P O RT & E X P O RT China: o retorno à liderança mundial Carlos Tavares de Oliveira* O s historiadores universais já são unânimes em reconhecer que a China até o século 18, após 8 mil anos de idade e 5 mil de civilização, sempre com a maior população, – no auge da prosperidade, na dinastia Qing, dos imperadores Kangxi, Yongzheng e Qialong, – era a principal nação do planeta. Agora, são os observadores econômicos que consideram a China pronta a superar os Estados Unidos e tornar-se a maior potência mundial. As datas variam, e a média das opiniões sobre essa ascensão não passa de 2020. Alguns economistas, porém, como também certas pesquisas, assinalam que isso já ocorreu, com o gigante asiático, de fato, retornando à liderança perdida há mais de dois séculos. Recente pesquisa do Instituto Pew revela que 47% dos americanos já consideram a China a maior potência econômica, ficando em segundo os EUA, com 31%. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), pela paridade do poder de compra – que mede a real qualidade de vida do país – somente em 2016 a China ultrapassará os EUA. Mas o professor Robert Feenstra, da Universidade da Califórnia, acha que essa passagem ocorrerá em 2014. No entanto, para o pesquisador Arvind Subramanian, do Instituto Petersen para Economia Internacional, pelo sistema de paridade, isso já aconteceu em 2010, com a China registrando Produto Interno Bruto de US$ 14,8 trilhões, contra US$ 14,6 trilhões dos EUA. Em recente publicação, a agência inglesa Economist Intelligence, projetou crescimento médio de 5,7%, até 2027, para economia chinesa, com o PIB chegando a US$ 41,60 trilhões. No mesmo período, com expansão média de apenas 2,4%, o PIB americano totalizará US$ 31,93 trilhões. São tantos os impressionantes resultados da economia chinesa e de outras importantes áreas, como a educação, que se torna difícil uma seleção para este reduzido espaço. Começando pelo comércio exterior, navegação e portos – a especialização da coluna – a China mantém a liderança nos três setores e deve 66 PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2011 ampliá-la no corrente exercício. Até agosto, a balança comercial somou US$ 2,35 trilhões, com exportações subindo 23% para chegar a US$ 1,22 trilhão e importações de US$ 1,13 trilhão, com crescimento de 27%. Nesse ritmo até surpreendente, sem tomar conhecimento da crise e permanecendo como locomotiva da economia mundial, no final do ano a China, mantendo-se em primeiro no ranking, deverá apresentar balança com o total recorde em torno de US$ 3,5 trilhões, com exportações de US$ 1,8 trilhão e importações de US$ 1,7 trilhão. Dispõem os chineses da maior frota mercante, com 4.179 navios, somados os de Hong Kong. Assim, além de reduzir as despesas em divisas com os fretes (exportação/ importação), ainda ganha dólares vendendo espaço em seus navios para carga de outros países. Na parte dos portos também é líder, possuindo 7 entre os dez maiores do mundo, inclusive os dois primeiros. Em 2010, Xangai movimentou 650 milhões de toneladas de carga e Ningbo, em segundo, registrou 627 milhões/t. No total, a rede abrange 419 portos marítimos e 355 fluviais, movimentando ao todo (tráfego interno e externo) 8 bilhões de toneladas. Melhorando a estatística e colaborando com a distribuição da exportação do país, a empresa privada Hutchison Port Holding (do bilionário chinês Li Ka-shing) possui a maior cadeia internacional de terminais, com filiais em 51 portos de 25 países, controlando mais de 10% da movimentação mundial de contêineres. Ainda nessa área, no setor da construção naval, neste ano a China assume a liderança, superando a Coréia do Sul e o Japão, com o crescimento de produção de navios nos novos estaleiros de Waigaoqiao, em Xangai, e o de Tianjin. Por seu turno, há anos a A fábrica Zhenhua tem frota própria para instalar suas pontes rolantes em qualquer porto do mundo P O RT & E X P O RT famosa fábrica Shanghai Zhenhua Heavy Industries Co. (ZPMC) é a maior produtora de pontes rolantes, que equipam 78% do sistema portuário internacional, em 76 países. Em decorrência desses trinta anos de abertura para economia de mercado, com os saldos acumulados, o montante de reservas chinesas chega ao fantástico total estimado em 3,5 trilhões de dólares. Nesse ponto, em clara demonstração do processo de transferência de liderança – registrando situação impensável anos atrás – a maior