UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS APRENDIZAGENS MUSICAIS EM FAMÍLIA: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS MUSICAIS DOS IRMÃOS BÓLICO Regina Bólico Santa Maria, RS, Brasil 2014 APRENDIZAGENS MUSICAIS EM FAMÍLIA: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS MUSICAIS DOS IRMÃOS BÓLICO por Regina Bólico Monografia de Conclusão apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Música Orientador: Prof.º Ms.º André Müller Reck Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Marques de LouroHettwer Santa Maria, RS, Brasil 2014 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras Departamento de Música - Licenciatura A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia de Conclusão de Curso APRENDIZAGENS MUSICAIS EM FAMÍLIA: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS MUSICAIS DOS IRMÃOS BÓLICO elaborada por Regina Bólico COMISÃO EXAMINADORA: Prof.º Ms.º André Müller Reck (Orientador) Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Marques de Louro- Hettwer (Co- orientadora) Prof.º Ms.º Lucius Mota (UFSM) Prof. Glaubert Gleizes Faber Nüske (UFSM) Santa Maria, 10 de janeiro de 2014 RESUMO Monografia de Conclusão de Curso Universidade Federal de Santa Maria APRENDIZAGENS MUSICAIS EM FAMÍLIA: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS MUSICAIS DOS IRMÃOS BÓLICO Autora: Regina Bólico ORIENTADOR: Prof.º Ms.º André Müller Reck CO-ORIENTADORA: Prof. Dr. Ana Lúcia de Marques e Louro - Hettwer Santa Maria, 10 de Janeiro de 2014 O presente trabalho buscou investigar os processos pedagógico-musicais (KRAEMER, 2000) na família Bólico, articulando-se com as abordagens sobre a educação musical no cotidiano (SOUZA, 2008). Tendo como objetivo pesquisar a construção do conhecimento musical dos irmãos Celso e Moacir, foi possível destacar a presença de elementos que auxiliaram na construção de suas aprendizagens musicais, encontradas nas influências e práticas. A metodologia utilizada para essa pesquisa qualitativa (BAUER e GASKELL, 2002, TRIVINOS, 1987) foi a História Oral temática, através de entrevistas narrativas. Após as transcrições das entrevistas, o momento de análise dos dados forneceu elementos relevantes sobre autoaprendizagem em música, e as práticas musicais desenvolvidas em família. A partir da narrativa dos irmãos Bólico, foi possível perceber diferentes processos pedagógicos musicais que se estabeleceram em suas práticas cotidianas, atentando para as influências musicais, os modelos de autoaprendizagem, as mídias e as práticas em conjunto. Palavras-chave: Práticas musicais em família; Educação musical no cotidiano; processos pedagógicos musicais; ABSTRACT Final Graduation Paper Federal University of Santa Maria MUSICAL LEARNING IN FAMILY: A LOOK ON THE MUSICAL PRACTICE OF BOLICO BROTHERS Author: Regina Bólico Adviser: Prof. Ms. André Müller Reck Co-adviser: Prof. Dr. Ana Lúcia de Marques e Louro – Hettwer Santa Maria, January 10th, 2014 This paper investigates the pedagogical and musical processes (KRAEMER, 2000) in Bolico family, articulating with the approaches about music education in the daily activities (SOUZA, 2008). Aiming at investigating the construction of musical knowledge of the brothers Celso and Moacir, it was possible to highlight the presence of elements that helped in constructing their musical learnings, found in the influences and practices. The methodology for this qualitative research (BAUER and GASKELL, 2002, TRIVIÑOS, 1987) was the Oral History, through narrative interviews. After the transcription of the interviews, the period of data analysis provided relevant information on self-learning in music and musical practices developed in the family. From Bolico brothers‟ narrative, it was possible to realize different musical and pedagogical processes they established in their daily practices, paying attention to the musical influences, self-learning models, media and practices. Key words: musical practices in family; Musical Education in daily activities; pedagogical and musical processes HOMENAGEM ESPECIAL Aos meus avós Wilma Bohrer Bólico (in memoriam) e Manoel Borges Bólico (in memoriam), os quais, com toda certeza, foram responsáveis e grandes incentivadores musicais de nossa família. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pelo dom da vida; por me guiar e sustentar meus passos até aqui. Agradeço especialmente aos meus pais Moacir e Elenir, e aos irmãos Roberto, Ricardo e Raquelli, pelas orações e pensamentos que me fortaleceram. Agradeço a minha tia Maria Alice, por ser presente, auxiliando-me em todo momento. Aos meus amigos e colegas, pelo companheirismo e amizade compartilhados neste período. Agradeço ao meu orientador, professor André Müller Reck e a professora Ana Lúcia Louro pela disposição e dedicação na construção deste trabalho ao longo destes meses. Agradeço ao meu pai Moacir e ao meu tio Celso, colaboradores desta pesquisa! Sem vocês, ela não existiria! Obrigada pela confiança, disponibilidade e parceria na elaboração deste trabalho! LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 .............................................................................................................. 32 FIGURA 2 ............................................................................................................. 37 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10 1. CONSTRUINDO OS CAMINHOS DA PESQUISA .................................... 12 2. FAMÍLIA: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL ............... 14 2.1 A família como lócus de educação...................................................... 16 3. EDUCAÇÃO MUSICAL NO COTIDIANO .................................................... 19 3.1 Perspectivas teóricas em Educação Musical ..................................... 19 3.2 Educação musical e família ................................................................. 21 4. METODOLOGIA .......................................................................................... 24 4.1 Abordagem qualitativa ......................................................................... 