OS EFEITOS DA CINESIOTERAPIA LABORAL EM FUNCIONÁRIOS DO SETOR DE PASSAGEM DA ESTAÇÃO RODOVIÁRIA DE SANTA MARIA ANDRADE, Lisiane de Araujo ¹; FAGUNDES, Franciely Silva¹; GOMES, Andrielle Gonçalves1; REFFATTI, Jéssica Ribeiro1; TRINDADE, Michele de Freitas1; BRAZ, Melissa2; VAUCHER, Daniela Sanchotene.3 1 Acadêmicas 7° semestre do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano 2 Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM 3 Docente do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA Curso de Fisioterapia - Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias aplicadas à Fisioterapia - Centro Universitário Franciscano - UNIFRA RESUMO O objetivo desse estudo foi investigar os efeitos da Cinesioterapia Laboral sobre as queixas músculo-esqueléticas dos funcionários do setor de passagens da Estação Rodoviária de Santa Maria, RS. A cinesioterapia laboral atua na prevenção de dores osteomusculares, devido à má postura, aos movimentos repetitivos e a permanência por muito tempo na mesma posição. A amostra foi composta por doze trabalhadores, sendo cinco excluídos por não realizarem o programa. A coleta dos dados ocorreu no turno vespertino nos meses de setembro e outubro de 2010, aplicou-se uma ficha de avaliação, realizaram-se duas avaliações da intensidade da dor, uma inicial e outra final e, posteriormente, ocorreram 16 sessões de Cinesioterapia laboral. Os resultados salientam a diminuição da dor em 71,4% e aumento da flexibilidade em 57,15% dos avaliados. Acredita-se que a Cinesioterapia Laboral é um recurso a ser empregado pelo fisioterapeuta para amenizar os riscos impostos ao trabalhador. . Palavras-chaves: cinesioterapia laboral, flexibilidade, dor. INTRODUÇÃO A postura correta consiste no alinhamento do corpo com eficiências fisiológicas e biomecânicas máximas, o que minimiza os estresses e as sobrecargas sofridas ao sistema de apoio pelos efeitos da gravidade (PALMER; ELPER, 2000). Entende-se que a má postura no ambiente de trabalho e um longo período na mesma posição podem desencadear reações negativas como dor osteomuscular, estresse, fadiga, entre outros. Os trabalhadores adotam hábitos inadequados devido a movimentos repetitivos, desenvolvendo assim, desconfortos, diminuindo significadamente a qualidade de vida dos mesmos. Além disso, com uma jornada de trabalho mais intensa e desgastante, os trabalhadores apresentam menos tempo para a prática da atividade física, o que torna o organismo mais predisposto às lesões. Desta forma, a jornada de trabalho intensa e desgastante contribui para uma série de problemas não só para a saúde do trabalhador, mas prejuízos para a empresa, os quais provocam afastamentos temporários e até mesmo permanentes do trabalhador, afinal a dor é definida como uma sensação desagradável associada a uma resposta emocional. O trabalho do fisioterapeuta visa inicialmente à reabilitação da dor e também prevenir para que o quadro da dor aguda não passe para crônica, uma das estratégias para diminuir a dor no trabalho é a Cinesioterapia laboral. A cinesioterapia laboral é planejada e aplicada no ambiente de trabalho durante o expediente. Também é conhecida como atividade física na empresa, ginástica laboral compensatória, ginástica do trabalho ou ginástica de pausa (MENDES; LEITE, 2008). Embora o ser humano apresente diversos sistemas corporais interligados que o possibilitam executar movimentos globais, as condições de trabalho atuais, como alto grau de repetição e monotonia, limitam a natureza humana. (MENDES; LEITE, 2008). A cinesioterapia laboral além de recuperar e/ou manter a capacidade de amplitude de movimentos que as pessoas possuem naturalmente, oferece um novo espaço de qualidade de vida, saúde e lazer, por ser realizada de maneira espontânea e criativa pelo trabalhador no próprio ambiente e horário de trabalho. Portanto, os objetivos da cinesioterapia laboral são a prevenção e a reabilitação das doenças que o trabalho repetitivo, monótono e estressante pode acarretar aos trabalhadores (MENDES; LEITE, 2008). Desta forma, esta pesquisa investigou os efeitos da cinesioterapia laboral sobre as queixas músculo-esqueléticas dos funcionários do setor de passagens da Estação Rodoviária de Santa Maria, RS. METODOLOGIA Esta pesquisa foi do tipo experimental e com abordagem quantitativa. A população foi composta por funcionários da Estação