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Linguagens, Códigos
e Suas Tecnologias
Língua Portuguesa
Prof. Sérgio rosa
14
nº
Uma QUesTÃo de clareZa
paralelismo e GramÁTica
A quebra paralelística não constitui,
de fato, um deslize de gramática; em
razão dela, não se infringem regras
de concordância, regência, colocação.
O problema é de arquitetura textual.
Os casos em que esse tipo de quebra
ocorre devem ser corrigidos, porque são
estranhos à índole da língua e ferem os
princípios lógicos referentes à ordenação
e coordenação das ideias. Com isso,
terminam por afetar a coerência.
As rupturas se dão quer no âmbito
sintático, quer no semântico. Entre as
do primeiro caso, são comuns as que
desrespeitam a articulação entre pares
correlativos do tipo “mais... do que”, “não
só... como também”, “desde... até” etc.
Por exemplo:
1. “Na sociedade em que vivemos,
mentir tornou-se mais conveniente
do que a verdade.”;
2. “Os tipos de livros variam desde a
autoajuda aos infantis.”
Quem lê as passagens acima percebe
que nelas há falhas de organização não
estritamente gramatical, mas nem por
isso menos prejudiciais à comunicação.
Em (1), o sujeito da oração principal devia
ter a mesma forma que o da comparativa.
“
a falta de
paralelismo
pode não ser
considerada
um erro
gramatical,
mas prejudica
a arquitetura
eo
entendimento
textuais.
”
por Chico Viana
Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias
O primeiro, no entanto, é um verbo no infinitivo (mentir); e o outro, um substantivo
(mentira). Para corrigir a frase, é precio uniformizar a classe morfológica: “mentir
tornou-se mais conveniente do que dizer a verdade”; ou: “a mentira tornou-se mais
conveniente do que a verdade”.
No caso (2), essa quebra é dupla. Não só se desfez a correlação “desde... até”
(contaminando-a com “de... a”), como se misturou substantivo com adjetivo.
Pensamos que a melhor correção seria: “variam... dos de autoajuda aos infantis”,
transformando-se “autoajuda” em núcleo de locução adjetiva.
Tipos de paralelismo
Em alguns casos, o desrespeito ao paralelismo dá à frase o aspecto de um
anacoluto. Numa redação sobre trotes telefônicos a unidades móveis de saúde,
um de nossos alunos escreveu: “O esquema era simples: ligar para o serviço e,
quando atendessem, diriam alguma piada velha e sem graça.” O uso de “diriam”
no lugar de “dizer” não compromete a coesão, pois o sujeito é o mesmo tanto para
“dizer” quanto para “ligar, mas a escolha do futuro do pretérito, quando se esperava
o infinitivo, produz uma espécie de desvio que dificulta a leitura. O texto perde a
esperada continuidade, torna-se menos fluente e mais confuso.
O tipo mais frequente de ruptura paralelística é aquele em que os elementos
coordenados de uma determinada função sintática apresentam-se como termos simples
e como orações. Vemos isso na passagem que segue:
3. “Como no Brasil a educação é precária, as crianças tentam conseguir dinheiro através de
mendicância, roubo e até se prostituindo.”
Em (3), a ruptura é semelhante. A harmonia entre os núcleos do adjunto adverbial
de meio, todos de natureza substantiva, quebra-se com a oração gerundial “e até se
prostituindo”. O uso de “prostituição” manteria o paralelismo (mendicância, roubo e
até prostituição). E um bom recurso para destacar o dinamismo dos meios utilizados
a fim de conserguir dinheiro seria transformar em oração reduzida os três segmentos
(mendigando, roubando e até se prostituindo).
paralelismo semântico
Na quebra do paralelismo semântico, coordenam-se palavras de naturezas
diferentes. A um conjunto de ações, por exemplo, interpõe-se um agente. É o que
mostra a passagem abaixo:
4. “Armadilhas, tentações, interesseiros irão lhe acompanhar aonde você queira ir.”
É preciso padronizar a sequência de modo que não se misturem termos abstratos
e concretos. Se a frase começa com “armadilhas” e “tentações”, o natural é que se
complete com “interesses”. A referência a “interesseiros” desconcerta o leitor.
É próprio do leitor antecipar não apenas o conteúdo, como também a estrutura do que lê.
