1. São moléculas fornecedoras de energia, armazenados na forma de triacilgliceróis (ou triglicerídeos). Durante o repouso ou exercício moderado, como caminhar, os ácidos graxos são a nossa principal fonte de energia. 2. São elementos de construção de fosfolopídeos e glicolipídeos. Conceitos Os ácidos graxos têm quatro funções fisiológicas principais 3. Muitas proteínas são modificadas pela união covalente de ácidos graxos, o que as direciona para os locais de membrana. 4. Derivados de ácidos graxos servem de hormônios e mensageiros intracelulares. Os triacilgliceróis são reservas bastante concentradas de energia metabólica porque são reduzidos e anidros. São também polares e, por isso, são armazenados em uma forma quase anidra, enquanto as proteínas e os glicídeos são muito mais polares e daí mais hidratados. 1g de reservas lipídios, quase anidras, armazena 6,75 vezes mais energia do que 1g de glicogênio hidratado. Nos mamíferos, o principal local de acúmulo de triacilgliceróis é o citoplasma das células adiposas. O músculo também armazena triacilgliceróis para sua própria utilização. A maior parte dos lipídeos é ingerida na forma de triacilgliceróis e tem de ser degradada a ácidos graxos para absorção através do epitélio intestinal. Enzimas intestinais chamadas lipases, secretadas pelo pâncreas, degradam triacilgliceróis a ácidos graxos livres e monoacilgliceróis. Os lipídeos alimentares são digeridos por lipases pancreáticas Os triacilgliceróis são reservas de energia altamente concentradas Como os lipídeos não são solúveis em água e as lipases estão em solução aquosa, os triacilgliceróis são incorporados em micelas compostas de sais biliares na luz intestinal. Esses sais biliares são moléculas anfipáticas sintetizadas a partir do colesterol no fígado e secretadas pelas vias biliares. Os produtos finais da digestão são transportados em micelas para o epitélio intestinal, onde são transportados através da membrana citoplasmática. Nas células da mucosa intestinal, os triacilgliceróis são ressintetizados a partir dos ácidos graxos e dos monoacilgliceróis e a seguir embalados em partículas de lipoproteínas de transporte chamadas quilomícrons. Os quilomícrons também transportam vitaminas lipossolúveis e colesterol. Os lipídeos alimentares são transportados em quilomícrons Os quilomícrons são liberados para o sistema linfático e daí para o sangue. Estas partículas ligam-se a lipoproteína lipases na superfície das membranas, principalmente no tecido adiposo e no músculo, onde os triacilgliceróis são mais uma vez degradados a ácidos graxos livres e monoacilglicerol para transporte ao tecido, podendo ser a seguir ressintetizados dentro da célula para armazenamento ou ser oxidados para fornecer energia (no músculo). Esta reação é catalisada por uma lipase controlada por hormônios. Em condições fisiológicas, como as defrontadas por um corredor no início da manhã, estarão presentes glucagon e epinefrina, que no tecido adiposo disparam receptores 7TM e ativam a adenilato ciclase. O nível aumentado de AMP cíclico a seguir estimula a proteína cinase A, que fosforila duas proteínas importantes: a perilipina A e a lipase sensível a hormônio. Antes que os lipídeos possam ser utilizados como fontes de energia, os triacilgliceróis têm de ser hidrolisados para originar ácidos graxos isolados. A fosforilação da perilipina A reestrutura a gotícula de gordura, de modo que os lipídeos tornam-se mais sensíveis à lipase sensível a hormônios. A lipase fosforilada hidrolisa triacilgliceróis a ácidos graxos livres. Assim, a epinefrina e o glucagon induzem lipólise. Embora este papel no músculo não esteja estabelecido de modo concreto, estes hormônios provavelmente também regulam a utilização das reservas de