ANÁLISE DE BACTÉRIAS INDICADORAS DE POLUIÇÃO FECAL EM ÁGUAS DE POÇOS LOCALIZADOS NA CIDADE DE ANASTÁCIO-MS Antonio Flávio Arruda Ferreira1; Nanci Cappi2; Tânia Mara Baptista dos Santos2 1 Estudante do curso de Agronomia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana ; E-mail: [email protected] . 2 Professora do Curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana; E-mail: [email protected]. 2 Professora do Curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana; E-mail: [email protected]. Resumo Objetivou-se avaliar, o NMP/100mL (Número Mais Provável) de coliformes totais (CT) e fecais (CF), a concentração de alcalinidade total, cloreto o pH e a condutividade elétrica (CE) em águas de doze poços rasos localizados na cidade de Anastácio-MS, no verão e inverno/09. Os resultados indicaram contaminação por bactérias do grupo coliformes superior a 30 bactérias/100 mL, concentração de alcalinidade reduzida, pH ácido inferior a faixa estabelecida para consumo humano, elevados valores de CE e concentrações de cloretos superiores a VMP (Valor Máximo Permitido) para consumo humano. As concentrações de alcalinidade e de cloreto os valores de pH e de CE, em todos os poços, apresentaram o mesmo comportamento nas duas estações e não sofreram influência da sazonalidade, este efeito foi observado somente no NMP/100 mL de CF. Observou-se que os doze poços analisados são do tipo raso e não apresentaram adequadamente fatores de proteção como parede externa acima do solo, tampa, cobertura externa e calçamento no entorno, bem como pouca distância poço-fossa, fatores capazes de evitar a contaminação externa de suas águas. Palavras-chaves: Contaminação, cloreto, coliformes fecais, fatores de proteção. Introdução A água é uma necessidade universal e suas alterações em termos de qualidade podem ameaçar a sobrevivência dos seres vivos no planeta. Nas ultimas décadas o crescimento populacional acelerou o desenvolvimento de áreas urbanas e conseqüentemente aumentou a demanda por água potável. Em ambientes urbanos o aspecto sanitário tem sido um dos maiores desafios para a administração pública e para a sociedade, uma vez que possui ligação direta com todas as demais atividades de atendimento ao público, interferindo diretamente na saúde e no bemestar social. Inúmeras doenças vinculadas à falta de saneamento básico e formas inadequadas de uso e ocupação do solo, podem implicar na volta da ocorrência de doenças já anteriormente controladas, exigindo, portanto, medidas preventivas mais severas, possibilitando a melhoria nas condições de moradia e conseqüentemente refletindo na qualidade de vida dessas comunidades. Diversos fatores podem comprometer a qualidade da água subterrânea. O destino final do esgoto doméstico e industrial em fossas e tanque sépticos, a disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos e industriais, postos de combustíveis e de lavagem e a modernização da agricultura representam fontes de contaminação das águas subterrâneas por bactérias e vírus patogênicos, parasitas, substâncias orgânicas e inorgânicas (SILVA e ARAÚJO, 2003). O subgrupo coliformes fecais está constituído principalmente por Escherichia coli, e sua detecção indica, com certeza, que houve poluição fecal provenientes de fezes humanas, de animais de sangue quente. Se há contaminação fecal é muito provável que bactérias patogênicas intestinais estejam presentes (DEMAE, 2001). Em conseqüência da demanda crescente do uso das águas subterrâneas em áreas urbanas, objetivou-se avaliar o número mais provável de bactérias do grupo coliformes, a concentração de alcalinidade total, cloreto o pH e a CE em águas de poços localizados na cidade de Anastácio. Materiais e métodos O trabalho foi desenvolvido na área urbana do Município de Anastácio, localizado na porção centro-sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul, na Microrregião geográfica de Aquidauana – MRG 002 à 143 quilômetros de distância da capital do Estado. As amostras destinadas às analises de cloretos e alcalinidade foram coletadas em frascos de polietileno, e analisadas pelo método titulométrico APHA (1995). O pH e a CE foram analisadas in loco através dos equipamentos portáteis, pHmeter Model 420ª e Condutivímetro PHTEK-CD203. As amostras para a análise de coliformes totais e fecais foram coletadas em frascos de vidro de 250 mL esterilizados e acondicionadas em caixa térmica transportada para o laboratório e analisadas no mesmo dia, por meio da técnica de Tubos Múltiplos e os resultados expressos em NMP/100 mL de coliformes totais e fecais, com base na metodologia descrita por SOARES e MAIA (1999). Resultados e Discussão Das vinte e quatro amostras analisadas (Tabela 1), todas apresentaram bactérias do grupo coliformes. Visto que, mesmo as amostras que apresentaram menos de 30 bactérias por 100 mL não significa ausência de contaminação, apenas que o número de bactérias encontrado não atingiu a sensibilidade do método, portanto, a possibilidade de contaminação existe. O Art. 11 da Portaria 518 MS (BRASIL, 2004), estabelece que em amostras individuais de água de poço sem distribuição canalizada, tolera-se a presença de CT, na ausência de CF (termotolerantes). Considerando que as águas desses poços