JAN PAWEL ANDRADE PACHNICKI AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DOS RECEPTORES DE ESTROGÊNIO E PROGESTERONA NO CÂNCER DE MAMA, PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Princípios da Cirurgia do Instituto de Pesquisas Médicas – IPEM do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba / Faculdade Evangélica do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Coordenador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia Orientador: CURITIBA 2009 Prof. Dr. Nicolau Gregori Czeczko JAN PAWEL ANDRADE PACHNICKI AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DOS RECEPTORES DE ESTROGÊNIO E PROGESTERONA NO CÂNCER DE MAMA, PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Princípios da Cirurgia do Instituto de Pesquisas Médicas – IPEM do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba / Faculdade Evangélica do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Coordenador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia Orientador: CURITIBA 2009 Prof. Dr. Nicolau Gregori Czeczko Pachnicki, Jan Pawel Andrade Avaliação imunoistoquímica dos receptores de estrogênio e progesterona no câncer de mama, pré e pós-quimioterapia neoadjuvante – Curitiba, 2009. 66 f.: il. (algumas color.); 29 cm. Orientador: Prof. Dr. Nicolau Gregori Czeczko. Dissertação (Mestrado em Princípios da Cirurgia) – Instituto de Pesquisas Médicas – IPEM, Hospital Universitário Evangélico de Curitiba – HUEC / Faculdade Evangélica do Paraná – FEPAR. 1.Terapia Neoadjuvante; 2. Receptor de Estrogênio; 3. Receptor de Progesterona; 4. Imunoistoquímica. Dedico este trabalho à minha família AGRADECIMENTOS A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização e divulgação deste trabalho. Agradeço a Deus, meu Pai, e à Nossa Senhora, minha Madrinha, pela graça de nos ter permitido chegar ao nosso objetivo. À minha esposa, Liz, pela parceria, pelo companheirismo, pelos incentivos e pelo amor infinito que me acompanharam na realização deste trabalho. Aos meus pais, Wojciech e Maria de Lourdes, por todo seu amor, por quem sou e pela confiança que depositaram em mim durante este ciclo de Mestrado. À minha irmã, Majenna, pelo carinho e apoio, sempre disponível em me ajudar no elo das instituições durante todo o trabalho. Aos meus sogros, Alberto e Maria Cristina, grandes amigos, incentivadores e conselheiros. Aos meus familiares que souberam entender minhas faltas e minha distância, sempre com gestos de carinho. Agraço especialmente ao Prof. Dr. Nicolau Gregori Czeczko, meu orientador, pela sua ajuda, sua orientação e, principalmente, sua paciência. Ao Prof. Dr. Jean Alexandre Furtado Correa e Francisco, chefe do Serviço de Ginecologia e Mastologia do HUEC, pela amizade, colaboração e estímulo. Ao Prof. Dr. Osvaldo Malafaia, coordenador do curso de pósgraduação, pela contribuição e, principalmente, pelas aulas de vida que nos passou durante a realização dos créditos para o Mestrado. Aos Profs. Drs. Jurandir Marcondes Ribas Filho, Carmen Australia Paredes Marcondes Ribas, Paulo Afonso Nunes Nassif, Marcelo Mazza e Thelma Larocca Skare, sempre dispostos a colaborar com a pesquisa. Ao Prof. Dr. Vinícius Milani Budel pelo apoio irrestrito na realização deste trabalho. À Dra. Danielle Sakamoto e a toda a equipe do Serviço de Patologia do HUEC, sem os quais não seria possível a realização desta pesquisa. À Dra. Tereza Cristina Cavalcanti e a toda a equipe do Laboratório de Patologia CITOLAB, pela ajuda na complementação deste trabalho. À Dra. Priscila Roncato, amiga e colaboradora, pelo apoio e incentivo. Ao Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HUEC pela liberdade e receptividade sempre dispensadas, além da gentileza ao fornecer os prontuários para o trabalho realizado. Aos amigos Bruno e Erika, grandes estimuladores para que tudo saísse da melhor forma, pela atenção e carinho. A todos os colegas do curso de pós-graduação pela amizade e sempre presente contribuição nesta pesquisa. "Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer!". Mahatma Gandhi. RESUMO AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DOS RECEPTORES DE ESTROGÊNIO E PROGESTERONA NO CÂNCER DE MAMA, PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE Introdução: O câncer de mama, apesar das novas estratégias terapêuticas e diagnósticas empregadas, continua sendo um desafio na área médica. Informações mais detalhadas de fatores capazes de influenciar o desenvolvimento da doença se fazem cada vez mais necessárias. Dentre os fatores prognósticos destacam-se os receptores hormonais, muito estudados até hoje, com várias incertezas no que concerne sua expressão após o tratamento com quimioterapia neoajuvante. Objetivo: Avaliar a imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona, pré e pós quimioterapia neoadjuvante, em biópsias e peças cirúrgicas de pacientes com câncer de mama, correlacionando também suas alterações com o padrão de resposta à quimioterapia e com o diagnóstico de menopausa. Material e Método: Em uma análise entre os anos de 2005 e 2009 selecionou-se 47 pacientes com diagnóstico histopatológico de carcinoma primário de mama localmente avançado, do Serviço de Mastologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, na cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. Após elaborado um banco de dados, foram coletados os blocos de parafina no arquivo do Serviço de Anatomia Patológica da mesma instituição, referentes às pacientes da amostra selecionada. Para cada paciente existiam dois blocos: o espécime da biópsia e o espécime da ressecção cirúrgica. A partir destes blocos foi avaliada a expressão dos receptores hormonais por técnica de imunoistoquímica. A análise estatística utilizou o teste paramétrico t de Student e o não-paramétrico Exato de Fisher, com nível de significância de 5%. Resultados: Das 47 pacientes amostradas, 30 apresentavam imunoexpressão positiva dos receptores hormonais. Observou-se redução significativa tanto nos níveis de receptor de estrogênio e progesterona quanto em sua imunoexpressão, nestas pacientes, sendo que 53,3% apresentaram mudanças nos níveis expressos de receptor de estrogênio, 56,6% em receptor de progesterona, 26,6% na imunoexpressão do receptor de estrogênio e 33,3% na imunoexpressão do receptor de progesterona. Ao se correlacionar a influência da resposta à quimioterapia e do diagnóstico de menopausa nas pacientes com a variação na expressão dos receptores hormonais não se encontrou significância estatística. Conclusões: A quimioterapia neoadjuvante alterou significativamente a imunoexpressão dos receptores hormonais nas pacientes da amostra, reduzindo sua positividade nas células tumorais. Deve-se, portanto, atentar à ocorrência destas modificações para a realização de um tratamento adequado em pacientes com câncer de mama. Palavras-chave: Terapia Neoadjuvante; Receptor de Estrogênio; Receptor de Progesterona; Imunoistoquímica. ABSTRACT IMMUNOHISTOCHEMICAL EVALUATION OF ESTROGEN AND PROGESTERONE RECEPTORS, PRE AND POST NEOADJUVANT CHEMOTHERAPY, IN BREAST CANCER Background: Breast cancer, despite the employment of new therapeutic and diagnostic strategies, remains a challenge in medical field. Further details of factors influencing the development of this disease are increasingly necessary. Among the prognostic factors, we highlight the hormone receptors, widely studied so far, with many uncertainties regarding its expression after primary chemotherapy. Objective: To evaluate the immunoexpression of estrogen and progesterone receptors pre and post neoadjuvant chemotherapy in biopsies and surgical specimens of patients with breast cancer, also correlating their changes with the pattern of response to chemotherapy and the diagnosis of menopause. Material and Method: In an analysis between 2005 and 2009 there were selected 47 patients with histopathological diagnosis of locally advanced primary breast cancer, at Mastology’s Department of Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, located in Curitiba, Paraná, Brasil. After a made-up database, there were collected paraffin blocks at Pathology’s Department of the same Institution. They refer to patients in the sample selected, each of them with two blocks: the diagnostic biopsy specimen and the surgical specimen. From these blocks, it was evaluated the expression of hormone receptors by immunohistochemistry. Statistical analysis used the paired Student’s t test and nonparametric Fisher’s Exact test, with significance level of 5%. Results: Of the 47 patients sampled, 30 showed positive immunoexpression of the hormone receptors. There was a significant reduction either in the levels of estrogen and progesterone receptors as in their immunoexpression. From these patients, 53.3% showed changes in estrogen receptor expressed levels, 56.6% in progesterone receptor, 26.6% in the immunoexpression of estrogen receptor and 33.3% in progesterone receptor immunoexpression. When correlating the influence of the response to chemotherapy and the diagnosis of menopause in these patients with the variation in the expression of hormone receptors there was not meet statistical significance. Conclusions: Neoadjuvant chemotherapy has significantly changed the hormone receptors immunoexpression in the sampled patients, reducing their positivity in tumor cells. We should, therefore, notice the occurrence of these modifications to achieve an appropriate treatment for breast cancer patients. Keywords: Neoadjuvant Therapy; Estrogen Receptor; Progesterone Receptor; Immunohistochemistry. LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO 1 – MÉTODO QUANTITATIVO DA AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DOS RECEPTORES HORMONAIS .................................................................................... 