Rodoviária de Santa Maria, RS, a amostra foi constituída por doze trabalhadores, sendo oito do sexo feminino e quatro do sexo masculino. Os critérios de exclusão foram trabalhadores que estavam no serviço há menos de um mês, cirurgias ortopédicas prévias, gestantes e apresentarem faltas durante o desenvolvimento das atividades. Primeiramente, as pesquisadoras entraram em contato com a direção da Estação Rodoviária, explicando os objetivos da pesquisa e solicitaram uma autorização para realização da mesma. Os funcionários foram convidados a participar da pesquisa, foram esclarecidos dos objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No primeiro encontro utilizou-se como instrumento de coleta de dados, um questionário formulado pelas pesquisadoras que continha os dados de identificação, quanto a presença ou não de patologias associadas, uso de medicamentos, prática de atividade física, uso de álcool e tabaco e quanto a presença de dor. O trabalhador foi orientado a indicar o local de dor que sentia no momento através do diagrama do corpo que nada mais é, que, segundo PALMER E EPLER, (2000), um recurso que ajuda a documentar distribuição espacial dos sintomas relacionados à dor do paciente. Também se utilizou a Escala Visual Análoga (EVA) que consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente. Para utilizar a EVA o terapeuta deve questionar o paciente quanto ao seu grau de dor, sendo que zero significa ausência total de dor e dez o nível de dor máxima suportável pelo paciente. (SOGAB, 2002). Posteriormente, os trabalhadores realizaram um teste de flexibilidade para medir a amplitude do alongamento da parte posterior do tronco e membros inferiores, através do Banco de Wells. Os funcionários foram orientados a sentar-se de frente para o banco, colocando a planta dos pés no apoio do mesmo, mantendo os joelhos estendidos, elevando e sobrepondo os membros superiores, flexionando o tronco e empurrando o marcador sobre a fita métrica para o mais distante possível. Após esta avaliação as pesquisadoras realizaram a cinesioterapia laboral nas dependências da rodoviária. Os funcionários foram autorizados pela empresa a se ausentarem do setor de trabalho em dupla ou trio durante quinze minutos. Os funcionários foram orientados a utilizarem roupas confortáveis para a melhor execução dos exercícios. O programa da cinesioterapia laboral foi aplicado com frequência de duas vezes na semana, durante oito semanas, totalizando 16 encontros. Foram realizados alongamentos para membros inferiores, superiores e tronco baseado em DANTAS (2005). Ao término, as pesquisadoras também realizavam relaxamento com música e dinâmicas. RESULTADOS E DISCUSSÕES Inicialmente, foram avaliados doze funcionários. Destes, cinco foram excluídos por não realizarem o programa de cinesioterapia laboral. A amostra foi composta por sete (7) indivíduos, sendo 71,4% do sexo feminino e 28,6% do sexo masculino, conforme o Gráfico 1. A faixa etária dos funcionários era de 25 a 40 anos (33,2 +- 5,9 anos) e quanto ao estado civil, 57,2% eram casados, 28,5% eram solteiros e 14,3% possuíam união estável. Gráfico 1. Amostra de acordo com o gênero Navarrro (1998), Weineck (1998) e Porta ; Martin (1993) mencionam em estudo realizado, que o melhor desempenho da flexibilidade em mulheres do que em homens, isto deve-se devido à variação hormonal, uma vez que os níveis de estrogênio são mais elevados em mulheres e isto produz retenção de água em uma porcentagem mais elevada de tecido adiposo e menor massa muscular, fazendo com que as mulheres sejam anatomicamente mais aptas a executar uma ampla gama de movimentos articulares. Quanto à jornada de trabalho, 100% da amostra trabalhavam 7h20min diárias, tendo como função a venda passagens. Onde permaneciam na posição sentada durante 6h diárias com intervalo de 1h20min. Quanto ao tempo de profissão variou de 2 a 17 anos (7,28 +- 6,12 anos). Em relação ao histórico de saúde, 71,4% não apresentam nenhum tipo de patologia associada e 28,6% apresentavam hipertensão, obesidade e síndrome do pânico. Quanto aos medicamentos 71,4% não faziam uso, e 28,6% utilizavam antihipertensivos e anticoncepcionais. O tabagismo não se destacou entre os pesquisados, ou seja, 100% dos indivíduos não eram fumantes. E, destes, 85,7% não faziam uso de bebida alcoólica e dormiam bem à noite. Ao serem questionados