A coesão textual na produção de textos de alunos da 6ª

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Késia Rodrigues Silveira Porto1
A coesão textual na produção de textos de alunos da 6ª. Série do Ensino
Fundamental de uma Escola Estadual da 22ª. Superintendência Regional de
Ensino-SRE de Montes Claros/MG
RESUMO
A presente pesquisa analisou a coesão lexical na produção de textos de alunos da sexta série - 7º ano
do ensino fundamental de uma escola pública da 22ª. Superintendência Regional de Ensino, localizada
na cidade de Montes Claros/MG. Para o desenvolvimento desse estudo, optou-se pelo método
hipotético-dedutivo que tem como objetivo a descrição e qualificação dos dados. O material estudado
foi coletado em aulas diversas por um período de quatro meses. Ao todo foram recolhidos cento e
cinquenta e um textos, que abordavam os seguintes temas: “Adolescência, Aquecimento Global,
Drogas, O meio ambiente ameaçado, Por que ensinar poesia na escola vale a pena, Prostituição e
Violência”. Das produções textuais recolhidas, foram escolhidos nove textos, os quais foram
analisados no trabalho de conclusão de curso com o objetivo de verificar se haviam elementos
coesivos, se os alunos, ao produzirem seus textos, utilizavam marcadores sintáticos específicos que
denotassem coesão, e se esses elementos coesivos foram expostos de forma que o texto apresentasse
coerência. Neste artigo, mostraremos apenas três textos e daremos ênfase aos nomes genéricos e a
repetição do mesmo item lexical, por serem esses itens recorrentes nos textos dos alunos. A coesão
lexical é obtida pela repetição do mesmo item lexical ou pelo uso de sinônimos, hiperônimos ou
nomes genéricos e também pela colocação ou contiguidade. Deste modo, constatamos nas produções
textuais analisadas, o uso de elementos coesivos pertencentes à coesão lexical, sendo na sua maioria,
citados na superfície textual de maneira inadequada.
Palavras chave: produção textual, coesão, coesão lexical.
1
Graduada em Licenciatura Plena Letras Português pela Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes.
Pós-graduanda em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Estadual de Montes
Claros/Unimontes. E-mail: [email protected]
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I - INTRODUÇÃO
Sabemos que para produzir um texto com eficiência, não basta apenas ter boas
ideias ou bom vocabulário. É necessário transformá-los em discursos que, juntamente a outros
discursos, vão construindo um encadeamento de conexões lógicas e semânticas que
configuram o texto. Quando isso acontece, dizemos que o texto possui textualidade, ou seja,
apresenta adequada articulação de ideias (coerência) e articulação gramatical entre as palavras,
orações, frases e partes maiores do texto (coesão). De acordo com Bastos (1994), “a coesão
não é a causa da coerência, é o seu efeito, e que a determinação da coesão e da coerência
depende muito do ouvinte ou leitor”.
Este artigo é decorrente do trabalho de conclusão de curso intitulado “A coesão
textual na produção de textos de alunos da sexta série-7º. ano do ensino fundamental de uma
escola pública da 22ª Superintendência Regional de ensino da cidade de Montes Claros-MG”,
apresentado para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Letras Português pela
Universidade Estadual de Montes Claros – unimontes. Para tanto, foi necessário realizar uma
pesquisa bibliográfica (para melhor embasamento teórico sobre a coesão textual) e de campo,
a fim de averiguar se os alunos utilizam em seus textos palavras (substantivos, pronomes,
numerais, advérbios, adjetivos, conjunções etc.) que retomam termos, articulando
gramaticalmente os conectores.
A pesquisa foi desenvolvida utilizando o método hipotético-dedutivo, que visa à
descrição e qualificação dos dados, já que esses geram uma interpretação, ou seja, uma
reflexão acerca do objeto pesquisado. O corpus dessa pesquisa foi constituído da coleta de
textos produzidos pelos alunos sob orientação do professor regente em uma turma da sexta
série-7º. ano. Os textos foram coletados em aulas diversas por um período de quatro meses,
cujos temas abordados, foram os seguintes: Adolescência, Aquecimento Global, Por que
ensinar poesia na escola vale a pena, Prostituição, Violência, O meio ambiente ameaçado e
Drogas. Os temas apresentados foram trabalhados em turmas de quarenta alunos, gerando um
total de cento e cinquenta e um textos. No trabalho de conclusão de curso foi exposto a análise
de nove textos, já neste artigo mostraremos a análise apenas de três. Para a análise, foi
selecionado um texto dos temas: Adolescência, Aquecimento Global e Porque ensinar poesia
na escola vale a pena.
Abordamos nesta pesquisa a coesão textual - especificamente a coesão lexical - nas
produções de textos dos alunos da sexta série do ensino fundamental, partindo da hipótese de
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que os erros referentes à coesão textual são frequentes e ocorrem porque os alunos
desconhecem o aspecto semântico, o formal e os fatores pragmáticos da textualidade na
produção de textos. Dentre os trabalhos que discutem a coesão textual nas produções de
textos, elegemos alguns autores que trouxeram grandes contribuições ao campo da pesquisa
em educação e ensino de língua portuguesa: Fávero (1995-1993); Costa Val (1999); Koch
(1993,1999); Koch e Travaglia (2001).
