CIÊNCIA EQUATORIAL Artigo Original ISSN 2179-9563 Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DO ARROIO PESSEGUEIRINHO, SANTA ROSA-RS Bruna Gerardon Batista1; Mateus Batista Fucks2 RESUMO O Arroio Pessegueirinho está em um estado de emergência devido ao alto índice de degradação ambiental proporcionado pela população que faz ligações da rede de esgoto diretamente no rio. As bactérias coliformes não causam doenças por habitar o intestino humano, sendo que a presença das bactérias coliformes na água de um rio significa que esse rio recebeu materiais fecais. São as fezes das pessoas doentes que transportam para as águas os micróbios patogênicos causadores de doenças. A identificação de coliformes é feita facilmente, já que as bactérias pertencentes a esse grupo fermentam a lactose do meio de cultura, produzindo gases que são observados nos tubos de ensaio. As principais doenças de veiculação hídrica são a cólera, hepatite infecciosa tipo A e B, febre tifóide, gastroenterite. A ocorrência desse tipo de doença pode ser minimizada mediante a adoção de práticas de saneamento como coleta e tratamento de esgotos domésticos e tratamento de águas de abastecimento. O monitoramento periódico da qualidade microbiológica da água e a observação das medidas de proteção contra o contato direto com possíveis águas contaminadas são fatores importantes para a prevenção de doenças de veiculação hídrica. Desta forma, o tratamento e disposição dos esgotos seriam as mais importantes medidas para reverter essa situação de risco à saúde pública. Essas medidas, juntamente com um programa de educação sanitária, visariam o esclarecimento e a mudança de hábitos da população local. Palavras-chave: Enterotoxinas; Staphylococcus spp.; Intoxicação Alimentar; Detecção de Enterotoxinas. MICROBIOLOGICAL EVALUATION OF WATER OF PESSEGUEIRINHO ARROIO, SANTA ROSA-RS ABSTRACT The Pessegueirinho river is in a state of emergency due to the high environmental degradation index provided by the population which makes sewer network links directly into the River. Coliform bacteria do not cause disease by dwell the human gut, being that the presence of coliform bacteria in water of a river means that this river received fecal material. The faeces of sick people that carrying water pathogenic microbes causing diseases. The identification of coliforms is done easily, since bacteria belonging to this group will ferment the lactose of culture medium, producing gases that are observed in test tubes. The major disease of water are cholera, infectious hepatitis types A and B, typhoid, gastroenteritis. The occurrence of this type of disease can be minimized by adopting practices of sanitation as collection and treatment of domestic sewage treatment and water supply. The periodic monitoring of the microbiological quality of water and the note of the measures of protection against direct contact with potential contaminated waters are important factors for the prevention of diseases of water. This way, the treatment and disposal of sewage would be the most important measures to reverse this situation of risk to public health. These measures, together with a program of health education, would aim the clarification and the changing habits of the local population. Keywords: Pessegueirinho river, Water microbiology quality, Total coliforms, Fecal coliforms. A água doce tornou-se cada vez mais escassa, pelo aumento da população, deposição de dejetos industriais nas águas dos rios e a poluição dos mesmos pela própria população, que incrivelmente necessita desta água para sobreviver. Sabe-se também que a água é o elemento mais importante como fonte de vida para o ser humano, não sendo capaz de existir vida sem ela. As células necessitam de água para poderem trocar informações, sendo que os ciclos de vida do meio ambiente não funcionariam sem a presença de água. A falta desta desencadeia em um terrível desequilíbrio no ecossistema (CAMDESSUS, 2005). O Arroio Pessegueirinho, que atravessa o município de Santa Rosa-RS está a cada dia que passa em um estado de maior emergência, devido ao alto índice de degradação ambiental, proporcionado pela própria população que faz ligações clandestinas da rede de esgoto diretamente no rio, destruindo também a mata ciliar que serve como um filtro de proteção para o rio (SEMA, 2011). Esses dejetos que são depositados no rio acabam