24 4.2 História Oral........................................................................................... 24 4.3 Coleta e análise de dados .................................................................... 26 4.4 A Família Bólico .................................................................................... 27 5. ANÁLISE DE DADOS .................................................................................. 30 5.1 Influências e memórias musicais ........................................................ 30 5.2 Modelos de aprendizagens musicais .................................................. 32 5.2.1 Autoaprendizagem ............................................................................ 32 5.2.2 Mídias ............................................................................................... 35 5.2.3 Práticas em conjunto ........................................................................ 37 REFLEXÕES FINAIS ....................................................................................... 40 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 42 ANEXO ............................................................................................................ 45 INTRODUÇÃO O tema da presente pesquisa está vinculado aos meus processos de ensino e aprendizagem musical, os quais começaram no núcleo familiar. A partir das pesquisas realizadas no Curso de Licenciatura em Música na UFSM, sendo estimulada a refletir sobre minhas experiências musicais e aprofundar os estudos sobre a Educação Musical, busquei investigar as influências musicais e as práticas desenvolvidas na família Bólico. Algumas curiosidades e questionamentos acerca de como se caracteriza e procede a construção de conhecimentos musicais em família, bem como as influências e trocas de saberes, originaram o tema desta pesquisa, a qual se justifica pelas diferentes abordagens que a Educação Musical engloba, atentando para as aprendizagens musicais no cotidiano. Partindo do pressuposto que a aprendizagem musical se faz presente nos variados contextos sociais, essa prática se faz presente e pode ser construída no contexto familiar. Para o desenvolvimento desse trabalho, é estruturado e construído um primeiro capitulo chamado “Caminho da Pesquisa”, orientando os processos de desenvolvimento do tema. Dessa forma, o trabalho também possibilitou a elaboração de uma contextualização sobre a “Família na Contemporaneidade” (BRUSCHINI, 1987; GIDDENS, 2001; PAULO, 2005; SETTON, 2002) fazendo um registro histórico das características e os mais variáveis conceitos e estruturas de família, bem como um olhar para “Família como locus da educação” (PESSOA, 2004; SANTOS; 2009; SETTON, 2002). No capítulo três, para uma melhor compreensão sobre a Educação Musical no cotidiano e suas abordagens e perspectivas teóricas, autores como Kraemer (2000), Souza (2008), Reck (2011) proporcionam uma reflexão acerca dos processos pedagógicos musicais. Nesse mesmo capítulo é abordada a Educação musical e família, ressaltando o “papel da família” como o primeiro “ambiente de musicalização do indivíduo” (GOMES, 2009; FUCCI – AMATO, 2008). Ao final deste capítulo, são tecidas algumas considerações sobre a construção e os processos de ensino-aprendizagem em família. A pesquisa, de caráter qualitativo, tem como metodologia a História Oral e a entrevista narrativa para a coleta de dados. Autores como Bauer e Gaskell (2002) e Trivinos (1987) permitem uma caracterização e o embasamento teórico 10 para o processo da análise. Baseado na abordagem metodológica da História Oral (ALBERTI 1989; FREITAS, 2006; MEIHY e HOLANDA, 2010), por meio das narrativas dos entrevistados foi possível investigar, através de suas memórias, as práticas e processos pedagógicos musicais presentes no cotidiano (SOUZA, 2008). Para realização da análise dos dados, por meio das entrevistas narrativas, foram construídas três categorias que auxiliaram na reflexão e compreensão do tema da pesquisa. A primeira categoria, denominada Influências e memórias musicais, onde autores como Fucci Amato (2008) e Torres (2003) deram embasamento teórico às questões relatadas. Na segunda categoria, intitulada Modelos de aprendizagens musicais, foi possível encontrar três subcategorias inerentes. A primeira subcategoria, denominada Autoaprendizagem, (CORRÊA, 2008; LACORTE e GALVÃO, 2007), apresenta e conceitua os processos de ensino-aprendizagem do cotidiano. A segunda subcategoria, nomeada Mídias (SCHMITT, 2004; SOUZA e TORRES, 2009; DEL BEM, 2000), se destaca como sendo um dos meios de aprendizagem musical utilizado. Como terceira e última subcategoria, Práticas em conjunto (bandas) (CISLAGHI, 2007; RECK, 2011), aponta essa prática como um fator contribuinte para o crescimento como músico. 11 1. CONSTRUINDO OS CAMINHOS DA PESQUISA Desde muito pequena, a música sempre esteve presente no meu dia-a-dia. Recordo-me do som do violão e as canções nele tocadas pelo meu pai, todas as noites depois do jantar. Esse som é presente até hoje em minha memória, e ao recordar essa prática musical de meu pai, revivo a minha história e iniciação musical que tive em família. Por ser de origem de uma família de músicos, vivenciei muita prática musical dentre meus familiares, aonde essas práticas me influenciaram e me incentivaram a aprender um instrumento musical. A aprendizagem e formação musical familiar se dão pela prática musical em um contexto amplo de práticas e experiências individuais e coletivas, relacionadas a diversas habilidades e domínios, inclusive o domínio musical (GOMES, 2008, p.2). Essa experiência que tive quando adolescente, em sentar na varanda da casa de meus avós para ouvir e tocar junto do meu pai, tio, primos e irmãos, me leva a acreditar que a vivência e a influência musical “vêm de berço” e que essa prática, quando contínua, constrói um ambiente sonoro desenvolvendo competências e habilidades musicais em grupo. Era, sem dúvida, uma casa com uma família grande, repleta de sons, em que se convivia – ou se disputava um espaço sonoro, com músicas numa diversidade de estilos, intérpretes, gostos, volumes e escolhas musicais (TORRES, 2003, p.21). Creio que esse envolvimento com