Nesta investigação, analisamos as dificuldades dos alunos quanto ao uso de
elementos coesivos em suas produções de textos, e verificamos a aplicabilidade das teorias
sobre coesão lexical. Portanto, o primeiro capítulo desta pesquisa abordará as teorias de
autores que postulam uma visão ampla sobre a coesão textual. No segundo capítulo,
abordaremos a coesão lexical, uma vez que esta é o foco da nossa investigação. No terceiro
capítulo, analisaremos nas produções de textos escritos pelos alunos da 6ª série-7º. ano do
ensino fundamental, os elementos coesivos, dando ênfase ao uso da coesão lexical, e,
finalmente constataremos a hipótese. Na conclusão, faremos a retomada dos conteúdos
abordados nos capítulos anteriores, por supormos que esses mecanismos são fundamentais na
produção e interpretação dos textos.
II - A COESÃO NA PRODUÇÃO TEXTUAL
Para dissertarmos sobre algo é necessário utilizarmos dos mecanismos de natureza
lexical ou gramatical que faz ligação entre os elementos de uma frase ou de um texto. Nessa
construção, assim como na fala, utilizamos mecanismos linguísticos para garantir ao locutor a
apreensão do que se lê. Essas estruturas linguísticas que constituem a conectividade e a
retomada do que foi redigido/dito são os concernentes textuais e buscam asseverar a coesão
textual para que possua coerência, não só entre os elementos que formam a oração, como
também entre o encadeamento de orações no interior do texto. Assim, para que o texto seja
coeso é preciso retomar elementos de enunciados anteriores para conseguir coerência textual
entre as frases.
De acordo com Koch (1993), o estudo da coesão textual tem sido
predominantemente desenvolvido dentro do ramo da Linguística a que se denomina
Linguística do texto. Segundo a autora, essa corrente surgiu na década de 60:
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Na Europa, onde ganhou projeção a partir dos anos 70, a Linguística Textual
teve inicialmente por preocupação descrever os fenômenos
sintático-semânticos ocorrentes entre enunciados ou seqüências de
enunciados, alguns deles, inclusive, semelhantes aos que já haviam sido
estudados no nível da frase. Este é o momento a que se denomina “análise
transfrástica”, no qual não se faz, ainda, distinção nítida entre fenômenos
ligados uns à coesão, outros à coerência do texto. (KOCH, 1993:11)
Desse modo, entende-se que a coesão é exposta através de símbolos linguísticos,
indicadores formais na composição da teia linguística e superficial de um texto, sendo, assim,
de caráter unidimensional, já que se revela na coordenação deste texto. É claramente sintática
e gramatical, mas é também semântica, uma vez que, a coesão é a relação semântica entre um
membro do texto e um outro membro que é decisivo para sua compreensão.
Vale ressaltar que existem vários modelos teóricos sobre coesão textual e esses
preveem uma sequência mais complexa de expressões, muitos deles coincidentes e
redundantes. De acordo com Fávero (1993:13), “há inúmeras propostas de classificação das
relações coesivas que podem estabelecer-se formalmente num texto”. Para Halliday & Hasan,
apud Fávero (1993:13) “a coesão textual, isto é, as concatenações frásticas lineares dependem
de cinco categorias de procedimento: referência, substituição, elipse, conjunção e léxico”.
Fávero (1993) propõe três tipos: referencial, recorrencial e sequencial, e, Koch (1993) nomeia
apenas dois tipos: a coesão referencial e a sequencial.
Koch (1993:19-20) define que, Halliday & Hasan (1976) distinguem cinco
mecanismos de coesão: referência, substituição, elipse, conjunção e a coesão lexical. Os
elementos de referência são itens da língua, que não são decifrados por si próprios, mas que
submetem a outros para sua explicação. Podem ser de referência situacional (exofórica) e
textual (endofórica). A substituição é a que ocorre com o uso de um item no lugar de outro
membro do texto, e até mesmo, de uma oração inteira. Já a elipse sobrevém quando há a
ausência de item lexical, um sintagma, uma oração ou todo um enunciado, que pode ser
restaurado pelo contexto. A conjunção (ou conexão) é exibida como elemento que admite
estabelecer relações especiais entre elementos ou orações no texto. Os elementos conjuntivos
são coesivos não por si próprios, mas disfarçadamente, em benefício das relações peculiares
que se formam entre as orações, períodos e parágrafos. A coesão lexical pode ser alcançada
por meio de dois mecanismos: a reiteração e a colocação, que são discutidos no capítulo II.
Fávero (1993:17-18) propõe três tipos de coesão: referencial, recorrencial e
sequencial.
A coesão referencial emana da ocorrência, de que alguns itens na língua
apresentam a função de estabelecer referência não exclusivamente pelo seu próprio sentido,
9
porém em relação a alguma coisa essencial ao seu entendimento. Essa coesão, segundo Fávero,
pode ser obtida por substituição e por reiteração.
Desse modo, a substituição conforme a autora se dá quando um componente é
retomado ou precedido por uma pró-forma. No caso de uma retomada, tem-se uma anáfora e,
no caso de sucessão, uma catáfora. Já a substituição por reiteração consiste na repetição de
expressões no texto, como por exemplos: repetição do mesmo item lexical, sinônimos,
hiperônimos, expressões nominais definidas e os nomes genéricos.
