ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA MÔNICA BENTES A ATUAÇÃO DO BRASIL NA DEFESA DE SEUS INTERESSES ECONÔMICOS NO CENÁRIO INTERNACIONAL: Uma análise através do tempo Rio de Janeiro 2012 MÔNICA BENTES A ATUAÇÃO DO BRASIL NA DEFESA DE SEUS INTERESSES ECONÔMICOS NO CENÁRIO INTERNACIONAL: Uma análise através do tempo Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. ORIENTADOR:Economista Amilcar Manoel de Menezes Rio de Janeiro 2012 DIREITO AUTORAL E FICHA CATALOGRÁFICA C2012 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _____________________________ Mônica Bentes Biblioteca General Cordeiro de Farias Bentes, Monica A Atuação do Brasil na Defesa de Seus Interesses Econômicos no Cenário Internacional: uma análise através do tempo / Mônica Bentes Rio de Janeiro : ESG, 2012. 37f. Orientador: Economista Amilcar Manoel de Menezes Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2012. 1. Economia. 2. Poder. 3. Desindustrialização. I.Título. A meus pais. AGRADECIMENTOS Ao Corpo Permanente da ESG e aos demais professores e conferencistas do CAEPE 2012. Aos colegas da Turma PROANTAR – Programa Antártico Brasileiro (CAEPE 2012), pela amizade espontânea e crescimento intelectual, proporcionados pelo convívio diário. Ao meu orientador, o economista Amilcar Manoel de Menezes, um agradecimento especial pela orientação e atenção dedicada para a realização desta monografia. A economia para ser uma política útil e verdadeira tem que ser mais que o expediente, ou o artifício, de uma administração, tem que ser uma virtude nacional ou, ainda melhor, um estado de consciência pública. Joaquim Nabuco RESUMO Esta monografia pretende oferecer uma visão de conjunto da atuação do Brasil na defesa de seus interesses econômicos em diferentes momentos históricos. Poderemos observar ainda, se houve efetividade na atuação do Brasil na defesa de seus interesses. O estudo tem como ponto de partida o século XVII e encerra-se na atualidade. Foram selecionados apenas os acontecimentos considerados de maior expressão para o tema proposto, sem a obrigação de apresentar todos os fatos ocorridos no período. A metodologia adotada comportou a pesquisa de bibliografia especializada, o que permitiu diagnosticar a efetividade da força política e econômica do país para defender os interesses nacionais. Na crise financeira iniciada em 2008, o Brasil conseguiu avançar economicamente, apesar de atualmente estarmos observando o processo de desindustrialização no país. Pôdese constatar também, que na maioria das vezes, o Brasil sofreu consequências de cenários adversos quando não possuía Poder suficiente para defesa de seus interesses. Palavras chave: Economia. Poder. Desindustrialização. ABSTRACT This monograph aims to provide an overview of Brazil's role in defending its economic interests, in different historical periods. We will also observe if there was effectiveness in the performance of Brazil, in defending its interests. The overview starts at the seventeenth century and ends today, we selected only the events considered of greater expression to the theme, with no obligation to present all the facts occurred during the period. The research methodology adopted behaved professional literature, which enabled us to diagnose the effectiveness of economic and political strength to defend the country's national interests. During the crisis of 2008, Brazil could advance economically, although today we are observing the process of de-industrialization of the country, it might be also observed that, at most of the time, Brazil has suffered the consequences of adverse scenarios in which it did not have enough power to defend its own interests. Keywords: Economics. Power. Deindustrialisation SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO............................................................................................... 10 2 – PROBLEMA E OBJETIVO............................................................................ 12 3 – ASPECTOS HISTÓRICOS – CICLOS ECONÔMICOS................................ 3.1 – A ECONOMIA AÇUCAREIRA E A EXPULSÃO DOS HOLANDESES....... 3.2 – CICLO DO CAFÉ....................................................................................... 3.3 – CICLO DA BORRACHA............................................................................. 16 16 19 25 4 – O PROCESSO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO NACIONAL........................ 29 5 – ANÁLISE DO PROBLEMA........................................................................... 32 6 – CONCLUSÃO............................................................................................... 33 REFERÊNCIAS............................................................................................. 36 10 1 INTRODUÇÃO “Mas a paixão cega nossos olhos, e a luz que a experiência nos dá é a de uma lanterna na popa, que ilumina apenas as ondas que deixamos para trás.” Samuel Taylor Coleridge ( 1772 – 1834 ) Analisar os rumos do Brasil na defesa de seus interesses econômicos no mundo globalizado, apresenta desafios maiores do que em conjunturas anteriores. Entrando na segunda década do século XXI, ainda não enfrentamos com sucesso o binômio modernização versus arcaísmo. Acumulamos vícios de poder, o ancestral coronel populista e assistencialista, reeditado em cada nova fase histórica, os quais permanecem presentes, defendendo interesses que desmobilizam a inovação e o avanço pleno do desenvolvimento do Brasil. A continuidade da crise financeira mundial, iniciada em 2008, tem provocado apreensão nas relações econômicas internacionais. O Brasil tem conseguido enfrentar a atual crise de forma mais estruturada do que em outros momentos de sua história, mas há grandes ameaças ao desenvolvimento econômico nacional. A apreciação do Real fez com que o país perdesse competitividade, em função dos altos custos de produção. O Brasil está passando por um processo de desindustrialização, capitaneado pela falta de competitividade, que não está restrita apenas ao problema cambial. Historicamente a pauta de exportações brasileira esteve atrelada a produtos primários, assim, sua taxa de atividade econômica sempre dependeu fortemente dos centros industrializados do mundo. Analisando o processo de desenvolvimento econômico brasileiro, desde o período colonial até o momento atual, podemos observar que a experiência brasileira é bastante rica, passando de país atrasado dependente de exportações primárias à potência econômica emergente. Essas realizações, contudo, não transformaram o Brasil em uma sociedade industrial avançada, pois a distribuição de renda continua desigual, o país apresenta baixo desenvolvimento científico tecnológico e as diferenças regionais ainda são enormes. Atualmente a produção industrial brasileira está em declínio, resta saber até que ponto o país manterá a capacidade de recuperação de seu parque industrial. 11 Política e economia estão relacionadas, pois são interdependentes. O Brasil tem feito opções político-econômicas associadas a interesses do setor primário, em detrimento do setor produtivo tecnológico. O país precisa adotar como diretriz prioritária para seu desenvolvimento a redução de suas vulnerabilidades externas. Inicialmente, deve alterar políticas econômicas que beneficiam apenas alguns setores da economia, devendo superar barreiras internas que prejudicam a projeção internacional do país e aumentam sua vulnerabilidade no âmbito comercial e produtivo. Na concepção Weberiana, “poder de um ator político é a probabilidade de realizar a sua própria vontade independentemente da vontade alheia”. Nas relações internacionais o Estado é o ator principal. Pretende-se, com este estudo, contribuir para a compreensão e análise do poder do Estado brasileiro para realizar sua vontade no cenário mundial. 