A ação do empreendedorismo como mola propulsora

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A AÇÃO DO EMPREENDEDORISMO COMO MOLA PROPULSORA
DA ECONOMIA NO INÍCIO DO SECULO XXI
Paulo Cezar Ribeiro da Silva
Mestre em Administração – FGV/RJ
Coordenador da Empresa Júnior FABAVI Vitória
RESUMO:
Trata de descrever e analisar o conceito de empreendedorismo no mundo dos negócios e
a importância do empreendedor como um agente de mudanças inovadoras, significando
o “motor da economia” para o início do século XXI.
Palavras-chave:
Empreendedorismo. Empreendedor. Inovação
O empreendedorismo vem sendo abordado de diversas formas por diferentes autores ao
longo de sua história. Isso ocorre porque o tema tem sido objeto de estudo das mais
diversas áreas das ciências humanas como a Economia, Administração, Psicologia,
Sociologia, dentre outras. Embora renomados economistas venham há mais de um
século afirmando que o empreendedorismo é uma das mais importantes forças
dinâmicas capazes de moldar a paisagem econômica atual, as causas e os impactos
desse fenômeno são ainda muito mal compreendidos (GEM, 2002). É um campo de
pesquisa recente, com suas bases teóricas e empíricas ainda em fase construtiva,
apresentando uma série de aspectos nebulosos, no entanto fecundos, pois novos
parâmetros e estudos surgem todos os dias. Para Freire (2001), a larga abrangência de
interesses sobre o empreendedorismo indica um campo de conhecimento ainda sem
contornos nem regiões internas nítidas, o que dificulta uma definição precisa do termo.
Segundo Franco (2007):
a cada dia que passa, mais e mais pessoas se convencem de que o capital
humano é um dos principais fatores do desenvolvimento, e que um dos
principais elementos do capital humano é a capacidade das pessoas fazerem
coisas novas, exercitando a sua imaginação criadora – o seu desejo, sonho e
visão – e se mobilizando para adquirir os conhecimentos necessários, capazes
de permitir a materialização do desejo, a realização do sonho e a viabilização
da visão. Isso tem um nome: chama-se "empreendedorismo".
Empreendedorismo está sempre ligado à inovação e depende da liberdade das
pessoas para criar e da sua ousadia de inventar.
Considerado uma livre tradução da palavra entrepreneurship, que por sua vez deriva-se
do francês entreprendre, empreendedorismo significa se comprometer a fazer algo ou
começar algo. Para Motomura (2005), nada mais é do que a força do fazer acontecer. O
empreendedor seria, nessa concepção, a pessoa capaz de gerar resultados efetivos em
qualquer área da atividade humana. No entanto, no mundo dos negócios
empreendedorismo é mais abrangente e está relacionado com diversas temáticas além
da criação de empresas.
O empreendedor também é o empregado que propõe e pratica inovações em uma
determinada empresa, ocasionando o surgimento de valores adicionais (intraempreendedorismo); é o trabalhador autônomo como gestor do auto-emprego; é aquela
pessoa que compra uma empresa e realiza inovações, assumindo riscos, seja no aspecto
administrativo, com também na área de vendas, fabricação, distribuição ou na ação de
publicidade e propaganda de seus bens e/ou serviços, agregando novos valores
(MACHADO, 2003, p.3).
Peter Drucker apresenta o ‘espírito empreendedor’ como uma prática e uma disciplina, e
como tal pode ser aprendido e sistematizado. Não trata de aspectos psicológicos da
personalidade empreendedora, mas das atitudes e comportamentos que o empreendedor
deve ter. O aspecto da inovação também é ressaltado.
O empreendedor vê a mudança como norma e como sendo sadia. Geralmente,
ele não provoca a mudança por si mesmo. Mas, se isto define o empreendedor
e o empreendimento, o empreendedor sempre está buscando a mudança, reage
a ela, e a explora como sendo uma oportunidade. (DRUCKER, 1987, p. 36)
Conforme Filion (1999, p.19), o empreendedor é uma pessoa muito criativa, marcada
pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e metas. Ele que mantém um alto
grau de consciência do ambiente em que vive usando-a para capturar oportunidades de
negócios. Desse modo, um empreendedor que continua a aprender a respeito de
possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões moderadamente arriscadas que
objetivam a inovação, continuará a desempenhar um papel empreendedor. Resumindo
nos aspectos essenciais, ou seja, um empreendedor é uma pessoa que imagina,
desenvolve e realiza visões.
Os empreendedores podem ser voluntários (que têm motivação para empreender –
empreendedorismo por oportunidade) ou involuntários (que são forçados a empreender
por motivos alheios à sua vontade: desempregados, imigrantes etc. – empreendedorismo
por necessidade). Pode-se também considerar a existência do empreendedorismo
comunitário (como as comunidades empreendem) e a adoção de políticas públicas
governamentais para o setor.