poluindo as águas com algumas bactérias que podem habitar os seres humanos como parte da biota normal como também podem contaminar a água com vários vírus patogênicos que podem ser transmitidos com um possível contato com essa água contaminada (ANVISA, 2000). As bactérias coliformes não causam doenças, ao contrário, vivem no interior do intestino de todos nós, auxiliando a nossa digestão. Nossas fezes contêm um número astronômico dessas bactérias, e cerca de 200 bilhões de coliformes são eliminados por cada um de nós todos os dias. A presença das bactérias coliformes na água de um rio significa, pois, que esse rio recebeu materiais fecais. Por outro lado, são as fezes das pessoas doentes que transportam, para as águas ou para o solo, os micróbios causadores de doenças. Assim, se a água recebe fezes, ela pode muito bem estar recebendo micróbios patogênicos. Isso tem uma grande importância para a avaliação da qualidade da água dos rios: suas águas recebem esgotos, fatalmente receberão coliformes (OLIVEIRA, 2007). Por isso, a presença de coliformes na água indica a presença de fezes e, portanto, a possível presença de seres patogênicos, e conseqüentemente de várias doenças que são transmitidas por microorganismos patogênicos (FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO GONÇALO, 2005). Como a maior parte das doenças associadas com a água é transmitida por via fecal, isto é, os organismos patogênicos, ao serem eliminados pelas fezes, atingem o ambiente aquático, podendo vir a contaminar as pessoas que se abasteçam de forma inadequada dessa água, conclui-se que as bactérias coliformes podem ser usadas como indicadoras dessa contaminação. Quanto maior é a população de coliformes em uma amostra de água, maior é a chance de que haja contaminação por organismos patogênicos. A identificação de coliformes é feita facilmente, já que as bactérias pertencentes a esse grupo fermentam a lactose do meio de cultura, produzindo gases que são observados nos tubos de ensaio (ANVISA, 2000). O grupo dos coliformes fecais compreende o gênero Escherichia e, em menor extensão, espécies de Klebsiella, Citrobacter e Enterobacter. Apesar da denominação, o grupo acaba também por incluir bactérias de origem não exclusivamente fecal, embora em proporção bem menor que a do grupo dos coliformes totais. Algumas espécies são encontradas em águas ricas em matéria orgânica, efluentes industriais (por exemplo, Klebsiella pneumoniae) ou em material vegetal e solos em decomposição. Além disso, principalmente em climas tropicais, mesmo que originalmente introduzidas na água por poluição fecal, podem adaptar-se ao meio aquático. Portanto, a utilização dos coliformes fecais na avaliação da qualidade de águas naturais, principalmente em países de clima tropical, também tem sido questionada e a tendência atual é de se referir ao grupo como coliformes termotolerantes. Apesar disso e com base no fato de que entre os cerca de 106108 coliformes fecais/100 mL, usualmente presentes nos esgotos sanitários predomina a Escherichia coli (esta sim, uma bactéria de origem fecal), esses organismos ainda tem sido largamente utilizados como indicadores de Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Página 2 INTRODUÇÃO poluição de águas naturais (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006). O papel dos microorganismos no ambiente aquático está vinculado à transformação da matéria dentro do ciclo dos diversos elementos. Tais processos são realizados com o objetivo de fornecimento de energia para a sobrevivência dos microorganismos. Um dos processos mais significativos é a decomposição da matéria orgânica, realizada principalmente por bactérias. Esse processo é vital para o ambiente aquático, pois a matéria orgânica que ali chega é decomposta em substâncias mais simples pela ação das bactérias. Como produto final obtém-se compostos minerais inorgânicos, como, por exemplo, nitratos, fosfatos e sulfatos. O processo de decomposição, também designado como mineralização, é um exemplo do papel benéfico cumprido pelos microorganismos. Ademais, existem algumas poucas espécies que são capazes de transmitir enfermidades, gerando, preocupações de ordem sanitária. O problema de transmissão de enfermidades e particularmente importante no caso de águas de abastecimento, as quais devem passar por um tratamento adequado. No entanto, a determinação