12 2 PROBLEMA E OBJETIVO O Brasil está passando por processo de desindustrialização decorrente de vários fatores, agravado pela apreciação cambial do Real nos últimos anos. Provavelmente, subestimamos o impacto da crise industrial, que é global. Diretamente, a estagnação européia e a fragilidade econômica argentina provocam queda nas exportações de manufaturados brasileiros. O objetivo geral deste trabalho é analisar se o Brasil possui força política e econômica necessárias para enfrentar o quadro que se apresenta ou se sofrerá as consequências de um cenário adverso, onde não possui Poder suficiente para defender seus interesses. Os objetivos específicos irão oferecer visão de conjunto da atuação do Brasil na defesa de seus interesses econômicos; analisar-se-á também os cenários externos que influenciaram o desenvolvimento ou a retração da economia brasileira nos momentos históricos eleitos para análise. Inicialmente serão analisados os ciclos econômicos do açúcar, do café e o fim do ciclo da borracha. O período é extenso mas marcado essencialmente por uma produção voltada para o comércio exterior, o setor primário-exportador era o elemento dinâmico gerador de renda. Em função da produção açucareira, o eixo econômico da Colônia se estabeleceu no Nordeste. Nesta primeira fase, o financiamento da lavoura canavieira era quase todo proveniente de casas financeiras dos Países Baixos. A ineficiência das autoridades portuguesas, especialmente durante a União Ibérica, levou essas casas financeiras a organizar e financiar a ocupação de parte do território brasileiro. A expulsão dos holandeses do Nordeste, a transferência desses capitais para as Antilhas e a concorrência com o produto destas, levaria ao declínio da produção brasileira, sem que a atividade desaparecesse. Em guerra com a Inglaterra, com conflitos internos com suas províncias e precisando do sal de Portugal para preservar seus peixes, a Holanda desistiu da guerra do açúcar. Somente em 1661, sete anos após a expulsão dos invasores, Portugal e os Países Baixos chegaram a um acordo a respeito da indenização a ser paga pela restituição do Nordeste: a dívida deveria ser quitada em 16 anos com o sal de Setúbal, Portugal abriu os portos do Brasil para a navegação holandesa, baixou o preço do sal de Setúbal e reconheceu as conquistas holandesas no Extremo Oriente a suas custas. Cabe 13 analisar as possibilidades reais de Portugal de defender seus interesses mediante as imposições da Holanda e da Inglaterra. A partir do século XIX o Brasil, como país soberano, integra-se à economia mundial. Com a Revolução Industrial, ocupa desde o período colonial, a posição de exportador de matérias primas e de consumidor de produtos industrializados. A partir de 1840, o café era o principal item da pauta de exportações do país, cabe citar que no caso do café, o Brasil não regulou a produção e, pelo excesso, depreciou o produto no mercado internacional. Como estratégia principal, houve intervenções oficiais na compra maciça da produção, para forçar a alta dos preços. A principal dificuldade foi conseguir financiamento para realizar esta manobra, a única alternativa foram grupos financeiros que se aproveitaram da situação para se apoderarem do mercado cafeeiro. Durante o processo de pesquisa foi possível verificar que diferentemente de outros ciclos econômicos, a falta de controle e estratégia para a produção do café foi a principal razão do declínio. Sem dúvida, a postura governamental e dos produtores, no Brasil, foi a principal razão da crise que abalou o setor. Em função da expansão da recém criada indústria de automóveis, no final do século XIX, a borracha desponta como novo produto de exportação, chegando a ocupar o primeiro lugar na pauta de exportações. O Brasil era o maior produtor mundial no início de século XX, mas os ingleses e holandeses plantaram seringueiras no Ceilão, Indonésia e Malásia. Em pouco tempo, implantaram técnicas mais avançadas de produção e acabaram desbancando o produto brasileiro. A borracha é revalorizada quando Charles Goodyear inventou a vulcanização, mas neste momento o Brasil já estava fora do mercado. Em 1930, Henry Ford empreendeu o cultivo de seringais na Amazônia criando a cidade de Fordlândia , mas o empreendimento não foi bem sucedido pois a plantação foi devastada por uma praga. Sir Henry Wickham praticou um dos primeiros crimes de biopirataria no Brasil, cabe analisar se atualmente conseguimos proteger nosso patrimônio natural. Na década de 1880, ocorreu o primeiro surto industrial no país, financiado pelo capital cafeeiro. A indústria brasileira permaneceu subsidiária ao café até o final de década de 1920. Pode-se afirmar que, mesmo sem a crise internacional, a produção cafeeira seria prejudicada, o que afetou também seu subordinado parque 14 industrial. A partir deste momento, a indústria busca mais autonomia, o que conseguiria de forma parcial, ainda na década de 1930. A partir da década de 30, o Brasil passou por transformações econômicas profundas. A crise iniciada em 1929, provocou nos Estados, a adoção de políticas de proteção econômica claramente nacionalistas e conquista de novos mercados, até mesmo potências tradicionalmente liberais, não ficaram imunes a esta tendência. A Alemanha e os Estados Unidos, com crescente influência no plano internacional, passam a oferecer concessões e vantagens para conquistar novas alianças e solidificar as já existentes. Deste período, até a recuperação econômica que acontece após a II Guerra Mundial, a economia brasileira voltou-se para si mesma, desenvolvendo novas atividades produtivas apoiadas na demanda interna até então atendidas por importações. A economia brasileira apresentou uma robustez inaudita nos últimos anos, tendo sido capaz de absorver os primeiros impactos da crise de 2008 de forma mais estruturada do que em outras épocas. O presente estudo pretende também analisar se o crescimento é sustentável ou se apenas aproveitamos um momento mundial favorável. Com base no objetivo pretendido, foram levantadas algumas hipóteses cujas análises poderão trazer reflexões sobre os desafios e os gargalos que impedem o desenvolvimento econômico do Brasil. A seguir, identificam-se as hipóteses, objeto do presente estudo: Hipótese I : Identificar responsabilidades do Governo e dos Empresários no processo de desindustrialização em curso: O prolongamento da crise internacional tem trazido instabilidade ao mundo capitalista, promovendo guerra cambial e protecionismo de mercado entre as potências econômicas. Quais são as responsabilidades governamentais e a dos empresários? A indústria brasileira historicamente foi privilegiada pelo intervencionismo estatal que em cada momento elegeu determinado setor produtivo em detrimento de outro. Hipótese II: Identificar se o Brasil possui Poder suficiente para defender seus interesses econômicos no mercado internacional. Qual é o seu poder real, suas vantagens e carências para influir no próprio destino perante a comunidade internacional? 15 A recessão nos países ricos pode comprometer seriamente a produção industrial mundial, consequentemente, as “commodities” sofrerão queda de demanda e de preço. Durante o estudo dos períodos históricos analisados neste trabalho, foi possível perceber que há momentos em que o Brasil conseguiu obter vantagens mediante cenários adversos, mas de um modo geral, há a repetição de situações, onde o país tem seus interesses subordinados à ordem internacional. Espera-se trazer para reflexão o discurso objetivo sem razões políticas que nem sempre são consonantes com as razões de Estado. 