levadas pelo sangue, passam pelo
fígado, coração, pulmões, brônquios e
retornam ao intestino, onde se tornam adultas,
para se acasalar e pôr ovos. O verme adulto
vive no intestino geralmente menos de seis
meses. As pessoas que têm lombrigas ficam
freqüentemente irritadas, sem apetite e
apresentam náuseas, vômitos, diarréia, cólicas
e dor abdominal (COPASA, 2010).
Outra doença importante de se relatar é
a esquistossomose, sendo uma doença crônica,
causada pelo Schistosoma mansoni que se
instala nas veias do fígado e do intestino. Para
que surja a esquistossomose numa localidade é
necessário a existência de caramujos que
hospedam
o
Schistosoma
mansoni
(ARIADNA, BRESCIA, 2001).
Esse artigo teve como objetivo realizar
uma análise bacteriológica da água do arroio
Pessegueirinho da cidade de Santa Rosa-RS
para verificar a presença de coliformes totais e
fecais em diferentes cursos.
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MATERIAL E MÉTODOS
Tipo de Pesquisa
A pesquisa realizada é descritiva com
coleta de dados.
População e Amostra
Foram coletadas seis amostras em
diferentes cursos do Arroio Pessegueirinho. Os
cursos escolhidos foram: nascente do Arroio,
situada junto a Vila Jardim-Progresso; curso
do Bairro Central (parte considerada com
maior mata ciliar, recentemente canalizada);
curso da Vila Aliança (antes da empresa BRF
Foods e após o Quartel); curso do Bairro
Timbaúva (após a empresa Camera
Alimentos); Vila Jardim Petrópolis (curso
atrás do Hospital Vida e Saúde) e o curso
sobre a ponte do Bairro Sulina.
Procedimento
Foi realizada uma análise qualitativa e
quantitativa quanto a presença de coliformes
totais e fecais, através do método do Número
Mais Provável (NMP).
As amostras foram coletadas no
período da manhã e armazenadas em
temperatura entre 2-8ºC, sendo analisadas no
turno da tarde no Laboratório Escola de
Biomedicina do Instituto Cenecista de Santo
Ângelo (IESA).
Foram coletados dois frascos estéreis
de 100 mL de água para cada curso. As
amostras foram analisadas de forma qualitativa
e quantitativa quanto à presença de coliformes
totais e fecais utilizando-se Caldo MUG Lauril
Sulfato da marca Himedia. Em um dos frascos
de cada curso foi adicionado o caldo
desidratado para análise qualitativa. Para a
análise quantitativa pelo método do número
mais provável (NMP) cada amostra foi
distribuída em 3 séries de 5 tubos, com
diluição 1:1, 1:10 e 1:100 de amostra em
relação ao caldo. Nos primeiros 5 tubos foram
adicionados 10 ml de água em uma diluição
1:1 do meio em concentração dupla. Nos
próximos 5 tubos foram adicionados 1 ml de
água em diluição 1:10 em meio com
concentração simples e nos últimos 5 tubos
foram adicionados 0,1mL de água em diluição
1:100 em meio com diluição simples. Após
todos os frascos e tubos foram incubados por
24 horas em estufa bacteriológica a 35 ºC, para
posterior leitura dos resultados.
O Caldo Lauril Sulfato foi formulado
por Mallmann e Darby e é recomendado pela
APHA (American Public Health Association)
para a detecção e enumeração de organismos
coliformes em alimentos e água. O MUG é
adicionado ao caldo como um composto
fluorogênico, que permite a detecção rápida de
Escherichia coli quando observada sob luz UV
onde uma confirmação posterior não é
necessária. A presença de coliformes totais é
verificada pela alteração da cor amarelo claro
para azul. A contaminação por Escherichia
coli é confirmada utilizando-se uma lâmpada
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ultravioleta de 365 nm em ambiente escuro. A
presença de fluorescência indica a hidrólise do
MUG pela enzima beta-glucuronidase presente
nesta espécie. Se a amostra permanecer com a
cor amarelo claro após 24 horas de incubação
o resultado é negativo, tanto para coliformes
totais como para E. coli. O resultado foi
expresso como presença ou ausência de
coliformes totais e Escherichia coli em 100
mL de amostra, bem como de forma
quantitativa pelo método NMP, seguindo as
recomendações da FUNASA (2006).