a música desde muito cedo, me instigou a aprofundar meus estudos em música. Já na minha adolescência, pude ter um contato maior com profissionais da área na escola onde eu estudava, fazendo parte do conjunto instrumental, aonde pude conhecer e “experimentar” instrumentos que só via de longe. Com o incentivo de meus professores de música, assim como de meus pais, assim que terminei o ensino médio, optei pela graduação em música. [...] os pais exercem um papel central em relação ao início e ao prosseguimento dos filhos no treinamento musical durante o extenso período necessário ao desenvolvimento de um desempenho notável. [...] as crenças dos pais em relação aos talentos de seus filhos influenciam o 12 comportamento deles, sendo determinantes para um maior incentivo ao empenho dos jovens (SILVA; FLEITH, 2008 p, 340). No ano de 2012, na condição de acadêmica do Curso de Licenciatura em Música, pela Universidade Federal de Santa Maria, pude trazer à memória e relatar essas experiências em uma DCG¹ intitulada, Pesquisa em Música a partir da “experiência de si”. A disciplina foi ofertada pela Professora Doutora Ana Lúcia de Marques e Louro-Hettwer e a doutoranda Ziliane Lima de Oliveira Teixeira, a qual ministrava aulas através da disciplina de Docência Orientada. O objetivo era problematizar as “experiências de si”, relatar as nossas práticas docentes por meio de “fichas de leituras”, permeando diálogos com autores da área da Educação Musical, os quais ancoravam as reflexões a respeito das práticas. Foram utilizados autores como Larrosa (2002); Oliveira (2006); Silva (2010) entre outros.‟ Ao término da disciplina, foi proposto pelas orientadoras que relatássemos uma música que marcou tanto o lado pessoal quanto profissional, e de que forma ela fez parte do crescimento como músico. Diante desta proposta, não pude fugir das minhas origens, já que a música escolhida foi meu pai quem me mostrou e que tocava sempre comigo. Revirando algumas fotos, as quais ilustrassem essa prática musical em família no trabalho final, encontrei alguns retratos da família, aonde meu pai e meu tio tocavam violão e acordeom e participavam de um conjunto musical, quando adolescentes. Foi então que surgiu o interesse em pesquisar como se deu a aprendizagem musical deles em família e entre amigos, bem como a autoaprendizagem e o ensino entre as gerações. 13 2. FAMÍLIA: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL É possível compreender o núcleo familiar como um dos meios de convívio social que vivenciamos desde que nascemos. Desse modo a família é considerada como um grupo de pessoas onde cada membro apresenta sua individualidade, ao passo que gera um coletivo, criando hábitos e construindo saberes. Tais conceitos como valores e educação, também são promovidos pelos familiares, da mesma forma que a aprendizagem e a construção de identidades musicais podem emergir nesse contexto. Para compreender essa transmissão e ressignificação de cultura é necessário apropriar-se da diversidade do conceito família, buscando conhecer o contexto em que ela se insere, valores e as relações nela estabelecidas. A partir disso, cito as palavras de Bruschini (1989): [...] a família é, sobretudo uma agência socializadora, cujas funções concentram-se na formação da personalidade dos indivíduos. Tendo perdido, ao longo de sua história, as funções de unidade de produção econômica e de participação política, a família teria as funções básicas e irredutíveis de socialização primária das crianças e de estabilização das personalidades adultas da população (p.2). Como unidade formadora de conceitos e ações, a família torna-se um dos principais responsáveis pela formação moral do indivíduo. Deste modo, ela pode ser vista como uma instituição formadora do ser humano, pois dela o sujeito lega costumes e ideologias, os quais são transmitidos, renegociados e permeados entre as gerações. Segundo Setton (2002), ao referir a família como “patrimônio cultural”, a autora afirma que é nela que a identidade social do indivíduo é forjada. De origem privilegiada ou não, a família transmite para seus descendentes um nome, uma cultura, um estilo de vida, moral, ético e religioso (Setton, 2002, p. 111). Desse modo, entendo que o núcleo familiar, principalmente na cultura ocidental, prepara seus filhos para que tenham um amplo convívio social, partindo do pressuposto que saberão lidar com desafios, construirão conceitos, analisando o que a sociedade tem para oferecer, bem como, por meio de suas ações, mostrar o que receberam e a identidade cultural que criaram. 14 No entanto, a formação e as características da família vêm sofrendo algumas mudanças desde a metade do século XX. Segundo Giddens (2001): Ao longo das ultimas décadas, a Grã-Bretanha e outros países ocidentais passaram por mudanças nos padrões familiares, que seriam inimagináveis para gerações anteriores [...] Em resumo, o mundo familiar é hoje muito diferente do que o era há cinquenta anos. Apesar das instituições do casamento e da família ainda existirem e serem nas nossas vidas, o seu caráter mudou radicalmente (GIDDENS, 2001, p. 174). No Brasil, a estrutura familiar vem sofrendo algumas modificações desde o período colonial devido às necessidades sociais e econômicas da época, e até hoje vem (re)adaptando novas formações e costumes. Buscando compreender essas modificações, Paulo (2005) menciona, de uma forma panorâmica, as mudanças que caracterizaram a família brasileira em cada época. A família colonial era bem hierarquizada, estando o homem no topo da pirâmide. Ele era o pai, o marido, o chefe da empresa, o comandante da tropa, a quem todos os demais subordinavam. O único interesse que contava era do pai. [...] A mulher, ao contrário, estava sempre envolta com alguma ocupação doméstica (forno, fogão e agulha), com a organização da casa [...] Ela exercia múltiplas funções: de enfermeira, médica, sacerdotisa, [...] todos os cuidados da residência eram entregues a ela (PAULO, 2005 p.22 e 23). A família era uma instituição “isolada” na sociedade, onde tudo era oferecido dentro de casa, como a própria educação. Pouco sofria influências externas, e tudo que se construía, bens de consumo e hábitos, não era visível „aos olhos dos homens‟. Com o passar do tempo, surgiu a necessidade de mostrar à sociedade o que se construía no seio familiar, buscando também meios econômicos de sustento, devido a perda da autossuficiência (PAULO, 2005). E para isso era preciso “a aquisição de certos hábitos culturais, novos costumes e modos de viver” (ibidem, p. 23). Essas mudanças passaram a refletir nos objetivos da família, originando uma reorganização estrutural familiar, onde o sujeito passou a ter outras responsabilidades, tornando-se assim, diferenciado dos demais. Investimentos foram feitos na saúde, na educação e no aculturamento das crianças. A relação entre pais e filhos também mudou. Os pais passaram a se disciplinar, a fim de dar bons exemplos para os filhos (PAULO, 2005 p.24). 