triacilgliceróis nesse tecido. Os triacilgliceróis são hidrolisados por lipases estimuladas por hormônios Os ácidos graxos liberados não são solúveis no plasma sangüíneo, e assim a albumina da corrente sanguínea liga-se a eles e serve como transportadora, tornando-os acessíveis como fonte de energia para outros tecidos. O glicerol formado pela lipólise é absorvido pelo fígado e depois fosforilado e oxidado a dihidroxiacetona fosfato, que por sua vez se isomeriza a gliceraldeído 3fosfato, que é um intermediário que pertence às vias da glicólise e da gliconeogênese. O processo inverso pode ocorrer pela redução de di-hidroxiacetona fosfato a glicerol 3-fosfato. Daí, o glicerol pode converter-se a piruvato ou a glicose no fígado, que contém as enzimas apropriadas. A hidrólise por uma fosfatase dá, então, glicerol. Deste modo, o glicerol e os intermediários da glicólise são facilmente interconversíveis. Os ácidos graxos são oxidados em mitocôndrias. Contudo, antes de entrarem na matriz mitocondrial, os ácidos graxos são ativados através da formação e uma ligação tioéster com a coenzima A. O ATP impulsiona a formação de uma ligação tioéster entre a carboxila de um ácido graxo e a sulfidrila da coenzima A. Os ácidos graxos são unidos à coenzima A antes de serem oxidados Esta reação de ativação ocorre na membrana mitocondrial externa, onde é catalisada pela anil CoA sintetase (também chamada de ácido graxo tiocinase). 1. Há a reação com ATP, formando um anil adenilato. Neste anidrido misto, a carboxila de um ácido graxo está presa à fosforila do AMP. As duas outras fosforosas do substrato de ATP são liberadas como pirofosfato. A ativação de um ácido graxo ocorre em duas etapas: 2. A sulfidrila da coenzima A ataca então o anil adenilato, formando anil CoA e AMP. Esta reação é bastante favorável, porque o equivalente a duas moléculas de ATP é hidrolisado, enquanto somente um composto de alto potencial de transferência é formado. Os ácidos graxos são ativados na membrana mitocondrial externa, mas são oxidados na matriz mitocondrial. Um mecanismo especial de transporte é necessário para levar as moléculas de anil CoA de cadeia longa através da membrana mitocondrial interna. Estes ácidos graxos tem de ser conjugados à carnitina. A utilização de ácidos graxos como fonte de energia necessita de três estágios de processamento A carnitina transporta ácidos graxos ativados de cadeia longa para a matriz mitocondrial A acila é transferida do átomo de enxofre da CoA para a hidroxila da carnitina, formando acilcarnitina, reação catalisada pela carnitina aciltransferase I (ou carnitina palmitil transferase I - CPTI), localizada na membrana mitocondrial externa. A acilcarnitina é então transportada através da membrana mitocondrial interna por uma translocase. A acila é transferida de volta à CoA no lado da matriz na membrana, catalisada pela carnitina aciltransferase II (carnitina palmitil transferase II) e é simplesmente o inverso da reação que ocorre no citoplasma. Finalmente, a translocase devolve a carnitina ao lado citoplasmático em troca por uma acilcarnitina que penetra. Catalisada pela acil CoA desidrogenase (são várias isoenzimas que possuem diferentes especificidades do tamanho da cadeia). O FAD é o aceptor de elétrons, porque a ΔG desta reação é insuficiente para impulsionar a redução de NAD+. Os elétrons do FADH2, grupamento prostético da acil CoA desidrogenase reduzida, são transferidos para uma segunda flavoproteína, chamada de flavoproteína de transferência de elétrons (ETF, do inglês). A ETF doa elétrons para a ETF:ubiquinona redutase, uma proteína com ferro-enxofre. Degradação de Ácidos Graxos Uma acil CoA saturada é degradada por uma sequência repetitiva de quatro reações: Oxidação por flavina