16 3 ASPECTOS HISTÓRICOS – CICLOS ECONÔMICOS 3.1 – A ECONOMIA AÇUCAREIRA E A EXPULSÃO DOS HOLANDESES O jurista holandês Grócio (advogado da Companhia das Índias) proclama que o mar pertencia a todos e que se podia navegar e comerciar livremente (mare liberum), em contrapartida, os ingleses propunham que o mar podia ser objeto de apropriação como qualquer outro território colonial (mare clausum ). A economia mundial europeia expandiu-se durante um século e meio, a abertura das rotas comerciais marítimas e as novas colônias propiciaram o crescimento do comércio e da produção em escala sem precedentes. A decadência do poder naval e militar das potências coloniais ibéricas se inicia com os ataques das províncias rebeldes (protestantes) do norte dos Países Baixos ao império espanhol de Filipe II (católico). Na segunda metade do século XVI, a marinha mercante da Holanda e de duas outras províncias possuía o dobro do tamanho da inglesa. Sua frota somada era maior do que a de toda a Europa reunida. Em pouco tempo, Amsterdã dominou o sistema de fretes da Europa e era também o principal mercado de armamentos da Europa. A criação da Companhia das Índias Ocidentais,autorizada pelos Estados Gerais, teve o efeito de “privatizar” as operações de guerra e a colonização no ultramar. A Companhia estava autorizada a assinar contratos e tratados no exterior em nome dos Estados Gerais. O açúcar de cana no século XVI atingiu valores expressivos na Europa, o que viabilizou o plantio e a exploração desta cultura pelos portugueses no litoral brasileiro. O eixo econômico da colônia se estabeleceu no Nordeste, a unidade produtiva era o engenho, sob a forma produtiva do latifúndio monocultor. Nesta fase, o financiamento da lavoura canavieira era quase totalmente feito por casas financeiras dos Países Baixos. O sistema pouco eficiente e o abandono por parte das autoridades lusitanas, principalmente durante o período da União Ibérica (15801640), estimulou estas casas financeiras a organizar e financiar, através da Companhia das Índias Ocidentais, a ocupação de territórios no Brasil para o plantio e comercialização do açúcar, durante o século XVII. Para administrar e expandir seus domínios no Brasil, a companhia envia para Pernambuco João Maurício de Nassau, em 1637. Dotado de espírito renovador e 17 tolerante nos campos político e religioso, Nassau ganha a simpatia dos proprietários de terra com medidas concretas de estímulo à recuperação de engenhos e plantações. Ele realiza obras de urbanização no Recife, amplia a lavoura açucareira, desenvolve fazendas de gado e assegura a liberdade de culto. Nassau busca ainda ampliar os domínios holandeses, invadindo o Maranhão em 1641, ocupação que se estende até 1644. Sua administração termina nesse ano, quando desavenças com a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais o fazem voltar para a Europa. Nassau arquitetou ainda os ataques à costa ocidental da África, conquistando entrepostos de escravos africanos controlados por negreiros portugueses, garantindo assim o fornecimento de cativos para o Brasil holandês. O Conselho vigente na Holanda, mostrou-se duradouramente hostil à Companhia, não só por antagonismo religioso e nacional (é conhecida a rivalidade na Holanda seiscentista entre holandeses e imigrantes flamengos), mas pela preocupação de evitar que as atividades da Companhia prejudicassem os grandes interesses do comércio holandês em Portugal, especialmente no tocante ao sal de Setúbal, vital para a indústria da pesca. O patriciado mercantil de Amsterdã teve papel fundamental na destruição da Companhia. Portugal liberou-se do domínio espanhol em 1640 e pouco tempo depois, expulsa os holandeses de Pernambuco e Angola, mas eles se apossaram de muitos outros núcleos comerciais portugueses no Oriente. Insatisfeita com os lucros vindos de Pernambuco, a companhia dificulta o crédito aos proprietários de terra, que se rebelam em 1645 na chamada Insurreição Pernambucana. Neste momento, Portugal conta com o apoio inestimável da Inglaterra, que empreende sua primeira guerra naval contra os Países Baixos. Em 1661, o Tratado de Paz de Haia reconhece formalmente a soberania portuguesa sobre a vila do Recife. O Brasil já não possuía mais o monopólio da produção de açúcar, pois os refugiados do Brasil holandês se estabeleceram nas Antilhas. Levaram consigo as técnicas do cultivo e da manufatura do açúcar, capitalistas holandeses forneceram créditos para a compra do equipamento necessário aos colonos ingleses e franceses no Caribe. A concorrência com os produtos destes levaria a produção brasileira ao ocaso, sem que a produção desaparecesse. O presente texto propõe uma reflexão sobre as razões de Portugal após conquistar a soberania territorial brasileira, não ter tido o Poder necessário para evitar que a produção açucareira fosse transferida para as Antilhas. Teria sido mais 18 proveitoso para Portugal e para a Companhia das Índias, chegar a um acordo comercial que permitisse a continuidade da produção brasileira sem concorrência. Ao recuperar em 1640 a independência, Portugal empenhou-se em chegar a um acordo com a Holanda, então principal inimiga da Espanha nos mares. As várias ofertas, inclusive de sessão de territórios no Brasil, foram rejeitadas pelos holandeses, confiantes em seu poder marítimo e ao mesmo tempo falhos de uma visão política geral, em função de suas divisões internas. Neste momento, os portugueses se aproximam dos ingleses no intuito de livrar-se do bloqueio dos flamengos. O acordo de 1654 foi assinado após a agressão da esquadra inglesa a Portugal em um momento de grande fragilidade lusitana, que se encontrava em guerra contra a Holanda e Espanha. O grande êxito da empresa açucareira brasileira está associado a cooperação comercial -financeira holandesa, assim como a sobrevivência do pequeno reino como potência colonial, retendo sobre seu domínio uma das colônias mais ricas do mundo, está associado aos tratados comerciais com a Inglaterra. O acordo de 1661 incluía uma cláusula secreta, na qual os ingleses se comprometiam a defender as colônias portuguesas contra quaisquer inimigos. Considerando que neste momento Portugal negociava a paz com a Holanda e que a Espanha ainda não havia reconhecido a independência portuguesa, a necessidade de proteção de Portugal era desesperadora, com o ônus de tornar-se praticamente um vassalo econômico da Inglaterra. O Brasil dos séculos XVI e XVII ainda era uma colônia subordinada as necessidades de sua metrópole, porém os tratados firmados nestes séculos influenciaram os desígnios econômicos dos séculos seguintes. Portugal não possuía Poder militar ou econômico para negociar com holandeses, espanhóis e ingleses em grau de igualdade. Dentro de suas possibilidades conseguiu sobreviver e reter a colônia sob seu domínio até o século XIX. O ciclo de exportação do açúcar, no período colonial, deixou um legado negativo para o país. A organização da produção no Nordeste era primitiva e situada nas propriedades costeiras, com técnicas agrícolas arcaicas. O sistema escravagista manteve-se, a distribuição de renda era extremamente concentrada. Grande parte dos lucros, que cabia aos fazendeiros e senhores de engenho, foi gasto com bens de consumo importados e não com melhorias técnicas e de infraestrutura para a produção. Este modelo se repetirá continuamente em outros ciclos econômicos. 