ASPECTOS PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS À TRANSPOSIÇÃO DO MÚSCULO TEMPORAL PARA TRATAMENTO DE PARALISIA FACIAL ADQUIRIDA DURANTE O PARTO: RELATO DE CASO PSYCHOSOCIAL ASPECTS RELATED TO TEMPORAL MUSCLE TRANSPOSITION FOR LABOR ACQUIRED FACIAL PARALISY: CASE REPORT FABRÍCIO BERVIAN - M.D. Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Lucas da PUCRS E-mail: [email protected] DR. MARCOS JAEGER - M.D. Preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital São Lucas da PUCRS JEFFERSON BRAGA DA SILVA - M.D. Chefe do Serviço de Cirurgia da Mão e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital São Lucas da PUCRS GUILHERME LARSEN DA CUNHA - M.D. Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Lucas da PUCRS KARINA RAQUEL CRISTALDO - M.D. Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Lucas da PUCRS DANIELE PAVANELLO - M.D. Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Lucas da PUCRS PEDRO ESCOBAR DJACIR MARTINS - M.D. - Ph.D. Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital São Lucas da PUCRS Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Avenida Ipiranga, 6690 - Jardim Botânico – Sala 202 – Porto Alegre/RS - CEP: 90610-000 - Fone: (51) 3320-3000 DESCRITORES PARALISIA FACIAL, MÚSCULO FACIAL, EXPRESSÃO FACIL, SORRISO. KEYWORDS FACIAL PARALYSIS, TEMPORAL MUSCLE, FACIAL EXPRESSION, SMILE. RESUMO Introdução: A paralisia facial pode inibir a expressão facial e impedir a comunicação, o sorriso simétrico, a proteção ocular e a competência oral, impondo significativo prejuízo psicológico e funcional. Objetivo: Descrever um caso de paralisia facial periférica adquirida e discutir a abordagem terapêutica e suas consequencias emocionais e afetivas. Relato de caso: Paciente de 14 anos, com paralisia facial periférica desde o parto, é submetida a transposição do músculo temporal para correção. Discussão: O paciente com paralisia facial representa um enorme desafio para o cirurgião reparador. Em casos como este, a transposição do músculo temporal consiste em alternativa de resultado satisfatório, podendo proporcionar reintegração social e melhora da qualidade de vida. ABSTRACT Background: The facial paralysis may inhibit the facial expression and prevent communication, symmetrical smile, eye protection, oral competence and impose significant psychological and functional injury. Objective: To describe a case of acquired peripheral facial paralysis, discuss treatment approach and emotional and affective. Case report: Patient aged 14, with facial palsy since birth, is subject to transposition of the temporalis muscle for correction. Conclusions: The patient with facial paralysis is a major challenge for the reparative surgeon. In cases like this, the transposition of the temporalis muscle is an alternative with satisfactory result and low rate of complications, providing social reintegration and improved quality of life. INTRODUÇÃO A paralisia facial pode inibir a expressão facial e impedir a comunicação, o sorriso simétrico, a proteção ocular e a competência oral, impondo significativo prejuízo psicológico e funcional. Tais aspectos são considerados objetivos principais da reconstrução da paralisia facial garantindo expressão de sentimentos de maneira adequada. São empregados procedimentos dinâmicos e estáticos para reanimação facial. As abordagens mais comuns do tratamento cirúrgico são reparação direta do nervo facial com ou sem enxertia, transferência nervosa, enxerto do nervo facial contralateral, e transferência muscular (regional ou retalho livre de músculo enervado). Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 267 RELATO DO CASO Paciente ARP, 16 anos, feminina, branca, solteira, estudante. Paciente desenvolveu paralisia obstétrica hemifacial à esquerda. Para correção da paralisia, realizamos retalho temporal antidrômico em 24/06/05 e peso de ouro palpebral em 19/06/07. Paciente realizou fisioterapia apresentando agora excelente função palpebral e função oral, conseguindo sorrir de forma voluntária e pelo treinamento intenso e condicionado consegue sorrir de forma praticamente involuntária. (Figuras 1-6). Figura 4 – Vista de perfil dinâmica. Figura 1 – Vista frontal estática. Figura 5 – Vista de ¾ estática. Figura 2 – Vista frontal dinâmica. Figura 6 – Vista de ¾ dinâmica. DISCUSSÃO Figura 3 – Vista de perfil estática. 268 A etiologia é o fator mais importante em determinar o momento e a escolha da forma de correção1,2. O reparo do nervo facial é o procedimento mais efetivo em recuperar a função da face3,4. Por tratar-se de uma paciente jovem, com longo período de evolução de sua paralisia, estão indicadas alternativas de tratamento dinâmico de reanimação facial. Entre estas se incluem a transposição de músculos locais, como o temporal, o masseter e o digástrico, e a transferência muscular livre após enxertia nervosa, como o grácil, o serrátil e o peitoral menor. O músculo temporal pode ser Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 utilizado para melhorar a simetria da comissura labial e restabelecer um sorriso voluntário. Sua transposição pode também reanimar as pálpebras, algumas vezes com distorção5. Após a dissecção do músculo, duas ilhas são criadas bipartindo o músculo. As terminações são fixadas ao orbicular e ao canto da boca, com tensão suficiente para criar algum nível de hipercorreção. Em estudos de May6, foi detectada melhora em 95% dos pacientes com transferência temporal para reanimação da face inferior e resultados bons a excelentes em 78%. Em um estudo de Bradbury7, houve uma relação significativa de paralisia facial com depressão. Aqueles que sofriam de depressão apresentaram maior taxa de satisfação com a cirurgia. Este caso demonstra um resultado final convincente, balizado pela adequada avaliação da paciente, indicação da técnica cirúrgica e experiência em sua execução. O paciente com paralisia facial representa um enorme desafio para o cirurgião reparador. Nenhuma das opções de tratamento cirúrgico pode restaurar todo o complexo de vetores e de equilíbrio de movimento da expressão facial. No entanto, técnicas reconstrutivas dinâmicas podem gerar melhora na simetria facial, no sorriso espontâneo e simétrico, no fechamento dos olhos e na competência oral, aspectos que irão aliviar as preocupações funcionais, emocionais, psicológicas e estéticas dos pacientes. REFERÊNCIAS 1. Peitersen E. The natural history of Bell’s palsy. Am J Otol. Oct 1982;4(2):107-11. 2. Chang CY, Cass SP. Management of facial nerve injury due to temporal bone trauma. Am J Otol. Jan 1999;20(1):96-114. 3. House WF. Acoustic neuroma. Case summaries. Arch Otolaryngol. Dec 1968;88(6):586-91. 4. Arriaga MA, Brackmann DE. Facial nerve repair techniques in cerebellopontine angle tumor surgery. Am J Otol. Jul 1992;13(4):356-9. 5. Spector JG, Lee P, Peterein J, Roufa D. Facial nerve regeneration through autologous nerve grafts: a clinical and experimental study. Laryngoscope. May 1991;101(5):537-54. 6. Frey M, Giovanoli P, Tzou CH, Kropf N, Friedl S. Dynamic reconstruction of eye closure by muscle transposition or functional muscle transplantation in facial palsy. Plast Reconstr Surg. Sep 15 2004;114(4):865-75. 7. Bradbury ET, Simons W, Sanders R. Psychological and social factors in reconstructive surgery for hemi-facial palsy. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2006;59(3):272-8. Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 269