bicho-da-seda - Secretaria da Agricultura e Abastecimento

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Criado por Profa. Dra.Rose Meire Costa Brancalhão
19/10/2005
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BICHO-DA-SEDA
1. O BICHO-DA-SEDA – origem, classificação e ciclo de vida.
O bicho-da-seda é originário da China e há cerca de 5.000 anos vem sendo criado pelo
homem para obtenção de fios de seda. Da China o inseto foi introduzido no Japão, no Turquestão e na
Grécia. Em 1740, o bicho-da-seda passou a ser criado na Espanha, na França, na Itália e na Áustria. No
Brasil, a introdução da sericicultura ocorreu no estado do Rio de Janeiro, no ano de 1848, e em 1922, em
Campinas, foi criada a Indústria de Seda Nacional S.A. A partir daí a sericicultura tornou-se uma
importante atividade para a agroindústria brasileira e, atualmente, o estado do Paraná é o maior produtor
nacional de casulos do bicho-da-seda.
Taxonômicamente o bicho-da-seda apresenta a seguinte classificação:
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Lepidoptera
Família: Bombycidae
Gênero: Bombyx
Espécie: mori
São insetos holometábolas, ou seja, apresentam metamorfose completa (o inseto jovem é
completamente diferente do inseto adulto); passando por quatro estágios morfológicos distintos durante
seu ciclo de vida:
1.
2.
3.
4.
OVO
LAGARTA ou LARVA
PUPA ou CRISÁLIDA
ADULTO
Mariposa
Ovos
Lagarta
Pupa
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O estágio adulto deste inseto é conhecido como MARIPOSA,
esta não se alimenta e nem bebe, sendo um estágio que se dedica à reprodução
da espécie. A mariposa fêmea exala um ferormônio que atrai a mariposa
macho. Após a cópula a fêmea deposita cerca de 500 OVOS, e depois, assim
como o macho, morre. Este estágio do ciclo de vida do inseto dura cerca de 10
a 16 dias.
Do ovo eclode uma pequenina LAGARTA, com cerca de 3 mm. de comprimento. As
lagartas demoram cerca de 7 a 21 dias para saírem do ovo.
Esta apresenta o corpo escuro, devido aos pêlos pretos. A
lagarta se alimenta ativamente e, exclusivamente, de folhas de
amoreira, por isso, o inseto é também conhecido como bichoda-seda da amoreira.
Conforme a lagarta vai crescendo os pêlos escuros são
Plantação de amoreira.
absorvidos e seu corpo torna-se claro. Neste estágio do ciclo
de vida a lagarta cresce bastante e, para que isto ocorra, a lagarta tem que trocar seu exoesqueleto
quitinoso antigo. O processo de troca do exoesqueleto é conhecido como muda ou ecdise. A lagarta realiza
4 mudas, passando de uma idade ou instar larval para outro:
1ª muda
1º instar
2ª muda
2º instar
3ª muda
3º instar
4ª muda
4º instar
5º instar
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A lagarta no 5º instar apresenta cerca de 7 cm de comprimento e o órgão mais
desenvolvido do seu corpo é a glândula da seda. O estágio de lagarta representa a fase jovem ou imatura
do inseto e dura cerca de 24 dias, sendo muito influenciado pela temperatura.
Lagarta 5º instar.
No final do 5º instar a lagarta tece um casulo de seda, constituído principalmente pelas
proteínas fibroína e sericína, que são produzidas pelas células da glândula da seda e expelidas pela boca.
Lagartas construindo o casulo, em armações
de papelão, denominadas bosques.
Casulo.
Pupa no interior do
casulo.
No interior do casulo o corpo da lagarta se transforma, formando a PUPA ou CRISÁLIDA.
A pupa, por sua vez, continua o processo de transformação, formando a mariposa. Estas transformações
denominam-se METAMORFOSE e o inseto permanece no interior do casulo por cerca de 10 dias.
Para sair do casulo a mariposa expele um líquido alcalino, que amolece suas fibras
protéicas.
Durante a metamorfose o corpo do inseto sofre profundas transformações, geneticamente
determinadas. Estas transformações envolvem a involução de determinadas estruturas anatômicas, como o
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intestino (através de um processo de morte celular programada – apoptose) e desenvolvimento de novas,
como as asas e o aparelho reprodutor.