Tratamento Estatístico
A partir dos resultados foram
construídas tabelas e gráficos pelo programa
Microsoft Excel 2010.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Da análise dos resultados qualitativos
verificou-se a presença de coliformes totais e
fecais em todos os cursos do Arroio
Pessegueirinho, conforme demonstra a tabela
1.
Tabela 1. Resultado qualitativo
Local da Coleta Coliformes
Totais
Nascente Rio Presença em
100mL
Central Presença em
100mL
Aliança Presença em
100mL
Timbaúva Presença em
100mL
Jardim Petrópolis Presença em
100mL
Sulina Presença em
100mL
Escherichia
coli
Presença em
100mL
Presença em
100mL
Presença em
100mL
Presença em
100mL
Presença em
100mL
Presença em
100mL
As principais fontes poluidoras que
depositam dejetos diretamente no Arroio
Pessegueirinho de Santa Rosa são: Camera
Alimentos (fábrica de óleo comestível) que
deposita aeração; Exército Brasileiro que envia
diretamente duas fossas de decantação sem
tratamento; Frigorífico Alibem, com sistema
de tratamento de afluentes e BRF Foods que
possui sistema biológico de tratamento de
afluentes (FORNO, 2009). O crescimento de
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E. coli também está relacionado ao lançamento
direto dos esgoto das casas situadas na beira
do rio, pois essas bactérias podem pertencer a
biota normal dos seres humanos. Apesar de na
maioria das vezes essas bactérias não serem
patogênicas, o contato direto com a água
contaminada deve ser evitado, para que
doenças de veiculação hídrica não sejam
adquiridas.
Com
relação
aos
resultados
quantitativos houve diferença apenas com
relação a Escherichia coli na nascente do rio,
que apresentou menor quantidade no
crescimento bacteriano.
para instalações de foças sépticas devido ao
solo ser muito úmido.
Tabela 2. Resultado quantitativo (NMP/100mL)
Local da
Coleta
Nascente
Rio
Central
Aliança
Timbaúva
Jardim
Petrópolis
Sulina
Coliformes
Totais
(NMP/100mL)
≥ 1.600
Escherichia coli
(NMP/100mL)
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
≥ 1.600
500
Na nascente do Arroio Pessegueirinho
encontrou-se um crescimento de E. coli menor
que nos demais cursos do rio pelo fato de nela
possuir uma mata ciliar junto ao rio, que
auxilia na proteção do mesmo e também por
não possuir uma quantidade grande de casas
na beira do mesmo. A localização da nascente,
numa área mais afastada, dificulta o acesso da
população, que muitas vezes não se desloca até
a mesma para depositar lixo e dejetos, também
é outro aspecto que contribuiu para a obtenção
desse resultado. Mas vale ressaltar que este
resultado não é significativo sob o ponto de
vista da qualidade da água, o que torna o
Arroio Pessegueirinho impróprio para banho e
consumo de água desde sua nascente.
Segundo a população ribeirinha, o fato
de haver um crescimento bacteriano de
coliformes fecais desde a nascente, porém em
menor quantidade que nos demais cursos, se
dá pelo fato do Arroio possuir ligação de
esgoto direta das casas legalizada pela
prefeitura municipal. Esse fato ocorre pela
região não poder sofrer perfurações intensas
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Gráfico 1. Resultado quantitativo NMP/100mL
Com exceção da nascente, nos demais
cursos do rio, o número de coliformes fecais
encontrados pelo método no NMP foi a
máxima dentro de sua sensibilidade, podendo
constatar que todo Arroio pode ser uma fonte
de infecção de doenças de veiculação hídrica,
devendo estar a população ribeirinha sempre
em alerta para evitar ao máximo um possível
contato com a água do rio.
