RECURSO DE QUESTÃO PROVA PARA

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RECURSO DE QUESTÃO
PROVA PARA ANALISTA JUDICIÁRIO
BANCA: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS
QUESTÃO Nº 4 – Cargo 01, prova tipo 001
TRANSCRIÇÃO DA QUESTÃO :
4. Ora, por mais que se queira eliminar a liberdade do mundo humano, ela teima
em aparecer, desafiando const antemente as previsões “científicas”.
Considerada a frase acima, em seu contexto, é correto afirmar:
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
A conjunção Ora estabelece com a frase anterior relação de mera adição,
equivalendo a “além disso”.
A locução verbal queira eliminar expressa um fato considerado em sua efetiva
realização.
A forma verbal desafiando expressa noção de “tempo”.
A expressão por mais que se queira pode ser substituída por “ainda que se
deseje e se insista em”, sem prejuízo do sentido original e da correção
gramatical.
A expressão previsão “científica” é formada por palavras que se excluem
mutuamente, o que justifica o emprego das aspas para indicar que deve ser
entendida em sentido figurado.
ARGUMENTOS:
A eminente Banca Examinadora propõe, em seu gabarito o ficialmente divulgado no
“site” da instituição que se incumbiu de organizar o concurso – Fundação Carlos
Chagas –, que a resposta está no item (D), ou seja, entende ser a substituição de “por
mais que se queira” por “ainda que se deseje e se insista em” vá lida quanto à
manutenção da mensagem originalmente disposta e, ainda, preservadora do rigor
gramatical existente no texto inicial.
Não discordamos inteiramente da afirmativa de que o sentido inicialmente expresso
permaneça o mesmo após a troca sugerida. Re almente, ao escrevermos “Ora, por
mais que se queira eliminar a liberdade do mundo humano, ela teima em aparecer,
desafiando constante mente as previsões “científicas” ou “Ora, ainda que se deseje e se
insista em eliminar a liberdade do mundo humano, ela teima em aparecer, desafiando
constantemente as previsões “científicas ”, ressalvada a ampliação semântica
introduzida pela expressão centrada na forma verbal “insista”, o teor fundamental do
texto está, sem dúvida, preservado. Houve, diríamos, uma perífrase, no sentido de
que se introduziu nova informação, perfeitamente cabível no texto, dado seu
significado geral.
Não aceitamos, isto sim, a imperfeição gramatical da nova estrutura do período
resultante da referida substituição, por não terem sido observadas as distintas
regências dos verbos que compõem o paralelismo estrutural sintático: “deseje” e
“insista”. Tais verbos, por desenvolverem regências distintas – transitivo direto o
primeiro, transitivo indireto o segundo –, não podem ser enlaçados pela conjunç ão
coordenativa aditiva “e”. A manter -se a estrutura sugerida como correta estaríamos
atribuindo ao verbo “desejar” – cuja regência, dependentemente do contexto em que
surja, pode ser transitiva direta, transitiva direta e indireta ou, até, intransitiva –
regência transitiva indireta, que é absolutamente descabida. Seria o fato de
entendermos:
se deseje [em eliminar a liberdade do mundo]
Ora, ainda que
e
se insista em eliminar a liberdade do mundo,
ela teima em aparecer, desafiandohumano
cons tantemente as previsões “científicas”.
Sempre será válida a leitura de Othon M. Garcia, Comunicação em Prosa Moderna,
Editora da Fundação Getúlio Vargas, 13ª edição, Rio de Janeiro, RJ, 1986, p. 28:
“1.4.5 Coordenação, correlação e paralelismo
Se coordenação é, como vimos, um processo de encadeamento de valores sintáticos
idênticos, é justo presumir que quaisquer elementos da frase – sejam orações, sejam
termos dela –, coordenados entre si devam – em princípio pelo menos – apresentar
estrutura gramatical idêntica, pois – como, aliás, ensina a gramática de Chomsky –
não se podem coordenar frases que não comportem constituintes do mesmo tipo. Em
outras palavras: a idéias similares deve corresponder forma verbal similar. Isso é o
que se costuma chamar paralelismo ou simetria de construção”.
Ainda recorrendo ao mesmo autor, na obra já citada, desta vez em passagem da
página 34, ao encerrar suas considerações acerca de paralelismo, encontramos:
“Em suma: o que se deduz dessas observações a respeito de coorde nação e
paralelismo pode ser consubstanciado neste princípio (que Chomsky subscreveria”:
não se podem coordenar duas ou mais orações, ou termos dela, que não
comportem constituintes do mesmo tipo, que não tenham a mesma estrutura
interna e a mesma função g ramatical [grifo nosso][...].
Fato é que a alguns a quebra do paralelismo configura defeito estilístico, não sendo
atingida a gramaticalidade do texto. No entanto, ainda que sobrevenha esta
percepção, há de se convir que, em prova aplicada em concurso pú blico, espaço onde
o rigor deve imperar, não cabem tais argumentos, uma vez que o candidato está
privilegiando as estruturas oracionais isentas de qualquer mácula, seja estilística, seja
gramatical.
Deste modo, solicitamos que se tome a iniciativa de anula r a questão ora
comentada, já que não há alternativa que satisfaça ao seu comando.
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