adenina dinucleotídeo (FAD) A ubiquinona é reduzida a ubiquinol, que entrega seus elétrons de alto potencial para o segundo local de bombeamento de prótons da cadeia respiratória. Em seguida ocorre a hidratação da dupla ligação entre C-2 e C-3 pela enoil CoA hidratase Acetil CoA, NADH e FADH2 são gerados em cada volta da oxidação de ácidos graxos A hidratação da enoil CoA é o prelúdio para a segunda reação de oxidação, que transforma a hidroxila em C-3 em uma cetona e gera NADH, catalisada pela L-3hidroxiacil CoA desidrogenase A etapa final é a vlivagem da 3cetoacil CoA pelo tiol de uma segunda molécula de coenzima A, gerando acetil CoA e uma anil CoA encurtada de dois átocmos de carbono, catalisada pela β-ceto tiolase. Hidratação Oxidação por NAD+ Tiólise pela CoA A cadeia de ácido graxo é encurtada em dois carbonos em resultado destas reações e são produzidos FADH2, NADH e acetil CoA. Devido à oxidação ocorrer no carbono β, esta série de reações é chamada de via de β-oxidação. Em cada ciclo de reações, uma anil CoA é encurtada de dois carbonos, formando um FADH2, um NADH e uma acetil CoA. A degradação de palmitil CoA (C16-acil CoA) requer sete ciclos de reação. No sétimo ciclo, a tiólise da C4-cetoacil CoA dá duas moléculas de acetil CoA. A oxidação completa do palmitato gera 106 moléculas de ATP Aproximadamente 2,5 moléculas de ATP são geradas quando cada uma destas moléculas de NADH é oxidada pela cadeia respiratória. 1,5 ATP é formado por cada uma das moléculas de FADH2, porque seus elétrons entram na cadeia ao nível de ubiquinol. A oxidação de acetil CoA pelo ciclo do ácido cítrico rende 10 ATP. Portanto, o número de ATPs formados na oxidação da palmitil CoA é de 10,5 dos 7 FADH2, 17,5 dos 7 NADH, e 80 das 8 moléculas de acetil CoA, dando um total de 108. Uma isomerase e uma redutase são necessárias à oxidação de ácidos graxos insaturados Contudo, são consumidos o equivalente a 2 ATP na ativação do palmitato, onde um ATP é cindido em AMP e duas moléculas de ortofosfato (Pi). Só são necessárias duas enzimas adicionais para degradar uma ampla faixa de ácidos graxos instauradas. Duplas ligações em posição ímpar são manipuladas pela isomerase e as em posição par pela redutase e pela isomerase. Os ácidos graxos que tem um número ímpar de átomos de carbono são raros. Os ácidos graxos de cadeia ímpar originam propionil coenzima A na etapa final de tiólise São oxidados do mesmo modo que os que tem número par, exceto quanto à produção de propionil CoA e acetil CoA, em vez de duas moléculas de acetil CoA na volta final de degradação. A unidade ativada com três carbonos na propionil CoA entra no ciclo do ácido cítrico após ser convertida a succinil CoA. A via da propionil CoA a succinil CoA é especialmente interessante porque necessita de um rearranjo que precisa de vitamina B12. Embora a maior parte da oxidação de ácidos graxos ocorra em mitocôndrias, alguma oxidação ocorre em organelas celulares chamadas de peroxissomos. A oxidação de ácidos graxos nessas organelas, que para em octanoil CoA, pode servir para encurtar cadeias longas para tornálas melhores substratos da βoxidação em mitocôndrias. Os ácidos graxos também são oxidados em peroxissomos Nos peroxissomos, uma desidrogenase, com flavoproteína, transfere elétrons ao O2, originando H2O2, em vez de capturar os elétrons de alta energia para o FADH2, como ocorre na β-oxidação mitocondrial. Os peroxissomos contêm altas concentrações de catalase, degradando H2O2 a água e O2. As etapas subsequentes são idênticas às das mitocôndrias, embora elas sejam executadas por diferentes isoformas das enzimas. A acetil CoA formada na oxidação de ácidos graxos só entra no ciclo do ácido cítrico se a degradação de lipídeos e a de glicídeos estiverem