sobre a realização ou não de atendimento fisioterapêutico, 100% dos pesquisados nunca tinham realizado fisioterapia. Sobre a prática de atividade física, 85,71% eram sedentários. Sabe-se que uma jornada de trabalho mais intensa e desgastante, os trabalhadores apresentam menos tempo para a prática de exercícios o que torna o organismo mais predisposto a lesões. Dos entrevistados 71,4% referiram dor, sendo que a maior incidência citada pelos indivíduos avaliados foi na coluna lombar, torácica, mão e ombro. A maioria dos funcionários passava a maior parte do tempo na posição sentada. Essa posição inofensiva é a que mais agride a coluna, devido a dois aspectos importantíssimos: má postura e assento impróprio. A somatória dos dois se torna bastante agressiva e comprometedora, pois não adianta sentar-se corretamente se o móvel é inadequado como também de pouco adianta ter móvel adequado e assentar-se incorretamente (SÁ, 2002). Ao término dos encontros foi aplicada a escala visual análoga de dor e verificou-se que 71,4% diminuíram a dor, e 28,6% não referiram dor tanto no inicio, quanto no final como demonstrado no gráfico 2. Gráfico 2. Pré e pós-teste da Escala Análoga Visual de dor O gráfico 3 demonstra a melhora da flexibilidade em 57,15% dos participantes, sendo que 42,85% não obtiveram aumento na flexibilidade. Gráfico 3. Pré e pós-teste da flexibilidade através do banco de Wells Reilly et al (1996) descreve em seus estudos dois picos, um final da manhã e outro ao fim da tarde e início da noite. O desempenho apresentou um declínio entre esses horários do dia, havendo uma queda do desempenho após o almoço. Contudo no presente estudo, não se pode afirmar que o turno influenciou na flexibilidade, pois o mesmo foi desenvolvido apenas no turno vespertino. Contursi (1986) menciona que os melhores resultados no treinamento de flexibilidade ocorrem entre 10 e 16 anos de idade, apesar da melhor mobilidade de algumas articulações corresponderem a uma idade mais avançada. CONCLUSÃO Evidências demonstram a importância da ginástica laboral para a prevenção, melhora da qualidade de vida, aumento da produtividade, diminuição dos gastos com assistência médica e conseqüentemente, um maior retorno financeiro para a empresa. Em relação ao estudo realizado, fica evidente que os benefícios do programa de Cinesioterapia laboral, não só dependem da ginástica por si só, pois terá melhores resultados quando associado à ergonomia do ambiente de trabalho e também a prática dos exercícios no seu dia-a-dia, tornando-os rotineiros. Sugere-se que, para um resultado mais significativo, o número maior na amostra, um programa ampliado de cinesioterapia laboral, tanto no tempo de realização e quanto a quantidade de encontros. REFERÊNCIAS CONTURSI T.L.B. Flexibilidade e alongamento. 19. Ed. Rio de Janeiro - RJ: Sprint, 1986. DANTAS, ESTÉLIO H. M. Alongamento e flexionamento. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2005. MENDES, R.A.; LEITE,N. Ginástica laboral: princípios e aplicações práticas. Baruerí – SP: Manole, 2004. NAVARRO M. La condición física en la población adulta de la isla de Gran Canaria y su relación com determinadas actitudes y hábitos de vida. Tesis doctoral. Las Palmas: Universidad de las Palmas de Gran Canaria; 1998. PAIVA NETO A.; PERES F.P.; OLIVEIRA A. Comparação da flexibilidade intermovimentos entre homens e mulheres: um estudo a partir do flexiteste adatado. Movimento e Percepção. 2006;6(9):124-33 PALMER, M. L.; EPLER, M. E. Fundamentos das técnicas de avaliação musculoesquelética. Rio de Janeiro – RJ: Guanabara Koogan, 2000. PORTA J, MARTÍN R. Metodología del entrenamiento para el desarrollo de la velocidad y la flexibilidad. Módulo 2.2.3. Madrid: Centro Olímpico de Estudios Superiores; 1993. REBELLATO, J.R.; MORELLI, J.G.S. Fisioterapia geriátrica: a prática da assistência ao idoso. São Paulo – SP: Manole, 2004. REILLY T.; FAIRHURST E.; EDWARD B.; WATEHOUSE J. Time of day and performance test in male Football players. <http://www.fisio- tb.unisul.br/Tccs/09b/mariana_guilherme/ArtigoMariana_Guilherme.pdf>. Acessado em: 10 ago. 2012. SÁ, S. Ergonomia e coluna vertebral no seu dia-a-dia. Rio de Janeiro – RJ, 2009. WELLS, K.F; DILLON E.K. The sit and reach: a test of back and leg Flexibility. Res. QExerc. Sport. 1952;23:115-8. WEINECK J. Entrenamiento óptimo. Barcelona: Hispano-Europea; 1988.