Avaliação ou Cegueira Responsável Já há algum tempo a visão a respeito da Responsabilidade Social vem sofrendo mudanças: no início de seus estudos, esta era encarada como um simples donativo e sem preocupação de onde iria ser investido. Em meados da década de 90, este conceito começou a evoluir de uma simples função assistencialista para uma posição mais rebuscada na sociedade, tornando-se autosustentável e afirmando – cada vez mais - a incorporação do papel do Estado pelo Privado. Hoje, podemos ver mais algumas mutações deste conceito, que cada vez mais se aproxima da estrutura empresarial tradicional. Um exemplo disso é o trabalho voluntário remunerado e, mais recente, o início da introdução de programas de avaliação de desempenho por parte de seus colaboradores. Esta tendência é ruim? Não sei dizer, mas vamos tentar pensar de forma mais concreta. Quando vamos vender ou comprar algo, temos que ver as qualidades e deficiências dos produtos no qual estamos investindo o nosso dinheiro, para depois efetuarmos a sua aquisição. Usando esta analogia, poderemos perceber que, se não houver avaliações onde estamos investindo, não terão como agregar valor algum ou mensurar este retorno para futuros reinvestimentos. É o que poderíamos chamar de Cegueira Responsável, o que muitas empresas praticam, achando que estão tendo retorno a partir de investimentos sociais sem controle de seus projetos. O que ocorre, sem a percepção destas, é o não retorno deste investimento ou a possível associação de suas marcas a projetos de efeitos duvidosos ou sem efeitos concretos, causando um efeito reverso. Um exemplo deste mau investimento é o citado pela revista exame: “Desde a década de 60, a Petrobrás tem perfurado poços no cenário nordestino para a exploração de petróleo, a um custo que varia de 50.000 a 250.000 reais. Não raro, em vez de petróleo, encontrou-se água. O projeto Chafariz foi criado justamente para aproveitar alguns poços de água potável para a população local, um investimento que pode chegar a 200.000 reais por poço construído. Em 40 anos de existência, o projeto foi responsável pela a abertura de 48 poços. Muitos acabaram fechados por falta de apoio das prefeituras. Com a ajuda de consultores, a Petrobrás reestruturou suas ações e estabeleceu metas: reativar 200 poços em 3 anos e atender 27.000 pessoas. Além dos benefícios relativos à criação de empregos e à geração de renda”. Para sermos mais exatos, dos 60% das empresas que desenvolvem ou apóiam atividade social no país, apenas 2% monitoram ou avaliam os recursos que foram investidos nestas ações. Logo, podemos concluir que este não é o único exemplo de boa intenção que não deu nem em água. Se formos analisar de forma organizacional, qual foi custo para este retrabalho? Qual o efeito deste programa para a empresa ou sociedade? Como em tudo, aspectos de tempo e retrabalho são custos (dinheiro) que poderiam ser investidos em outras áreas ou na expansão do projeto. Assim, para que a empresa não entre na condição de “cega Responsável”, é necessário a quebra da visão de que avaliação de resultados leva ao “lado negro” do lucro e de que o Social deve estar numa posição ímpar do “lado da força”. Visão que deveria ser revista. Pois, como o nome diz: Responsabilidade Social, ou seja, esta deve estar inserida/ fazendo parte da sociedade e não imaculada pelos filósofos. Portanto, inserir métodos empresariais em projetos sociais deve ser visto como um avanço de um conceito ainda atrelado a um tabu e preso pelo freio do desconhecimento. Mas nem tudo está perdido... Os Balanços Sociais das Grandes Empresas vêm aprimorando suas medições e reavaliando seus indicadores de sucesso.