Segundo Fávero (1993:26), “a coesão recorrencial se dá quando, apesar de haver
retomada de estruturas, itens ou sentenças, o fluxo informacional caminha, progride; tem,
então, por função levar adiante o discurso”. Assim, ela expõe os casos de coesão recorrencial,
sendo eles: a recorrência de termos; paralelismo; paráfrase; recursos fonológicos segmentais e
suprassegmentais. Na recorrência de termos, podemos perceber que há repetições de termos
com a finalidade de dar ênfase, de intensificar algo. Exemplo:
Tudo se encadeia, tudo se prolonga, tudo se continua no mundo... (O. Bilac) 2
Ocorre paralelismo quando as estruturas são reutilizadas, mas com diferentes
conteúdos, ou seja, “em outras palavras: a {sic} idéias similares deve corresponder forma
verbal similar. Isso é o que se costuma chamar paralelismo ou simetria de construção” é o que
assevera Othon M. Garcia (1995, p.28). Exemplo:
É necessário chegares a tempo e que tragas ainda a encomenda. 3
Já a paráfrase é a cópia explicativa de um texto ou de unidade de um texto, por
meio de uma linguagem mais longa. Na paráfrase, sempre se preservam basicamente as ideias
do texto original. O que se inclui são comentários, ideias e impressões de quem faz a
paráfrase. As recorrências de termos, assim como o paralelismo têm como função a
reutilização de estruturas com diferentes conteúdos. De acordo com a autora, a coesão é
também obtida através de dois componentes: o ritmo e os recursos de motivação sonora, sendo
esses encontrados dentro dos recursos fonológicos, segmentais e suprassegmentais. Conforme
Fávero (1993:31) os recursos de motivação sonora são percebidos através “da expressividade
das vogais e das consoantes, aliterações, ecos, assonâncias etc.”. Exemplos:
Braços nervosos, brancas opulências,
brumais brancuras, fúlgidas brancuras
(...) (Cruz e Souza) 4
2
GARCIA. Comunicação em Prosa, 1995, p.271.
GARCIA. Comunicação em Prosa, 1995, p.32.
4
GOLDSTEIN. Versos, Sons, Ritmos, 1999, p.50.
3
9
Os mecanismos de coesão sequencial, de acordo com Fávero (1993: 33), “têm por
função, da mesma forma que os de recorrência, fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo
informacional. Diferem dos de recorrência, por não haver neles retomada de itens, sentenças
ou estruturas. Podem ocorrer por sequenciação temporal e por conexão”. Desse modo, a
sequenciação temporal pode ser obtida por: ordenação linear dos elementos; expressões que
assinalam a ordenação ou continuação das sequências temporais; partículas temporais e
correlação dos tempos verbais. Já a sequenciação por conexão conforme Fávero (1993:35)
constitui-se por: operadores do tipo lógico, operadores do discurso e por pausas, uma vez que,
de acordo com a autora, num texto, tudo está relacionado; um enunciado está subordinado a
outros na medida em que não só se compreende por si mesmo, mas ajuda na compreensão dos
demais.
Os operadores do tipo lógico podem constituir relações de disjunção,
condicionalidade, causalidade, mediação, complementação, restrição ou delimitação. A
primeira busca ligar proposições por meio do conector ou, visto como inclusivo ou exclusivo.
A segunda forma expõe as relações de atrelamento entre proposições de maneira que a
proposição procedente será verdadeira se a antecedente o for. A causalidade, também, oferece
relações entre proposições no sentido de que certas construções exprimem tanto uma relação
de causa e consequência quanto à relação de causa como condição satisfatória. A mediação faz
parte da condicionalidade, mas é expressa por duas proposições, em que uma delas exprime o
meio para se atingir um determinado fim. A complementação é entendida na relação entre duas
proposições, em que uma complementa o sentido de um termo da outra, podendo ser
entendida, também, como um elemento de referência. A restrição ou delimitação ocorre na
relação de duas sentenças, em que uma abrevia ou limita o tamanho de um componente da
outra.
Já os operadores do discurso mostram-se nas relações expostas por: conjunção, que
abrange o tipo de atrelamento em que os conteúdos se juntam; disjunção que aborda
enunciados que têm direções discursivas distintas das mostradas pelos operados lógicos; por
contrajunção, que ocorre no tipo de dependência em que os conteúdos se contrapõem em
segmento; e por explicação ou justificação, em que é introduzida na proposição uma
explicação de um ato anterior.
As pausas são indicadas na escrita, por dois pontos, vírgula, ponto e vírgula ou
ponto-final dentre outros. Sendo assim, surge como mecanismo de coesão sequencial porque,
na escrita, o uso dos sinais de pontuação podem trocar os conectores frásicos e, dessa forma,
assinalar relações diferentes. Exemplos:
9
Não se preocupe: vou com você ao médico. (Explicação) 5
Um traz água pura, fonte da vida; o outro leva embora dejetos pútridos.
(Adição) 6
Koch (1993:27) propõe que se considere a existência de duas grandes modalidades
de coesão: a coesão referencial (referenciação, remissão) e a coesão sequencial (sequenciação).