15 A família tornou-se responsável pela orientação e crescimento moral do indivíduo, sendo considerada também “a célula básica da sociedade” (ibidem p. 27). Em meados do século XX, a família foi idealizada, sendo assim, compreendida como tendo um único modelo, excluindo qualquer padrão diferente da estrutura da época. No entanto, no final do século XX, essa configuração familiar sofreu, e vem sofrendo, grandes mudanças em sua estrutura. A família torna-se plural, com várias configurações possíveis, havendo sido mesmo algumas, e não mais apenas a matrimonializada, reconhecidas e, sede constitucional, tais como advinda como de união estável e monoparental (PAULO, 2005, p.29). É possível compreender que a família contemporânea vem reconstruindo significados, designando responsabilidades e características distintas nesse meio contextual. Em outras palavras, segundo Paulo (2005) [...] quando pensamos em FAMÍLIA, imediatamente nos vem à mente um pequeno grupo social, composto por um casal e seus filhos. [Porém,] [...] nem sempre a família foi (ou é) assim. Se consultarmos manuais de etnografia, antropologia ou sociologia, ou se simplesmente passarmos a analisar as relações em grupo familiares de um mesmo povo ao transcorrer de sua história, percebemos que são tantos e tão variados tipo de estrutura familiar [...] (PAULO, 2005,p.14). 2.1 A família como lócus de educação Ao estudar a educação, num modo geral, nos deparamos com um leque de conceitos e paradigmas que nela estão inseridos. No contexto familiar, isso não se distingue, pois vivemos numa sociedade contemporânea em que a família exerce uma série de papéis, e um deles é a própria educação. Muito antes de a criança nascer, os pais projetam um bom futuro, pensando na educação e no bem estar dela. E esse projeto educacional, varia de acordo com o contexto e os princípios da família; princípios e costumes, que vêm mudando com o passar do tempo. Alguns conceitos sobre a educação no contexto familiar são definidos por Pessoa (2004). 16 A educação tem um papel fundamental na produção e reprodução cultural e social e começa no lar/família, lugar da reprodução física e psíquica cotidiana – cuidado do corpo, higiene, alimentação, descanso, afeto –, que constituem as condições básicas de toda a vida social e produtiva (PESSOA, 2004, p. 47). Semelhante a essas colocações, mas atentando a pluralidade de configurações que a família pode apresentar, Setton (2002) ressalta que considerando a família como um importante elemento na determinação dos destinos pessoais e sociais, nas trajetórias educacionais e profissionais dos sujeitos é preciso atentar para a heterogeneidade de configurações familiares, a diversidade de recursos e posicionamentos sociais, bem como a diversidade de comportamentos e relações que podem estabelecer com as outras instâncias socializadoras (SETTON, 2002, p. 112). No entanto, é possível perceber que a família se preocupa com o desenvolvimento da criança, independente do contexto social e a estrutura que a compõe. Segundo Santos (2009), veremos que a família tem um papel importante no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, e que esta pode tanto favorecer ou desfavorecer a criança, preparando-a emocionalmente, para lidar com as frustrações cotidianas [...] (SANTOS, 2009, p. 2). Em conjunto com a instituição escolar, a família exerce a função da educação para a vida social. Esse papel é previsto em lei nos seguintes termos: A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (LDB 9.393/96, Art. 2º, p. 19) (grifo meu). Essa preocupação com a formação do caráter da pessoa, vinda da relação entre a família e a escola, gera também uma relação de troca. Não haverá apenas mudança no educando (a criança); a família e escola estarão em plena formação e reformação como educadores. Segundo Freire (1996), é preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.[...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (FREIRE, 1996, p.12). 17 Para Santos (2009), “as famílias esperam que seus filhos sejam pessoas diretas e responsáveis, suficientemente fortes para fazer suas escolhas, despertando talentos, competências e habilidades para se realizarem na vida pessoal e profissional (p.8)”. E esse é um dos papeis da educação, a qual ensina a pensar, ensina a criar, educando para as relações interpessoais e sociais. Percebendo a importância de relacionar a família como um importante grupo social na construção dos processos educativos, busca-se, então, compreender as diferentes estruturas e modelos de família e suas características. Cabe aqui expor que essa revisão teórica sobre a família visa compreendê-la como uma instituição em constante transformação, de modo que ela não deve ser vista apenas como um modelo único, como uma suposta “essência natural”. 