CARACTERIZAÇÃO DOS MICRORGANISMOS PRESENTES EM VINHOS TINTOS DA REGIÃO DO DÃO EM PORTUGAL. IDENTIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS PRODUTORES DE FENÓIS VOLÁTEIS DOUTORAMENTO EM MICROBIOLOGIA E GENÉTICA Luís Manuel Lopes Rodrigues da Silva Provas concluídas em 20 de Julho de 2004 RESUMO A deterioração por fenóis voláteis é um dos principais problemas que afectam os vinhos tintos, produzindo grandes perdas económicas a nível mundial. Na Região do Dão (Portugal), a produção de vinhos de qualidade ocorre através de técnicas tradicionais, com passagem dos vinhos por barricas de madeira para envelhecimento; estas barricas podem ser as responsáveis pela presença de Dekkera bruxellensis no vinho. Esta levedura é um dos microrganismos capazes de originar fenóis voláteis a partir de alguns ácidos hidroxicinâmicos presentes nos vinhos. Por isso, os objectivos deste trabalho consistiram na caracterização e identificação dos microrganismos presentes em vinhos tintos deteriorados por fenóis voláteis procedentes da Região do Dão, a identificação dos microrganismos produtores de fenóis voláteis e a criação de um meio de cultura selectivo e diferencial para o isolamento de Dekkera bruxellensis. A caracterização e identificação dos microrganismos foram efectuadas com recurso a métodos fenotípicos e moleculares, que revelaram a presença de seis espécies de leveduras (Dekkera bruxellensis, Pichia fluxuum, Debaryomyces hansenii, Pichia membranifaciens, Saccharomyces cerevisiae) e de cinco espécies de bactérias (Acetobacter oeni sp. nov., Acetobacter pasteurianus, Gluconobacter oxydans, Oenococcus oeni, Staphylococcus warneri) nos vinhos analisados. Para a identificação de leveduras, efectuou-se um prévio agrupamento das mesmas, utilizando o tamanho dos fragmentos de ITS juntamente com os perfis de RFLP utilizando a enzima de restrição Hae III; seguidamente, utilizou-se a sequenciação tanto deste fragmento como do domínio D1/D2 do gene ribossómico 18S. As bactérias agruparam-se utilizando os perfis de TP-RAPD, classificaram-se em diferentes géneros através da sequência completa do gene ribossómico 16S e identificaram-se utilizando os perfis electroforéticos de LMW RNA. Num dos grupos obtidos analisou-se a hibridação do DNA total para confirmar a existência de uma nova espécie bacteriana para a qual se propôs o nome de Acetobacter oeni sp. nov. Todas as estirpes isoladas neste estudo foram inoculadas em vinho, para estudar a produção de fenóis voláteis, e os resultados obtidos mostraram que as únicas estirpes capazes de produzir estes compostos pertenciam à espécie Dekkera bruxellensis. Seguidamente, procedeu-se à criação de um meio de cultura selectivo e diferencial para esta espécie que se denominou por DSM (Dekkera Selective Medium) que contém na sua composição glucose como fonte de carbono, carbonato de cálcio como agente tampão, cloranfenicol, cicloheximida e etanol como agentes inibidores de crescimento de bactérias e leveduras que podem interferir no isolamento de Dekkera bruxellensis.