31 FIGURA 1 – EXEMPLO DE ADENOCARCINOMA MAMÁRIO COM IMUNOEXPRESSÃO NEGATIVA DO RECEPTOR DE PROGESTERONA, AUMENTO DE 400x .............. 32 FIGURA 2 – EXEMPLO DE ADENOCARCINOMA MAMÁRIO COM IMUNOEXPRESSÃO POSITIVA DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO, AUMENTO DE 400x ...................... 32 GRÁFICO 1 – IDADE DAS PACIENTES ESTUDADAS .................................................................... 35 GRÁFICO 2 – PERCENTUAL DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE APRESENTADO PELAS PACIENTES AMOSTRADAS ............................................. 36 GRÁFICO 3 – BOXPLOT DOS NÍVEIS DE EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ..................................................... 39 GRÁFICO 4 – BOXPLOT DOS NÍVEIS DE EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ..................................................... 40 GRÁFICO 5 – BOXPLOT DA VARIAÇÃO NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ....................................... 40 GRÁFICO 6 – BOXPLOT DA VARIAÇÃO NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ................................ 41 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO EM PACIENTES SUBMETIDAS À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ........................ 37 TABELA 2 - AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DO RECEPTOR DE PROGESTERONA EM PACIENTES SUBMETIDAS À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ........................ 38 TABELA 3 - MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO EM RELAÇÃO AO PADRÃO DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE........................................................................................................ 42 TABELA 4 - MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA EM RELAÇÃO AO PADRÃO DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE........................................................................................................ 42 TABELA 5 - MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO EM RELAÇÃO AO DIAGNÓSTICO DE MENOPAUSA NAS PACIENTES ESTUDADAS ............................................................................................................... 43 TABELA 6 - MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA EM RELAÇÃO AO DIAGNÓSTICO DE MENOPAUSA NAS PACIENTES ESTUDADAS ............................................................................................................... 43 SUMÁRIO 1 1.1 2 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12 OBJETIVOS ..................................................................................................... 14 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 16 2.1 CARCINOGÊNESE ESTROGÊNICA NO CÂNCER DE MAMA. ...................... 16 2.2 RECEPTORES HORMONAIS EM CÂNCER DE MAMA.................................. 17 2.3 QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE EM CÂNCER DE MAMA. ...................... 20 2.4 RECEPTORES HORMONAIS APÓS A UTILIZAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE. ........................................................................................... 23 3 MATERIAL E MÉTODO ...................................................................................... 27 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO .................................................................. 27 3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO............................................................................. 27 3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ........................................................................... 28 3.4 AMOSTRA........................................................................................................ 28 3.4.1 Critérios de elegibilidade para padrão de resposta à quimioterapia ................. 29 3.4.2 Critérios de elegibilidade para diagnóstico de menopausa .............................. 29 3.5 MÉTODO IMUNOISTOQUÍMICO ..................................................................... 30 3.6 MÉTODO QUANTITATIVO .............................................................................. 31 3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................. 33 4 RESULTADOS .................................................................................................... 35 4.1 ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS DO GRUPO DE ESTUDO ................. 35 4.2 IMUNOEXPRESSÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS PRÉ E PÓSQUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ............................................................... 36 4.3 IMUNOEXPRESSÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS E PADRÃO DE RESPOSTA CLÍNICA À QUIMIOTERAPIA ...................................................... 41 4.4 IMUNOEXPRESSÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS E MENOPAUSA ... 42 5 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 45 5.1 DO MÉTODO ................................................................................................... 45 5.2 DOS RESULTADOS ........................................................................................ 48 5.3 PERSPECTIVAS FUTURAS ............................................................................ 52 6 CONCLUSÕES ................................................................................................... 55 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 APÊNDICE 1 ............................................................................................................. 64 1 INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO 12 1 INTRODUÇÃO Em todo o mundo, números cada vez maiores de pacientes estão sendo diagnosticadas com câncer de mama invasor e muito está sendo feito no desenvolvimento de drogas e aperfeiçoamento de cirurgias direcionadas às características individuais de cada paciente. (KASAMI et al., 2008) A expansão do conhecimento, em conjunto com a implementação destas novas técnicas, enriquece a pesquisa médica em busca de novas perspectivas quanto ao câncer de mama. (LONNING et al., 2007) Um dos maiores desafios para o estudo e tratamento do carcinoma de mama é a resolução da heterogeneidade tumoral característica destes carcinomas. Até o final da década passada as pacientes que tinham o diagnóstico de carcinoma de mama eram tratadas como tendo doenças semelhantes, conduta baseada principalmente numa classificação morfológica que impossibilitava justificar por que os casos com um mesmo diagnóstico e estadio podiam ter desfechos marcadamente diferentes. (VIEIRA et al., 2008) Nos últimos anos tem-se observado grande revolução no tratamento convencional desse tumor. Estratégias multidisciplinares foram desenvolvidas, baseadas em evidências clínicas e laboratoriais, indicando a natureza sistêmica da doença, já no momento do diagnóstico. (DEPES et al., 2003) A cirurgia evoluiu para procedimentos menos mutilantes, uma vez que a extensão da retirada do tumor demonstrou exercer pouca influência no prognóstico. Cirurgias conservadoras associadas ao tratamento radioterápico tornaram-se eficientes no controle da doença local. (DEPES et al., 2003) A quimioterapia e a hormonioterapia mostraram ser complementos importantes para as manifestações sistêmicas, diminuindo significativamente o risco de recidiva e morte. (CHANG et al., 1999) Em 2005, o Comitê de Consenso em terapias adjuvantes para câncer de mama em estadio inicial de St. Gallen recomendou que a primeira consideração na INTRODUÇÃO 13 seleção do tratamento fosse a responsividade endócrina. (VAN DER HAGE et al., 2007) O reconhecimento deste fato aumentou a relevância da avaliação patológica quanto às informações biológicas. (VERONESI et al., 2006) Por essa razão o receptor de estrogênio tem sido o indicador prognóstico mais intensamente estudado até hoje. Inúmeros autores declararam haver relação positiva entre receptor de estrogênio, maior intervalo livre de doença e melhor sobrevida das pacientes. (DEPES et al., 2003) Os receptores de estrogênio e progesterona são atualmente os fatores preditivos mais utilizados para escolha do tratamento hormonal. (ORVIETO e VIALE, 2002) A quimioterapia neoadjuvante é, também, frequentemente utilizada no tratamento do câncer de mama, com a finalidade de reduzir o tamanho tumoral e estimar a sensibilidade ao quimioterápico (HANNEMANN et al., 2005), entretanto, o efeito desta na expressão de receptor de estrogênio, receptor de progesterona e HER-2 permanece incerto. (KASAMI et al., 2008) Mudanças na expressão destes marcadores biológicos durante a quimioterapia