A confirmação das expectativas que ele cria garante a eficácia do processo. Tais expectativas
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se frustram quando ocorrem as rupturas paralelísticas. As quebras constituem um entrave
à leitura e comprometem a aceitabilidade do texto – daí a necessidade de que os alunos
identifiquem esse tipo de problema e aprendam a evitá-lo. Devemos lhes mostrar que a
manutenção do paralelismo não é um recurso meramente cosmético. Ela concorre para que o
autor comunique a sua mensagem com eficiência e, sobretudo, com clareza.
Chico Viana é doutor em Teoria da Literatura pela ufrj.
EXERCÍCIOS
1.O texto do professor Chico Viana nos dá conta de que “a falta de paralelismo
pode não ser considerada um erro gramatical, mas prejudica a arquitetura e
o entendimento textuais, portanto o princípio do paralelismo baseia-se em
que a ideias semelhantes correspondem estruturas similares.” A partir dessa
passagem, pode-se afirmar que a aplicação da harmonia estrutural que garante
o paralelismo pode ser percebida em:
A)Para vencer, é preciso esforço e que sejamos compenetrados.
B)Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido.
C) Tornei-me um grande nome da história da Paraíba como em todo o Brasil.
D)O anacoluto não respeita, nas situações discursivas da oralidade, as regras de
concordância verbal ou a sintaxe.
E) A partir de então, na empresa, foi vítima do ciúme, do ressentimento, dos
agressores que a invejam.
2.Os casos de ruptura do paralelismo de que são exemplos algumas frases
da questão anterior confirmam-se, principalmente, por representarem:
A)acentuados problemas de ordem estética.
B) sobretudo, desvios da noção sintática.
C) escritura de conteúdo fraco.
D)objetos de excessivo rigor dos corretores.
E) conscientes construções com marcas elípticas.
3.Na frase: “O avião, não te disse, tudo está atrasado.”, temos anacoluto.
O anacoluto é comum na linguagem coloquial e também frequente na
poesia; nas situações discursivas da oralidade que não respeitam as regras
de concordância verbal ou a sintaxe. Entende-se pelo texto que o anacoluto,
nas construções textuais, pode ser considerado:
A)uma corrupção gramatical, sem grave intensidade.
B) um recurso de mera oralidade, apenas no âmbito sintático.
C) como requintado recurso da escrita, que privilegia o lusitanismo.
D)como enunciado frasal de progressão consistente e bem articulado.
E) frase quebrada, de substancial sequência lógica de uma frase.
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4.Assinale a opção em que a escritura da frase promove uma noção
paralelística em que se observe relação de simultaneidade.
A)No período de um ano, não só cresceu o número de assaltos e roubos na cidade
mas também o de assassinatos por armas de fogo.
B) De qualquer forma conte comigo, seja para ajudar na mudança, seja para limpar
a nova casa, seja para o churrasco de inauguração.
C) Se, por um lado, a venda do sítio resolveu nossos problemas financeiros, por outro
perdemos o único meio de lazer da família.
D)Não pudemos viajar no Carnaval passado, nem nas férias de julho, nem nas de
janeiro.
E) Hoje em dia, quanto mais uma pessoa estuda, mais ela tem condições de competir
no mercado de trabalho.
5.Em construções frasais, deve-se privilegiar a norma culta, principalmente
a arquitetura textual a fim de que não se deem casos de quebra de
paralelismo. Aponte, entre os itens abaixo, aquele em que se dá a ruptura
de ordem estrutural.
A)Enquanto os baianos são famosos pelo carnaval de rua, os cariocas se destacam
pelo carnaval organizado das escolas de samba.
B) Não me sinto bem nesta casa, neste bairro, nesta cidade nem neste país.
C) Tanto no trabalho quanto ao relacionar com os amigos, Luísa tem se mostrado
muito indócil.
D)Não me refiro àquela senhora de verde, mas, sim, à de vermelho.
E) Os custos são altíssimos, os salários são elevados, a qualidade do ensino é
deplorável. Certos cursos estão a ponto de perder o credenciamento.
GABARITO (V. 13)
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Professor Colaborador: Olavo Colares
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45566/11 –AN – 11/04/2011 – REV.: AR
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