18 3. EDUCAÇÃO MUSICAL NO COTIDIANO 3.1 Perspectivas teóricas em Educação Musical Neste capítulo, explicitarei como se caracterizam os processos pedagógico-musicais em diferentes contextos em que a música se insere. Desse modo, autores como Kraemer (2000), Souza (2008), Reck (2011), darão embasamento teórico para a composição desse texto. Busca-se compreender a Educação Musical como uma das áreas de conhecimento que abrange múltiplos contextos sociais e culturais, bem como conhecer os processos de aprendizagens musicais, os quais se encontram em vários espaços. Ao reconhecer que a Educação Musical se insere em diferentes contextos socioculturais, é possível compreender que existem múltiplas formas de transmissões e/ou apropriações da mesma. A pedagogia da música ocupa-se com a relação a(s) pessoa(s) e a(s) música(s) sobre os aspectos de apropriação e transmissão. Ao seu campo de trabalho pertence toda prática músico-educacional que é realizada em aulas escolares e não escolares, assim como toda a cultura musical em processo de formação (KRAEMER, 2000, 51). A Educação Musical vem sendo abordada, ao longo das últimas décadas como um processo de ensino-aprendizagem múltiplo e contextual, que se insere em mais variados espaços educacionais ou não educacionais. Diversas pesquisas têm sido realizadas nos mais diferentes espaços sociais (ARALDI, 2003; CORREA, 2000; MEDEIROS, 2009; PRASS 2004), sugerindo que existem múltiplas formas de aprender música e que a formação musical ultrapassa o âmbito escolar e acadêmico (ARROYO, 2002). As relações de aprendizagens, independentes da área de conhecimento, tornam-se significativas quando nossas ações e práticas possam ser visíveis no contexto em que elas se inserem. A cultura, de certa forma, é revelada também pelas atitudes (ações e práticas sociais) que as pessoas demonstram no meio social em que elas estão estabelecendo assim uma relação de valores entre elas. Reck (2011) expõe que as relações de interação entre os membros de uma comunidade se estabelecem a partir de um sistema de valores que dão significado a essas 19 interações. Esse sistema de valores, que suportam a unidade e a ideia de pertença em uma comunidade, estabelece seus próprios critérios de verdade, fé e moral, que orientam as práticas sociais, dentro de uma sociedade mais ampla (RECK, 2011, p.19). Desse modo a aprendizagem musical parte do pressuposto de que as relações estabelecidas entre o sujeito e o meio geram o conhecimento, onde a Educação Musical se transforma, dependendo do contexto cultural em que ela é inserida. Desse modo, é possível compreender que a aprendizagem é um fator contextual e cotidiano, exercendo uma série de relações de troca entre a pessoa e a sociedade. Souza (2008) nos diz que [...] a aprendizagem não se dá num vácuo, mas num contexto complexo. Ela é constituída de experiências que nós realizamos no mundo. Dessa maneira, a aprendizagem pode ser vista como um processo no qual – consciente ou inconscientemente – criamos sentidos e fazemos o mundo possível (SOUZA, 2008, p.7). Nas últimas décadas a Educação Musical tem sido entendida como uma área de ensino atravessada por diversos conhecimentos. Kraemer (2000) aponta as práticas musicais como um processo educacional ancorado por diversas áreas do conhecimento, buscando destacar também as funções de cada uma delas dentro da pedagogia-musical. O trânsito de elementos teóricos e analíticos produzidos em outros campos do conhecimento, em especial das chamadas ciências humanas, contribuem para um alargamento de possibilidades interpretativas na Educação Musical. Pesquisas qualitativas, com distintos aspectos metodológicos e com abordagens sociológicas e antropológicas, têm focado múltiplas narrativas e experiências musicais, contribuindo para a construção de uma concepção musical que permita ajustar seus sistemas de validade e organização a partir das relações e das significações que se estabelecem e determinado contexto (RECK, 2011, p.29). Sendo assim, a Educação Musical como uma das áreas de conhecimento, atenta também para as aprendizagens cotidianas, conhecimentos que adquirimos espontaneamente, ou seja, são transferidos no dia-a-dia em espaços não especializados em música. Benedetti (2009), ao se referir sobre o conhecimento musical cotidiano, designa que esse conhecimento é [...] todo tipo de conhecimento musical que todos – crianças, jovens e adultos – adquirem espontânea e informalmente em seu cotidiano. Inclui os conhecimentos sobre repertório musical, instrumentos musicais, tipos de música [...] (BENEDETTI, 2009, p.3). 20 Desta forma ela vem sendo abordada de várias maneiras, não tendo um espaço único (escolares e não escolares), e sim, se apropriando de meios de comunicação midiáticos, abrangendo a sociedade como um todo. No cotidiano musical existem novas formas de ensinar e aprender música, a qual se insere em “novas tecnologias na educação musical (televisão, celular e outros meios de comunicação)” (SOUZA, 2009). Surge aí a importância de um olhar para os significados que o sujeito dá para as músicas que ouve, e compreender que essa importância depende do contexto em que ela é inserida. Souza (2004) considera a música como “uma comunicação sensorial, simbólica e afetiva”, sendo assim, necessária para a vida. Os que se apoderam dessa prática musical, seja ouvindo e/ou fazendo música, passam a construir significados para si. 3.2 Educação musical e família A Educação Musical vem sendo observada em diversos contextos sociais como, escolas especializadas e não especializadas e projetos sociais. No entanto, alguns autores e educadores musicais também vêm estudando essa temática no núcleo familiar. Ao entendermos esse grupo família como um núcleo de múltiplos ensinamentos e aprendizagens, como já citados nos capítulos anteriores, compreende-se também que, na família, possa gerar um ambiente de musicalização. Gomes (2009), ao citar Fucci-Amato (2008), ressalta o “papel da família” como o primeiro “ambiente de musicalização do indivíduo”, compreendendo que “o desenvolvimento da habilidade artística é um fator socialmente constituído” (apud GOMES, 2009, p.17). Uma compreensão sociológica é também ressaltada por Gomes (2009), em seu estudo sobre as aprendizagens musicais na família Fonseca, na cidade de Santarém, no Pará. Segundo Gomes (2009), para compreender a aprendizagem e a formação musical em família, parto de uma perspectiva sociológica da educação musical, em que setorna relevante o estudo de aspectos sócio- históricos imbricados nas práticas, e aprendizagens e formação musical [...] (GOMES, 2009, p.16). 