Mariposa
Pupa
Lagartas
2. ANATOMIA EXTERNA DO BICHO-DA-SEDA.
O bicho-da-seda, assim como outros insetos, apresenta o corpo dividido em cabeça, tórax e
abdômen. A lagarta, estágio imaturo do inseto, apresenta o corpo em forma cilíndrica e segmentado em 13
anéis; os 3 primeiros anéis, a partir da cabeça, constituem o tórax, e os demais o abdômen. A cabeça tem
forma globular e estão presentes: 6 olhos simples ou ocelos, em cada lado, um par de antenas e o aparelho
bucal, para mastigar e expelir a seda.
O tórax apresenta 3 pares de pernas, que servem para segurar o alimento, seguem 4 pares
de pernas abdominais e um par de pernas caudais, com funções locomotoras e de fixação do alimento. Na
região dorsal ao longo do corpo da lagarta ocorrem manchas (ocular, meia lua, estelar), e o chifre caudal,
na altura do 11° segmento abdominal. Lateralmente, em cada segmento do corpo, exceto o 2°, 3° e 12°,
ocorrem 9 pares de aberturas externas, os espiráculos.
T
M
C
A
Anatomia externa da lagarta de
B. mori: C, cabeça; T, tórax; A,
abdômen, S anel segmentar; E,
espiráculo, M, manchas; CL,
chifre caudal; PT, pernas
toráxicas;
PA,
pernas
abdominais;
PC,
pernas
caudais. Explicações ver texto.
S
CL
PT
E
P
Rose M. Costa Brancalhão
PC
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C
AT
P
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A mariposa (estágio adulto do inseto) apresenta, além
do corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen, dois
T
AS
pares de asas, três pares de pernas e um par de
antenas; além de outros constituintes anatômicos.
A
Anatomia externa da mariposa de B. mori: C, cabeça; T,
tórax; A, abdômen, AS asas; P, pernas; AT, antenas.
3. ANATOMIA INTERNA DO BICHO-DA-SEDA.
Na análise das estruturas internas verificar, na lagarta aberta longitudinalmente, que a
maior parte do corpo é ocupada pelo tubo digestivo, que se apresenta verde, devido ao tipo de alimento. O
tubo digestivo é um canal único que vai da boca ao ânus, divide-se em intestino anterior, médio e
posterior. No intestino médio, que compreende a maior região do trato, ocorre à absorção do alimento.
Localizada lateralmente ao intestino a glândula da seda sintetiza e secreta proteínas (fibroína e sericina),
que formarão o fio de seda. A seda ao entrar em contato com o ar se solidifica estando, assim, pronta para
a construção do casulo.
Lagarta posicionada
para dissecção.
Lagarta seccionada, com as
glândulas da seda separadas
(lateralmente).
Intestino
separado,
apresentando os túbulos de
Malpighi (em amarelo) e a
gordura (em branco) aderidos.
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Os túbulos de Malpighi localizam-se no
início do intestino posterior, onde se fixam. São
estruturas tubulares finas, alongadas, que se apresentam
fechadas distalmente, onde se encontram mergulhadas na
Túbulos de Malpighi
aderidos ao intestino.
hemolinfa. A coloração varia de branca a amarelo claro,
e o número é em torno de seis. Estas estruturas atuam na
excreção e regulação da quantidade de sais e água na
hemolinfa.
O
tecido
gorduroso
apresenta
uma
distribuição difusa no corpo do inseto, de cor
esbranquiçada é observado em grande quantidade sob o tegumento do inseto. Atua no armazenamento de
metabólitos, principalmente reservas alimentares; estas reservas são mobilizadas em grande quantidade
durante a muda, maturação dos ovos, pupação, e vôo. Coordenando todas as funções orgânicas o tecido
nervoso, ocupa posição ventral e é do tipo ganglionar. Os gânglios se estendem da cabeça até o final do
abdômen, unindo-se através de conectivos.
B. mori respira através de um sistema traqueal,
constituído pelos espiráculos, traquéias e traquéolas. Os
traquéias
espiráculos são as aberturas externas, por onde o ar externo
penetra no corpo do animal. As traquéias são invaginações
do exoesqueleto, que formam tubos, de coloração escura,
cheios de ar. Estes tubos se ramificam profusamente,
Gânglio
nervoso
penetrando nos tecidos, sendo então denominados de
traquéolas, que contém o líquido traqueolar, importante na
troca gasosa.
A locomoção do animal no substrato é
proporcionada pela musculatura, cujos feixes podem ser
visualizados sob o tegumento.
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2. SERICICULTURA.
