Boas expectativas para 2006: as razões da reversão

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Boas expectativas para 2006: as razões da reversão
A divulgação das estimativas preliminares do crescimento econômico do Brasil no
terceiro trimestre de 2005 surpreendeu muito mais pelo tamanho da variação
negativa do PIB do que pela confirmação do desaquecimento. Diante dos números
revelados, refizeram-se as projeções para 2005 e, na esteira da generalizada
insatisfação com os números do PIB, foram também reajustadas para baixo as
expectativas do mercado para 2006, em meio a críticas contundentes aos
fundamentos da gestão macroeconômica.
As reações do mercado são compreensíveis, mas não inteiramente justificáveis. Em
2005, novamente o crescimento econômico do Brasil ficará inferior à média
mundial, de 4,3%. A expansão econômica brasileira será bastante próxima da dos
países desenvolvidos, estimada pelo Global Economic Outlook do FMI em 2,5% ,
mas bem inferior à dos países emergentes e em desenvolvimento, de 6,4%.
Existem, porém, condições efetivas para maior crescimento em 2006, no mínimo
próximo da média mundial, estimada para o intervalo de 4 a 5%.
Há um bom conjunto de razões em que se apóiam nossas expectativas.
Começaremos pelas condições mundiais. Em seguida destacaremos as do país.
A economia mundial atravessa um momento de rara convergência de bons
resultados. As dimensões econômicas do mundo superaram em 2005 a marca dos
US$ 40 trilhões. O crescimento sustenta-se em níveis discretamente superiores à
média dos últimos cinqüenta anos, mas gerando uma expansão absoluta sem
precedentes históricos: os 4,3% de expansão, aplicados ao Produto Mundial Bruto
(PMB), significam US$ 1,72 trilhões, ou seja, mais de duas economias do tamanho
da do Brasil. Os fluxos mundiais de comércio de mercadorias e serviços superaram
a barreira dos US$ 10 trilhões anuais, alcançando 25% do PMB, a mais alta relação
da história econômica. O crescimento das correntes do comércio global mantém o
ritmo de 8% ao ano, duas vezes maior que o crescimento da produção global,
indicando o vigor com que se mantém o processo de desfronteirização de
mercados. O total dos investimentos produtivos em 2005 deve ser de 23% do PMB,
o que significa a impressionante cifra de US$ 9,2 trilhões, ou seja, US$ 25,2 bilhões
a cada dia corrido – ou a fantástica média de US$ 1,1 bilhão a cada hora.
Jamais se registraram números desta ordem. E, tão ou mais importante que a
magnitude deles é o fato de estarem sendo puxados por países emergentes,
condição que se espera continuar nos próximos anos. Para 2006, as projeções
apontam para uma expansão de 5,9% na África, 4,6% na Europa Central e
Oriental, 4,2% na América Latina e Caribe, 6,1% na Ásia emergente, com destaque
para três países de grandes dimensões territoriais, demográficas e econômicas – a
Rússia, com 5,3%, a Índia, com 6,5% e a China, com 8,5%. Estas notáveis
expansões projetadas não deverão impactar a inflação global, nem há prenúncios
de ataques especulativos que contagiem a ordem econômica mundial.
No Brasil, cabe registrar pelo menos quatro aspectos conjunturais positivos, que
justificam a redução do risco país para o seu mais baixo nível histórico: 1. O saldo
da corrente de comércio exterior para níveis próximos de US$ 200 bilhões anuais,
com geração do mais alto superávit comercial alcançado pelo país, superior a US$
40 bilhões; 2. a estabilização da dívida externa nos últimos cinco anos, seguida de
trajetória de redução no último biênio; 3. a reversão do processo de expansão da
dívida líquida do governo em relação ao PIB; e 4. a sustentação do ingresso de
investimentos estrangeiros diretos. A esses macro-indicadores adicionamos mais
quatro, relacionados à vitalidade no ambiente de negócios: 1. A reversão, em 2005,
da tendência de queda, observada nos últimos quinze anos, do número de
empresas abertas e do lançamento de ações em nosso mercado de capitais; e 2. a
1
boa recuperação das margens na indústria de base e na maior parte das cadeias
produtivas; 3. o novo recorde da safra de grãos, que deverá totalizar 125 milhões
de toneladas; e 4. as escalas de produção e as vantagens competitivas do país para
atender ao suprimento dos grandes emergentes.
Não há, assim, razões plausíveis para acreditarmos em crescimento pífio em 2006.
Em 2005, a expansão econômica foi sacrificada para a consolidação do processo de
controle da inflação, que será a mais baixa do período 2001-2005. Já em 2006, um
conjunto de fatores poderá puxar o crescimento para cima: 1. A continuidade da
expansão global; 2. a maior flexibilidade na execução dos orçamentos públicos em
ano de eleições estaduais e presidencial; 3. a trajetória de redução gradual dos
juros, tendo em vista a inexistência de resíduos que possam contaminar os preços
em 2006 e as pressões por uma política monetária expansionista, que estarão
sendo exercidas pela comunidade empresarial e por lideranças políticas, que
ganharam maior força diante do insatisfatório crescimento da economia neste
último trimestre; e 4. o provável realinhamento da taxa cambial, mantendo os
resultados das transações correntes do balanço de pagamentos.
Não desconsideramos os efeitos que a turbulência política possa causar no bom
andamento da economia. Mas acreditamos que o seu impacto maior deverá ser a
revisão de costumes enraizados em nossa estrutura político-partidária. Uma revisão
que poderá levar a um conjunto de reformas institucionais que dêem sustentação a
um ciclo de crescimento sustentado, na esteira dos bons resultados que podem ser
esperados em 2006.
Fonte
SOARES, Rinaldo Campos. Boas expectativas para 2006: as razões da reversão.
Disponível
em:
<http://www.cosipa.com.br/Pagina/0,3379,17-21316821,00.html>. Acesso em: 04 abr. 2006.
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