21 Assim como as primeiras formas silábicas, as quais a criança começa a compreender e tenta imitar, se a música também está presente no seu dia-a-dia, não apenas como “objeto de comando”, nela pode-se desenvolver uma linguagem musical. Segundo Brito (2003), a linguagem musical tem sido interpretada, entendida e definida de várias maneiras, em cada época e cultura, em sintonia com o modo de pensar, com os valores e as concepções estéticas vigentes (BRITO, 2003, p. 25). Ao ouvir, a criança passa a conhecer sons, a reconhecer timbres, ao passo que num processo contínuo dessa experiência, os sons se tornam familiares, criando uma vivência musical própria, pois segundo Souza e Joly (2010), “por meio desse contato o ser humano começa a desenvolver uma identidade a música que está a sua volta.” (p.98). Por esse motivo, a música tende a se tornar significativa para o ser humano, assumindo diferentes significados em cada cultura. Ao estudar a aprendizagem musical em família, busco compreender também seu processo de ensino-aprendizagem que nela é estabelecido e negociado entre as gerações. Dessa forma, estima-se que, a criança que nasce em uma família onde a música e a prática musical são muito presentes, (composta por músicos profissionais ou não), o contexto familiar torna-se um ambiente musical experimental, sendo a criança estimulada e capaz de fazer música. Desse modo, esse ambiente torna-se um dos responsáveis pelos gostos e tendências musicais da criança. Segundo Kebach (2007), a energia que mobiliza essa tendência está ligada à afetividade. É o desejo (o interesse), portanto, o que mobiliza os sujeitos a se construírem musicalmente. [...] a capacidade musical, assim como as demais, é construída na interação entre sujeito e objeto (KEBACH, 2007, p. 40). Nesse mesmo pensamento, Gomes (2009) ressalta que a prática educativo-musical na família “acontece no tempo e espaço de convívio de seus integrantes”, compreendendo assim que, as “capacidades” e a valorização dessa prática devem estar interligadas, independente do tempo dedicado à mesma. Nesse sentido, segundo Gomes (2009), a prática educativo-musical familiar não se restringe somente a transmissão e apropriação de conhecimentos musicais, mas, tal prática é compreendida 22 como cultura, produzindo e reproduzindo os elementos da cultura, assim como promovendo a continuidade da tradição musical familiar (p. 37). É possível a compreensão de que esse processo de “apropriação de conhecimentos musicais” em família, o qual o autor menciona acima, não se dá em um curto espaço de tempo, tão pouco a própria cultura familiar, a qual é construída entre as gerações. 23 4. METODOLOGIA 4.1 Abordagem qualitativa Este trabalho tem por caráter uma abordagem qualitativa, que busca conhecer por meio das narrativas dos entrevistados, seus pensamentos, suas experiências e vivências, no caso aqui, sobre as influências e experiências musicais construídas em família. Para Silveira e Córdova (2009), a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. [...] A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009 p, 31-32). No entanto, para Reck (2009), ainda que diferenciações possam ser traçadas, devemos evitar uma visão dicotômica entre os dois paradigmas, compreendendo que métodos de pesquisa quantitativas podem ser utilizados em pesquisas qualitativas, e vice-versa [...] (Reck, 2009, p. 51). A pesquisa qualitativa tem como objetivo descrever valores e opiniões acerca de um determinado assunto, onde são trabalhadas posteriormente pelo pesquisador, as reflexões construídas pelo entrevistado. Para Bauer e Gaskell (2002, p. 68) “a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto”. Trivinos (1987) a caracterizava por ser uma pesquisa descritiva, onde nas análises das transcrições e depoimentos por meio de entrevistas, busca-se dialogar as falas dos entrevistados com citações de autores da área e os pontos de vista do pesquisador. 4.2 História Oral A metodologia utilizada nesta pesquisa, de cunho qualitativo, foi História Oral. Autores como Alberti (1989), Freitas (2006) e Meihy e Holanda (2010) definem e conceituam os processos e o uso dessa narrativa. 24 Para Alberti (1989), a História Oral é um método que “privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo” (ALBERTI, 1989, p. 1-2). E ainda: História Oral pode ser empregada em diversas disciplinas das ciências humanas e tem relação estreita com categorias como biografia, tradição oral, memória, linguagem falada, métodos qualitativos etc (ALBERTI, 1989, p.17). Ao procurar conhecer as vivências e histórias de vida dos entrevistados, por meio das entrevistas, a metodologia da História Oral busca trazer à memória, por meio de reflexões do entrevistado, fatos marcantes do passado, revivendo-os espontaneamente. Segundo Freitas (2006), a História Oral possibilita reflexões sobre o registro dos fatos na voz dos próprios protagonistas. A história oral utiliza-se de metodologia própria para a produção de conhecimento. Sua abrangência, além de pedagógica e interdisciplinar, está relacionada ao seu importante papel na interpretação do imaginário e na análise das representações sociais (FREITAS, 2006, p.15). Para Barbosa (2010), quando se fala de História Oral, os conceitos de memória e representação se fazem presentes, enquanto construções coletivas significadas e resignificadas permanentemente. A história oral joga necessariamente com as lembranças e os esquecimentos evocados ou silenciados pelos sujeitos naquele momento, reportando-se acontecimentos passados (BARBOSA, 2010, p.1-2). Meihy e Holanda (2010) denominam História Oral como sendo “uma alternativa para estudar a sociedade” (p.19). Nesse sentido, a “História Oral é um processo de aquisição de entrevistas inscritas no „tempo presente‟ e deve responder a um sentido de utilidade prática, social, e imediata” (p.19). É possível perceber que a metodologia baseada na História Oral aproxima o sujeito da temática da pesquisa, ao revelar suas vivências e memórias, dando mais sentido e significado para a pesquisa, como uma visão mais crítica e reveladora dos fatos. 