neoadjuvante podem influenciar a decisão clínica em terapias adjuvantes hormonais e moleculares. (SHIMIZU et al., 2007) Assim, embora o tratamento sistêmico primário seja cada vez mais reconhecido como o melhor modelo para um rápido desenvolvimento de novas estratégias de tratamento em cânceres de mama iniciais (SHIMIZU et al., 2007), impõe-se um tema tão controverso quanto seu screening (o qual estima-se que salve 1400 vidas por ano) (HOGBEN, 2008): o câncer de mama caracteriza-se por constituição celular heterogênea, o que lhe faculta a possibilidade de respostas diferentes à quimioterapia nos diferentes clones celulares dentro do mesmo tumor. Essa heterogeneidade pode ser apontada como uma das razões da resposta negativa à terapia endócrina, em pacientes receptor de estrogênio positivo. (DEPES et al., 2003) INTRODUÇÃO 14 1.1 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivos: a) Avaliar a imunoexpressão do receptor de estrogênio, pré e pósquimioterapia neoadjuvante, em biópsias e peças cirúrgicas de pacientes com câncer de mama. b) Avaliar a imunoexpressão do receptor de progesterona, pré e pósquimioterapia neoadjuvante, em biópsias e peças cirúrgicas de pacientes com câncer de mama. c) Correlacionar a alteração do tamanho tumoral, decorrente da resposta ao tratamento quimioterápico, com a imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona, pré e pós-quimioterapia neoadjuvante, em biópsias e peças cirúrgicas de pacientes com câncer de mama. d) Correlacionar o estado de pré-menopausa e pós-menopausa das pacientes com a imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona, pré e pós-quimioterapia neoadjuvante, em biópsias e peças cirúrgicas de pacientes com câncer de mama. 2 REVISÃO DE LITERATURA REVISÃO DE LITERATURA 16 2 2.1 REVISÃO DE LITERATURA CARCINOGÊNESE ESTROGÊNICA NO CÂNCER DE MAMA Em 1896, Sir George Thomas BEATSON propôs em seu artigo que mudanças ocorridas na mama durante o processo da lactação seriam quase idênticas, até certo ponto, àquelas que aconteciam no câncer de mama. Pareciam existir evidências de que ovários e testículos apresentavam controle em proliferações epiteliais locais no corpo humano. A retirada dos ovários teria efeito sobre a proliferação epitelial que ocorre no carcinoma de mama, ajudando a tendência natural de degeneração gordurosa, fato melhor observado em pacientes jovens (grupo em que a remoção local da doença era freqüentemente insatisfatória). VAN DER HAGE, VAN DE VELDE, JULIEN, TUBIANA-HULIN, VANDERVELDEN e DUCHATEAU (2001) informavam que, desde os primeiros relatos, encontrava-se um risco consistentemente aumentado associado a níveis séricos elevados de estrogênio endógeno, indicadores clínicos de níveis séricos de estrogênio persistentemente elevados e exposição a estrogênio exógeno (associado ao progestágeno na terapia de reposição hormonal e nos contraceptivos orais). YAGER e DAVIDSON (2006) consolidaram definitivamente esta teoria mostrando que, em animais experimentais, o tratamento com estrogênio leva ao desenvolvimento de tumores mamários, renais, hepáticos e uterinos. Quando em conjunto, estas observações validam a hipótese de que o estrogênio é um carcinógeno para a glândula mamária. Os mecanismos pelos quais os estrógenos contribuem em cada fase do processo carcinogênico (iniciação, promoção e progressão) são complexos. As evidências sugerem a participação de metabólitos estrogênicos genotóxicos e de sinalização, genômica e não-genômica, mediada por receptores de estrogênio, as quais afetam a proliferação celular e a apoptose no tecido mamário. A amplitude com que essas duas vias contribuem para a carcinogênese estrogênica e os caminhos pelos quais polimorfismos genéticos e REVISÃO DE LITERATURA 17 fatores ambientais modificam os efeitos destas vias requerem ainda mais análise. Ainda assim, o conhecimento sobre o papel central do estrogênio no câncer de mama já leva ao desenvolvimento de ações preventivas e terapêuticas, as quais bloqueiam a função de receptores hormonais ou reduzem drasticamente os níveis de estrogênio endógeno através de inibição de sua síntese. 2.2 RECEPTORES HORMONAIS EM CÂNCER DE MAMA CHANG, POWLES, ALLRED, ASHLEY, CLARK, MAKRIS, ASSERSOHN, GREGORY, OSBORNE e DOWSETT (1999) já definiam o papel da imunoexpressão dos receptores hormonais como fator prognóstico, menos claro do que o comprometimento linfonodal e o tamanho do tumor inicial, mas associado a uma maior sobrevida. LAKHANI, VAN DE VIJVER, JACQUEMIER, ANDERSON, OSIN, MCGUFFOG e EASTON (2002) observavam um baixo nível de expressão de receptor de estrogênio em cânceres de mama familiares, particularmente aqueles associados às mutações do gene BRCA1. TAUCHER, RUDAS, GNANT, THOMANEK, DUBSKY, ROKA, BACHLEITNER, KANDIOLER, WENZEL, STEGER, MITTLBÖCK e JAKESZ (2003) demonstraram que a positividade na expressão de receptor de estrogênio está relacionada a significantemente longos intervalo livre de doença e sobrevida global, mas somente em pacientes com câncer de mama operável. Outro estudo com 187 pacientes, realizado por GIORDANO (2003), apresentando tumores localmente avançados, encontrou que a não expressão de receptor de estrogênio e progesterona está associada com uma menor sobrevida global, em análise uni-variada. FOULKES, METCALFE, SUN, HANNA, LYNCH, GHADIRIAN, TUNG, OLOPADE, WEBER, MCLENNAN, OLIVOTTO, BÉGIN e NAROD (2004) REVISÃO DE LITERATURA 18 ressaltaram, ainda, o fato de que o receptor de estrogênio está inversamente correlacionado com o grau tumoral. Esta observação é importante quando nos deparamos com os cânceres familiares, pois, devido aos tumores associados às mutações de BRCA1 e BRCA2 serem em sua grande maioria de alto grau, estes são com maior frequência receptor de estrogênio negativo. CHAKRAVARTHY, KELLEY, MCLAREN, TRUICA, BILLHEIMER, MAYER, GRAU, JOHNSON, SIMPSON, BEAUCHAMP, JONES e PIETENPOL (2006) apontavam a não relação do receptor de progesterona com a resposta patológica ao tratamento, embora os receptores hormonais se mostrassem cada dia mais relacionados à resposta sistêmica das terapias adjuvantes. Em 2006, ainda, CAHILL, WALSH, LANDERS e WATSON (2006) afirmavam que, quando devidamente realizadas, as biópsias por agulha grossa eram ferramentas válidas na avaliação pré-operatória da imunoexpressão dos receptores hormonais. VAN DER HAGE, MIEOG, VAN DE VIJVER e VAN DE VELDE (2007) ressaltavam que, em análise multivariada, a imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona permanecem fatores prognósticos independentes com um significante impacto na sobrevida global dos pacientes. HARRIS, FRITSCHE, MENNEL, NORTON, RAVDIN, TAUBE, SOMERFIELD, HAYES e BAST JR (2007) colocavam que, mais importante do que prognóstico favorável, a presença dos receptores de estrogênio e progesterona é fator altamente preditivo de resposta ao tratamento endócrino, neoadjuvante, adjuvante e paliativo. Estes tratamentos incluem os moduladores seletivos do receptor de estrogênio - SERM (p.ex. tamoxifeno), a ablação ovariana (química ou cirúrgica), os inibidores da aromatase (p.ex. anastrozol) e os inibidores irreversíveis do receptor de estrogênio (fulvestranto). Dentre todos, SANTEN, BOYD, CHLEBOWSKI, CUMMINGS, CUZICK, DOWSETT, EASTON, FORBES, KEY, HANKINSON, HOWELL e INGLE (2007) afirmavam que os SERM representam o maior avanço terapêutico na prática clínica, demonstrando eficácia no tratamento e prevenção dos cânceres de mama receptor de estrogênio positivo. REVISÃO DE LITERATURA 19 Como relatado por HARRIS, FRITSCHE, MENNEL, NORTON, RAVDIN, TAUBE, SOMERFIELD, HAYES e BAST JR, em 2007, os receptores de estrogênio e progesterona foram os primeiros marcadores preditivos recomendados para uso clínico de rotina em câncer de mama pelo Painel de Marcadores Tumorais da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, cuja última atualização traz que: “Receptor de estrogênio e receptor de progesterona devem ser mensurados em todo câncer de mama primário invasivo e podem ser mensurados em lesões metastáticas caso seus resultados influenciem no plano de tratamento. Em ambas, pacientes pré e pós-menopausa, o status dos receptores hormonais deve ser usado para identificar as pacientes que se beneficiariam de terapias endócrinas, sejam tumores iniciais ou metastáticos. Em pacientes com carcinoma ductal in situ, candidatas a terapia hormonal, os dados são insuficientes para recomendar dosagem dos receptores de estrogênio e progesterona de rotina para recomendações terapêuticas.” Em 2008, RASTELLI e CRISPINO, ilustravam a biologia dos receptores hormonais, trazendo que o receptor de estrogênio existe em duas isoformas, RE-α e RE-β, codificadas por dois genes diferentes. O RE-β tem importância em predizer resistência ao tratamento endócrino, já que estudos clínicos sugerem que cânceres de mama com expressão de RE-α, com baixo RE-β, tendem a apresentar resistência ao Tamoxifeno. O receptor de progesterona também é expresso em duas isoformas, RP-A e RP-B, resultado de um único gene. A presença de receptor de progesterona pode ser um melhor indicador de resposta hormonal que a de receptor de estrogênio, pois este último pode estar presente mas não ativo em algumas pacientes. A presença de receptor de estrogênio é considerada pré-requisito