A autora chama, pois, de coesão referencial “aquela em que um componente da superfície do
texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual”. São empregados nesta
referência os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos,
demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios e
artigos. Exemplos:
a) O presidente George W. Bush ficou indignado com o atentado no World Trade
Center. Ele afirmou que “castigará” os culpados. (retomada de uma palavra
gramatical → referente “Ele” = “Presidente George W. Bush”)
b)
De você só quero isto: a sua amizade (antecipação de uma palavra gramatical →
“isto” = “a sua amizade”)
Já a coesão
sequencial constitui vários tipos de relações semânticas ou pragmáticas,
à medida que o texto progride. Ela é a ligação, que se constitui entre as partes de um texto,
mesmo que não seja transparente. Cooperam para esta união elementos de natureza gramatical
(como os pronomes, conjunções, preposições, categorias verbais), elementos de natureza
lexical (sinônimos, antônimos, repetições) e mecanismos sintáticos (subordinação,
coordenação, ordem dos vocábulos e orações). É um dos mecanismos responsáveis pela
interdependência semântica que se estabelece entre os elementos constituintes de um texto.
Exemplo:
Não veste com luxo / porque o tio não é rico. (ideia de causa). 7
Tanto para Koch (1993) quanto para Fávero (1993), o conceito de coesão
sequencial está relacionado aos mecanismos empregados no texto para que ele possa progredir.
Assim, Koch subdivide a coesão sequencial em sequenciação parafrástica e sequenciação
frástica apontando as estruturas que compõem a coesão textual, dentre os quais se encaixa o
“encadeamento”, que pode ser obtido por justaposição ou por conexão.
De acordo com Koch (1993: 51), tem-se, a sequenciação parafrástica quando, na
progressão do texto, utilizam-se procedimentos de recorrência, tais como: recorrência de
5
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p. 440.
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p. 574.
7
CUNHA & CINTRA. Nova Gramática do Português Contemporâneo, 2007, p.619.
6
9
termos, de estruturas – paralelismo sintático, de conteúdos semânticos – paráfrase, de recursos
fonológicos segmentais e/ou supra-segmentais e de tempo e aspecto verbal. Na recorrência de
termos ocorre a repetição de um mesmo item lexical. Exemplo:
A crise cria um suspense, a vida fica mais excitante. A crise é um thriller. A crise
estimula a inteligência. A crise é assunto. Todos escrevem sobre a crise, como se fosse uma
musa, uma mulher. (Arnaldo Jabor) 8
Na recorrência de estruturas – paralelismo sintático usam-se as mesmas
construções gramaticais mais com itens lexicais distintos. Exemplo:
Ou carros importados custam muito caro, ou têm um desempenho excelente. 9
Na recorrência de conteúdo semântico - A paráfrase - é um texto que busca tornar
mais transparente e prático aquilo que se disse em outro texto. Portanto, é sempre a reescrita
de um texto já existente. A recorrência de recursos fonológicos segmentais e/ou
suprassegmentais é definida como recursos de motivação sonora e ritmo. O ritmo é um
componente coesivo na coordenação do texto, e se pauta na duração das sílabas que, por uma
direção, une-se à posição da entoação, acentos e pausas, e, por outra, à variação do tempo. De
acordo com Koch (1993:52), “tem-se, no caso, a existência de uma invariante, como igualdade
de metro, ritmo, rima, assonâncias, aliterações, etc.”. Exemplo:
Donzela bela, que me inspira a lira
Um canto santo de fremente amor
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca, arranca-lhe a terrível dor. (Castro Alves) 10
A recorrência de tempo e aspecto verbal, segundo Koch (1993:53-54), “tem função
coesiva, indicando ao leitor/ouvinte que se trata de uma sequencia de comentário ou de relato,
de perspectiva retrospectiva, prospectiva ou zero, ou ainda, de primeiro ou segundo plano, no
relato”. Exemplo:
Agora felizmente estavam menos mal. O de que carecia era arranjar trabalho;
porque a comadre Conceição bem via que o que davam no campo mal chegava para os
meninos.
Conceição concordou:
- Eu sei, eu sei, é uma miséria! Mas você assim, compadre, lá agüenta um serviço bruto,
pesado, que é só o que há para retirante?! (O quinze, p.80) 11
8
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p.245.
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p.440.
10
CUNHA & CINTRA. Nova Gramática do Português Contemporâneo, 2007, p. 717.
11
GARCIA. Comunicação em Prosa, 1995, p.149.
9
9
Podemos perceber na primeira parte deste exemplo a recorrência do mesmo tempo
verbal (pretérito imperfeito do indicativo), mostrando ao leitor que se trata do segundo plano
do relato. Em seguida, na segunda parte acontece a mudança de tempo (pretérito perfeito do
indicativo) ocorrendo assim, a mudança de perspectiva, ou seja, passa-se ao primeiro plano do
relato.
A sequenciação frástica referida pela autora, diz respeito à progressão textual e se
subdivide em procedimentos de manutenção temática, progressão temática e encadeamento.
Os procedimentos de manutenção temática sucedem através dos usos de elementos
concernentes ao mesmo campo lexical ou se dá por meio de um plano cognitivo acionado na
mente do leitor/ouvinte que admite romper com as ambiguidades e prosseguir no
encadeamento do texto. Exemplo:
No aeroporto, espero uma filha que chega. O avião demora a pousar. Os
passageiros demoram a sair. E eu naquele saguão, olhando para aquela parede [...] em que
uma porta se abre de tempo em tempo e deixa passar viajantes que não são a minha filha. 12
Já a progressão temática atribui uma sequência de sentidos a escrita. Segundo Koch
(1993: 57), “na sequenciação do texto, assume vital importância o modo como se opera”.
Através do parecer funcional, a progressão temática se consolida pelo meio de estruturas
comunicativas, que se denominam tema (tópico, dado) e rema (foco, comentário, novo).
