entendendo a esquizofrenia

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ENTENDENDO A ESQUIZOFRENIA
Ana Raquel da Silva Gallo
Mérilin Silva Teles
A esquizofrenia é um transtorno mental
complexo que dificulta o indivíduo a fazer a
distinção entre as experiências reais e imaginárias,
pensar de forma lógica, ter respostas emocionais
normais e comportar-se normalmente em situações
sociais. Especialistas em saúde mental não sabem
ao certo sua causa. No entanto, alguns fatores
genéticos e ambientais parecem estar envolvidos.
O risco de desenvolver esquizofrenia sobe para 13%, se um parente de primeiro
grau for portador da doença. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior o risco,
chegando ao máximo em gêmeos monozigóticos. Se um deles tem esquizofrenia, a
possibilidade de o outro desenvolver o quadro é de 50%.
Quanto ao fator ambiental, estima-se que para o desencadeamento da esquizofrenia é
necessário haver uma interação de fatores gerais que vão desde o nascimento (há um
número maior de esquizofrênicos nascidos nos meses mais frios) até fatores dietéticos,
mas sem uma resposta muito conclusiva.
EPIDEMIOLOGIA
A esquizofrenia afeta tanto homens quanto
mulheres. Ela geralmente começa na adolescência
ou na fase adulta jovem. Nas mulheres, a
esquizofrenia tende a começar mais tarde e ser mais
branda.
Quando tem início na infância aparece depois
dos cinco anos. A esquizofrenia infantil é rara e
pode ser difícil diferenciá-la de outros transtornos de
desenvolvimento da infância, como o autismo.
SINTOMAS
Geralmente, os sintomas da esquizofrenia se desenvolvem lentamente durante
meses ou anos. Às vezes, podem ocorrer vários sintomas, e outras vezes, podem ocorrer
somente alguns.
Inicialmente, pode apresentar os seguintes sintomas:
 Sensação de tensão ou irritabilidade
 Dificuldade para dormir
 Dificuldade de concentração
Com o desenvolvimento da doença, problemas com pensamentos, emoções e
comportamento se desenvolvem, incluindo:

Nenhuma emoção (apatia);

Crenças ou pensamentos falsos
que não têm base na realidade
(delírios);

Ver ou ouvir coisas que não
existem (alucinações);

Dificuldade de prestar atenção;

Pensamentos que "pulam" entre
assuntos
que
relacionados
não
estão
(pensamento
desordenado);

Comportamentos catatônicos ou
hiperativos;

Isolamento social.
DIAGNÓSTICO
Não há testes médicos para diagnosticar a esquizofrenia. Um psiquiatra deve
examinar o paciente para determinar o diagnóstico. O diagnóstico é feito com base em
uma entrevista minuciosa com a pessoa e seus familiares. O médico fará perguntas
sobre:

A duração dos sintomas;

Como a capacidade funcional da pessoa
mudou;

Histórico de desenvolvimento;

Histórico familiar e genético;