são consumidas sem nenhum tipo de tratamento prévio, a presença de bactérias em todas as coletas torna a água imprópria para o consumo humano. Observou-se elevado NMP/100 mL de bactérias, em pelo menos uma amostra em todos os poços nas duas estações, com exceção dos poços 1 e 7 que apresentaram menos de 30 bactérias (CT e CF) nas duas estações analisadas. Esses resultados são semelhantes aos encontrados por COLVARA et al (2009) que analisou amostras de água subterrâneas no sul do Rio Grande Sul e encontrou todas as amostras contaminadas por CT e 70% por CF. A sazonalidade influenciou somente no NMP/100 mL de CF, em média com 125 bactérias no V/09 e reduzindo para 57 no I/09, contrariando os resultados encontrados por CAPPI, CARVALHO e PINTO (2006) que observaram elevados valores de CT e CF em água de poços rasos no verão e reduzidos no inverno. V/09 I/09 NMP/ 100 mL Pontos de Coleta P1 P2 P3 CT 30 2400 2400 CF 30 930 30 CT 30 4600 1500 CF 30 230 30 P4 P5 P6 930 90 30 P7 40 30 P8 P9 P10 P11 P12 Médias Estações Tabela 1 – Número mais provável de Coliformes Totais e Fecais encontrados nas águas dos poços na cidade de Anastácio no verão/09 e inverno/09. 2400 150 90 280 40 740 90 70 40 150 40 125 30 30 30 930 30 30 30 430 4600 210 24000 30 3035 30 30 30 30 57 30 30 30 70 110 V: Verão I; Inverno; CT: Coliformes Totais; CF: Coliformes fecais As concentrações de alcalinidade total foram reduzidas em todos os poços. Os valores mais elevados ocorreram nos poços 4, 9 e 12 no V/09 e I/09 (Figuras 1A e 1B). Os valores de pH em todas as amostras apresentaram-se ácido (inferiores a 6) e fora da faixa estabelecida para consumo humano (BRASIL, 2004). Os valores superiores foram observados nos poços 4, 9 e 12. Os valores de CE foram elevados nos mesmos poços que apresentaram concentrações de cloretos elevadas (Figuras 1C e 1D). Com exceção do poço 6 que apresentou as concentrações mais elevadas, os demais ficaram próximo do valor máximo permitido de 250 mgL-1 (BRASIL, 2004). Observou-se que no I/09 as concentrações de cloretos foram elevadas nos poços 1, 3, 4, 6, 10 e 11 superior ao valor máximo permitido e reduzido nos demais. Logo, a exemplo das concentrações de alcalinidade e dos valores de pH, as concentrações de cloreto e os valores de CE, não sofreram influência da sazonalidade em todos os poços analisados. 6 100 4 50 8 6 4 50 2 2 0 0 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Poços Poços Alcalinidade pH B 1200 1000 800 600 400 200 0 4 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Poços Cloreto CE C mgL-1 3 mScm-1 mgL-1 A pH 1200 1000 800 600 400 200 0 4 3 2 mScm-1 Alcalinidade pH 150 mgL-1 100 8 pH mgL-1 150 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Poços Cloreto CE D Figura 1- Valores de alcalinidade e pH no verão /09 (A) e inverno/09 (B); cloreto e condutividade elétrica no verão /09 (C) e inverno/09 (D). Observou-se que a inexistência de vários fatores de proteção pode ser responsável pela contaminação das águas desses poços como: falta de manutenção da estrutura do poço (caixa externa, tampa, parede interna, calçada no entorno), pouca distância poço-fossa, falta de cobertura para proteger da chuva e do escoamento superficial, esgoto doméstico a céu aberto, depósito de lixo e a falta de condições higiênico-sanitárias no sistema de captação da água como a utilização de baldes e latas reutilizadas, fatores importantes para evitar a contaminação das águas subterrâneas. Conclusão Todos os poços estudados apresentaram contaminação por bactérias do grupo coliformes, concentrações de alcalinidade reduzidas, concentrações de cloretos e CE elevados e pH ácido fora da faixa estabelecida para consumo humano. A sazonalidade não influenciou nas concentrações de alcalinidade e cloretos e nos valores de pH e CE, somente no NMP/100 mL de CF. A contaminação das águas dos poços pode ter origem na inexistência de proteção e na localização dos poços. Referências APHA. Standerd methods for examination of water and wastewater.1995. 18 th ed. Washington, APHA/AWWA/WPCF. p. irrg. BRASIL - Ministério da Saúde. 2004. Portaria Nº 518, de 25 de março de 2004. DOU. Nº 59. Seção 1. p.266. Brasília-DF. Cappi, N; Carvalho, E. M. de & Pinto, A. L. 2006. Influência de uso e ocupação do solo nas características químicas e biológicas das águas de poços na bacia do córrego Fundo, Aquidauana, MS. In: SIMPÓSIO DE GEOTECNOLOGIAS NO PANTANAL, 1. Campo Grande. Anais. Campo Grande: Embrapa Informática Agropecuária/INPE. p. 38-46. Colvara, J. G; Lima, A. S. de. & Silva, W. P. de. 2009. Avaliação da contaminação de água subterrânea em poços artesianos no sul do Rio Grande do Sul. Brasilian Journal of food Tecnology. p. 11 a 14. Disponível em: http//www.ital.sp.gov.br/bj. (último acesso em 30/02/2010) DEMAE – Departamento Municipal de Água e Esgoto. 2001. Monitoramento das águas do Delta e foz dos rios formadores do Guaíba. ECOS Pesquisas. Porto Alegre, n° 5, ano 2, 61p. Silva, R. C. A. & Araujo, T. M. 2003. Qualidade da água do manancial subterrâneo em áreas urbanas de Feira de Santana (BA). Rev Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v 8, n4, p.1019 – 1028. Soares, J. B. & Maia, A.C.F.1999. Água: Microbiologia e tratamento. Editora UFC: Fortaleza, p.85-95.