25 4.3 Coleta e análise de dados Para construção desta pesquisa, foram utilizadas entrevistas narrativas, como método de coleta de dados, as quais continham perguntas pertinentes à pesquisa, permitindo assim uma entrevista fluente e flexível. Segundo Ströher (2011), desta forma, o pesquisador tem a possibilidade de buscar por um conhecimento significativo sobre o contexto no qual a pesquisa é desenvolvida. A entrevista narrativa surge então como um meio que permite a validação desta proposta visivelmente flexível, crítica e reveladora do direcionamento e da condução de uma pesquisa com caráter qualitativo (STRÖHER, 2011, p.27). As entrevistas foram realizadas de maneira semiestruturada, as quais contemplavam tópicos específicos a serem seguidos (em anexo). A entrevista semiestruturada tem por característica a possibilidade de uma elaboração e reformulações de tópicos e questões no decorrer da entrevista. Segundo Louro (2004), esse tipo de entrevista possibilita a abordagem de um tema, mas, ao mesmo tempo, ao não fechar completamente as perguntas em torno de hipóteses pré-estabelecidas, oferece um espaço para que a voz do entrevistado possa ser ouvida, possivelmente surpreendendo o pesquisador com respostas e abordagens de assuntos que não foram antecipados (LOURO, 2004, p. 27). As entrevistas foram realizadas de maneiras diferentes e em espaços distintos. Com o primeiro entrevistado, a gravação foi realizada no primeiro semestre do ano de 2013, em uma sala isolada, onde foi possível dialogar com o entrevistado fluentemente sobre o tema. Com o segundo entrevistado, porém no segundo semestre deste mesmo ano, a entrevista foi realizada dentro do carro, num estacionamento de um supermercado, devido ao um compromisso inadiável. Por morar em outra cidade, o entrevistado não quis desmarcar os compromissos já agendados previamente. No entanto, a coleta de dados não foi prejudicada, podendo assim ter um registro com a qualidade equivalente ao da primeira entrevista. Após a realização das entrevistas, os dados foram transcritos. Nesse processo, as falas dos entrevistados passam por uma adequação para uma compreensão melhor dos significados e expressões, com “o objetivo de deixar a 26 narrativa mais dinâmica, suprindo as perguntas do entrevistador e fazendo cortes em redundâncias ou partes que não estejam claras” (RECK, 2009, p.60). A construção da análise dos dados foi elaborada no decorrer das transcrições, onde foi possível denominar duas categorias e três subcategorias. A primeira categoria, denominada Influências e memórias musicais, onde autores como Fucci Amato (2008) e Torres (2003) deram embasamento teórico às questões relatadas. Na segunda categoria, intitulada Modelos de aprendizagens musicais, foi possível encontrar três subcategorias inerentes. A primeira subcategoria foi denominada Autoaprendizagem, onde autores como Corrêa (2008), Lacorte e Galvão (2007), conceituam-na como um processo de ensino aprendizagem do cotidiano. A segunda subcategoria nomeada Mídias, foi encontrada a partir das falas dos entrevistados, como um dos meios de aprendizagem musical utilizado, que é abordado também por Schmitt (2004), Souza e Torres (2009) e Del Ben (2000). Como terceira e última subcategoria – Práticas em conjunto (bandas) – foi construída a partir dos relatos das práticas musicais dos entrevistados. Autores como Cislaghi (2007) e Reck (2011) apontam essa prática como um fator contribuinte para o crescimento como músico. 4.4 A Família Bólico Este pequeno capítulo tem como intuito orientar o leitor em conhecer um pouco sobre os entrevistados da pesquisa: os irmãos Bólico. Em poucas palavras, relatarei a origem da família Bohrer Bólico, a qual eu pertenço, na condição de filha de um dos entrevistados. Desde muito pequena sempre tive curiosidade em conhecer as origens da minha família, formada pelos patriarcas e meus avós Manoel Borges Bólico (in memoriam) e Wilma Bohrer Bólico (in memoriam). Poucas vezes eu tive a oportunidade de ouvir as histórias de vida de ambos, mas como todo “vô e vó”, eles também foram bons contadores de histórias, as quais ainda estão em minha memória, como fatos marcantes de suas vidas. Outros, essenciais para situá-los nesta leitura, busquei conhecer através de meus tios e meu pai, os quais relatam sobre as várias mudanças e viagens que faziam pelo Brasil desde muitos pequenos. Meus avós se conheceram em Ijuí–RS, quando meu avô ainda era um soldado do exército brasileiro. Casaram-se em 1946, e após um ano, tiveram sua 27 primeira filha, a Maria Alice. Dois anos depois, nasceu Celso (um dos entrevistados). Como a vida de um militar exigia mudanças de cidades e até de estados, para um crescimento profissional, meus avós e os filhos foram transferidos para São Luiz Gonzaga-RS, onde moraram por três anos. Por escolha de minha avó, quando estava prestes a ganhar seu terceiro filho, o Moacir (entrevistado e meu pai) resolveu voltar à Ijuí, para ficar próxima a família. Nessas idas e vindas, a transferência militar foi para mais longe: Araucária–PR. Contam meus tios e meu pai, que foi a cidade em que mais tempo moraram; longos sete anos. E foi nela em que começaram os estudos de música dos três irmãos, assim como a curiosidade e o desejo de aprender a tocar um instrumento. Minha tia começou os estudos de música no acordeom, e logo após, meu tio. Motivado por ver meus tios fazendo música, meu pai, o filho mais novo, começou a tocar violão. Com pouca diferença de idade entre eles, sempre brincavam juntos; dessa maneira, eram motivados também por um mesmo interesse: a música. Após esse tempo longe dos familiares mais próximos, resolveram voltar para Porto Alegre–RS. No entanto, meu avô foi transferido novamente, e passaram a morar em Rezende–RJ. Meu tio e meu pai contam que ambos continuaram a praticar os estudos no violão em Rezende, e o desejo em querer saber mais só aumentava. Na adolescência dos dois, os gêneros musicais que gostavam de ouvir e tocar eram da Jovem Guarda e do Tropicalismo, os quais ambos citam como fatores importantes no crescimento como músicos Na vinda para o Rio Grande do Sul, agora como Primeiro Tenente, meu avô resolveu se aposentar. Foram morar em Júlio de Castilhos, onde “a cidade proporcionou” um crescimento musical significativo para os irmãos Bólico. Ambos contam que puderam desenvolver suas habilidades musicais participando de um conjunto melódico que existia na cidade. Meu tio estava com dezesseis anos de idade e meu pai com treze. Fizeram parte desse grupo durante dez anos, o qual se distinguiu devido aos compromissos dos membros do conjunto. Após o término desse conjunto, e com outros objetivos pessoais, os irmãos ficaram um tempo sem praticar música juntos. Constituíram famílias, foram morar em outras cidades, porém a música sempre esteve presente, não só na vida deles, mas também de seus descendentes. Tanto os meus primos, filhos de Celso, quanto os meus irmãos e eu, filhos de Moacir, desde muito pequenos demonstramos interesse pela música, e até hoje desenvolvemos habilidades musicais. Essa “herança” ou vivência musical que os irmãos Bólico construíram juntos e transmitiram aos seus 28 descendentes, demonstra que aprendizagem musical pode ser construída e cultivada no núcleo familiar. 