A sericicultura é uma arte milenar, iniciada na China com o objetivo de se produzir fibra
têxtil. A atividade sericícola abrange a produção de casulos, que as indústrias transformam em fios e
tecidos de seda. Consiste, ainda, no cultivo da amoreira do gênero Morus sp., para a criação do bicho-daseda e nas atividades referentes a produção e preparo dos ovos.
A China é o maior produtor comercial de casulos do bicho-da-seda, e o Brasil se apresenta
na 5ª colocação. A cadeia produtiva da seda no Brasil apresenta um faturamento bruto anual da ordem de
US$ 125 milhões, a maior parte na forma de divisas auferidas com exportações, uma vez que 92% da
produção de fios de seda é destinado a este mercado. Os principais Estados produtores são São Paulo e
Paraná; sendo o Paraná responsável por 87,8% da produção de casulos. Por outro lado, a industrialização
do fio está dividida entre São Paulo (46,6%) e o Paraná (53,4%). No Paraná, 231 municípios abrigam
criações do bicho-da-seda, praticamente todas elas feitas por famílias de pequenos produtores rurais, cerca
de 7.890.
Ressalta-se que a sericicultura
Barracão de criação do bicho-da-seda
tem se desenvolvido, sobretudo nas pequenas
propriedades rurais, onde predomina o trabalho
familiar,
sendo
uma
boa
alternativa
de
diversificação da propriedade. A atividade gera
receitas mensais durante cerca de oito meses no
ano, auxiliando na geração de renda; bem como
absorção
de
mão-de-obra
liberada
pela
desativação de outras atividades econômicas, colaborando, assim, para a fixação do homem no campo.
Somando-se a estas características, a sericicultura contribui para o desenvolvimento sustentável do país,
em virtude de seu relevante aspecto social e por se tratar de atividade de baixo impacto ao meio ambiente.
No mundo são vários os insetos produtores de seda, mas somente sete espécies são criadas
para fins comerciais; destas, seis são selvagens e uma é domesticada, o bicho-da-seda da amoreira, B.
mori. Este contribui com 95% da produção total. As espécies selvagens são: Antheraea yamamai Guerin,
Antheraea pernyi Guerin, Antheraea mylitta Drury, Antheraea assama Helfer, Atlacus ricini Boisduval e
Philosamia cynthia Drury, que contribuem com os restantes 5%. São confeccionados, a partir da seda de
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B. mori, aproximadamente 26 tipos diferentes de tecidos de seda, tais como: organdi, crepe, cetim, seda,
chiffon, faille e hattan, entre outros.
O casulo é produzido por células localizadas na glândula da seda, também denominada de
glândula labial da seda. Biologicamente o casulo protege a pupa, alojada em
seu interior, e atua como isolante térmico; economicamente, da estrutura do
casulo são extraídos os fios de seda. Na indústria os casulos são processados e
formam os fios de seda, que são
utilizados
na
confecção
de
cerca de 26 tipos
de
tecidos.
tecidos
são
de
usados
fabricação
Os
seda
na
de
camisas, gravatas,
cuecas, meias, vestidos, cortinas, guarda-chuvas, entre outros. Casulos que apresentam algum tipo de
defeito são utilizados na produção da anafaia, que dada à rusticidade são usadas para estofamentos,
produção de barbantes e acolchoados.
As crisálidas têm quase o mesmo teor nutritivo da carne bovina e podem ser utilizadas
como: ração (dado ao seu grande teor protéico) na alimentação de aves, de suínos, de coelhos e de carpas;
adubo para a própria amoreira, em hortas, jardins, pomares; óleo, para sabão.
Durante a criação do bicho-da-seda é produzida uma série de resíduos, derivados dos restos
de amoreira, utilizadas na alimentação, e das fezes do inseto. Esse material, o bagaço, pode ser usado
como cobertura morta, adubo orgânico, e ração para gado e carneiro.
AMARAL, E., Insetos Úteis. Piracicaba – SP: Livroceres, 1979.
BUZZI, Z.J., Entomologia Didática. Curitiba-PR:UFPR, 2002.
BARNES, R.S.K., Os invertebrados – Uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995.
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CORRADELO, E.F.A., Bicho-da-seda e Amoreira – da folha ao fio, a trama de um
segredo milenar. São Paulo – SP: Cone, 1987.
RUPPERT, E.E.; BARNES, R.D., Zoologia dos invertebrados. 6a edição. São Paulo: Roca,
1996.
STORER, T.T., Zoologia Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998.
HANADA, Y.; WATANABE, J.K. Manual de Criação do Bicho-da-seda. COCAMAR 1986.
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