parte desse montante é devida pelos EUA: US$ 1,1 trilhão em bônus do Tesouro e outro trilhão em dólares. O saldo restante é composto por euros. Em agosto, procurando amenizar essa humilhante posição, o vice-presidente Joe Biden esteve em Pequim, com dirigentes chineses, pedindo paciência e confiança na economia americana. Para agradar, afirmou que os EUA “não apoiam a independência de Taiwan e concordam que o Tibete é parte inseparável da China”. Enquanto a China goza desse considerável saldo de reservas, a dívida dos “ricos” países industrializados (todos do G7) segundo o FMI, totaliza US$ 41,2 trilhões, e os EUA à frente com US$ 15,1 trilhões. Os maiores bancos mundiais são o Industrial e Comercial da China (capital de US$ 246 bilhões) e o da Construção da China (capital de US$ 191 bilhões). Os chineses dispõem da maior produção mundial de ouro, e de suas minas, em 2010, saíram mais de 340 toneladas do metal. Transformando as reservas em bens, tornouse a China um dos principais países investidores, com aplicações que, em 2010, somaram US$ 67,8 bilhões. Recentemente, em outro fato impensável no passado e agora comum, delegação comercial com 200 empresários chineses da Província de Zhejiang, visitando Indiana, nos EUA, deixou aplicados US$ 364 milhões, criando 1,3 mil empregos. Registrando crescimento de 18%, contando, evidentemente, com as entradas nas Regiões de Hong Kong e Macau – apresentadas separadamente no ranking da Organização Mundial de Turismo – este setor da China receberá até o final do ano mais de 100 milhões de turistas, proporcionando renda superior a US$ 50 bilhões. Paralelamente, demonstrando a elevação do respectivo poder aquisitivo, os chineses já estão em 3º no ranking mundial de turistas, considerados os que mais gastam na França. A Região-cidade de Macau, com seus luxuosos 33 cassinos, tornou-se o maior centro mundial do jogo, cujo faturamento, em crescente expansão, no final do ano, totalizará cerca de US$ 30 bilhões, três vezes superior ao de Las Vegas. E note-se que, os 35% de tributos cobrados são exclusivamente aplicados na educação e saúde. Na parte agropecuária ocorre fato interessante, de vez que a China é ao mesmo tempo a maior pro- A bela Hong Kong há 14 anos vem sendo eleita “a cidade com a economia mais livre do mundo” (Fundação Heritage/ Wall Street Journal, EUA) dutora e importadora mundial de cereais. Apesar das 540 milhões de toneladas da safra de 2010 – o dobro da americana e cinco vezes a brasileira – ainda importa milhões de toneladas de grãos (soja, trigo, etc.). Maior exportador dessas commodities, os EUA vão fechar o ano com a exportação recorde de 7 milhões/t de milho para a China. Aliás, naquela visita acima mencionada, Biden foi tranqüilizado pelo vice-presidente Xi Jinping (talvez o próximo presidente) ao declarar que a China vai importar US$ 8 trilhões dos EUA nos próximos cinco anos. Na pecuária a situação é semelhante, com o maior rebanho (mais de 500 milhões de cabeças, entre bois, carneiros, cabritos, etc.), a China tornou-se, também, o principal importador de carnes, incluindo a de frango. Fruto da providencial abertura da economia, atualmente mais de 80% das empresas chinesas pertencem ao setor privado, oferecendo também percentual idêntico de empregos. Em extraordinário crescimento de 20%, no primeiro semestre foram criadas mais 1,1 milhão de novas empresas privadas, que, até 2010, eram 7 milhões registradas. Na China existem agora 146 bilionários e 960 mil milionários. Na área cultural, aproveitando a vantagem populacional, a China tem o maior número de pessoas alfabetizadas (quatro vezes mais que os EUA), como também muito mais professores, médicos e engenheiros. Como maior centro educacional, dispõe de 2 mil universidades, com 35 delas entre as 500 melhores do mundo. Os gastos com a educação correspondem a 3,6% do PIB chinês, percentual que subirá para 4% em 2012. Dispõe também da maior rede mundial de telefonia e de internet, com 1,1 milhões de usuários de telefones e 485 milhões de internautas, gozando de plena liberdade. Neste ano, comprovando sua escalada expansionista, entre 25 países melhor colocados, mantém-se a China na liderança do ranking, apresentando crescimento econômico de 9,6% (Banco Mundial/OCDE). O Brasil ficou em 22º lugar (com 3,1%) e os EUA não aparecem na lista. n Jornalista e assessor de comércio exterior da CNC PORTOS E NAVIOS OUTUBRO 2011 67