individual da eventual presença de cada microorganismo patogênico em uma amostra de água não pode ser feita rotineiramente, já que envolveria a preparação de diferentes meios de cultura, tornando o procedimento complexo e financeiramente inviável (BIANCHINI, 2002). Em 1855, Theodor Escherich isolou uma bactéria em fezes de crianças, a qual recebeu a denominação original de Bacterium coli e mais tarde foi confirmada como habitante do trato intestinal de seres humanos e animais de sangue quente (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006). Subseqüentes tentativas de diferenciar Bacterium coli de outras bactérias da família Enterobacteriaceae, entre estas, aquelas mais nitidamente associadas à contaminação de natureza fecal deram origem a subclassificação do grupo coli-aerogenes, ou “coliformes”, e a definição de sua composição pelos gêneros Escherichia, Klebsiella e Citrobacter, posteriormente complementado pela inclusão do gênero Enterobacter. No desenvolvimento do conceito de organismos indicadores de contaminação e de sua aplicação na avaliação da qualidade sanitária de ambientes e de produtos de consumo humano, por muito tempo prevaleceu o emprego da Escherichia coli. Entretanto, a busca por agilidade e simplicidade deu lugar à utilização disseminada dos “coliformes” e, mais tarde, dos “coliformes fecais”, diferenciados pelo teste de termotolerância introduzido por Eijkman ainda em 1904 (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006). As bactérias do grupo coliforme são definidas na Portaria no 518/2004 como: -coliformes totais: bacilos gramnegativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, oxidase negativos, capazes de desenvolver-se na presença de sais biliares ou agentes tenso ativos que fermentam a lactose com produção de acido, gás e aldeído a 35 ºC em 24-48 horas e que podem apresentar atividade da enzima betagalactosidase. A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e espécies pertençam ao grupo. -Coliformes termotolerantes: subgrupo das bactérias do grupo coliforme que fermentam a lactose a 44,5 ºC em 24 horas, tendo como principal representante a Escherichia coli, de origem exclusivamente fecal. -Escherichia coli: bactéria do grupo coliforme que fermenta a lactose e o manitol, com produção de ácido e gás a 44,5 ºC em 24 horas, produz indol a partir do triptofano, oxidase negativa, não hidrolisa a uréia e apresenta atividade das enzimas betagalactosidase e beta-glucoronidase, sendo considerada o mais especifico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença de organismos patogênicos (CESAN, 2011). Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Página 3 A diarréia constitui um sintoma de diversas etiologias, cada qual com seus respectivos fatores de risco e atinge mais facilmente crianças com menos de cinco anos de idade, sendo a mortalidade mais comum naquelas menores de dois anos, podendo gerar duas importantes complicações: a desidratação e o impacto negativo no estado nutricional da criança, um dos principais problemas de saúde pública dessa faixa etária (QUEIROZ; HELLER; SILVA, 2009). As principais doenças de veiculação hídrica que estão emergentes na atualidade são a cólera, hepatite infecciosa tipo A e B, febre tifóide, gastroenterite, ascaridíase, amebíase e esquistossomose. A cólera (Vibrio cholerae) habita o intestino provocando diarréia e vômitos intensos, ficando desidratado rapidamente. A doença é transmitida, principalmente, por meio da água contaminada pelas fezes e pelos vômitos dos doentes. Também pode ser transmitida por alimentos que foram lavados com água já contaminada pelo micróbio causador da doença (NETTO; MORAES, 2003). A hepatite infecciosa é uma das enfermidades que também pode ser transmitida através da água contaminada, em seus dois tipos, “A” e “B”. Sendo que seus dois subtipos apresentam um período de incubação. Os indivíduos doentes podem transmiti-la pelas fezes, duas semanas antes até uma semana após o início da icterícia. A transmissão pode ocorrer também pela transfusão de sangue. É uma doença endêmica no nosso meio (POTSH; MARTINS, 2004). A febre tifóide (Salmonella typhi) evolui num período de quatro semanas. A fonte de infecção é o doente, já que os bacilos persistem em suas fezes. Os sintomas das doenças são dor de cabeça, mal-estar, fadiga, boca amarga, febre, calafrios, indisposição gástrica, diarréia