O encadeamento é o responsável pelo ligamento de elementos da mesma natureza
ou que possui entre si certas semelhanças: o encadeamento de opiniões, das situações, e etc.
Ele pode ser obtido por justaposição ou por conexão.
No encadeamento por justaposição não se operam os conectores interfrásticos. Os
elementos do nível textual são ligados em segmentos, com ou sem o uso de partículas
sequenciadoras. De acordo com Koch (1993: 60) os casos de justaposição sem partículas,
extrapola o âmbito da coesão textual. A justaposição com partículas “estabelece um
sequenciamento coesivo entre porções maiores ou menores da superfície textual”.
A conexão é definida como uma estrutura coesiva dentro da coesão sequencial. Ela
é um encadeamento apontado por conectores interfrásticos. Conforme a autora, a conexão
“trata-se de conjunções, advérbios sentenciais (também chamado advérbios de texto) e outras
palavras (expressões) de ligação que estabelecem, entre orações, enunciados ou partes do
texto, diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas” (KOCH, 1993:62).
Assim, podemos afirmar que o autor ao escrever, planeja seu texto a partir de sua
finalidade, deixando pistas de sua intencionalidade. Por sua vez o leitor vai procurando esses
12
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p.245.
9
vestígios, para poder interpretar o texto. Portanto, a coesão tem uma essencial função na
elaboração de toda e qualquer produção textual.
III - A COESÃO LEXICAL
Redigir um ótimo texto requer de nós a habilidade de estabelecer semelhanças
transparentes entre as diversas ideias a serem expressas. O combate a ser encarado é encontrar
a melhor forma de estabelecer essas relações com os meios que a língua nos apresenta. Assim,
a língua dispõe de uma sequência de estruturas que geram conexões entre as orações, as
palavras e entre diversas partes de um mesmo texto. Um dos elos coesivos responsáveis por
essas junções chama-se coesão lexical, que de acordo com Halliday & Hasan, apud Koch
(1993:22), é obtida através de dois mecanismos, sendo eles: a reiteração e a colocação.
Halliday & Hasan, apud Fávero (1993:15), descrevem que a “coesão lexical é
obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o mesmo referente”. Para
eles, o outro fator de coesão lexical “é a colocação, resultante da associação de itens lexicais
que regularmente concorrem”. Para esses autores, a coesão lexical é vista como um
mecanismo funcionalmente independente.
Já Koch (1993), pontua que a coesão lexical não constitui um mecanismo
funcionalmente independente:
O uso de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos constitui uma das formas
de remissão a elementos do mundo textual, tendo, pois, a mesma função
coesiva das pro-formas; a reiteração do mesmo item lexical pode ter também
essa mesma função (cf. Brown & Yule, acima) ou, ainda, exercer função
seqüenciadora, como é também o caso da colocação, enquadrando-se, assim,
no que irei chamar de coesão seqüencial. (KOCH, 1993:27)
Tanto Fávero (1993) quanto Koch (1993) discutem igualmente se a coesão lexical
representa realmente um mecanismo independente, já que a reiteração aponta que a
informação já é conhecida e sustentada, representando assim, uma das formas de remissão a
elementos do mundo textual.
De acordo com Halliday & Hasan, apud Koch (1993: 22-23), a coesão lexical por
reiteração “se faz por repetição do mesmo item lexical ou através de sinônimos, hiperônimos,
nomes genéricos”. A colocação ou contiguidade, segundo estes autores,
9
“consiste no uso de termos pertencentes a um
mesmo campo significativo”. A reiteração pode funcionar como uma estrutura coesiva, quando
é empregada para edificar e manter presente as regras de referências na parte interna do texto.
Exemplo:
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. 13
Percebe-se através dessa ocorrência que uma mesma palavra, no caso o pronome
“tudo”, repetido várias vezes, garante que o leitor conserve presente o referente do qual
dialoga o texto. Existem, também, outras formas de repetições, sendo elas realizadas pelo uso
de sinônimos, hiperônimos, hipônimos e nomes genéricos. Vejamos, a seguir, o conceito de
cada uma delas.
Os sinônimos são palavras de sentidos semelhantes ou aproximados que podem ser
trocadas umas pelas outras em vários contextos. Os falantes de diversas variações linguísticas,
por exemplo, podem escolher por um dos termos de sentido semelhante e atribuir ao outro um
sentido distinto. É o que pontua Abaurre e Pontara:
Em algumas cidades do estado de São Paulo, o termo sinal não é utilizado
como sinônimo do aparelho de sinalização das vias urbanas. Esse aparelho é
chamado de semáforo. Nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo,
porém, os falantes não usam semáforo; preferem sinal, forma reduzida da
expressão sinal de trânsito. (ABAURRE e PONTARA, 2006: 59).
Já os hiperônimos possuem termos de significado mais abrangente em relação a
outro(s), pois firmam relações entre um termo cuja significação pode ser concebida mais
abrangente com relação ao significado de um grupo de outros vocábulos com as quais se
pautam. Exemplo:
O homem perfeitamente infeliz tem saúde de ferro; [...] seus males físicos são
apenas dois: dor de cabeça (não toma comprimido porque ataca o coração) e azia (não toma
bicarbonato porque vicia o organismo). 14
Podemos compreender que na frase, o hiperônimo males físicos é tomado
novamente por meio de dois hipônimos que o explicam miudamente: dor de cabeça e azia. Os
hipônimos possuem termos de significado mais específicos em relação a outro(s), uma vez
que, eles, segundo Fávero (1993: 24), “permitem maior precisão, deixando o texto menos
vago”.