19 3.2 – CICLO DO CAFÉ A economia do Brasil ao longo do século XIX retém os seus traços básicos de economia escravista voltada para o mercado internacional. O crescimento da cultura do café transfere definitivamente o eixo econômico do país do Nordeste para o Sudeste. A partir de 1830, o rendimento com a exportação do café ultrapassa o do açúcar. No decorrer do século, a economia continuará escravagista e dependente de flutuações externas. A ênfase na produção cafeeira levou o Brasil a ocupar posição hegemônica no comércio internacional desse produto, chegando a representar em dados momentos, mais da metade da produção mundial. No século XIX, o café era o principal produto de exportação da América do Sul. O principal parceiro comercial do Brasil era a Inglaterra, seguida dos Estados Unidos. Com a melhoria dos padrões de vida, resultado do progresso ocasionado pela Revolução Industrial, o consumo do café intensificou-se rapidamente. O crescimento das exportações do café passou a determinar o próprio crescimento econômico do país. A correlação entre o crescimento da nação e a exportação do café trouxe problemas crônicos à economia. Dependente das exportações e da importação de bens de consumo, o Brasil passou a apresentar grande vulnerabilidade às crises econômicas internacionais. A pressão dos cafeicultores para manutenção de preços do café dava-se não no mercado, mas sim, sobre o Imperador. A abolição retirou o apoio do último bastião imperial. Um ano depois, seria proclamada Posteriormente, os cafeicultores exerceram pressão a República. sobre as autoridades republicanas, com o objetivo de amenizar seus prejuízos. Tanto a monarquia quanto a Primeira República mantiveram as políticas de proteção dos ganhos dos cafeicultores, através de desvalorização cambial e pela compra de estoques excedentes. Estas ações dificultavam o fomento de outras atividades internamente. A República tornou-se possível, em grande parte, graças à aliança entre militares e fazendeiros de café. Esses dois grupos tinham, entretanto, dois projetos distintos em relação à forma de organização do novo regime: os primeiros eram centralistas e os segundos, federalistas. Os militares não eram suficientemente poderosos para impor o seu projeto nem contavam com aliados que pudessem lhes dar o poder de que precisavam. 20 Os cafeicultores, ao contrário, contavam com amplo arco de aliados potenciais e compunham, economicamente, o setor mais poderoso da sociedade. A partir de Prudente de Morais que, em 1894, veio a suceder Floriano, o poder passou definitivamente para esses grandes fazendeiros. Mas foi com Campos Sales (18971902) que uma fórmula política duradoura de dominação foi finalmente elaborada: a "política dos governadores”. A chamada política dos governadores foi um pacto firmado entre a presidência da República e as oligarquias estaduais que se comprometiam a manter relação de apoio mútuo. Muitas vezes, a política dos governadores é erroneamente confundida com a política do café-com-leite. Mas, na verdade, a segunda é um desdobramento da primeira. A oligarquia cafeeira dominante no período impôs, indiretamente ao conjunto do país, a política de valorização do café, por eles definida em 1906 no Convênio de Taubaté. Posteriormente, o governo central foi capturado e acabou chamando para si a valorização do produto. Assim, atende aos interesses e as pressões advindas dos grupos dominantes e não perde o controle sobre a política econômica nacional. Um dos erros dos dirigentes do setor e do país, foi a defesa do setor cafeeiro, quando praticamente detinham o controle de quase todo o café produzido no mundo. Não consideraram as possíveis alterações no cenário interno e externo. Naquele momento, a obtenção de recursos financeiros, para reter parte da produção fora do mercado parecia suficiente para controlar a situação, isto é, comprimir artificialmente a oferta e colocá-la à venda somente em condições e preços favoráveis. Foi um erro não levar em conta a possibilidade, como veio a ocorrer, do constante crescimento da produção em países que passaram a ser concorrentes no mercado internacional. Para alívio do setor, em 1918, uma forte geada atingiu áreas de plantação no exterior. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o comércio internacional se normalizou, elevando o preço do café. Todavia, em 1921, foi novamente colocada em prática a terceira valorização do café, com a compra efetuada pelo governo central. A cada valorização, ao invés de conter a plantação de novos cafezais, estimulava-se o aparecimento de novas plantações. O problema continuou até a grande depressão, ocorrida com a queda da Bolsa de Nova York em 1929. A violenta depressão, em nível mundial, fez ruir as bases artificiais em que vinha se mantendo a política de valorização do café. Por outro lado, a intervenção do governo nas taxas de câmbio para favorecer o setor, ao invés de corrigir os desequilíbrios e resolver a crise do setor cafeeiro, trouxe consequências diretas 21 para o conjunto da sociedade. Ao desvalorizar a moeda nacional, o café tinha seu preço barateado internacionalmente, reduzindo as perdas do setor exportador que recebia pelo café exportado em moeda estrangeira. Conseguia-se assim, por este mecanismo, corrigir o desequilíbrio da balança comercial. Quando ocorria uma alta cíclica no preço do café, os ganhos ficavam retidos pelos empresários, ampliando a concentração da renda. Em contrapartida, o prejuízo provocado pela alteração na taxa cambial era transferido para a sociedade brasileira. O fenômeno foi denominado por Celso Furtado de “socialização das perdas”. A alta dos preços e a instabilidade política passaram a compor cenário de revoltas e insatisfações que resultaram na eclosão do movimento de 30, na ascensão de Vargas e no fim da República do Café com Leite. Como observa ironicamente Lima Barreto em “Os Bruzundangas”, livro publicado em 1923, o sistema político e econômico montado durante a República Velha favorecia apenas os interesses econômicos oligárquicos: A manobra da “valorização” consiste em fazer com que o governo compre o café por um preço que seja vantajoso aos interessados e o retenha em depósito; mas, acontece que os interessados são, em geral,governo ou parentes dele, de modo que os interessados fixam para eles mesmos os preços da venda, preço que lhes dê fartos lucros, sem se incomodar que o “café” venha a ser, senão a pobreza da Bruzundanga, com os tais empréstimos para as valorizações. Além disto, o café esgota as terras, torna-as maninhas, de modo que regiões do país, que foram opulentas pela sua cultura, em menos de meio século ficaram estéreis e sáfaras. ¹ Os mecanismos criados em defesa da economia cafeeira, pelo Convênio de Taubaté, ofereceram soluções imediatistas, legando para o futuro, a resolução de um problema cada vez mais grave. Reflexo de uma economia de base agroexportadora, comandada por uma oligarquia agrária, associada a setores ligados ao comércio e ao financiamento do segmento cafeeiro. A oligarquia agrária cafeeira tratou de defender o produto de maior importância para a economia do país, estabelecendo uma política de valorização, repleta de erros e contradições. Incentivou o crescimento da produção de forma desordenada, a não diversificação da produção agrícola, não provocou a erradicação de cafeeiros antieconômicos, menosprezou a concorrência e obrigou o governo republicano a emissões inflacionárias e contratação de vultosos empréstimos. A decadência da cafeicultura propiciou a busca de novas atividades econômicas. A garantia de preços do café continuou gerando capitais que serviram para reforçar o processo de ________________________________ 1 Lima Barreto, Os Bruzundangas (Porto Alegre: L&PM,1998), p.56 22 modernização. Processo este que teve início na etapa anterior à assinatura do convênio, ao final do século XIX, com o advento da ferrovia, a abolição da escravatura, a entrada de imigrantes e a instalação das primeiras indústrias. Faltava aprofundar os estudos sobre a participação do capital cafeeiro na industrialização brasileira. Em 1929, os produtores ainda estavam exportando a safra de 1927. A safra de 1928 estava retida nos Armazéns de Valorização do Café que eram gerenciados pelo Instituto do Café, instituição estadual com apoio federal, criada para apoiar os fazendeiros paulistas. Em 1929, o governo brasileiro pouco pôde fazer para ajudar os cafeicultores, pois não conseguiu empréstimos nos bancos internacionais para este fim. Grandes produtores quebram, no campo o café foi queimado pois não havia perspectivas de venda e não era possível arcar com o alto custo de estocagem. A instalação do governo de Vargas em 1930, acaba com a hegemonia de São Paulo e Minas Gerais na política brasileira e altera a sociedade constituída pelas grandes famílias agrárias. A industrialização brasileira nesse período estava vinculada à produção cafeeira e aos capitais derivados dela. Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX o café exerceu grande importância para a economia do país, até por que era praticamente o único produto brasileiro de exportação. Após a crise que atingiu diretamente os cafeicultores, esses buscaram novas opções produtivas, dessa maneira, muitas das infraestruturas usadas anteriormente na produção e transporte do café, passaram, a partir desse momento, a ser utilizadas para a produção industrial. Diante do processo, a indústria brasileira começou a diversificarse, no entanto, limitava-se somente à produção de produtos que empregava pouca tecnologia, como setor têxtil, alimentício, além de fábricas de sabão e velas. Vários foram os fatores que contribuíram para a intensificação da indústria brasileira. Dentre os principais encontra-se o crescimento acelerado dos grandes centros urbanos, derivado do fenômeno do êxodo rural, promovido pela queda do café. A partir dessa migração houve grande aumento de consumidores, apresentando-se a necessidade de produzir bens de consumo para a crescente população urbana. Outro fator importante para a industrialização brasileira foi a utilização das ferrovias e dos portos, anteriormente usados para o transporte do café, que passaram a fazer parte do setor industrial. Além desse fator, outro motivo 23 que favoreceu o crescimento industrial foi a abundante quantidade de mão-de-obra estrangeira, sobretudo de italianos, que antes trabalhavam na produção do café. O estado também exerceu grande relevância nesse sentido, pois realizou elevados investimentos nas indústrias de base e infraestrutura. Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa não tinha condições de exportar produtos industrializados, pois todo o continente se encontrava totalmente devastado pelo confronto armado, então o Brasil teve que incrementar o seu parque industrial e realizar a conhecida industrialização por substituição de exportação. Nessa mesma década, aconteceu a inserção de várias empresas oriundas de países industrializados que atuavam especialmente nos seguimentos automobilístico, químico, farmacêutico, e de eletroeletrônica. A partir de então, o Brasil ingressou efetivamente no processo de industrialização, deixando de ser um país essencialmente produtor primário para transformar-se em um estado industrial e urbano. Na década de 50, o Brasil permanece como maior produtor mundial de café. Mas seu reinado absoluto na economia brasileira chega ao fim quando o setor industrial, a partir da segunda metade do século XX, se torna o carro-chefe do desenvolvimento econômico nacional. Na Industrialização Induzida por Exportações, acreditava-se que, nos momentos de expansão da economia cafeeira, com consequente expansão da renda, aumentava a demanda por produtos industrializados. A Teoria dos Choques Externos demonstra que as dificuldades de se importar produtos em determinados períodos (I Guerra Mundial, recessão de 30) impulsionaram o desenvolvimento industrial brasileiro. A economia cafeeira deslocou definitivamente o centro econômico brasileiro do Nordeste para o Sudeste. Inicialmente reproduziu a mesma estrutura oligárquica do engenho, mas no médio prazo introduziu a mão de obra europeia, desenvolveu a logística necessária para o transporte e exportação do produto e no século XX, financiou o inicio da industrialização brasileira. Não há um registro oficial de como as primeiras mudas chegaram ao Brasil, mas a versão exposta no site Planeta Orgânico é muito conhecida: Em 1727 os portugueses compreenderam que a terra do Brasil era apropriada para a cafeicultura. Mas infelizmente eles não possuíam nem plantas nem grãos. O governo do Pará, encontrou um pretexto para enviar Palheta, um jovem oficial à Guiana Francesa, com uma missão simples: pedir ao governador M. d’Orvilliers algumas mudas. M. d’Orvilliers seguindo ordens expressas do rei de França, não atende ao pedido de Palheta. Quanto a Mme. d’Orvilliers, esposa do governador da Guiana Francesa, não resiste por muito tempo aos atrativos do jovem tenente. Quando Palheta já 24 regressava ao Brasil, Mme. d’Orvilliers envia-lhe um ramo de flores onde, dissimuladas pela folhagem, se encontravam escondidas as sementes a partir das quais haveria de crescer o poderoso império brasileiro do café um episódio bem apropriado para a história deste grão tão sedutor. ² Realidade e lenda se misturam na trajetória da cultura do café, entre acertos e erros, não é possível negar que o café perpetuou tradições oligárquicas, escravocratas e outras mazelas do desenvolvimento econômico nacional. Paradoxalmente, fomentou de forma direta e indireta a industrialização do Brasil. As crises enfrentadas pelo setor, em parte foram provocadas pela falta de planejamento do Brasil, que foi incapaz de perceber o contexto econômico internacional que abalaria a estrutura da Primeira República. O café brasileiro sempre foi e continua sendo bem aceito no exterior, mas é uma “commodity”. O Brasil continua sendo o maior produtor internacional , mas são os colombianos reconhecidos como o produtor do melhor café, o que se reflete no preço de venda. As indústrias brasileiras irão perceber que a preocupação com a marca leva à inovação e agrega valor ao produto. A empresa se sente obrigada a investir em recursos humanos, proporcionando condições para desenvolver pesquisas e ideias inovadoras, que ainda não foram exploradas pelos concorrentes. O Brasil deve estabelecer como meta a elevação das exportações do grão torrado e moído, o governo deve apoiar a abertura de novos mercados, principalmente na Ásia e no Oriente Médio. É preciso ir além do mercado europeu, que sempre colocou barreiras para o café industrializado brasileiro. ________________________________ 2 http://planetaorganico.com.br/site/index.php/as-origens-do-cafe/ 25 3.3 – CICLO DA BORRACHA O ciclo da borracha inicia-se em função da evolução científica ocorrida no século XIX. O cientista Charles Goodyear desenvolveu o processo de vulcanização através do qual a resistência e a elasticidade da borracha foram aprimoradas, o que possibilitou a ampliação dos usos da borracha. A região amazônica tornou-se o maior polo de extração e exportação de látex do mundo. Em função da exploração da borracha, os seringueiros brasileiros, assim como os bandeirantes paulistas fizeram anteriormente, entraram e se estabeleceram no território inexplorado do Acre, a procura de seringueiras. Os novos exploradores se estabeleceram e, pela sua presença, confirmaram os direitos do Brasil à propriedade da região pelo “uti possidetis”. A grande lucratividade do mercado da borracha cobriu integralmente os custos indenizatórios que o Brasil firmou com a Bolívia, através do Tratado de Petrópolis em 1903. Os seringueiros, em sua maioria de origem nordestina, adotavam técnicas de extração primitivas. Em princípio, era uma modalidade de trabalho livre, mas os seringueiros estavam subordinados financeiramente ao “aviador” que contratava os serviços dos seringueiros em troca de dinheiro, que acabava sendo gasto no local de trabalho com produtos de subsistência. As condições a que eram submetidos eram sub-humanas, além da exploração econômica, a maioria da força de trabalho pereceu pelo abandono da ordem pública e por doenças como malária e tifo. Como em outros ciclos econômicos do Brasil, a borracha concentrou a riqueza na oligarquia (neste caso, os Barões da Borracha). As divisas geradas não eram reinvestidas no ciclo de produção e nem no desenvolvimento social. O primeiro ciclo da borracha proporcionou o rápido desenvolvimento econômico da região amazônica, a urbanização das cidades de Manaus e Belém refletiam a riqueza obtida pela exploração da seringa e abrigaram um suntuoso projeto arquitetônico inspirado na estética europeia. Belém teve suas ruas calçadas com paralelepípedos importados de Portugal, no final do século XIX e início do século XX, surgiram os edifícios públicos, o serviço telegráfico, e outras obras que mudariam o visual urbano da capital paraense. Fez-se, naqueles tempos, a drenagem dos alagados e foi construído o suntuoso Teatro da Paz. A pujança econômica proporcionada pela borracha mudou profundamente o panorama dessas duas capitais amazônicas. 