Se a medicação funcionou.
Exames cerebrais (como tomografias ou ressonâncias magnéticas) e exames de
sangue podem ajudar a descartar outras doenças com sintomas semelhantes à
esquizofrenia.
TRATAMENTO
Os medicamentos antipsicóticos são os
indicados no tratamento da esquizofrenia. Eles
apresentam um efeito neuroprotetor e podem
evitar a progressão da doença em sua fase
inicial, mas para isso é necessário que o
medicamento seja iniciado precocemente,
assim que identificado o transtorno, garantida
sua
regularidade
de
administração
e
tratamento à longo prazo, essencial para uma
resposta
terapêutica
satisfatória,
para
a
prevenção de recidivas e recuperação do
paciente.
Adesão é o termo que se usa para definir essa regularidade do tratamento.
Problemas de adesão são muito comuns na esquizofrenia e envolvem diferentes
motivos. Um paciente pode não aderir ao tratamento porque não se acha doente, porque
a medicação causa um efeito colateral intolerável para ele ou simplesmente porque a
medicação não é eficaz o suficiente para o alivio dos sintomas, não fazendo sentido para
o paciente o compromisso de tomar um medicamento diariamente. Além disso, o
paciente também pode aderir ao tratamento no início e depois interromper, por achar
que está curado e que não precisa mais do medicamento.
Os efeitos colaterais que mais comprometem a adesão ao tratamento são os
efeitos extrapiramidais (do tipo parkinsonismo – tremores, lentificação motora,
alteração da marcha) e os metabólicos (como ganho de peso). Os antipsicóticos de
segunda geração, que surgiram na década de 90, costumam ser opções mais eficientes
do que os de primeira geração por causarem menos efeitos extrapiramidais e, entre eles,
existem alternativas com melhor perfil metabólico e que causam menos ganho de peso.
Em dezembro de 2011 foi lançado no Brasil o primeiro antipsicótico de segunda
geração injetável de longa duração e de uso mensal, o Palmitato de Paliperidona (Invega
Sustenna). Até então só existiam antipsicóticos injetáveis (depósito) de primeira geração
(Haldol Decanoato, Piportil L4, Flufenan Depot e Clopixol Depot) e um de segunda
geração de uso quinzenal (Risperdal Consta).
O medicamento, embora crucial, não é a única
coisa importante no tratamento inicial da esquizofrenia.
Hoje se sabe que a família tem um papel tão importante
quanto o tratamento médico. Pesquisas mostraram de
forma consistente desde a década de 80, que o ambiente
familiar pode influenciar a evolução da esquizofrenia,
inclusive determinar um maior número de recaídas e
hospitalizações.
As
atitudes
familiares
mais
relacionadas às recaídas foram aumento da crítica,
hostilidade,
cobranças
expectativas,
afetivo
(viver
excessivas,
superproteção
e
essencialmente
abdicando de suas atividades).
aumento
das
superenvolvimento
para
o
paciente,
Portanto, a cooperação da família é tão importante quanto o tratamento médico.
Esta constatação é tão robusta que a psicoeducação de família, nome que se dá ao
tratamento familiar para esquizofrenia, foi considerada a modalidade de tratamento
psicossocial com maior nível de evidência científica, fazendo parte de todos os
consensos internacionais para tratamento da doença. Lamentavelmente a cobertura deste
tratamento para famílias de pacientes com esquizofrenia é menor do que 20%.
As prerrogativas de um tratamento de psicoeducação de família são informar os
familiares sobre a doença (por isso o nome educação) e ajudar familiares e pacientes
com os problemas advindos da convivência com a doença, através da terapia de solução
de problemas, que pode ser feita individualmente com cada família e o paciente ou em
grupo, com várias famílias e pacientes. A terapia em grupo se mostrou mais eficaz na
prevenção de recaídas e melhora na adesão ao tratamento médico, na medida em que
permite a troca de experiências entre pessoas que compartilham das mesmas vivências.
PREVENIR RECAÍDAS: COMO A FAMÍLIA DEVE PROCEDER E
QUAIS OS PRIMEIROS SINAIS DE RECAÍDA?
Prevenir recaídas é fundamental para o
tratamento e para a estabilidade da esquizofrenia
ao longo da vida. Como a doença traz prejuízos
para a vida da pessoa, como trabalho, estudo,
relacionamento e autonomia, uma recaída significa
um retrocesso em todo processo de reabilitação da
pessoa. Há pacientes que passam meses ou anos
para se recuperarem e uma nova crise aumenta este
período, quando não lhes tira parte do potencial
para superar as dificuldades trazidas pela doença.
A família é de crucial importância na identificação dos sinais de recaída, pois o
paciente pode não perceber ou não ter autocrítica suficiente para julgar que algo não vai
bem e procurar o médico.
Dicas para evitar recaídas:
01. Tenha um canal aberto com a equipe ou o médico que trata o paciente.
02. Conheça os fatores que desencadearam episódios passados.
03. Avalie o grau de estresse que determinadas situações sociais e familiares podem
causar.
04. Fique atento aos sinais e sintomas que precedem uma crise. Sintomas que
antecederam uma primeira crise servem de parâmetro, pois a maioria dos
pacientes repete um padrão sintomático em crises posteriores.
Sinais de que uma recaída possa estar acontecendo ou prestes a acontecer:
01. A pessoa interrompe os medicamentos.