adequadamente equilibradas. Contudo, a disponibilidade de oxaloacetato depende de um adequado fornecimento de glicídeos. A acetil CoA tem de se combinar com o oxaloacetato para ganhar entrada no ciclo do ácido cítrico. Ácidos graxos instaurados e de cadeia ímpar necessitam de etapas adicionais para degradação No jejum ou em diabetes, o oxaloacetato é usado para formar glicose pela gliconeogênese e, por isso, não está disponível para condensação com acetil CoA. “Corpos cetônicos” são formados a partir da acetil coenzima A quando predomina a degradação de lipídeos Lembre-se de que o oxaloacetato é normalmente formado a partir do piruvato, o produto da glicólise. Se não houver glicídeos disponíveis ou se estiverem sendo utilizados incorretamente, a concentração de oxaloacetato é baixa e a acetil CoA não pode adentrar o ciclo do ácido cítrico. Nestas condições, a acetil CoA é desviada para a formação de acetoacetato e de D-3hidroxibutirato. Acetoacetato, D-3-hidroxibutirato e acetona são, com frequência (e inadequadamente, pois nem todos os “corpos cetônicos” são cetonas), referidos como “corpos cetônicos”. Duas moléculas de acetil CoA condensam-se, formando acetoacetil CoA, catalisado pela tiolase. O acetoacetato é formado a partir de acetil CoA em três etapas: A acetoacetil CoA reage então com acetil CoA e água, dando 3-hidroxi 3-metilglutaril CoA (HMG-CoA) e CoA. A 3-hidroxi 3-metil glutaril CoA é então clivada a acetil CoA e acetoacetato. O D-3-hidroxibutirato é formado pela redução do acetoacetato na matriz mitocondrial pela D-3hidroxibutirato desidrogenase. A proporção de hidroxibutirato para acetoacetato depende da relação NADH/NAD+ dentro da mitocôndria. Por ser um β-cetoácido, o acetoacetato também sofre uma descarboxilação lenta e espontânea para acetona. Daí o odor de acetona que pode ser detectado na respiração de uma pessoa que tenha um nível alto de acetoacetato no sangue. O fígado é o principal local de produção de acetoacetato e 3hidroxibutirato. Estas substâncias difundem-se das mitocôndrias hepáticas para o sangue, sendo transportadas para os tecidos periféricos. O músculo cardíaco e o córtex renal dão preferência ao acetoacetato sobre a glicose. Ao contrário, a glicose é o alimento principal para o cérebro e para os glóbulos vermelhos em uma pessoa bem nutrida com alimentação equilibrada. OS “corpos cetônicos” são importantes fontes de energia em alguns tecidos O acetoacetato pode ser convertido a acetil CoA em duas etapas: O fígado tem acetoacetato disponível para fornecer a outros órgãos, pois a ele falta essa CoA transferase particular. O 3-hidroxibutirato necessita de mais uma etapa para gerar acetilCoA. Ele é antes oxidado, produzindo acetoacetato, que é processado como descrito, e também NADH para uso na fosforilação oxidativa. O acetoacetato também tem papel regulador. Níveis altos de acetoacetato no sangue significam uma fartura de unidades acetila e levam a um decréscimo na velocidade de lipólise no tecido adiposo. Em excesso, causam diminuição do pH e prejudicam a função tecidual, de modo mais importante o sistema nervoso central. Gabriel Fernandes Nutricionista Fonte: Bioquímica Jerry M. Berg John L. Tymoczko Lubert Stryer No entanto, o cérebro adapta-se à utilização de acetoacetato durante o jejum prolongado e em diabetes. Em jejum muito prolongado, 75% das necessidades energéticas do cérebro são atendidas pelos corpos cetônicos. 1. O acetoacetato é ativado pela transferência de CoA da succinil CoA, catalisada por uma CoA transferase específica. 2. A acetoacetil CoA é clivada pela tiolase, dando duas moléculas de acetil CoA, que podem então entrar no ciclo do ácido cítrico. Em consequência, é gerado 1,5 ATP a partir do FADH2 formado nesta etapa de desidrogenação.