Não se considera, contudo, empreendedor uma pessoa que, por exemplo, adquira uma
empresa e não introduza qualquer inovação (seja na forma de vender, de produzir, de
tratar os clientes), mas somente gerencie o negócio.
Embora recentemente o empreendedorismo tenha atraído maior atenção no Brasil, não
se trata de um conceito novo. Na primeira metade do século XX, o economista austríaco
J. A. Schumpeter descreveu o empreendedor como uma das mais importantes forças do
capitalismo, cuja evolução corresponderia a etapas cíclicas de expansão e crise.
Para Schumpeter (1934 citado por BENEVIDES, 2002, p. 30):
A função do empreendedor é reformar ou revolucionar o modelo de produção,
participando, assim, do processo de “destruição criativa” da ordem econômica
vigente. Trata-se, portanto, do responsável pela inovação e pela capacidade da
economia de se desenvolver.
É interessante ressaltar que a origem do termo empreendedor no estudo econômico, no
entanto, é ainda anterior. Na virada do século XIX, Jean-Baptiste Say o definiu como
aquele que move recursos econômicos de uma área de baixa produtividade para uma
aérea de mais produtividade e grande retorno (BENEVIDES, 2003, p. 30).
Dornelas (2003 citado por BENEVIDES, 2003, p.30) relata a importância da iniciativa
para a criação de um novo negócio e da paixão pelo que se faz, a capacidade de utilizar
os recursos de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico em que se
vive. Da mesma forma, no comportamento empreendedor é imprescindível a disposição
para assumir riscos calculados e a possibilidade de fracassar, ou seja, o empreendedor
não está em busca de aventuras e sim de resultados. “É preciso menos tempo para fazer
algo da maneira certa do que explicar por que foi feito da maneira errada”
(LONGFELLOW citado por MACHADO, 2003, p.15).
O empreendedor costuma ser uma pessoa que desenvolve grande atividade. Para si o
importante é “fazer” e por isso, ocupa a maior parte do seu tempo resolvendo
problemas. A confiança e a segurança na obtenção do êxito deve ser uma característica
marcante na personalidade do empreendedor.
Igualmente importante é ter uma visão clara e objetiva do futuro, fixando as metas que
se pretende atingir e procurando antecipar-se ao aproveitamento das oportunidades que
lhe oferecem (MACHADO, 2003, p.5).
Fillion (1991 citado por DOLABELA, 1999, p.42-43) ressalta:
O futuro empreendedor, para aprofundar-se em sua idéia (ou idéias)
emergente, procura pessoas com quem possa obter informações para aprimorála, testá-la, verificar se é um bom negócio. Procura também ler sobre o
assunto, participar de feiras, eventos. Ao obter tais informações, a pessoa vai
alterando a sua idéia inicial, agregando novas características, mudando alguma
coisa, descobrindo ou inventando novos processos de produção, distribuição
ou vendas. E, ao modificar o produto, vai atrás de novas pessoas, livros,
revistas, feiras etc. É um processo contínuo de conquistas de novas relações. E
esse processo é circular, na medida em que tais relações irão contribuir para
melhorar o produto, alterando-o [...] e assim por diante.
Com base na pesquisa internacional, coordenada pelo Babson College, dos EUA, e pela
London Business School, através do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o
brasileiro está entre os sete povos mais empreendedores do mundo. Especialistas dizem
que a alta atividade empreendedora no país significa um grande potencial de
desenvolvimento e crescimento econômico nesse início de século. No entanto,
concordam em também afirmar que, em boa parte dos casos, aqueles que se dedicam a
novos empreendimentos decidem por tal caminho por não encontrarem outra opção
diante da crise que afeta o mercado de trabalho brasileiro, ou seja, consideram uma
necessidade (BENEVIDES, 2003, p.26).
No Brasil, o empreendedorismo por necessidade corresponde, em média, a 55% da taxa
total de empreendedorismo. Na opinião de Greco (2003 citado por BENEVIDES, 2003,
p.26), contudo, esses dados têm seu lado positivo. Ainda que a principal causa da ação
empreendedora seja a necessidade, isso nunca poderá ser visto como um mau sinal. A
iniciativa de criar negócios já sinaliza, por si só, uma reação positiva às dificuldades. O
mais importante é que esses novos negócios sobrevivam, gerem empregos e riqueza.
De um modo geral, o empreendedorismo por necessidade tende a ser mais elevado
entre os países em desenvolvimento, visto que, nesses países as dificuldades de inserção
no mercado de trabalho são maiores, levando, conseqüentemente, as pessoas a buscar
e/ou criar alternativas de ocupação. (KARAM, 2002, p.7).
Na verdade, o Brasil precisa mudar, “e rapidamente”, suas políticas de apoio às micro e
pequenas empresas. “Se 97% dos empregos são gerados na pequena empresa, por que
não apoiar de fato esse setor?”, questiona Lummertz (2002 citado por KARAM, 2002,
p.7).
