2008 – ajustes, não rupturas radicais Vivemos nestes últimos cinco anos, 2003-2007, um dos mais notáveis ciclos de crescimento da economia mundial. Outros períodos notáveis observaram-se nos últimos cem anos. Mas as escalas que temos presenciado não têm precedentes históricos. O Produto Mundial Bruto (PMB) superou a notável marca de US$ 50 trilhões. Os investimentos globais alcançaram US$ 12 trilhões, um trilhão de dólares a cada mês. Os estoques de ativos captados pelos bancos de todo o mundo ultrapassaram US$ 185 trilhões, mais que o triplo do PMB, definindo um nível de liquidez global jamais alcançado. Nas bolsas de valores, o valor de mercado das ações superou US$ 55 trilhões, ultrapassando pela primeira vez na história do capitalismo mundial o valor do PMB. E os investimentos dos fundos de private equity se aproximam de US$ 500 bilhões, indicando uma aposta sem precedentes na dinâmica de crescimento do mundo corporativo. O Brasil não ficou à margem desse ciclo. O crescimento do PIB do país descreveu uma trajetória ascendente. No biênio 2003-2004, ainda em processo stop and go, a média de crescimento foi de 2,4%. Já no último triênio evoluiu para 2,9% (2005), 3,7% (2006), fechando em mais de 5% em 2007. Os investimentos em relação ao PIB também aumentaram: de uma média de 15,5%, para 16,3% (2005), 16,8% (2006) e 17,5% neste último ano. Depois de mais de quinze anos estagnado, o crédito às pessoas físicas desgarrou-se de taxas próximas a 6% do PIB (2003) aproximando-se de 10% neste último trimestre. Por fim, somem-se a esses bons resultados, o desempenho do setor externo, com altos níveis de acumulação cambial. Mas, em 2008, quais as chances desses resultados se repetirem, no mundo e no Brasil? Nossa visão aponta para o meio termo, entre a descontinuidade traumática e a sustentação sem qualquer ajuste do ciclo expansionista. No mundo, há preocupações com o estado macroeconômico dos Estados Unidos e com as ameaças que pairam sobre seus mercados. Também não se devem desprezar as forças que poderão antepor-se ao vigor asiático, via barreiras protecionistas às super-ofertas da China. Tão pouco se devem desconsiderar as pressões globais sobre os preços básicos. Mas, em contrapartida, destacamos quatro fatores positivos: 1) a convicção de que ajustes mais vigorosos nos Estados Unidos só virão, se vierem, em 2009, em novo ciclo presidencial; 2) a firme atuação dos grandes bancos centrais, que têm atuado conjuntamente para manter a solvabilidade do sistema financeiro; 3) a expectativa de que, mesmo sofrendo barreiras externas, a China têm muito ainda por fazer internamente; e 4) além da China, outros seis países emergentes, que compõem o bloco E-7, têm projetos centrados em seu crescimento interno, a ponto de já se projetar para daqui a dez anos a superação do G-7 pelo E-7, quanto às dimensões somadas de suas economias. A dimensão alcançada pela economia no último ano confere ao país um bom posicionamento nos índices de atratividade Quanto ao Brasil, são também várias as condições que jogam a favor. Apontamos essas: 1) a dimensão alcançada pela economia, que neste ano ascendeu à posição de décima maior do mundo, o que lhe confere bom posicionamento nos índices de atratividade; 2) a boa gestão macroeconômica; 3) o bom desempenho das contas cambiais, tanto nas transações correntes, quanto nos movimentos de capital; 4) a higidez do sistema financeiro, com consistente reativação do mercado de capitais; 1 5) a ocorrência de duas valorizadas condições naturais - a diversidade de fontes de energia e a disponibilidade de materiais básicos; e 6) o fim da CPMF, pelo seu significado e pelas suas. O fim da CPMF abre uma nova fase no país, quanto às relações entre o governo e a nação. Após anos de aumento da carga tributária e de criação de novos impostos, por fim uma contribuição que nasceu para ser provisória não terá mais continuidade. Isto obrigará o governo a rever sua política fiscal e a entender que, como um agente econômico como outro qualquer, precisa lidar com a escassez de recursos e com sua alocação eficaz. A mesma com que se defrontam todos os demais agentes econômicos nacionais. E há mais: os R$ 40 bilhões estarão sendo administrados por milhões de pessoas físicas e jurídicas, que certamente pautam sua vida econômica pela melhor destinação dos recursos com que contam. Somente no universo das 500 maiores empresas do país, os fluxos de caixa serão aumentados em R$ 8 bilhões - recursos que, em grande parte, financiarão projetos de expansão. Obviamente perduram ainda preocupações no país, são exemplos a paralisia nas reformas, as deficiências em infra-estrutura, os custos institucionais e as condições sociais. Mas as perspectivas não são de forma alguma desalentadoras. Há justificadas razões para crermos em expansão do PIB em 2008 no intervalo de 4 a 5%; em sustentação dos baixos índices de inflação, ainda que para isto o Banco Central possa interromper a trajetória de baixa da Selic; em discreta recuperação da taxa de câmbio; e em resultados positivos da balança comercial, embora menos brilhantes que no último quadriênio. Mas nada que signifique rupturas radicais. É um ano para estarmos atentos a ajustes, mas não para desacelerações abruptas. A navegação deverá ser cautelosa, mas a diretriz é tocar o barco para frente, com firmeza no leme e olhos vigilantes. Não há porque lançar âncoras. Os que as lançarem serão ultrapassados. Fonte SOARES, Rinaldo Campos. 2008 – ajustes, não rupturas radicais. Valor Econômico, São Paulo, 09 jan. 2008. Disponível em: <http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=404519>. Acesso em: 14 abr. 2008. 2