Processo eficiente de recuperação de viciados é um desafio, indica psicóloga A dificuldade, o alto custo e o baixo índice de recuperação do tratamento de um dependente de drogas entorpecentes, em especial do crack, é uma dura realidade. A quantidade assustadora de viciados e a forma como as drogas se espalharam e vêm roubando a vida de muitos brasileiros - a maioria jovem - tem sido mostrada frequentemente. Porém, não são apenas números, são pessoas e milhares de famílias em desespero. Mas quando o assunto é tratamento, a maioria demonstra desanimo e falta de esperança na recuperação destas pessoas. Por ser um processo que envolve, além da vontade de ser tratado, diversos setores da administração pública e da sociedade, o trabalho se torna ainda mais angustiante. Neste sentido, as considerações de uma profissional integrante da equipe municipal de Saúde chamam a atenção. Em contanto com o portal Observatório do Crack, a psicóloga e coordenadora da Saúde Mental de Santa Bárbara do Sul (RS), Cláudia Farias, descreve com preocupação a realidade. Ela trabalha com pacientes portadoras de transtornos mentais – em que se enquadra também o dependente químico – e fala da falta de incentivo financeiro do governo e da necessidade de os Municípios se organizarem para promoverem melhor atendimento. Primeira dificuldade Em entrevista à Agência CNM, Claudia pontua que a primeira dificuldade está em o usuário assumir que é viciado e que precisa de ajuda. “Eles nunca dizem que usam crack, quando nos procuram falam que são dependentes de álcool e outras drogas, mas não admitem o uso de crack”, conta a psicóloga. Segundo ela, ficam circulando nos Municípios da região sem que a equipe consiga fazer vínculo e conscientizá-los para a necessidade de tratamento. Isso reflete diretamente no número de internações compulsórias, conforme relata Claudia, destacando que as vagas que a coordenadoria de saúde oferece se tornam bem mais precárias. “O número cresce nos atendimentos de urgência e emergência do hospital, mas os pacientes não chegam a internar e quando aceitam a desintoxicação não ficam nem três ou quatro dias e deixam o tratamento”, atesta. E quando ocorre de o paciente ou da família – que mais procura por ajuda – buscar tratamento, em pouco tempo fogem da internação e voltam às mesmas práticas. “Chegamos a organizar a equipe com força policial e tudo que é solicitado para avaliar e fazer a internação, mas em menos de uma semana a família comunica que o paciente está em casa voltando à mesma vida”. Os casos são recorrentes e Claudia pondera duas causas: a falta de equipe especializada para atendê-los e a inexistência de estrutura física para o tratamento. “Passam por desintoxicação, mas depois por não ter um acompanhamento ou uma equipe de profissionais para ajudar acabam voltando para o mesmo lugar”, relata. Integração Na visão da servidora de Santa Bárbara do Sul, o ideal seria estruturar um sistema que envolva as Secretarias de Saúde e Assistência Social, o judiciário – que determina as internações compulsórias –, e a delegacia de polícia. Além de montar a equipe em uma estrutura física separada para as pessoas saberem quem procurar e onde procurar. “Este sistema integrado trabalharia com uma ficha de acompanhamento com as informações de cada paciente e as instâncias por onde passou. Também uma comunidade terapêutica que os envolvesse em outras atividades, como oficina de música, por exemplo,”, sugeriu a psicóloga. No entanto, Claudia menciona a falta de recursos e de incentivo financeiro do governo. “Hoje a maioria do programas federais é para Municípios grandes com mais de 200 e 300 mil habitantes”, salienta. “Será que vamos ter que esperar a situação ficar mais grave e a violência ficar maior para criar programas que contemplem os Municípios pequenos”, indaga a servidora da Saúde. Vencer os desafios Mas, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, a psicóloga informa que em seu Município a equipe de Saúde tenta vencer os desafios para ajudar os dependentes. Ela conta que uma das primeiras atividades foi conscientizar a prefeitura para as determinações da Lei 10.216/2011 – dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Classificação Internacional de Doenças (CID) classificam a dependência química como transtorno mental. “Tentamos realizar um projeto amplo na coordenadoria de Saúde, mas diante do aumento dos casos procuramos, de forma nada satisfatória, realizar tratamentos. Precisamos de mais ações e menos discussão em torno do tema”, conclui Cláudia. http://www.cnm.org.br/crack/not.asp?iId=207469#5