13
14
BENEMANN e CADORE. Estudo dirigido de Português, 1977, p.31.
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p. 245.
9
Segundo Halliday & Hasan apud Fávero (1993):
O uso de nomes genéricos cuja função coesiva está no limite entre as coesões
lexical e gramatical, nomes estes que estão a meio caminho do item lexical,
membro de um conjunto aberto e do item gramatical, membro de um
conjunto fechado. Gramaticalmente, os nomes como a gente, a pessoa, a
coisa, o negócio etc. (determinante + nome geral) funcionam como itens de
referência anafórica; lexicalmente, são membros superordenados
(hiperônimos) agindo como sinônimos dos itens a eles subordinados
(hipônimos). (FÁVERO, 1993:15).
Na linha do mesmo pensamento de Halliday & Hasan em relação aos nomes
genéricos, as autoras Fávero (1993) e Koch (1993) introduziram o uso dos nomes genéricos
dentro da reiteração. Segundo as autoras, os nomes definidos como: a gente, o negócio, a
pessoa, a coisa etc., gramaticalmente funcionam, como itens de referência anafórica e,
lexicalmente, são membros superordenados (hiperônimos) atuando como sinônimos dos itens
a eles subordinados (hipônimos). Exemplo:
Há duas coisas um tanto inúteis em Marajó: carros e guarda-chuvas. Os primeiros
limitam-se a circular dentro das cidades ou entre cidades vizinhas. Em algumas, como Afuá e
Anajás, eles simplesmente não existem. 15
A colocação ou contiguidade conforme os autores Halliday & Hasan apud Koch
(1993:23) “consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo campo significativo”.
Exemplo:
Faça chuva ou faça sol, hoje o dia é todo seu! 3 de março dia do meteorologista
em meio a tantas variações climáticas pelas quais passa o nosso planeta, cresce a cada dia a
importância desses profissionais. Nesta data, o CREA-SP deseja a todos os meteorologistas
um dia com céu aberto e grandes emoções. Parabéns!16
Na leitura do texto, as palavras e expressões destacadas mostram que elas
pertencem a um mesmo campo semântico, uma vez que, são usadas em previsões sobre o
tempo. De tal modo, essas palavras e expressões estão relacionadas ao campo de atuação
desses profissionais (meteorologistas), e à medida que cada uma delas é usada, retoma o tema
central e faz com que o campo semântico progrida na tessitura textual.
Fávero (1993:17) pontua que a coesão lexical tem a função de estabelecer
referência. Sendo assim, a autora discorda dos autores Halliday e Hasan (1976) já que eles
consideram a coesão lexical um tipo à parte. Fávero (1993: 23-24) expõe que “a reiteração é a
repetição de expressões no texto (os elementos repetidos têm a mesma referência)”. De acordo
15
16
ABAURRE e PONTARA. Gramática: texto: análise e construção de sentido, 2006, p. 243.
KOCH e ELIAS. Ler e compreender os sentidos do texto, 2006, p. 160.
9
com a autora, a reiteração dar se por: repetição do mesmo item lexical, sinônimos,
hiperônimos, hipônimos, expressões nominais definidas e por nomes genéricos.
Como já conceituamos os itens anteriores, atentaremos agora para as expressões
nominais definidas. Conforme Fávero (1993:25) ocorre expressões nominais definidas
“quando há retomadas (repetições) do mesmo fenômeno por formas diversas, esse tipo de
reiteração baseia-se no nosso conhecimento do mundo e não num conhecimento somente
linguístico.” Dessa forma, podemos dizer que as expressões nominais definidas desempenham
grande importância para a construção dos sentidos do texto, porque trazem informações novas
desejadas pelo produtor do texto. Exemplo:
O vizinho:
Essa pessoa que adora ouvir música alta à noite, mas reclama de qualquer barulhinho.
Esse sujeito que só usa martelo e furadeira quando você precisa dormir.
Esse amigo que conversa com você tentando ver o que tem dentro da sua casa.
Esse cavalheiro que se mantém bem-informado lendo o seu jornal e empresta a sua vaga na
garagem para as visitas dele.
Esse ser humano que, além de tudo, vive espalhando por aí que tem um péssimo vizinho:
você. Já tem muita gente tentando tirar o sabor da sua vida. Por isso, só tiramos as calorias.
Caloria de menos BRAHMA LIGHT gostosa demais. 17
Esse exemplo permite constatar que a escolha das expressões definidas destacadas
no texto traz ao leitor/ouvinte informações fundamentais sobre as opiniões, crenças e costume
do redator do texto, ajudando-o, dessa forma, na elaboração do sentido. Portanto, sabemos que
existem várias formas de comunicação, e uma delas é realizada através de textos e que o texto
é uma unidade, um todo.
IV - ANÁLISE DA COESÃO LEXICAL EM TEXTOS DE ALUNOS DA 6ª. SÉRIE (7º.
ANO)
Com base na coleta de dados dos textos produzidos pelos alunos da 6ª. série (7º.
ano) de uma escola estadual da 22ª SRE - Montes Claros - MG, analisaremos neste capítulo as
ocorrências da repetição do item lexical, tendo como construto teórico a Linguística Textual,
abordada por Fávero(1993) e Koch(1993), observando os fenômenos ligados à coesão textual,
17
KOCH e ELIAS. Ler e compreender os sentidos do texto, 2006, p. 133.