Há uma necessidade radical de mudanças na cultura empreendedora brasileira, pois os
grandes entraves estão no acesso e no custo do capital necessário; na elevadíssima carga
de tributos e exigências fiscais e legais; na capacitação para a gestão do negócio e no
fato de que políticas e programas dedicados ao setor não são totalmente adequados à
realidade do empreendedor.
É válido destacar que prosperar no ramo em que investiu não é tarefa fácil.
O fenômeno do empreendedorismo surge como uma epidemia benigna,
reduzindo o impacto do desemprego. No entanto, muitas das empresas criadas
em condições desfavoráveis se mostram frágeis e não conseguem sobreviver,
[...] aproximadamente metade dessas empresas morre ou desaparece antes de
completar o segundo ano de vida (VANIN, 2005).
Assim, a escolaridade dos empreendedores é um dos fatores que tem influência no
sucesso ou fracasso de seus negócios. Conforme recente pesquisa do Sebrae-MG, no
grupo das empresas de sucesso, 63% dos empresários têm curso superior completo ou
incompleto, contra 47% no grupo das empresas extintas (BENEVIDES, 2002, p.28).
Outro fator fundamental é a experiência prévia do empreendedor, isto é, quando o
empresário teve a oportunidade de trabalhar, sobretudo como empregado, em outra
empresa semelhante, antes de abrir o seu próprio negócio, suas chances de sucesso são
maiores.
Para Dolabela (2005), o empreendedorismo deve se expressar como elemento
importante na edificação do bem estar da coletividade. Conseqüentemente, ele não pode
ser um instrumento de concentração de renda, de aumento de diferenças sociais ou uma
estratégia pessoal de enriquecimento e sim ser relacionado à capacidade de se gerar
utilidade para os outros e riquezas acessíveis a todos.
Portanto, Empreendedorismo é um fator chave da economia de qualquer país. A
iniciativa de indivíduos que desenvolvem e empreendem idéias contribui para que a
economia se estruture, cresça e consolide, criando riqueza e gerando empregos. O
empreendedor deveria ser por todos os aspectos o centro de atenção das instituições de
uma sociedade. Apesar de haver uma suspeita por muito tempo já de que isso é
verdadeiro pouco se fez de concreto para realmente compreender esse fenômeno, e
avaliar a extensão de sua contribuição para o desenvolvimento econômico, tecnológico
e social de um país.
Mais do que crer no futuro promissor do país – cantado e prometido há tanto tempo –, o
brasileiro acredita no seu próprio potencial empreendedor, no seu tino, na sua visão, no
seu faro para negócios, no seu tato para relacionamentos. Falta apenas combinar esse
talento natural com técnicas referendadas de administração, como avaliação de
mercado, plano de negócios e planejamento estratégico.
É fundamental sempre lembrar que “um empreendedor não se faz, mas um empresário,
um administrador, se constrói”. (BIEDERMANN, 2004 citado por VANIN, 2005)
REFERÊNCIAS
BENEVIDES, Sérgio. Empreendedorismo: assim se faz o futuro. Rumos, Brasília, p.
26-33, dez. 2002.
DOLABELA, Fernando Celso. O Segredo de Luísa. São Paulo: Cultura Editores
Associados, 1999.
________ . Web site Fernando Dolabela. São Paulo, 2004. Disponível em:
<http://www.dolabela.com.br>. Acesso em: 15 mar. 2005.
DRUKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e
princípios. São Paulo: Pioneira, 1987.
FILION, Louis Jacques. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes
de pequenos negócios. Revista de Administração, São Paulo v.34, n.2, p.05-28,
abril/junho, 1999.
FRANCO, Augusto de. Empreendedorismo político. Disponível em:
http://200.252.248.103/sites/revistasebrae/01/artigo2.htm. Acesso em: 12 fev. 2007.
FREIRE, L. Empreendedorismo: fundamentos conceituais. Anais... III Encontro
Nacional de Empreendedorismo. Florianópolis, 2001.
GEM – Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil. Relatório
Global,2002.
KARAM, Miriam. Brasileiro torna-se empreendedor por "necessidade", aponta estudo,
Valor econômico, São Paulo, 14 nov. 2002, p. 7.
MACHADO, Larissa. Empreendedorismo. A Gazeta , Vitória, 14 dez. 2003,
Suplemento Especial.
MOTOMURA, Oscar. Empreendedorismo sustentável. São Paulo, 2004. Disponível
em: <http://www.amana-key.com.br>. Acesso em: 11 fev. 2005.
SEJA um empreendedor. Santa Rita do Sapucaí, 2004. Disponível em:
<http://www.inatel.br/nemp/seja_empreendedor.asp>. Acesso em: 10 fev. 2005.
VANIN, Alexsandro. Coragem no ambiente hostil. Revista do Empreendedor. São
Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.empreendedor.com.br/visualizar.
php?revista=1&edicao=226&secao=12.>. Acesso em: 10 fev. 2005.
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