e aumento do baço (LIMA, 2005). Gastroenterite é uma infecção do estômago e do intestino produzida por vírus ou bactérias sendo responsável pela maioria dos óbitos em crianças menores de um ano de idade. Sua incidência é maior nos locais em que não existe tratamento de água, rede de esgoto, água encanada e destino adequado para o lixo. Como sintomas, apresentam-se diarréia, vômitos, febre e desidratação (MURRAY, 2006). A Entamoeba coli é um parasito que se localiza no intestino do ser humano, mas que não o prejudica e, portanto, não precisa ser tratada. Já a Entamoeba hystolitica é prejudicial e precisa ser eliminada. Esses parasitos são eliminados com as fezes que se entradas em contato com água podem vir a contaminar esta (SEHGAL; BHATTACHARYA, 1996). O Ascaris lumbricoides, popular lombriga, é um verme que vive no intestino das pessoas e causa uma doença chamada ascaridíase. Depois de engolidos, os ovos arrebentam, soltando larvas no intestino. Essas larvas, levadas pelo sangue, passam pelo fígado, coração, pulmões, brônquios e retornam ao intestino, onde se tornam adultas, para se acasalar e pôr ovos. O verme adulto vive no intestino geralmente menos de seis meses. As pessoas que têm lombrigas ficam freqüentemente irritadas, sem apetite e apresentam náuseas, vômitos, diarréia, cólicas e dor abdominal (COPASA, 2010). Outra doença importante de se relatar é a esquistossomose, sendo uma doença crônica, causada pelo Schistosoma mansoni que se instala nas veias do fígado e do intestino. Para que surja a esquistossomose numa localidade é necessário a existência de caramujos que hospedam o Schistosoma mansoni (ARIADNA, BRESCIA, 2001). Esse artigo teve como objetivo realizar uma análise bacteriológica da água do arroio Pessegueirinho da cidade de Santa Rosa-RS para verificar a presença de coliformes totais e fecais em diferentes cursos. Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Página 4 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de Pesquisa A pesquisa realizada é descritiva com coleta de dados. População e Amostra Foram coletadas seis amostras em diferentes cursos do Arroio Pessegueirinho. Os cursos escolhidos foram: nascente do Arroio, situada junto a Vila Jardim-Progresso; curso do Bairro Central (parte considerada com maior mata ciliar, recentemente canalizada); curso da Vila Aliança (antes da empresa BRF Foods e após o Quartel); curso do Bairro Timbaúva (após a empresa Camera Alimentos); Vila Jardim Petrópolis (curso atrás do Hospital Vida e Saúde) e o curso sobre a ponte do Bairro Sulina. Procedimento Foi realizada uma análise qualitativa e quantitativa quanto a presença de coliformes totais e fecais, através do método do Número Mais Provável (NMP). As amostras foram coletadas no período da manhã e armazenadas em temperatura entre 2-8ºC, sendo analisadas no turno da tarde no Laboratório Escola de Biomedicina do Instituto Cenecista de Santo Ângelo (IESA). Foram coletados dois frascos estéreis de 100 mL de água para cada curso. As amostras foram analisadas de forma qualitativa e quantitativa quanto à presença de coliformes totais e fecais utilizando-se Caldo MUG Lauril Sulfato da marca Himedia. Em um dos frascos de cada curso foi adicionado o caldo desidratado para análise qualitativa. Para a análise quantitativa pelo método do número mais provável (NMP) cada amostra foi distribuída em 3 séries de 5 tubos, com diluição 1:1, 1:10 e 1:100 de amostra em relação ao caldo. Nos primeiros 5 tubos foram adicionados 10 ml de água em uma diluição 1:1 do meio em concentração dupla. Nos próximos 5 tubos foram adicionados 1 ml de água em diluição 1:10 em meio com concentração simples e nos últimos 5 tubos foram adicionados 0,1mL de água em diluição 1:100 em meio com diluição simples. Após todos os frascos e tubos foram incubados por 24 horas em estufa bacteriológica a 35 ºC, para posterior leitura dos resultados. O Caldo Lauril Sulfato foi formulado por Mallmann e Darby e é recomendado pela APHA (American Public Health Association) para a detecção e enumeração de organismos coliformes em alimentos e água. O MUG é adicionado ao caldo como um composto fluorogênico, que permite a detecção rápida de Escherichia coli quando observada sob luz UV onde uma confirmação posterior não é necessária. A presença de coliformes totais é verificada pela alteração da cor amarelo claro para azul. A contaminação