9
especificamente, a coesão lexical de termos genéricos(a coisa, a gente) e a repetição do mesmo
item lexical. Para a análise, utilizaremos fragmentos dos textos. Ressaltamos que alguns textos
apresentam correções ortográficas feitas pela professora regente da turma.
TEMA: A adolescência e seus conflitos
Texto I
O texto exposto acima foi produzido por um aluno da sexta série – sétimo ano do
ensino fundamental, tendo como tema a Adolescência e seus conflitos. Podemos perceber que
o educando, ao redigir seu texto, faz uso da coesão, através da repetição do mesmo item
lexical e de nomes genéricos. No fragmento acima, podemos observar que o substantivo
“adolescência” foi repetido duas vezes no primeiro parágrafo, uma vez no segundo e no sétimo
parágrafos, demonstrando, assim, que o produtor utilizou traços da oralidade para escrever o
seu texto. O termo “coisas” é repetido duas vezes na mesma estrutura frasal. Ao utilizá-lo de
forma repetida e sem fazer remissão a outro termo, o produtor deixa claro que lhe falta
argumentos apropriados.
O aluno fez uso do pronome oblíquo “os” no quarto e quinto parágrafos,
utilizando-o como elemento anafórico, ou seja, o pronome oblíquo “os” faz remissão a palavra
“pais”. Logo, podemos dizer que o aluno utilizou corretamente este elo coesivo. O pronome
indefinido “ninguém” é citado no quarto parágrafo, e este, não faz remissão a outros referentes
textuais, o que nos permite dizer que o aluno utilizou-o de forma inadequada. Já o pronome
indefinido “todos” grafado no quinto parágrafo refere-se ao vocábulo “adolescentes” exposto
no parágrafo anterior. Assim, podemos dizer que seu uso foi correto, uma vez que o pronome
indefinido “todos” exerce a função anafórica na estrutura superficial do texto.
O nome genérico “a gente” aparece apenas uma vez no corpo do texto e este não se
remete a nenhuma palavra dita anteriormente ou posteriormente. Refere-se a um termo
9
exofórico, ou seja, ao pronome “nós”, o que possibilita resgatar a coerência do texto, através
do conhecimento prévio do leitor.
Portanto, percebe-se que o aluno utilizou elos coesivos, e estes são citados com
maior frequência de forma inadequada. Essa repetição desnecessária demonstra traços da
oralidade na composição textual. O aluno desconhece outros tipos de coesões lexicais as quais
poderia utilizar para enriquecer o seu texto.
TEMA: Aquecimento Global
Texto II
Através da leitura do fragmento acima, podemos perceber a deficiência que essa
aluna tem na articulação das ideias, uma vez que fica difícil do leitor entender o que realmente
a produtora do texto quis dizer sobre o aquecimento global. Faltam nesta produção coerência e
coesão, itens fundamentais para que ocorra a aceitabilidade do recebedor (leitor).
Percebe-se que a aluna não possui conhecimentos suficientes acerca do tema. Há
várias repetições do mesmo item lexical, sendo elas, ocorridas indevidamente. O termo “não”
foi repetido no texto sete vezes. Há uma ocorrência no primeiro parágrafo e de seis no
segundo. O vocábulo “menos” é mencionado quatro vezes e o substantivo de nome próprio
“Deus” foi repetido duas vezes na mesma estrutura frasal.
A aluna citou no texto o nome genérico “coisa” e este se refere às coisas que Deus
criou, como: “plantas e animais”. Dessa forma, a palavra “coisa” está funcionando como item
de referência anafórica, pois diz respeito ao que foi dito anteriormente. Por conseguinte, a
aluna não utilizou outros termos coesivos pertencentes à coesão lexical pelo fato de
desconhecer os elementos responsáveis pela teia textual.
9
TEMA: Por que ensinar poesia na escola vale a pena.
Texto III
Esta produção textual apresenta várias ocorrências de itens lexicais repetidos no
interior do texto. Há cinco repetições do substantivo feminino “poesia”, três do vocábulo
“mais”, dois dos vocábulos “aprender”, “criar”, “pessoas”, “textos”, “sempre” e duas
ocorrências da conjunção “mas”. Através destas repetições, podemos deduzir que o escritor
não possui conhecimento de palavras pertencentes ao mesmo campo semântico, visto que, não
as utiliza.
Ao citar, no segundo parágrafo, o nome genérico “coisa”, o aluno utiliza-o como
elo coesivo, porque em seguida ele explica que a poesia é “um método que se usa para criar as
coisas, ou seja, textos com mais criatividade”. Logo, há nesta frase uma relação hiperonímica.
Já no último parágrafo, o termo “coisa” mencionado duas vezes na mesma estrutura frasal, não
vai estabelecer relação hiperonímica, pois o escritor não deixa claro a referência das palavras
citadas.
Assim, as retomadas desnecessárias recorrentes na superfície do texto, dificultam a
clareza das ideias, porque faz o leitor perder a referência principal do texto, há um amontoado
de frases desconexas que permanecem isoladas não possuindo condições de formar a coesão
textual.
V - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Através do que foi mostrado neste estudo, fica nítido que a maneira de guiar o
trabalho com a escrita é expressiva e essencial no desenvolvimento da aptidão de o aluno
produzir textos coesos e coerentes. Neste sentido, o texto deve apresentar uma união coerente
entre as expressões, parágrafos, períodos e orações; em que tudo circula em volta de uma ideia
central, empregando corretamente os elementos coesivos.
O trabalho procurou analisar os elementos coesivos lexicais na produção textual
dos alunos da sexta série (sétimo ano) do ensino fundamental, visando verificar se os mesmos
utilizam em seus textos palavras que retomam termos, articulando gramaticalmente os
conectores, ou seja, elementos coesivos em especial a coesão lexical.
Ao analisar os dados obtidos, constatamos que os alunos ao produzirem seus
textos, apresentaram marcadores sintáticos específicos que denotam coesão. No entanto, esses
marcadores sintáticos, na sua maioria, foram utilizados de maneira inadequada, uma vez que
os alunos citam elementos coesivos, mas os mesmos não fazem referência a nenhum item
exposto na estrutura textual o que faz com que o texto apresente incoerência tornando-o
cansativo e vago.
Percebemos nas redações analisadas que a maioria dos alunos utilizou várias
repetições do mesmo item lexical e essas repetições não fazem remissão a outros elementos
textuais, o que nos permite dizer que foram utilizadas de maneira imprópria no texto.
Constatamos, também, o uso de nomes genéricos “coisas” e “a gente” nas produções textuais e
estes são citados sem fazer referência a nenhum outro termo presente no texto, portanto, não
funcionam como itens de referência anafórica.
Podemos afirmar, com base na hipótese levantada, de que os “erros” referentes à
coesão textual são frequentes e ocorrem porque os alunos desconhecem o aspecto semântico, o
formal e os fatores pragmáticos da textualidade na produção textual, pois através das análises
dos textos percebemos que utilizam elementos coesivos, mas, na sua maioria, de forma
incorreta, o que nos permite afirmar que esses “erros” são frequentes porque os alunos
desconhecem os elementos coesivos que compõe a estrutura textual.
É importante que o professor trabalhe em sala de aula os elementos coesivos
responsáveis pela tessitura textual e que ele mostre para seus alunos a diferença da língua
escrita e da língua falada, para que os alunos possam ampliar seus repertórios de mecanismos
coesivos e construírem textos coerentes a fim de evitarem as marcas da oralidade, uma vez
que, nos textos analisados percebemos muita recorrência de traços da oralidade.
Outro fator fundamental que pode ajudá-los a produzir um bom texto é dar-lhes a
oportunidade de reformularem as suas produções textuais. A revisão de texto é uma espécie de
9
controle de qualidade da produção, e, sendo assim, é necessário que ocorra também durante o
processo de escrita e não somente após a conclusão do texto.
É essencial que o professor trabalhe a produção textual, de forma que o aluno
reescreva-a corrigindo os eventuais “erros” gramaticais e lexicais. É através da conscientização
dos problemas sintáticos e textuais realizada no instante da reescrita do texto que o aluno
construirá uma ótima produção de texto.
Depois da leitura e análise dos textos dos alunos, o professor obtém informações
para identificar as dificuldades que esses alunos possuem. É necessário que ele trabalhe em
sala de aula as questões gramaticais, pois não há como elaborar textos sem gramática e não
existe gramática se não for para a elaboração de texto.
Portanto, é importante que o professor estabeleça roteiros de trabalhos que devem
ser realizados numa sequência didática, instruindo-os a avaliar sua produção textual a partir de
critérios esclarecidos e a refazê-la quando for preciso até conseguir o resultado satisfatório.
Assim sendo, aprofundar uma discussão sobre coesão na produção textual, seria
motivo de uma nova pesquisa. Portanto, compete ao leitor, em presença dessas observações,
ampliá-las, discuti-las, vencê-las e torná-las essenciais. Esperamos que a pesquisa contribua
para a criação de novos métodos para o ensino de Língua Portuguesa na modalidade escrita.
Um trabalho que aprecie as novas teorias sobre a elaboração do texto poderá ser de muito
proveito, já que o que prevalece no ensino de elaboração de textos é uma visão bastante
arcaica.
REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Luiza M e PONTARA, Marcela. Gramática: texto: análise e construção de
sentido. Volume único. São Paulo: Moderna, 2006.
BASTOS, Lúcia Kposchitz. Coesão e coerência em narrativas escolares. 1 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1994.
BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. 1 ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2006.
BENEMANN, Jacob Milton e CADORE, Luís A. Estudo dirigido de Português. 9 ed. São
Paulo, Ática, 1977.
9
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2 ed. São Paulo. Martins Fontes,
1999.
CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 4
ed. Rio de Janeiro: Lexikon Editora Digital, 2007.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e Coerência textuais. São Paulo: Ática, 1993.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1995.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 16 ed. Rio de Janeiro: Editora da
Fundação Getulio Vargas, 1995.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 11 ed. São Paulo: Ática, 1999.
KOCH, Ingedore G. Villaça e ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. 2
ed. São Paulo: Contexto, 2006.
KOCH, Ingedore G. Villaça. A coesão textual. 6 ed. São Paulo: Contexto, 1993.
KOCH, Ingedore G. Villaça e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 9.ed.
São Paulo: Contexto, 1999.
KOCH, Ingedore G. Villaça e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 13 ed. São
Paulo: Contexto, 2001.
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