26 No início do século XX, a borracha brasileira sofreu forte declínio com a concorrência promovida pelo látex produzido no continente asiático. A desvalorização de mercado fez com que a produção fosse negociada em valores muito abaixo do investimento empregado na produção. Entre 1910 e 1920, a crise da seringa amazônica levou diversos produtores à falência e endividou os cofres públicos que estocavam a borracha na tentativa de elevar os preços. O declínio da produção da borracha brasileira na região Norte pode ser explicado em parte pela falta de mobilidade dos produtores, que não perceberam a ameaça que estava surgindo no mercado externo e não conseguiram transformar o modo de produção extrativista, em uma produção moderna que pudesse concorrer com a produção asiática. O método de exploração do Brasil era primitivo, as seringueiras estavam espalhadas na floresta, fazendo com que os seringueiros ficassem dias embrenhados na floresta, com uma baixa produtividade decorrente das longas distâncias que tinham que percorrer. A produção na Ásia era atraente, pois assim como no Brasil, o clima era favorável à cultura e também havia grande disponibilidade de mão de obra. A grande vantagem é que na Ásia foram aplicados novos métodos de cultivo e de extração, que ordenaram a produção proporcionando agilidade na extração a custo reduzido. Nos anos 1930, Henry Ford, o pioneiro da indústria americana de automóveis, empreendeu o cultivo de seringais na Amazônia fundando a cidade de Fordlândia, Com técnicas de cultivo e cuidados especiais, objetivava reduzir ainda mais os custos da produção, a proximidade do Brasil aos Estados Unidos e à Europa, reduziria o custo com transporte da mercadoria. Mas a iniciativa não logrou êxito, deu tudo errado no projeto, houve um levante dos trabalhadores contra os gerentes americanos e as instalações foram depredadas, nenhuma tigela de látex foi colhida no local. O controle sanitário, o controle de ponto e as diferenças culturais entre os gerentes fordistas focados em eficiência e produtividade e a cultura local, causaram um nível de tensão que em sua explosão, arruinou o empreendimento. Os trabalhadores viviam em um tempo agrícola e a transição para o tempo industrial foi muito brusca. Não ocorreram as transformações necessárias na massa produtora, como ocorreu em outros países, ou mesmo em outras regiões do Brasil. A plantação foi ainda atacada por uma praga na folhagem, este problema teria solução mas face aos acontecimentos e do pequeno apoio político e econômico brasileiro para o 27 empreendimento, o projeto foi abandonado por Ford. Neste período, a política econômica brasileira estava totalmente voltado para o café. A Amazônia viveria outra vez o ciclo da borracha durante a Segunda Guerra Mundial, embora por pouco tempo. As forças japonesas dominaram militarmente o Pacífico Sul nos primeiros meses de 1942 e invadiram também a Malásia. O controle dos seringais passou a estar nas mãos dos nipônicos, neste momento, o Governo Vargas firmou um contrato de fornecimento com os americanos. Com o alistamento de nordestinos, Getúlio Vargas minimizou o problema da seca que assolava o Nordeste neste período e, ao mesmo tempo, deu novo ânimo na colonização da Amazônia. Esses novos seringueiros receberam a alcunha de Soldados da Borracha, numa alusão clara de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha, era tão importante quanto combater o regime nazista como soldado. O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), criado pelo Estado Novo. A realidade foi profundamente adversa para os Soldados da Borracha que sem apoio para a execução de suas atividades pereceram de fome e doenças, assim como os trabalhadores do primeiro ciclo da borracha, viveram uma vida de semi escravidão. Depois da Segunda Guerra Mundial, as indústrias passaram a utilizar a borracha sintética que era produzida em ritmo mais acelerado. Essa inovação tecnológica acabou retraindo significativamente a exploração da seringa na Floresta Amazônica. No entanto, até os dias de hoje, a exploração da borracha integra a economia da região norte do Brasil. Em 1913, a cidade de Manaus tinha em torno de 100 mil habitantes e era um dos lugares mais ostentosos do mundo. Seu consumo de diamante per capita era o maior do planeta. O sistema de bonde elétrico, o primeiro da América do Sul, deixava espantados até os visitantes europeus do raiar do século, com suas linhas de aço que percorriam toda a malha urbana e penetravam na floresta até os locais mais distantes. O custo de vida era quatro vezes maior que o de Londres e Paris. Toda essa fortuna foi construída com a riqueza gerada pelo boom da borracha. A citação acima é parte do prefácio do livro “O ladrão no fim do mundo”, do jornalista e escritor norte - americano Joe Jackson, que faz uma abordagem profunda do ciclo da borracha na Amazônia. A razão para a queda do preço da borracha, segundo o escritor norte-americano, estava diretamente relacionada ao crescimento das plantações inglesas. Em 1900, a região amazônica produzia 95% 28 de toda a borracha comercializada no mundo. Apenas 28 anos depois, sua participação estava reduzida a 2,3%. As plantações inglesas, convém explicar, começaram com as sementes contrabandeadas da Amazônia em 1876 pelo aventureiro inglês Henry Wickham. Dentro de alguns anos, essas sementes produziam a borracha que conquistaria o mercado, sendo usada em larga escala na produção industrial mundial. A borracha poderia ter produzido a integração nacional da região amazônica e poderia ter representado ainda, o que representou a cultura do café para os Estados de São Paulo e Paraná, em termos de prosperidade econômica. O duro golpe sofrido pelos produtores de borracha da região norte pode ser compreendido em razão da falta de estímulo e de visão do governo brasileiro, atrelado unicamente aos interesses econômicos dos cafeicultores. O governo não criou nenhuma espécie de programa de desenvolvimento e proteção aos produtores de borracha e nem apoiou integralmente a iniciativa da Fordlândia. O presente texto tem como objetivo resgatar a história de um dos ciclos econômicos mais instigantes da nossa história, que permanece quase que totalmente ignorado, e propiciar a reflexão sobre um episódio que afetou profundamente a nossa economia. A falta de percepção e ação dos governantes brasileiros foi mais determinante do que a concorrência internacional. O Brasil poderia ter enfrentado a produção asiática com larga vantagem comparativa se tivesse investido em tecnologia de produção. A proximidade do pujante mercado americano certamente daria o retorno econômico que justificariam os investimentos. 