para a positividade de receptor de progesterona. Assim sendo, tumores com imunoexpressão negativa do receptor de estrogênio e imunoexpressão positiva do receptor de progesterona são resultado de uma amostra de receptor de estrogênio falso-negativa. REVISÃO DE LITERATURA 20 2.3 QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE EM CÂNCER DE MAMA Em 2005, o EARLY BREAST CANCER TRIALISTS' COLLABORATIVE GROUP (EBCTCG) trazia que, quando apareceu pela primeira vez, ao final da década de 70, o uso da quimioterapia primária, pré-operatória, era limitado às mulheres com câncer de mama localmente avançados e inoperáveis, no intuito de permitir tratamento adequado. Mais tarde, grandes trabalhos randomizados provaram que a quimioterapia pré-operatória tem ao menos o mesmo benefício na sobrevida que a pós-operatória, e suas indicações estenderam-se a mulheres com câncer de mama potencialmente operáveis. Entretanto, com a sobrevida global aumentando devido à terapia sistêmica em cânceres de mama iniciais, a “sobrevivência” ou importância da qualidade de vida após a terapia primária tornouse algo de extrema notoriedade. BARNI e MANDALÁ (2006) informavam que o difícil seria a escolha do esquema a ser utilizado, em que pacientes utilizá-los, e a avaliação da resposta na paciente em que esta é empregada. Seriam estas características que impediriam um supertratamento e aumento da toxicidade dos agentes. PAIK, TANG, SHAK, KIM, BAKER, KIM, CRONIN, BAEHNER, WATSON, BRYANT, CONSTANTINO, GEYER JR, WICKERHAM e WOLMARK (2006) traziam que esquemas combinados também são alvos de pesquisa. Idealmente, a decisão de se utilizar quimioterapia em adição à hormonioterapia no tratamento do câncer de mama com axila negativa e receptor de estrogênio positivo deve ser baseada não somente no risco básico (informação prognóstica), mas também na predição do grau de benefício da quimioterapia. Inúmeras pistas biológicas e clínicas sugeririam que nem todos os pacientes têm o mesmo benefício da quimioterapia. Uma revisão de estudos randomizados sugere, por exemplo, que mulheres mais jovens se beneficiam mais da quimioterapia que as mais idosas. Para TIEZZI (2007), era notório que a quimioterapia neoadjuvante se trata de uma alternativa atual para aumentar as taxas de cirurgias conservadoras em pacientes não candidatas ao procedimento por relação volume da mama versus REVISÃO DE LITERATURA 21 tamanho do tumor imprópria. Esta abordagem clínica permite a cirurgia conservadora em 50 a 75% das pacientes com indicação primária de mastectomia pela extensão anatômica do tumor. SHIMIZU, ANDO, KOUNO, KATSUMATA e FUJIWARA (2007) apontavam que as principais vantagens da quimioterapia pré-operatória são a avaliação subjetiva da resposta à terapia sistêmica in vivo e a redução da extensão da cirurgia local. Como desvantagens têm-se o atraso no tratamento loco-regional para aquelas pacientes com progressão da doença em vigência de quimioterapia, e a perda de informações histológicas iniciais como tamanho tumoral, status nodal e marcadores biológicos. Estes mesmos autores colocavam que o consenso geral diz que esquemas contendo antracíclicos, como por exemplo, doxorrubicina ou epirrubicina com ciclofosfamida, ou doxorrubicina ou epirrubicina com ciclofosfamida e 5-fluoracil, devem ser utilizados como estratégia inicial em quimioterapia neoadjuvante. O uso sequencial de agentes sem resistência cruzada aumenta a resposta à quimioterapia pré-operatória, dentre os quais os taxanos são as drogas mais investigadas. PESSOA, RODRIGUES, MICHELIN, DE LUCA, KAMIYA, TRAIMAN e UEMURA (2007) colocavam em seu trabalho que um dos mais importantes estudos realizados sobre quimioterapia neoadjuvante é o NSABP B-18, que avaliou 1500 mulheres, divididas em dois grupos. O primeiro recebeu tratamento neoadjuvante com Adriamicina e Ciclofosfamida (AC) e o segundo recebeu quimioterapia adjuvante, também com AC. Trinta e seis por cento das pacientes tiveram resposta clínica completa e 13% resposta patológica completa. Após cinco anos de seguimento, não houve diferença entre os dois braços do estudo tanto na taxa de recidiva local quanto à presença de doença a distância. As pacientes com resposta clínica completa tiveram a mesma sobrevida global, porém, um período livre de doença maior. Nas pacientes com resposta patológica completa observaram-se sobrevida global e período livre de doença maiores. Novas drogas, como os taxanes, são atualmente muito empregadas para esta forma de tratamento. Um dos primeiros estudos em que se avaliou a adição dos taxanes aos antracíclicos foi o NSABP-27, que dividiu 2411 mulheres com câncer de mama (T1c-T3, N0-N1, M0) em três grupos. No primeiro grupo, as pacientes receberam quatro ciclos de AC préoperatórios; no segundo grupo, as pacientes receberam quatro ciclos de AC préoperatórios seguidos de quatro ciclos de docetaxel; e, no terceiro grupo, as REVISÃO DE LITERATURA 22 pacientes também receberam quatro ciclos pré-operatórios de AC e quatro ciclos pós-operatórios de docetaxel. Foram observados 45,4% de resposta clínica parcial, 40,2% de resposta clínica completa e, aproximadamente, 10% de resposta patológica completa no primeiro e no terceiro grupo. Já no grupo que recebeu a adição do docetaxel, a resposta clínica parcial foi de 27,1%, a resposta clínica completa de 63,6%, e a resposta patológica completa de 18,9%. Uma revisão sistemática sobre o emprego dos taxanes na quimioterapia primária conclui que o seu uso é seguro e eficaz, além de apresentar uma resposta clínica, patológica, sobrevida livre de doença e sobrevida global maiores que as obtidas apenas com o uso de regimes baseados em antracíclicos. A quimioterapia primária, portanto, proporciona oportunidade de entender melhor o comportamento do câncer mamário, permitindo o estudo de fatores que influenciam a resposta tumoral ao quimioterápico. Há uma série de dados contraditórios na literatura mundial, diferentes esquemas terapêuticos estudados em populações bem distintas, dificultando a interpretação dos estudos e a comparação com este estudo. Os trabalhos mais recentes sobre quimioterapia primária mostram respostas superiores com o uso de drogas como taxanes e trastuzumab do que as obtidas com os antracíclicos. No Brasil, as pacientes portadoras do câncer mamário tratadas pelo SUS ficam, na maioria das vezes, restritas a drogas relatadas nesta revisão. Soma-se o fato de as mulheres deste país possuírem características físicas e biológicas que lhe são peculiares. Segundo SHIMIZU, ANDO, KOUNO, KATSUMATA e FUJIWARA (2007), ainda existem controvérsias acerca da quimioterapia neoadjuvante, e estas dúvidas pairam sobre: avaliação de tumor residual após cirurgia excisional completa, possibilidade de realização de biópsia de linfonodo sentinela nestas pacientes, alteração em marcadores biológicos, definição de resposta patológica completa, seguimento após quimioterapia neoadjuvante e cirurgia, predição da resposta à quimioterapia neoadjuvante, hormonioterapia neoadjuvante e aplicação de terapia a alvos moleculares. BERRUTI, BRIZZI, GENERALI, ARDINE, DOGLIOTTI, BRUZZI e BOTTINI (2008) completavam a afirmação anterior, observando que a resposta pode depender do número de ciclos administrados: seis a oito ciclos do mesmo regime seriam mais efetivos que três a quatro ciclos. REVISÃO DE LITERATURA 23 2.4 RECEPTORES HORMONAIS APÓS A UTILIZAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE Em 1996, BOTTINI, BERRUTI, BERSIGA, BRUNELLI, BRIZZI e MARCO reforçavam em seu estudo que, historicamente, a quimioterapia pré-operatória era quase exclusivamente utilizada em pacientes com tumores de grande volume, existindo poucas exceções a esta regra. Uma mudança no algoritmo de seleção de terapias sistêmicas neoadjuvantes para pacientes com câncer de mama operável mudou este panorama. A expressão de receptores hormonais foi, então, considerada fator essencial na seleção de um programa de tratamento em neoadjuvância. Notava-se, no entanto, mudanças na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona após a administração de quimioterapia neoadjuvante. FRASSOLDATI, ADAMI, BANZI, CRISCUOLO, PICCININI e SILINGARDI (1997) demonstravam alterações nos níveis dos receptores hormonais pósquimioterapia neoadjuvante. A série de TAUCHER, RUDAS, GNANT, THOMANEK, DUBSKY, ROKA, BACHLEITNER, KANDIOLER, WENZEL, STEGER, MITTLBÖCK e JAKESZ (2003) demonstrava diferenças significativas na expressão de receptores de estrogênio e progesterona antes e após a terapia sistêmica primária. DEPES, SOUZA, RIBALTA, ALVES, KEMP e LIMA (2003), da mesma forma, ao analisar seus resultados, encontraram redução dos níveis dos receptores hormonais nas peças cirúrgicas de suas pacientes. RING, SMITH, ASHLEY, FULFORD e LAKHANI (2004) relatavam que a imunoexpressão dos receptores hormonais na população examinada deve ser cuidadosamente avaliada. Altas taxas de resposta patológica completa, em estudos não-randomizados, e diferenças entre as taxas deste tipo de resposta aos tratamentos, em ensaios randomizados, poderiam ser explicados por uma alta REVISÃO DE LITERATURA 24 proporção de pacientes com receptor de estrogênio negativo ou diferenças na imunoexpressão dos receptores hormonais nos braços do estudo, respectivamente. Em 