por Escherichia coli é confirmada utilizando-se uma lâmpada Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 ultravioleta de 365 nm em ambiente escuro. A presença de fluorescência indica a hidrólise do MUG pela enzima beta-glucuronidase presente nesta espécie. Se a amostra permanecer com a cor amarelo claro após 24 horas de incubação o resultado é negativo, tanto para coliformes totais como para E. coli. O resultado foi expresso como presença ou ausência de coliformes totais e Escherichia coli em 100 mL de amostra, bem como de forma quantitativa pelo método NMP, seguindo as recomendações da FUNASA (2006). Tratamento Estatístico A partir dos resultados foram construídas tabelas e gráficos pelo programa Microsoft Excel 2010. RESULTADOS E DISCUSSÃO Da análise dos resultados qualitativos verificou-se a presença de coliformes totais e fecais em todos os cursos do Arroio Pessegueirinho, conforme demonstra a tabela 1. Tabela 1. Resultado qualitativo Local da Coleta Coliformes Totais Nascente Rio Presença em 100mL Central Presença em 100mL Aliança Presença em 100mL Timbaúva Presença em 100mL Jardim Petrópolis Presença em 100mL Sulina Presença em 100mL Escherichia coli Presença em 100mL Presença em 100mL Presença em 100mL Presença em 100mL Presença em 100mL Presença em 100mL As principais fontes poluidoras que depositam dejetos diretamente no Arroio Pessegueirinho de Santa Rosa são: Camera Alimentos (fábrica de óleo comestível) que deposita aeração; Exército Brasileiro que envia diretamente duas fossas de decantação sem tratamento; Frigorífico Alibem, com sistema de tratamento de afluentes e BRF Foods que possui sistema biológico de tratamento de afluentes (FORNO, 2009). O crescimento de Página 5 E. coli também está relacionado ao lançamento direto dos esgoto das casas situadas na beira do rio, pois essas bactérias podem pertencer a biota normal dos seres humanos. Apesar de na maioria das vezes essas bactérias não serem patogênicas, o contato direto com a água contaminada deve ser evitado, para que doenças de veiculação hídrica não sejam adquiridas. Com relação aos resultados quantitativos houve diferença apenas com relação a Escherichia coli na nascente do rio, que apresentou menor quantidade no crescimento bacteriano. para instalações de foças sépticas devido ao solo ser muito úmido. Tabela 2. Resultado quantitativo (NMP/100mL) Local da Coleta Nascente Rio Central Aliança Timbaúva Jardim Petrópolis Sulina Coliformes Totais (NMP/100mL) ≥ 1.600 Escherichia coli (NMP/100mL) ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 ≥ 1.600 500 Na nascente do Arroio Pessegueirinho encontrou-se um crescimento de E. coli menor que nos demais cursos do rio pelo fato de nela possuir uma mata ciliar junto ao rio, que auxilia na proteção do mesmo e também por não possuir uma quantidade grande de casas na beira do mesmo. A localização da nascente, numa área mais afastada, dificulta o acesso da população, que muitas vezes não se desloca até a mesma para depositar lixo e dejetos, também é outro aspecto que contribuiu para a obtenção desse resultado. Mas vale ressaltar que este resultado não é significativo sob o ponto de vista da qualidade da água, o que torna o Arroio Pessegueirinho impróprio para banho e consumo de água desde sua nascente. Segundo a população ribeirinha, o fato de haver um crescimento bacteriano de coliformes fecais desde a nascente, porém em menor quantidade que nos demais cursos, se dá pelo fato do Arroio possuir ligação de esgoto direta das casas legalizada pela prefeitura municipal. Esse fato ocorre pela região não poder sofrer perfurações intensas Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Gráfico 1. Resultado quantitativo NMP/100mL Com exceção da nascente, nos demais cursos do rio, o número de coliformes fecais encontrados pelo método no NMP foi a máxima dentro de sua sensibilidade, podendo constatar que todo Arroio pode ser uma fonte de infecção de doenças de veiculação hídrica, devendo estar a população ribeirinha sempre em alerta para evitar ao máximo um possível contato com a água do rio. A maior parte das enfermidades transmitidas para o ser humano através da água contaminada é causada por microrganismos, sendo que a ocorrência desse tipo de doença pode ser minimizada ou até mesmo evitada mediante a adoção de práticas simples e adequadas de saneamento, como, por exemplo, coleta e