29 4 – O PROCESSO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO NACIONAL Analisar o processo de desindustrialização não é tarefa simples, há indícios que comprovam que a desindustrialização nacional pode se revelar positiva ou negativa para a economia. A desindustrialização ocorre quando há uma diminuição da participação do segmento industrial na economia de um país (principalmente em relação ao PIB). Se há transferência da atividade de um setor para outro, mesmo se tratando de uma desindustrialização, ela pode não representar necessariamente um processo negativo. Os países que obtiveram uma desindustrialização positiva são os desenvolvidos que possuem domínio tecnológico, científico e mão de obra qualificada. A desindustrialização no Brasil tem como pressupostos a valorização cambial aliada às exportações de bens primários, contudo ela é resultante também de diversos outros fatores. A inexistência de uma política industrial de longo prazo que forneça as diretrizes necessárias a sua implementação, garantindo ao empresariado uma fonte segura de investimentos, afeta profundamente o setor industrial. Exceção deve ser feita ao Plano de Metas (1956/60) e do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975/79) que produziram resultados satisfatórios no desenvolvimento da indústria nacional. A descontinuidade das políticas industriais demonstram a incapacidade do governo em se planejar a longo prazo. A falta de consenso e de compromisso, faz com que o segmento perca em inovação tecnológica, produtividade e competitividade, fatores estes que também contribuem para o processo de desindustrialização. Exceção feita a poucas áreas, o Brasil é desprovido de tecnologia de ponta e de diferencial competitivo que permita o avanço de suas atividades econômicas. Além das considerações supracitadas, o processo de desindustrialização é consequência do Custo Brasil, alta taxa de juros, problemas de infraestrutura, carga tributária excessiva, burocracia, corrupção, baixo nível de poupança e custos trabalhistas. Há pressões externas que cerceiam a expansão industrial nacional, mas grande parte dos impedimentos são consequência de decisões estreitas do Governo e das elites nacionais. Para defender a indústria nacional, o Brasil precisa estabelecer salvaguardas, sem desrespeitar os tratados internacionais, e o empresariado aumentar o nível de investimento para melhorar a 30 produtividade e a competitividade da indústria nacional. O cenário atual, assim como em décadas anteriores, ainda não oferece a segurança necessária para o aumento de investimentos privados em larga escala. Temos energia cara, “spreads” bancários dos maiores do mundo e câmbio apreciado. As políticas industriais no Brasil não têm dado certo porque não são permanentes e a agenda estratégica do Governo acaba sempre sendo superada pelo imediatismo político. No setor público a agenda política tem sido mais importante do que a agenda econômica. O Brasil está mais estruturado para enfrentar a atual crise internacional do que em outras épocas, porém a base que tem sustentado a economia é o mercado interno, estimulado por linhas de crédito acessíveis e por pacotes de reduções de impostos. Em 2008, graças aos estímulos ofertados, a primeira fase da recessão mundial não afetou o Brasil como em outras crises. A receita utilizada no início da crise não parece mais apropriada, atualmente o nível de endividamento da população está atingindo patamar perigoso e a redução das vendas para China e União Europeia são grande ameaça para a economia brasileira. O momento convida à discussão sobre os problemas estruturais que assolam o país há décadas, o governo pode adotar medidas anticíclicas para estimular o crescimento em momentos de retração mas o Brasil deveria pensar em novas ações além de estimular o consumo interno. A valorização dos preços das “commodities” impulsionaram as exportações brasileiras. Graças ao crescimento chinês na última década, o Brasil pôde gastar sem investir em melhoria de competitividade. As oportunidades de negócios proporcionadas pelo pré-sal podem elevar o Brasil à outra esfera econômica, social, geopolítica e tecnológica. Uma das oportunidades mais preciosas é o Parque Tecnológico da Ilha do Fundão no Rio de Janeiro que possui centros de pesquisa e de desenvolvimento de tecnologia, não apenas para o petróleo, mas também para uma cadeia multiplicadora com empresas de outros setores. Cabe ao governo, à sociedade civil e aos empresários decidir como serão aplicados os benefícios advindos do pré-sal, para evitar a repetição de erros cometidos no passado onde os recursos da nação foram desperdiçados ou aplicados em favor de poucos, em detrimento da nação. Voltando ao século XIX, a trajetória do Barão de Mauá é emblemática e ilustra perfeitamente os ciclos decisórios do governo brasileiro que se repetiram através do tempo, seja no Império ou na República. A incompreensão e perseguição das oligarquias escravocratas ruralistas e do Governo Imperial representaram um 31 retrocesso e um dos mais regressivos da história econômica brasileira. A industrialização brasileira demorou a consolidar-se e só foi possível em função de acontecimentos políticos e econômicos mundiais. Mauá, detentor de admirável competência comercial, não progrediu industrialmente por falta de apoio. Mauá tinha grande poder econômico e era mais respeitado pelos banqueiros ingleses do que o governo imperial brasileiro, mas não tinha poder político, seus maiores inimigos eram os oligarcas do café que eram a base de sustentação do imperador. Quando se tem poder político, pode-se mudar a política do Estado, foi o que fez Getúlio Vargas, que tomou o poder devido à decadência do ciclo cafeeiro e conseguiu transferir o capital acumulado do café para o início da industrialização nacional. 32 5 – ANÁLISE DO PROBLEMA Com base em todas as considerações feitas percebe-se que a desindustrialização no Brasil está tomando um rumo negativo para a economia do país. O fato fundamental, é que está se tornando cada vez mais caro produzir no país. O Custo Brasil é o principal fator que impulsiona a desindustrialização nacional, o país não consegue resolver a questão do câmbio porque vive um dilema: com os juros altos que precisa aplicar no mercado para atrair capital, acaba atraindo capital em excesso, mantendo assim o real valorizado. Se reduzir os juros, porém, o país poderá perder o controle sobre a inflação. O câmbio valorizado tem muito a ver com a estabilização dos preços. Se o câmbio for desvalorizado, poderá gerar um choque inflacionário. Outro passo importante, seria a redução drástica de gastos do Governo, que permitiria ao país baixar os juros sem gerar inflação. A solução seria combater a inflação com a redução forte dos gastos do governo e, com isso, a redução da dívida pública. Soluções existem, mas o Governo não deseja ou não possui a força política necessária para implantá-las. O problema essencial para a atuação do Brasil na defesa de seus interesses econômicos no cenário internacional é o grau de dependência tecnológico que o subordina às demandas dos países desenvolvidos. O Brasil só conseguirá defender seus interesses e se projetar quando possuir autonomia. Parte do caminho é determinado pelas potências, mas é essencial que o Brasil assuma suas responsabilidades e adote políticas e ações pontuais dependência nacional e promovam a projeção nacional. que reduzam o grau de 33 6 – CONCLUSÃO Esta monografia pretendeu oferecer uma visão de conjunto da atuação do Brasil na defesa de seus interesses econômicos. Há que se considerar que, em alguns momentos, o país fez o que foi possível e não o que era melhor para si e, em outros, fatores internos foram determinantes para o sucesso ou insucesso brasileiro. No primeiro ciclo econômico analisado, o da expulsão dos holandeses de