02. A pessoa começa usar drogas e/ou álcool.
03. Aumenta o estresse do relacionamento com a família e amigos.
04. Situações de estresse surgem em casa ou no trabalho.
05. Problemas com o sono, geralmente insônia.
06. Redução do interesse em relação aos amigos e à família.
07. Descuido com a aparência e higiene.
08. Sentimentos de medo e preocupações com outras pessoas (relacionado a alguma
fantasia, como de estar sendo espionado ou que pessoas tramam contra ele).
09. Percepções estranhas, como vozes ou visões (alucinações).
10. Humor mais irritadiço, comportamento mais arredio.
A RECUPERAÇÃO NA ESQUIZOFRENIA: TRILHANDO UM
CAMINHO POSSÍVEL
A recuperação da esquizofrenia não significa simplesmente a estabilização ou
cura dos sintomas e a retomada do funcionamento anterior à crise. Ela é um conceito
mais profundo e abrangente, que precisa ser construído com o paciente (e com a
família) no decorrer de seu tratamento. Trata-se de uma transformação pessoal na
maneira de se perceber e de ver o mundo, que parte do indivíduo em direção ao
coletivo.
Neste contexto, é preciso lutar contra o estigma e o preconceito existente dentro
de si próprio e na sociedade, cultivar a esperança e aumentar o poder e a autonomia
pessoal, através das relações com outros indivíduos (família, amigos, vizinhos) e as
instituições (centros de reabilitação e tratamento, clubes, igrejas, etc.). Almeja-se que o
paciente participe mais ativamente das decisões que envolvam sua vida e seu tratamento
e experimente uma vida de ação e participação na sociedade.
Dicas que podem ajudar na recuperação:
01. Jamais abandonar o tratamento e os medicamentos;
02. Ter um apoio psicoterápico individual. A terapia cognitivo-comportamental
(TCC) é a mais indicada;
03. A família (pais, irmãos, pessoas que convivem diretamente com o paciente)
precisa de apoio e orientação. Conhecer bem a esquizofrenia ajuda a mudar
atitudes e a lidar melhor com os conflitos do dia-a-dia, beneficiando o paciente;
04. Estratégias de reabilitação compatíveis com a realidade e demanda do paciente.
Evitar a superestimulação através de tarefas que exponham o paciente ao
estresse;
05. Ampliar a rede social, fazer novos contatos e amizades, aumentar a convivência
na sociedade;
06. Ampliar as atividades de lazer da família, através de passeios ou viagens. Isso
ajuda a deslocar dos problemas relacionados à doença e aumenta a qualidade dos
relacionamentos e da vida em família;
07. Cultivar hábitos mais saudáveis de vida, com boa alimentação e atividades
físicas;
08. Não fazer uso de drogas (lícitas e ilícitas);
09. Participar de grupos de portadores e familiares para troca de experiências,
engajar-se em iniciativas para reduzir o estigma e o preconceito na sociedade;
10. Manter o respeito e as regras de boa convivência em casa e nos ambientes
sociais;
TERAPIAS DE APOIO
A terapia de apoio pode ser útil para muitas
pessoas
com
comportamentais,
esquizofrenia.
como
o
Técnicas
treinamento
de
habilidades sociais, podem ser usadas para
melhorar as atividades sociais e profissionais.
Aulas de treinamento profissional e construção de
relacionamentos são importantes.
É importante que a pessoa com esquizofrenia aprenda a:
 Tomar os medicamentos corretamente e lidar com os efeitos colaterais;
 Reconhecer os sinais iniciais de uma recaída e saber como reagir se os sintomas
retornarem;
 Lidar com os sintomas que se manifestam mesmo com o uso de medicamentos;
SUPERE O PRECONCEITO
A prática tem demonstrado que o tempo decorrido entre o surgimento das
primeiras manifestações psicóticas em uma pessoa e o primeiro contato com a rede de
saúde, geralmente ultrapassa um ano. Além disso, o tempo entre as alterações mentais
iniciais (ainda não psicóticas), e o recebimento dos primeiros cuidados, costuma ser
ainda maior, ultrapassando incríveis quatro anos. Estudos clínicos e epidemiológicos
têm sugerido que a duração do tempo de psicose não tratada, e fases preliminares ao
aparecimento da doença, têm forte impacto sobre o prognóstico dos quadros psicóticos,
seja em termos clínicos ou sociais.
Diante disso, devemos refletir sobre um tratamento baseado em uma doença
crônica ou no tratamento precoce da doença, nos perguntando: Devemos considerar que
os quadros psicóticos são inevitáveis, prenunciando uma gravidade e cronicidade
natural? Ou podemos substituir esta abordagem, considerando os novos dados, que
indicam melhores resultados terapêuticos quando se intervém mais precocemente?
Se considerarmos como válidos os resultados positivos das novas pesquisas
voltadas para as intervenções precoces, devemos mudar nossas referências e
preconceitos, ainda enraizados nos tempos da exclusão manicomial, e investir em
cuidados na saúde das crianças, adolescentes e adultos jovens, e na capacitação em
saúde mental dos profissionais da atenção básica, para que estas pessoas possam receber
os cuidados necessários em tempo hábil. Em vários países, onde já foram efetuados os
programas de reforma da assistência psiquiátrica, a tarefa de reconhecer e intervir
precocemente, impedindo ou atenuando a gravidade dos quadros psicóticos, compõe a
ordem do dia. Está na hora de enfrentarmos sem preconceitos essa questão também aqui
no Brasil.
PEÇA AJUDA
Ligue para seu médico se:

Vozes estiverem pedindo para você se ferir ou ferir
outras pessoas;

Você sentir uma forte vontade de se ferir ou ferir
outras pessoas;

Você estiver se sentindo desesperado ou desolado;

Você estiver vendo coisas que não existem;

Você apresentar a sensação de não poder sair de
casa;

Você não for capaz de cuidar de si mesmo.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Ellen Pinheiro Tenório de; CINTRA, Ana Maria de Oliveira; BANDEIRA, Marina.
Sobrecarga de familiares de pacientes psiquiátricos: comparação entre diferentes tipos de
cuidadores. J. bras. psiquiatr. vol.59, no.4. Rio de Janeiro, 2010.
GOLDENSTEIN, Nelson; RAMOS, Fernando. Superem o preconceito. Disponível em: <
http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=4811 > Acessado em: 26/01/2013.
NICOLINO, Paula Silva; VEDANA, Kelly Graziani Giacchero; MIASSO, Adriana Inocenti; CARDOSO,
Lucilene; GALERA, Sueli Aparecida Frari. Esquizofrenia: adesão ao tratamento e crenças sobre o
transtorno e terapêutica medicamentosa. Rev. esc. enferm. USP vol.45, no.3. São Paulo, June 2011.
OLIVEIRA, Renata Marques; FACINA, Priscila Cristina Bim Rodrigues; JÚNIOR, Antônio Carlos
Siqueira. A realidade do viver com esquizofrenia. Rev. bras. enferm. vol.65, no.2.
Brasília, Mar./Apr. 2012.
PALMEIRA, L.; A recuperação na esquizofrenia: trilhando um caminho possível. Disponível em: <
http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=3391 > Acessado em: 26/01/2013.
PALMEIRA, L.; Qual o melhor tratamento para a esquizofrenia? Disponível em: <
http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=5313 > Acessado em: 24/01/2013.
PALMEIRA, L.; Prevenir recaídas: como a família deve proceder e quais os primeiros sinais de
recaída? Disponível em: < http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=3710 > Acessado em:
24/01/2013.
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