2005, QUDDUS, SUNG, ZHANG, PASQUERIELLO, EKLUND e STEINHOFF diziam que estes achados poderiam prover um insight de por que alguns cânceres de mama desenvolvem resistência à quimioterapia neoadjuvante após um período inicial de quimio-sensibilidade. HANNEMANN, OOSTERKAMP, BOSCH, VELDS, WESSELS, LOO, RUTGERS, RODENHUIS e VAN DE VIJVER (2005) relatavam que a mudança na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona poderia estar relacionada a uma melhor resposta ao tratamento. Nesse mesmo ano, ARENS, BLEYL e HILDENBRAND (2005) não observaram diferenças significativas na imunoexpressão dos receptores hormonais pré e pós-quimioterapia neoadjuvante, em sua série. BURCOMBE, MAKRIS, RICHMAN, DALEY, NOBLE, PITTAM, WRIGHT, ALLEN, DOVE e WILSON (2005) reforçavam o conceito anteriormente citado, reportando a não ocorrência de mudanças em receptores de estrogênio e progesterona. LEE, HAN, KO, CHO, JUNG, KIM, KEAM, IM, LEE, PARK, OH, YOUN, KIM, HWANG e NOH (2007) voltavam a observar mudanças na imunoexpressão dos receptores hormonais em pacientes com câncer de mama tratadas com quimioterapia pré-operatória. COLLEONI, VIALE, ZAHRIEH, BOTTIGLIERI, GELBER, VERONESI, BALDUZZI, TORRISI, LUINI, INTRA, DELLAPASQUA, CARDILLO, GHISINI, PERUZZOTTI e GOLDHIRSCH (2007) analisavam como importante o fato de que a determinação da expressão dos receptores hormonais, em um tumor primário, é um fator que pode predizer tanto a resposta à quimioterapia quanto o prognóstico da paciente, como vinha sendo reportado em análises retrospectivas. REVISÃO DE LITERATURA 25 VAN DER HAGE, MIEOG, VAN DE VIJVER e VAN DE VELDE (2007) relatavam que ensaios in vitro e estudos clínicos em doenças metastáticas mostravam que cânceres de mama receptor de estrogênio negativo eram mais sensíveis à quimioterapia que tumores receptor de estrogênio positivo, apresentando, assim, maior possibilidade de atingir uma resposta patológica completa. JERUSS, MITTENDORF, TUCKER, GONZALEZ-ANGULO, BUCHHOLZ, SAHIN, CORMIER, BUZDAR, HORTOBAGYI e HUNT (2008) demonstraram que, embora tumores receptor de estrogênio negativo alcancem mais facilmente uma resposta patológica completa, as pacientes com esta apresentação do câncer de mama apresentam taxas menos favoráveis de sobrevida livre de doença e sobrevida global quando comparadas com pacientes receptor de estrogênio positivo. Uma explicação proposta consistia no impacto benéfico da terapia hormonal adjuvante ofertada às pacientes com tumores receptor de estrogênio positivo. ADAMS, ELTOUM, KRONTIRAS, WANG e CHHIENG (2008) em sua série, demonstraram que, embora existisse tendência de alguns espécimes mudarem a expressão de seus receptores, não se atingiu diferenças estatísticas entre os grupos. KASAMI, UEMATSU, HONDA, YABUZAKI, SANUKI, UCHIDA e SUGIMURA (2008) também não encontraram diferenças estatísticas na imunoexpressão de receptor de estrogênio. Da mesma forma, HA, YOUN e JUNG (2008) não demonstraram mudanças nos receptores hormonais. CHOI e LEE (2009) voltavam a afirmar em sua série a existência de mudanças significativas na imunoexpressão dos receptores hormonais em pacientes com câncer de mama submetidas a quimioterapia neoadjuvante. 3 MATERIAL E MÉTODO MATERIAL E MÉTODO 27 3 MATERIAL E MÉTODO O estudo foi realizado no Serviço de Mastologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, no Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba e no Instituto de Pesquisas Médicas - IPEM do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba / Faculdade Evangélica do Paraná. Foram aplicadas as Normas para Apresentação de Documentos Científicos da Universidade Federal Paraná (2007), as Normas para Referências Bibliográficas (NBR-6023) e de Abreviaturas de Títulos e Periódicos (NR-6032) da Associação Brasileira de Normas Técnicas de 2003. O projeto de pesquisa deste trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba / Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil. (Apêndice 1) 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO Este estudo baseia-se na análise de prontuários e blocos de parafina de 47 pacientes, com diagnóstico histopatológico de câncer de mama, as quais apresentavam doença localmente avançada, matriculadas no Serviço de Mastologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, em Curitiba / Paraná, no período compreendido entre 2005 e 2009. Os dados foram obtidos dos prontuários médicos arquivados na mesma instituição e sumarizados em formulário padronizado. 3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Foram incluídas neste estudo 47 pacientes, as quais apresentavam carcinoma primário de mama no estadio III, independente de seu tipo histológico. Todas haviam sido submetidas a biópsia histopatológica (core-biopsy ou biópsia cirúrgica), com posterior quimioterapia neoadjuvante e tratamento cirúrgico individualizado (cirurgia conservadora ou radical). O esquema quimioterápico MATERIAL E MÉTODO 28 utilizado para todas as pacientes selecionadas consistiu de 3 ciclos com Ciclofosfamida – 600 mg/m2, Adriamicina – 60 mg/m2 e 5-fluorouracil – 600 mg/m2, seguidos de 3 ciclos com Docetaxel – 100 mg/m2, com intervalo de 21 dias. 3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Não foram consideradas elegíveis para o estudo as pacientes que: Apresentavam, nos exames para estadiamento, diagnóstico de metástases, mudando o estadio clínico inicialmente marcado; Realizaram tratamento neoadjuvante com esquema quimioterápico diferente do citado anteriormente, para fins de padronização da amostra; Apresentaram resposta clínica ou patológica completa, com o tratamento sistêmico primário utilizado, devido à ausência de tumor residual para análise da imunoexpressão dos receptores hormonais. 3.4 AMOSTRA Para a realização deste estudo foi confeccionado um instrumento padronizado que continha os dados de interesse, ou seja, dados demográficos, clínicos e relativos ao tratamento. Em seguida foram coletados os blocos de parafina do arquivo do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, referentes às pacientes da amostra selecionada, respeitando-se os critérios de inclusão e exclusão, cada uma destas com dois blocos: o espécime da biópsia diagnóstica e o espécime de ressecção cirúrgica / tratamento cirúrgico. Para posterior comparação intergrupos na análise estatística, a amostra também encontrava-se dividida quanto ao padrão de resposta à quimioterapia e quanto ao diagnóstico de menopausa. Não se utilizou o tipo histológico do tumor para fins de comparação da imunoexpressão dos receptores hormonais. MATERIAL E MÉTODO 29 Cada amostra foi submetida à avaliação prévia para a inclusão no estudo, sendo que cada bloco foi submetido à microtomia para obtenção de novos cortes com espessura de 4 m. As lâminas foram então coradas com hematoxilina e eosina e avaliadas no próprio Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, realizando-se a leitura das lâminas em microscópio óptico com ocular de 10x e objetivas de 10, 20 e 40x. Foi realizada confirmação diagnóstica e análise qualitativa dos blocos sendo excluídos os que tinham defeitos de fixação, contaminação por fungos, alto percentual de necrose ou diagnóstico inconclusivo. 3.4.1 Critérios de elegibilidade para padrão de resposta à quimioterapia O padrão de resposta à quimioterapia utilizou como base o sistema proposto pela União Internacional de Controle do Câncer (FANEYTE et al., 2003), dividindo a amostra em dois grupos: a) Presença de resposta: Resposta completa: desaparecimento completo do tumor. Resposta parcial: diminuição maior que 50% do tumor. b) Ausência de resposta Doença estável: diminuição menor que 50% ou aumento inferior a 25% do tumor. Progressão de doença: aumento tumoral acima de 25%. 3.4.2 Critérios de elegibilidade para diagnóstico de menopausa O diagnóstico de menopausa utilizou como base o conceito mundialmente aceito da Organização Mundial de Saúde, dividindo a amostra em dois grupos: a) Pré-menopausa: pacientes apresentando ciclos menstruais, regulares ou não, com intervalos inferiores a 12 meses. b) Pós-menopausa: pacientes apresentando ausência de ciclos menstruais por um período igual ou superior a 12 meses. MATERIAL E MÉTODO 30 3.5 MÉTODO IMUNOISTOQUÍMICO A expressão dos receptores de estrogênio e progesterona foi avaliada com o auxílio da técnica imunoistoquímica da streptoavidina-biotina-imunoperoxidase. Os cortes de 4μm de espessura foram estendidos em lâminas preparadas com adesivo à base de 3-aminopropil-trietoxi-silano (Sigma Chemical Co, USA). Inicialmente, os cortes foram incubados por 24 horas em estufa a 55ºC e depois desparafinados em três banhos de xilol, a 60°C, 55°C e à temperatura ambiente, durante 60, 30 e 20 minutos, respectivamente. A seguir, os cortes foram hidratados em concentrações decrescentes de etanol, seguidos por lavagens em água corrente. As seções teciduais foram submetidas, a seguir, à recuperação antigênica utilizando-se calor úmido em solução de tampão citrato 10mM / pH 6,0. Posteriormente, foi feito o bloqueio da peroxidase tecidual endógena por meio de três passagens de 15 minutos em solução de peróxido de hidrogênio 10 volumes. Em seguida, os cortes foram submetidos à incubação com os anticorpos primários, anti-RE (Dako, M7047; 1/30) e anti-RP (Novocastra, NCL-, 1/40), por 24 horas. Os anticorpos foram diluídos em solução salina fosfato pH 7,2 (PBS) com 1% de albumina sérica bovina, em câmara úmida a 4°C. Depois de três lavagens em tampão PBS, os cortes foram incubados com o anticorpo secundário de cabra anti-camundongo biotinilado, em solução pronta para uso (Dako, USA). As seções teciduais foram lavadas novamente três vezes em tampão PBS pH 7,2, por 5 minutos. Logo depois, foi aplicado o complexo streptoavidina-biotina-peroxidase em solução pronta para uso (Dako, USA), durante 30 minutos em câmara úmida a 37°C. Para a revelação da reação foi utilizada a solução de diaminobenzidina (Dako, USA) e tampão salina fosfato pH 7,2 (0,015g de diaminobenzidina para cada 25ml de PBS pH 7,2). Após a revelação, as lâminas foram lavadas em água corrente e foram coradas em hematoxilina. Os cortes foram desidratados em álcool absoluto por cinco vezes, 2 minutos em cada etapa, depois foram colocados em banhos de xilol por três vezes. As lâminas foram montadas em solução de bálsamo do Canadá (Merck KGaA, Germany). Todas estas etapas foram feitas com a utilização de controles positivos, tecidos de carcinoma de mama com padrão de revelação já conhecido para receptor de estrogênio e progesterona. MATERIAL E MÉTODO 31 3.6 MÉTODO QUANTITATIVO Prontas para avaliação e leitura, as lâminas eram encaminhadas para análise por duas patologistas, sem o conhecimento prévio do diagnóstico, do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, e classificadas quanto à responsividade endócrina. Esta classificação referia-se à porcentagem de núcleos corados das células tumorais, conforme o quadro 1, exemplificadas nas figuras 1 e 2. (GOLDHIRSCH et al., 2007) QUADRO 1 - MÉTODO QUANTITATIVO RECEPTORES HORMONAIS IMUNOEXPRESSÃO Negativa Positiva DA AVALIAÇÃO NÍVEIS DE EXPRESSÃO Não reator = 0 (-/+++) Reator fraco = 1 (+/+++) Reator moderado = 2 (++/+++) Reator forte = 3 (+++/+++) IMUNOISTOQUÍMICA % NÚCLEOS CORADOS < 1% 1 a 25% 25 a 75% > 75% DOS MATERIAL E MÉTODO 32 FIGURA 1 - EXEMPLO DE ADENOCARCINOMA MAMÁRIO COM IMUNOEXPRESSÃO NEGATIVA DO RECEPTOR DE PROGESTERONA, AUMENTO DE 400x FIGURA 2 - EXEMPLO DE ADENOCARCINOMA MAMÁRIO COM IMUNOEXPRESSÃO POSITIVA DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO, AUMENTO DE 400x MATERIAL E MÉTODO 33 3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados obtidos dos prontuários, assim como os da análise imunohistoquímica dos receptores hormonais foram tabulados em planilhas, constituindose um banco de dados. Na comparação das peças histológicas das pacientes amostradas, antes e após o tratamento quimioterápico neoadjuvante, utilizou-se o teste paramétrico t de Student. Na comparação dos grupos formados, relacionados às comparações realizadas entre as alterações encontradas e o padrão de resposta à quimioterapia ou o diagnóstico de menopausa nas pacientes, foi utilizado o teste não-paramétrico Exato de Fisher. Para variáveis de avaliação das pacientes, pré e pós-quimioterapia neoadjuvante, testou-se a hipótese nula de que a probabilidade de imunoexpressão positiva dos receptores hormonais na biópsia é igual a esta probabilidade na peça cirúrgica, versus a hipótese alternativa de probabilidades diferentes. O nível de significância utilizado foi de 5%. 4 RESULTADOS RESULTADOS 35 4 4.1 RESULTADOS ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS DO GRUPO DE ESTUDO As pacientes tinham em média 50 anos de idade (Gráfico 1), sendo que 24 mulheres (51%) encontravam-se na pré-menopausa e 23 mulheres (49%), na pósmenopausa. GRÁFICO 1 - IDADE DAS PACIENTES ESTUDADAS 90 80 70 IDADE 60 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 AMOSTRA Com relação à resposta ao tratamento quimioterápico neoadjuvante utilizado, 28 pacientes (59,5%) apresentaram resposta parcial e 19 pacientes (40,5%) ausência de resposta com a terapia prosposta, sendo 12 pacientes (25,5%) classificadas como doença estável e 7 pacientes (15%) apresentando progressão da doença. RESULTADOS 36 GRÁFICO 2 - PERCENTUAL DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA APRESENTADO PELAS PACIENTES AMOSTRADAS n=47 (100%) 15% n=7 25,5% n=12 NEOADJUVANTE RESPOSTA PARCIAL 59,5% n=28 DOENÇA ESTÁVEL PROGRESSÃO DA DOENÇA 4.2 IMUNOEXPRESSÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS PRÉ E PÓSQUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE Dezessete pacientes (36%) apresentavam imunoexpressão negativa do receptor de estrogênio na biópsia diagnóstica. O mesmo número não apresentava imunoexpressão do receptor de progesterona. Nessas pacientes não foi observada mudanças na expressão dos receptores hormonais (tabelas 1 e 2). RESULTADOS 37 TABELA 1 - AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO PACIENTES SUBMETIDAS A QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE PACIENTES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 PRÉ-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ++ ++ +++ ++ ++ ++ +++ ++ +++ +++ +++ +++ +++ ++ +++ +++ + +++ +++ ++ + +++ + ++ + ++ ++ +++ + +++ PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ++ + +++ ++ ++ ++ ++ +++ +++ ++ ++ +++ ++ +++ +++ + ++ ++ + +++ + EM RESULTADOS 38 TABELA 2 - AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DO RECEPTOR DE PROGESTERONA EM PACIENTES SUBMETIDAS A QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE PACIENTES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 PRÉ-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE + ++ ++ +++ ++ ++ +++ ++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ + + + +++ + + + + + + + ++ ++ ++ + +++ PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE ++ + ++ ++ ++ +++ +++ + ++ ++ + + +++ + + + ++ + ++ + RESULTADOS 39 Trinta pacientes apresentavam imunoexpressão positiva dos receptores hormonais. Destas, 16 pacientes (53,3%) apresentaram diminuição na expressão dos receptores de estrogênio e 17 (56,6%), nos receptores de progesterona, sendo que houve negativação da imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona em 26,6% (n=8) e 33,3% (n=10), respectivamente. Quando pareadas e comparadas, pelo teste t de Student, as expressões dos receptores hormonais, pré e pós-quimioterapia neoadjuvante, observou-se redução significativa nos níveis de receptor de estrogênio (p<0,0001) e de progesterona (p<0,0001), como representado nos gráficos 3 e 4. Notou-se também redução em sua imunoexpressão, com p=0,0035 para as alterações em receptor de estrogênio (gráfico 5) e p=0,001, para receptor de progesterona (gráfico 6). GRÁFICO 3 - BOXPLOT DOS NÍVEIS DE EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE p<0,0001 RESULTADOS 40 GRÁFICO 4 - BOXPLOT DOS NÍVEIS DE EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA PRÉ E PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE p<0,0001 GRÁFICO 5 - BOXPLOT DA VARIAÇÃO NA IMUNOEXPRESSÃO ESTROGÊNIO PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE p=0,0035 DO RECEPTOR DE RESULTADOS 41 GRÁFICO 6 - BOXPLOT DA VARIAÇÃO NA IMUNOEXPRESSÃO DO PROGESTERONA PÓS-QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE RECEPTOR DE p=0,001 4.3 IMUNOEXPRESSÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS E PADRÃO DE RESPOSTA CLÍNICA À QUIMIOTERAPIA Ao se analisar comparativamente a presença ou ausência de resposta à quimioterapia neoadjuvante, ou seja, a diminuição efetiva do tamanho tumoral, com a variação na expressão dos receptores hormonais, como sumarizados nas tabelas 3 e 4, não se encontrou significância estatística, com p=0,7631, relacionado às mudanças ocorridas na imunoexpressão do receptor de estrogênio, e p= 0,7588, em relação ao receptor de progesterona, pelo teste Exato de Fisher. RESULTADOS 42 TABELA 3 - MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO EM RELAÇÃO AO PADRÃO DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO ALTERADA INALTERADA TOTAL PADRÃO DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE PRESENÇA DE AUSÊNCIA DE RESPOSTA RESPOSTA 9 7 19 12 28 EXATO DE FISHER TABELA 4 - 16 31 47 p=0,7631 MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA EM RELAÇÃO AO PADRÃO DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA ALTERADA INALTERADA TOTAL EXATO DE FISHER 4.4 19 TOTAL PADRÃO DE RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE PRESENÇA DE AUSÊNCIA DE RESPOSTA RESPOSTA 11 6 17 13 28 19 TOTAL 17 30 47 p=0,7588 IMUNOEXPRESSÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS E MENOPAUSA Com relação ao diagnóstico de pré e pós-menopausa nas pacientes da amostra, quando comparado com as alterações na expressão dos receptores hormonais, também não se encontrou diferenças estatisticamente significantes, com p=0,2270, relacionado às mudanças ocorridas na imunoexpressão do receptor de estrogênio, e p=0,3715, em relação ao receptor de progesterona, pelo teste Exato de Fisher (tabelas 5 e 6). RESULTADOS 43 TABELA 5 - MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO EM RELAÇÃO AO DIAGNÓSTICO DE MENOPAUSA NAS PACIENTES ESTUDADAS EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE ESTROGÊNIO ALTERADA INALTERADA TOTAL DIAGNÓSTICO DE MENOPAUSA PÓS-MENOPAUSA 6 18 10 13 16 31 24 23 47 EXATO DE FISHER TABELA 6 - TOTAL PRÉ-MENOPAUSA p=0,2270 MUDANÇAS NA IMUNOEXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA EM RELAÇÃO AO DIAGNÓSTICO DE MENOPAUSA NAS PACIENTES ESTUDADAS EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE PROGESTERONA ALTERADA INALTERADA TOTAL EXATO DE FISHER DIAGNÓSTICO DE MENOPAUSA TOTAL PRÉ-MENOPAUSA PÓS-MENOPAUSA 7 17 10 13 17 30 24 23 47 p=0,3715 5 DISCUSSÃO DISCUSSÃO 45 5 5.1 DISCUSSÃO DO MÉTODO A motivação para que esta pesquisa fosse realizada, avaliando-se a imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona, pré e pósquimioterapia neoadjuvante, em pacientes com câncer de mama, foi pela divergência de resultados encontrados na literatura. Obteve-se condições de se viabilizar o projeto de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Princípios da Cirurgia do Instituto de Pesquisas Médicas – IPEM do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba / Faculdade Evangélica do Paraná, na área de concentração em alterações moleculares nas afecções cirúrgicas e na linha de pesquisa de imunomarcação de tecidos e tumores. A contribuição do autor com este trabalho busca a adaptação da estratégia diagnóstica e terapêutica para pacientes com câncer de mama, no que tange a análise imunoistoiquímica dos receptores hormonais para avaliação de hormonioterapia. Na estruturação do estudo, as lâminas dos blocos de parafina, pertencentes às 47 pacientes amostradas, foram avaliadas para excluir as que não apresentassem condições técnicas adequadas para análise. Com esse procedimento inicial obteve-se um material da melhor qualidade possível, visando demonstrar os níveis de expressão dos receptores hormonais através da técnica de imunoistoquímica. Foram utilizados espécimes de biópsia diagnóstica e peças cirúrgicas das pacientes. Utililizaram-se como espécimes de biópsia, tanto material obtido de biópsia percutânea por agulha grossa (= core-biopsy) quanto de biópsias cirúrgicas abertas. Mesmo havendo diferença importante amostral para estudo imunoistoquímico entendeu-se que, quando devidamente realizadas, as biópsias por agulha grossa são ferramentas válidas na avaliação pré-operatória da imunoexpressão dos receptores hormonais, com uma taxa de concordância para DISCUSSÃO 46 receptor de estrogênio e progesterona de 99% e 97,1% respectivamente. (PARK et al., 2009) Com relação aos aspectos clínico-patológicos do grupo de estudo, não se consideraram as diferenças na classificação histológica dos tumores de mama que compuseram a amostra: adenocarcinoma ductal e lobular de mama. Entendeu-se que os carcinomas mamários apresentam-se em amplo espectro não somente morfológico, mas sobretudo clínico e evolutivo, expressando grande heterogeneidade no que se refere à apresentação clínica, comportamento biológico e resposta ao arsenal terapêutico, independentemente da classificação histológica. (CORADINI e DAIDONE, 2004) Para a determinação dos níveis de receptores hormonais nos carcinomas de mama, utilizou-se a avaliação imunoistoquímica a qual permite a identificação destes receptores em sede intranuclear e sua determinação quantitativa. Esta técnica caracteriza-se por elevada sensibilidade, mas deve-se ressaltar que a avaliação quantitativa do resultado imunoistoquímico está condicionada a numerosos fatores intrínsecos ao próprio método (escolha do anti-soro específico, diluição a ser utilizada, eficácia do procedimento de recuperação da antigenicidade tissular, escolha do sistema de detecção, tempo e temperatura de incubação), ainda que a variabilidade dos métodos de análise dependa dos resultados e da definição do percentual de células imunorreativas. Até a data de elaboração deste trabalho ainda não haviam sido definidos o organismo internacional, as técnicas de coloração imunoistoquímica e a modalidade de análise dos resultados que possam ser reconhecidos como padrão para o exame e utilizados em todas as instituições. (ORVIETO e VIALE, 2002) A heterogeneidade apresentada por pacientes diagnosticadas com câncer de mama localmente avançado leva a um vasto regime de tratamentos. (NOLEN et al., 2008) Vários fatores são, portanto, importantes na avaliação anátomo-patológica dos carcinomas mamários, todos visando guiar o médico assistente quanto às opções de tratamento e ao prognóstico da paciente. Receptores hormonais, expressão de HER-2 e grau histológico tumoral estão entre estes fatores que são mais comumente utilizados na prática clínica. Com o crescimento do uso da DISCUSSÃO 47 quimioterapia neoadjuvante chegou-se à questão de quais efeitos, se existentes, este tratamento teria sobre esses parâmetros. (ADAMS et al., 2008) A influência dos quimioterápicos no fenótipo dos carcinomas de mama tem sido alvo de estudos por vários autores há cerca de três décadas. A equação de Gompertz mostra que a medida que o tumor cresce aumenta o tempo de duplicação do seu volume, isto é, haveria lentidão no crescimento exponencial. Como os quimioterápicos interagem com as células mitoticamente ativas, há menor potencial de morte celular nas massas maiores que, por sua vez, apresentam menores frações de crescimento. Portanto, há um período inicial, no crescimento do tumor, durante o qual a cura é possível com quimioterápicos. Esses serão ineficazes nos estadios mais tardios. (DEPES et al., 2003) Uma resposta patológica completa após quimioterapia neoadjuvante implica na ausência de doença residual, invasiva ou in situ e está correlacionado com prolongados intervalo livre de doença e sobrevida global. Uma revisão recente de diversos estudos randomizados de quimioterapia neoadjuvante em câncer de mama operável reportou uma taxa de resposta entre 49% e 94%, com uma resposta patológica completa de 4% a 34%. (NOLEN et al., 2008) Durante a formação da amostra para esta pesquisa encontrou-se que, na instituição estudada, de acordo com os dados encontrados na literatura, 28% das pacientes apresentaram resposta patológica completa, critério de exclusão para a análisa proposta. Uma vez que a atuação dos quimioterápicos está estritamente ligada ao ciclo celular, os estudos dos marcadores de proliferação celular poderiam demonstrar alterações sob ação da quimioterapia. (DEPES et al., 2003) Esta compreensão quanto a resposta tumoral ao tratamento com certeza influencia a utilização, em adjuvância, de estratégias terapêuticas mais efetivas. (ELLIS et al., 2008) DISCUSSÃO 48 5.2 DOS RESULTADOS O presente estudo demonstrou que, na amostra selecionada de 47 pacientes, 26,6% das mulheres cuja biópsia demonstrava ser receptor de estrogênio positivo apresentavam receptor de estrogênio negativo na peça cirúrgica, e 33,3%, cuja biópsia denotava expressão positiva de receptor de progesterona, apresentavam receptor de progesterona negativo no espécime cirúrgico. A diminuição da imunoexpressão pós-quimioterapia neoadjuvante de ambos os receptores hormonais apresentou significância estatística. Quando a amostra foi subdividida em grupos relacionados à resposta ao tratamento quimioterápico neoadjuvante, ou seja, diminuição do tamanho tumoral, e ao diagnóstico de menopausa nas pacientes, não se observaram diferenças estatísticas na correlação entre estes grupos e as modificações ocorridas na imunoexpressão dos receptores hormonais. A literatura traz artigos conflitantes no que diz respeito ao potencial de mudanças na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona após tratamento sistêmico primário ou quimioterapia neoadjuvante. Alterações na imunoexpressão dos receptores hormonais após quimioterapia neoadjuvante foram documentadas por alguns autores. Em uma série de TAUCHER et al., de 214 pacientes que receberam quimioterapia pré-operatória, 14% que apresentavam receptor de estrogênio positivo na biópsia inicial foram analisadas como receptor de estrogênio negativo após revisão do espécime cirúrgico. Da mesma forma, em 51,7% das pacientes que apresentavam receptor de progesterona positivo na biópsia inicial, encontrou-se receptor de progesterona negativo após a ressecção. As diferenças foram significativas quando comparadas com o grupo controle deste trabalho. A indução de menopausa como resultado da terapia foi postulada como um possível mecanismo para a diminuição de expressão de receptor de estrogênio, contudo, também foi observado que uma ocorrência destas não influenciaria na imunoexpressão de receptor de progesterona. (TAUCHER et al., 2003) DISCUSSÃO 49 Na análise de seus resultados, DEPES et al. também encontraram significativa redução dos níveis de receptor de estrogênio nas pacientes que tiveram resposta à quimioterapia (n=9), com p=0,0030. (DEPES et al., 2003) Resultados semelhantes foram relatados ainda por FRASSOLDATI et al. e MAKIS et al.