Pernambuco, Portugal estava acuado entre Holanda e Espanha. Sua alternativa foi socorrer-se com a Inglaterra, que pôde beneficiar-se de acordos comerciais favoráveis e teve acesso a uma das colônias mais ricas do mundo. Com a expulsão dos batavos, Portugal perde o monopólio mundial do açúcar em função da concorrência antilhana. Portugal não foi reativo, além da concorrência, perdeu competitividade, principalmente pela falta de inovação e de investimento em novas técnicas de produção. A crise do café oferece um rico painel de análise da atuação do Brasil na defesa de seus interesses econômicos. É certo que as crises internacionais provocaram a retração do consumo do produto, mas são inegáveis os erros cometidos pelo Governo brasileiro e pelos produtores na gestão do negócio. O Brasil não foi capaz de perceber o aumento de oferta do produto na concorrência e nem de controlar o nível de produção nacional para evitar a queda dos preços. O Brasil era o maior produtor mundial mas não liderava as decisões do mercado internacional. No ciclo da borracha, o Brasil não soube aproveitar as possibilidades que este novo ciclo poderia ter gerado para o país. Por um curto espaço de tempo, o Brasil liderou o mercado mundial e, mais uma vez, não percebeu as mudanças que ocorriam no mercado internacional. O problema não foi só a biopirataria dos ingleses que abriram concorrência com a produção asiática. A incapacidade de reação do Brasil foi decorrente da falta de empreendedorismo do Governo e dos produtores. A produção brasileira era puramente extrativista, na Ásia a produção e distribuição do produto foram estruturadas, visando preço e regularidade de fornecimento para a indústria mundial. O Brasil poderia não ter recuperado a hegemonia mundial mas ter retido boa parcela do mercado, se houvesse modernizado o método de produção. Outro fator preponderante foi a falta de apoio do Governo aos produtores de borracha, todos os interesses políticos e econômicos da nação estavam voltados para o café. É possível fazer um paralelo com o Brasil de hoje, é certo que o capital 34 para investimentos é escasso, mas concentrar os incentivos e políticas econômicas somente em alguns setores da economia demonstra que, assim como no passado, o país continua a apoiar determinados setores em detrimento de outros. O último tema apresentado nesta monografia é o processo de desindustrialização brasileiro. Em uma primeira análise, os três ciclos analisados não guardam relação direta com o processo de desindustrialização, mas é possível fazer analogias. O ciclo do açúcar demonstra que as fragilidades militar e econômica de Portugal fizeram com que o país se sujeitasse à Inglaterra em troca de defesa. Nos dias atuais, o Brasil procura atalhos para seu desenvolvimento e redução do nível de dependência internacional. O país possui baixo desenvolvimento científicotecnológico, o que o torna vulnerável diante dos países mais desenvolvidos. Não é possível projetar-se e defender seus interesses apresentando alto grau de dependência, no final, como Portugal no século XVII, acabamos fazendo concessões que prejudicam os interesses nacionais. O ciclo do café deixa como legado a lição de que é preciso estar atento às oscilações do mercado internacional e não basear a estrutura econômica do país em um único segmento. O Brasil deve exportar suas “commodities”, mas deve também promover o desenvolvimento industrial, principalmente, os produtos de alto valor agregado. Os gargalos da economia brasileira são muitos. Estes, associados à crise financeira internacional e ao alto custo de produção, roubam a competitividade do setor industrial nacional. O ciclo da borracha nos lega a lição de que o nível de competitividade econômica internacional é dinâmico, agressivo e demanda investimentos múltiplos. O Brasil precisa cuidar de suas riquezas e proteger seu patrimônio natural. Deve estar atento às inovações que aparecem nos mercados de interesse e criar mobilidade nos processos de produção, gestão e tecnologia. O passado lega grandes lições. Em todos os ciclos econômicos estudados nesta monografia é possível verificar uma paridade nas relações entre as oligarquias e Governos, imperial ou republicano. No passado e no presente, a política econômica está baseada na defesa de interesses das elites em detrimento do desenvolvimento nacional. O Brasil deve reduzir seus problemas internos primários e o grau de dependência em Ciência & Tecnologia para, posteriormente, projetar-se internacionalmente e defender seus interesses. Em última análise, a atuação do Brasil na defesa de seus interesses econômicos no cenário internacional, ainda aponta para um grau de subordinação 35 significativo. É certo que, a partir de 1994, o país tem avançado mas é inegável que o crescimento econômico está, em parte, associado a acontecimentos exógenos. Na última década, o crescimento nacional esteve baseado principalmente no crescimento da economia chinesa, fazendo com que os analistas internacionais entendam que o país ainda apresenta alto grau de risco para investimentos de longo prazo. É certo que estão sendo feitos investimentos em infraestrutura, logística, educação e desenvolvimento tecnológico mas o lapso temporal ainda é longo para obtenção de resultados que tragam independência para o país, fazendo com que o Brasil seja menos vulnerável à pressões de países ricos e dos blocos econômicos. O Brasil tem melhorado significativamente seu posicionamento perante a comunidade internacional mas ainda apresenta fragilidades que fazem com que não consiga defender seus interesses plenamente. Um exemplo da impossibilidade do Brasil projetar-se no cenário econômico internacional é a taxa de juros para captação de investimentos. No início do ano de 2012, o Governo Federal anunciou medidas macro prudenciais adicionadas à redução da taxa de juros. Visava internamente estimular o consumo e minimizar a entrada de capitais de curtíssimo prazo que não favorecem os investimentos. Adicionalmente, tentava manter o nível da demanda agregada. Pressupunha o Governo que o mercado internacional reconheceria, por via dessas estratégias, a potencialidade da Economia brasileira para evitar a recessão que se espraiava pelo mundo. Somava-se a esses esforço a possibilidade de diminuição de choques externos propiciado pelo forte ingresso de capital especulativo. Contudo, as medidas não foram consideradas como suficiente pelo setor externo e o país foi submetido a transitório momento de evasão de divisas. Assim, o governo se viu forçado a recuar e tomar novas medidas para manter o interesse externo por investimentos no país. O Brasil precisa captar recursos de longo prazo, em detrimento do capital especulativo. A quebra desse atual ciclo de ingresso do “hot money”, contudo, só se dará quando a economia brasileira conseguir superar gargalos observados na estrutura doméstica. Considere-se que na análise econômica, potencial não significa realização. O Brasil possui grande potencial de crescimento de longo prazo, novas tecnologias e forte disposição para acelerar seu processo de desenvolvimento. Não há como projetar poder e defender interesses nacionais mantendo-se os atuais níveis de investimento e a aguda dependência de poupanças externas. 36 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo R. Formação da Diplomacia Econômicas no Brasil: as relações econômicas internacionais no império. São Paulo: FUNAG, 2001. BAER, Werner. A Economia Brasileira . 3.ed. São Paulo:Nobel 2009. BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. Porto Alegre: L&M Pocket.1998. V.89. CALDEIRA, Jorge. Mauá Empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. CAMPOS, Flávio; DOLHNIKOFF, Mirian. Manual do Candidato. 2.ed. 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