tratamento de esgotos domésticos. Há enfermidades que estão associadas com a falta de água e as conseqüentes limitações na higiene pessoal, como também as doenças cuja ocorrência estão ligadas ao ciclo de vida do agente infeccioso, que se passa no ambiente aquático, como exemplo podemos citar os parasitas. Merecem destaque também, as enfermidades transmitidas por vetores que se relacionam com a água, principalmente insetos que nascem ou que picam dentro ou próximo da água. Em estudo semelhante realizado no Rio Jacu Braço Sul- ES (TERRA et al 2008), encontraram-se bastante variações ao longo do Página 6 período de monitoramento em relação a concentrações de coliformes termotolerantes. Com exceção de dois pontos, todos os demais analisados foram encontrados indícios de contaminação, porém, todos os valores observados estão dentro do limite estabelecidos pelo CONAMA (1.000 coliformes termotolerantes por 100 mL), referente à proteção à vida aquática e à recreação de contato primário, sendo esse achado impróprio para o consumo humano. As amostras analisadas do Arroio Pessegueirinho de Santa Rosa-RS apresentaram uma contaminação superior a 1.600 coliformes por 100 mL de água, valor acima do estabelecido pelo CONAMA, o que nos garante que há uma contaminação muito maior nas águas do Arroio analisado no presente estudo. Em outro estudo realizado em águas do Rio São Lourenço- RS (VASCONCELOS et al 2006), 80 % dos pontos de coletas analisados, apresentaram segundo a Resolução n° 357 do CONAMA (17/03/2005), águas impróprias para o consumo humano ou animal. Comparando o resultado com os obtidos no presente estudo, podemos observar que os rios estão recebendo contaminação fecal em suas águas em todos os seus cursos, o que aumenta cada vez mais os riscos para a saúde da população que tem suas residências nas margens desses rios. Como o Rio São Lourenço é utilizado para a navegação, banho e irrigação, os resultados da contaminação são mais influentes para a população que pode vir a ter um contato com essa água, visto que suas águas desembocam na Laguna dos Patos- RS, recebendo também ao longo de seu percurso resíduos agrícolas e efluentes domésticos sem tratamento prévio, agravando ainda mais a situação desse rio. CONCLUSÃO O monitoramento periódico da qualidade microbiológica da água e a observação das medidas de proteção contra o contato direto com possíveis águas contaminadas são fatores importantes para a prevenção de doenças de veiculação hídrica. A concentração de coliformes termotolerantes foi utilizada como indicador de poluição, pelo Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 efeito do lançamento de esgotos e resíduos domésticos e industriais sem tratamento no curso do Arroio Pessegueirinho. Assim, considera-se que o Arroio tem a qualidade de suas águas completamente comprometida, impróprias para o consumo humano ou animal, para banho ou para irrigação de frutas ou hortaliças, por apresentar uma concentração acima do permitido (>1.000/100 mL). Desta forma, o tratamento e disposição dos esgotos seriam as mais importantes medidas para reverter essa situação de risco à saúde pública. Essas medidas, juntamente com um programa de educação sanitária, visariam um esclarecimento e uma mudança de hábitos da população local. Por fim, a partir desses dados, é perceptível a necessidade de políticas públicas que viabilizem a conservação dos recursos hídricos da região, visto que a grande quantidade de coliformes totais e fecais encontradas nas águas de todos os cursos do Arroio é um fator de risco à saúde humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIADNA, J.; BRESCIA, F. Acompanhamento do ciclo de vida de Schistosoma mansoni (PLATYHELMINTHES: TREMATODA) em condições laboratoriais. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.1, n.2. Paraíba, 2011. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância em Saúde. Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviço de Saúde. Editora Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ed.1. Brasília, 2000. BANCO DE DADOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. Cadernos de Saúde. Seção: Assistência hospitalar. Disponível no site <http://www.datasus.gov.br>. Acesso em 04 de outubro de 2011. BIANCHINI, I. Aspectos do Processo de Decomposição nos Ecossistemas Aquáticos Continentais. 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