(FRASSOLDATI et al., 1997) O emprego de drogas citotóxicas pode eliminar células que contenham receptores hormonais ou alterar a sua concentração. (CLARKE et al., 1997) Em relação ao estado menstrual, encontrou-se importante redução dos valores de receptor de estrogênio nas pacientes na pré-menopausa. O carcinoma mamário em mulheres jovens mostra altos índices de proliferação (tumores indiferenciados). A falência ovariana precoce nas pacientes jovens e a consequente redução estrogênica se responsabilizariam por alguns dos efeitos do tratamento como a redução dos níveis de receptor de estrogênio. Quando se avaliou o comportamento dos receptores de progesterona, observou-se que houve aumento estatisticamente significante após a quimioterapia em pacientes na pós-menopausa. Nessas pacientes os níveis de receptor de estrogênio pós-quimioterapia mantiveram-se altos, o que justifica por si o aumento proporcional dos valores do receptor de progesterona. Katzenellenbogen e Norman, em 1990, já haviam demonstrado que o receptor de progesterona, frequentemente considerado sob regulação extrínseca, é regulado também por outros hormônios, como a insulina e o IGF-1, dentre outros. De fato, demonstrou-se que a concentração dos receptores de IGF-1 em células de câncer mamário correlaciona-se linearmente com os níveis dos receptores de estrogênio e progesterona, sugerindo haver ação endócrina, parácrina e autócrina na estimulação do crescimento tumoral e nos índices do próprio receptor de progesterona. (DEPES et al., 2003) LEE et al. observaram em seu estudo que a imunoexpressão do receptor hormonal mudou em 9,4% das pacientes após a quimioterapia neoadjuvante, levando à conclusão de que realizar um único estudo imunoistoquímico pode não ser suficiente para estimar exatamente o status do marcador tumoral em neoadjuvância. (LEE et al., 2007) Citação importante foi feita por CHOI e LEE quando em seu trabalho relatam que os espécimes tumorais para avaliação histológica e de marcadores tumorais devem ser obtidos antes da quimioterapia neoadjuvante porque esta pode ter DISCUSSÃO 50 influência na expressão de marcadores prognósticos de tumores de mama localmente avançados, influenciando assim tanto no prognóstico e na tomada de decisão quanto no tratamento adjuvante sistêmico. No estudo, 67,6% das pacientes apresentaram mudanças significativas em mais de um marcador, sendo que 10% apresentavam mudança na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona de positivo para negativo. (CHOI e LEE, 2009) Ressaltam-se ainda as pesquisas de Lo et al. (1994) e Jain et al. (1996) onde, respectivamente, 10% e 33% dos tumores de mama demonstraram alteração na imunoexpressão dos receptores hormonais após a quimioterapia neoadjuvante. (BURCOMBE et al., 2005) Outras séries não mantém o conceito de que a imunoexpressão dos receptores hormonais pode mudar após a administração de quimioterapia préoperatória. Em seu artigo, ARENS et al. compararam um grupo de 25 pacientes que receberam tratamento neoadjuvante a um grupo controle de 30 pacientes que não recebeu nenhuma terapia pré-operatória. Não foram observadas diferenças significativas entre as espécimes de biópsia e ressecção no que diz respeito à expressão de receptor hormonal. Raras pacientes em ambos os grupos mostraram aumento ou diminuição na expressão desses receptores, mas de forma geral estas não atingiram significância estatística. (ARENS et al., 2005) Seguindo esta mesma linha, ADAMS et al., em sua série, demonstraram que, embora existisse tendência de alguns espécimes mudarem a expressão de seus receptores, não se atingiu diferenças estatísticas entre os grupos. (ADAMS et al., 2008) KASAMI et al. relatam em seu artigo que não foram encontradas diferenças estatísticas na imunoexpressão do receptor de estrogênio e HER-2, mas observouse uma significante diferença estatística nos valores do receptor de progesterona, que mudou de positivo para negativo após a quimioterapia neoadjuvante. A perda da expressão do gene do receptor de progesterona (28,8%), após quimioterapia neoadjuvante, foi estatisticamente significante. Existem, entretanto, muitos conflitos acerca das alterações na imunoexpressão do receptor de progesterona após DISCUSSÃO 51 quimioterapia neoadjuvante, variando de 0% a 63,2%. (KASAMI et al., 2008) RODY et al. observaram a maior perda de expressão gênica deste receptor, após quimioterapia neoadjuvante, em análise por microarranjo (=63%). (RODY et al., 2006) Uma das razões expostas por KASAMI et al. para explicar o achado de significância na expressão do receptor de progesterona em seu estudo foi o número da amostra, maior se comparado aos anteriores. Os dados do estudo foram retirados da maior amostragem de mulheres japonesas até o presente. Essas pacientes apresentam peculiaridades em relação às do Ocidente, como idade mais jovem e baixa prevalência. O achado do estudo leva a crer que a quimioterapia neoadjuvante não causa resistência subsequente a quimioterapia ou hormonioterapia porque o receptor de estrogênio permanece como o melhor preditor de resposta à terapia endócrina e a imunoexpressão deste receptor não apresentou mudança significativa. (KASAMI et al., 2008) Também foi reportado por diversos outros autores a não ocorrência de mudanças significativas em receptor de estrogênio e progesterona. FANEYTE et al. apresentam, em sua série, mudanças nos níveis de receptor de estrogênio pré e pós-quimioterapia primária em 29% da amostra de 56 pacientes, mas sem significância estatística. (FANEYTE et al., 2003) No estudo de BURCOMBE et al. a imunoexpressão dos receptores hormonais mostrou pequena variação, alterando-se em apenas 8% da amostra (BURCOMBE et al., 2005), sem relevância estatística, como também demonstrado por BAO et al. (BAO et al., 2008) HA et al. completam esta tendência, citando em seu trabalho que não foram encontradas diferenças significativas na expressão de receptor de estrogênio, receptor de progesterona, p53 e HER-2/neu, quando comparadas as biópsias préoperatórias por agulha grossa e os espécimes cirúrgicos finais, entre as pacientes que receberam quimioterapia neoadjuvante e aquelas que não a receberam. Entretanto, mudanças na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona ocorreram em 42,8% e 21,4%, respectivamente, nas pacientes que receberam quimioterapia neoadjuvante. Como estas mudanças podem ter impacto direto no tratamento, sugere-se que o ensaio imunoistoquímico seja necessário DISCUSSÃO 52 antes e depois da quimioterapia neoadjuvante em pacientes com câncer de mama, de acordo com o conhecimento já relatado por Frierson Jr e Fechner em 1994 e Sharkey et al. em 1996. (HA et al., 2008) 5.3 PERSPECTIVAS FUTURAS As informações desenvolvidas no estudo fornecem dados sobre a imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona no câncer de mama, pré e pós-quimioterapia neoadjuvante, de uma amostra da população da região Sul do Brasil, podendo servir de base de dados para novas pesquisas envolvendo a expressão de receptores hormonais. No Brasil, novas linhas de pesquisa vêm sendo desenvolvidas em centros de excelência médica, como o Instituto de Pesquisa Médicas – IPEM do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba / Faculdade Evangélica do Paraná, na análise da expressão de vários imunomarcadores, em diferentes tecidos normais e patologias. Essa linha de pesquisa vem ao encontro da necessidade de estabelecer novos paradigmas para o acompanhamento de pacientes oncológicos, criando-se novas ferramentas e estabelecendo-se correlações ainda pouco estudadas. Ao se realizar pesquisa como a desenvolvida neste trabalho, está-se disponibilizando a outros pesquisadores novas e consistentes informações para que a conclusão dos estudos neste tema seja alcançada em menor tempo. A imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona pósquimioterapia neoadjuvante apresentou diminuição significativa. Fazem-se necessários, porém, novos estudos de imunoistoquímica com outros marcadores biológicos, criando-se um painel imunoistoquímico e definindo-se um padrão de modificações ocorridas após o tratamento quimioterápico neoadjuvante. Como já muitas vezes citado na literatura mundial, deve-se atentar para o fato de que o câncer de mama é heterogêneo. As pacientes apresentam diferentes estadios de desenvolvimento da doença, além da alta variabilidade inerente ao tumor, mostrando distintas taxas de crescimento tumoral, padrão de metástase e outras características biológicas. Assim, o resultado de determinado tratamento pode variar de uma paciente para outra. Não se sabe se alterações observadas após a DISCUSSÃO 53 quimioterapia neoadjuvante são apenas alterações do fenótipo celular ou se traduzem a expressão de novos clones neoplásicos. Porém, se as células do câncer alteram sua aparência durante a quimioterapia primária, devemos estar atentos para a necessidade de adaptarmos a nossa estratégia de tratamento a fim de melhorarmos os resultados. 6 CONCLUSÕES CONCLUSÕES 55 6 CONCLUSÕES Pode-se concluir que: a) A quimioterapia neoadjuvante diminuiu significativamente a imunoexpressão dos receptores de estrogênio nas peças cirúrgicas das pacientes com câncer de mama. b) A quimioterapia neoadjuvante diminuiu significativamente a imunoexpressão dos receptores de progesterona nas peças cirúrgicas das pacientes com câncer de mama. c) A resposta ao tratamento quimioterápico, traduzida pela alteração no tamanho tumoral, não influenciou significativamente sobre as alterações ocorridas na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona pósquimioterapia neoadjuvante. d) Não houve correlação significativa entre as pacientes em pré e pósmenopausa e as alterações ocorridas na imunoexpressão dos receptores de estrogênio e progesterona pós-quimioterapia neoadjuvante. 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