A maior parte das enfermidades
transmitidas para o ser humano através da
água
contaminada
é
causada
por
microrganismos, sendo que a ocorrência desse
tipo de doença pode ser minimizada ou até
mesmo evitada mediante a adoção de práticas
simples e adequadas de saneamento, como, por
exemplo, coleta e tratamento de esgotos
domésticos. Há enfermidades que estão
associadas com a falta de água e as
conseqüentes limitações na higiene pessoal,
como também as doenças cuja ocorrência
estão ligadas ao ciclo de vida do agente
infeccioso, que se passa no ambiente aquático,
como exemplo podemos citar os parasitas.
Merecem destaque também, as enfermidades
transmitidas por vetores que se relacionam
com a água, principalmente insetos que
nascem ou que picam dentro ou próximo da
água.
Em estudo semelhante realizado no Rio
Jacu Braço Sul- ES (TERRA et al 2008),
encontraram-se bastante variações ao longo do
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período de monitoramento em relação a
concentrações de coliformes termotolerantes.
Com exceção de dois pontos, todos os demais
analisados foram encontrados indícios de
contaminação, porém, todos os valores
observados
estão
dentro
do
limite
estabelecidos
pelo
CONAMA
(1.000
coliformes termotolerantes por 100 mL),
referente à proteção à vida aquática e à
recreação de contato primário, sendo esse
achado impróprio para o consumo humano. As
amostras analisadas do Arroio Pessegueirinho
de Santa Rosa-RS apresentaram uma
contaminação superior a 1.600 coliformes por
100 mL de água, valor acima do estabelecido
pelo CONAMA, o que nos garante que há uma
contaminação muito maior nas águas do
Arroio analisado no presente estudo.
Em outro estudo realizado em águas do
Rio São Lourenço- RS (VASCONCELOS et al
2006), 80 % dos pontos de coletas analisados,
apresentaram segundo a Resolução n° 357 do
CONAMA (17/03/2005), águas impróprias
para o consumo humano ou animal.
Comparando o resultado com os obtidos no
presente estudo, podemos observar que os rios
estão recebendo contaminação fecal em suas
águas em todos os seus cursos, o que aumenta
cada vez mais os riscos para a saúde da
população que tem suas residências nas
margens desses rios. Como o Rio São
Lourenço é utilizado para a navegação, banho
e irrigação, os resultados da contaminação são
mais influentes para a população que pode vir
a ter um contato com essa água, visto que suas
águas desembocam na Laguna dos Patos- RS,
recebendo também ao longo de seu percurso
resíduos agrícolas e efluentes domésticos sem
tratamento prévio, agravando ainda mais a
situação desse rio.
CONCLUSÃO
O monitoramento periódico da
qualidade microbiológica da água e a
observação das medidas de proteção contra o
contato direto com possíveis águas
contaminadas são fatores importantes para a
prevenção de doenças de veiculação hídrica. A
concentração de coliformes termotolerantes foi
utilizada como indicador de poluição, pelo
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efeito do lançamento de esgotos e resíduos
domésticos e industriais sem tratamento no
curso do Arroio Pessegueirinho. Assim,
considera-se que o Arroio tem a qualidade de
suas águas completamente comprometida,
impróprias para o consumo humano ou animal,
para banho ou para irrigação de frutas ou
hortaliças, por apresentar uma concentração
acima do permitido (>1.000/100 mL). Desta
forma, o tratamento e disposição dos esgotos
seriam as mais importantes medidas para
reverter essa situação de risco à saúde pública.
Essas medidas, juntamente com um programa
de educação sanitária, visariam um
esclarecimento e uma mudança de hábitos da
população local. Por fim, a partir desses dados,
é perceptível a necessidade de políticas
públicas que viabilizem a conservação dos
recursos hídricos da região, visto que a grande
quantidade de coliformes totais e fecais
encontradas nas águas de todos os cursos do
Arroio é um fator de risco à saúde humana.
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Página 8
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1 – Bruna Gerardon Batista
Acadêmica concluinte do curso de Biomedicina do
Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo,
ano de 2011.
2 – Mateus Batista Fucks
Especialista em Microbiologia (PUC Minas, 2009);
Graduação em Farmácia Bioquímica (UPF, 2003);
Professor CNEC/IESA.
Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012
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