29 5. ANÁLISE DE DADOS 5.1 Influências e memórias musicais Compreender as narrativas musicais envolve um olhar sobre nossas primeiras aproximações com a música, e como construímos nossos significados musicais. Torres (2003), ao pesquisar as identidades e as memórias musicais de um grupo de alunas de Pedagogia, reflete também suas próprias lembranças e memórias da infância. Ao parar e tentar relembrar fatos que marcaram minhas memórias musicais [...] considero que realizei uma espécie de viagem no tempo, voltando ao passado, e procurei ouvir sons da minha casa, no momento da minha infância, com meus pais, com meus irmãos e a minha irmã mais velha tocando piano (TORRES, 2003, p.21). A partir das entrevistas realizadas com os irmãos Bólico, sobre as influências musicais que tiveram em sua infância, foi possível perceber a relação estreita e significante construída entre os membros da família. Nos relatos, os entrevistados trouxeram a memória dos primeiros sons que instigaram ao desenvolvimento musical e o gosto pela música: o gosto pela música despertou praticamente quando eu tinha meus nove anos, e acho que pelo gosto da música que o pai e a mãe tinham, pois eles ouviam muita música. [...] então... o interesse pela música veio daí...do pai e da mãe. Daí minha irmã mais velha, começou a estudar acordeom. Aí, ela chegava em casa e ia fazer os temas da aula, e eu ficava ouvindo (Celso, entrevista 09/11/13). Ao mencionar quem o despertou para música, Moacir cita seu irmão Celso como seu “grande incentivador” musical. Ao recordar quando Celso ganhou seu primeiro violão, Moacir lembra como foi o primeiro contato com o instrumento. O meu incentivador pra tocar foi meu irmão [...] Então meu “mano” ganhou um violão, de tanto insistir para ter, ele ganhou. E ele tocando aquele violão eu ficava olhando, eu até pegava o violão e tentava tocar ele, mas só tentava (Moacir, entrevista 05/05/13). Assim como a irmã mais velha serviu de referência e despertou interesse musical nos irmãos, outros familiares próximos, que tocavam algum instrumento, reforçaram ainda mais o desejo de ambos. 30 Tinha um tio meu, irmão da minha mãe, que tocava gaita de boca. Aí eu comecei a cuidar como aquele velhinho tocava né?! Ele tocava muito bem. [...] Mas aí eu pensei: “Se ele toca gaita de boca, eu acho que eu consigo, né! (Celso, entrevista 09/11/13). Eu lembro que os irmãos da mãe gostavam muito de cantar hinos de igreja [...] Eles aprendiam, tinham um ouvido bom para gravar melodias e cartar, e eram muito afinados [...] (Moacir, entrevista 05/05/13). No decorrer das entrevistas, ambos os irmãos citam a irmã mais velha como referência musical, a qual começou a fazer aulas de acordeom na adolescência, porém não deu continuidade aos estudos. Da mesma maneira enfatizam que seus pais costumavam ouvir música juntos, o que despertou neles o gosto e o interesse em aprender um instrumento. [...] quando chegava os fins de semana, que a gente podia estar reunidos, escutando na rádio o programa gaúcho, ”O Grande Rodeio Coringa”. O pai e a mãe dançavam ao som das músicas que eram tocadas e cantadas no programa da Rádio Farroupilha, naquela época. E a gente gostava de ver aquilo, né... a música tocando e o pai a mãe choravam ouvindo e dançando... e a gente chorava junto, sem saber... (Celso, entrevista 09/11/13). Torres (2012), ao trazer à memória seus “primeiros sons” da infância, menciona os sons dos discos de vinil dos pais, músicas que os irmãos e irmãs ouviam e tocavam no violão, trilhas sonoras de desenhos japoneses, programas de música nas rádios e televisão, cenas do pai tocando contrabaixo, o compartilhamento do repertório musical com os pais incluindo os sons do Grupo ABBA, músicas sertanejas, canções folclóricas, músicas do Padre Zezinho ou as aulas de flauta doce com a mãe. (TORRES, 2012, p.2) Analisando as narrativas dos irmãos a respeito de suas influências musicais, pude perceber que o convívio com familiares músicos proporcionou a eles um contato com a música desde muito cedo. Desta maneira, a música tornou-se um importante hábito para a família. Segundo, Fucci Amato (2008) A família é, assim, a primeira instituição musical do individuo. Os hábitos da família determinarão os hábitos de seus filhos, já que estes são formados cognitivamente em um processo que envolve a imitação da atitude daqueles que estão ao seu redor e este toma como padrão (FUCCI AMATO, 2008, p.87). É preciso ressaltar neste subcapítulo a importância do contato com a música na infância, destacando também que as influências e inspirações musicais são importantes incentivos, os quais instigam o crescimento e a curiosidade do 31 “saber”. Cultivando essa vivência musical é possível promover uma construção de uma identidade musical, no caso aqui, no âmbito familiar. 5.2 Modelos de aprendizagens musicais A Educação Musical tem buscado compreender a existência das mais variadas formas de ensino e aprendizagens musicais. Na contemporaneidade destacam-se alguns destes modelos como sendo processos de ensino aprendizagem no cotidiano, onde são construídos também nos mais variados contextos. Nos próximos subcapítulos, três modelos de aprendizagens musicais são citados pelos entrevistados. 5.2.1 Autoaprendizagem Figura 1 A partir das narrativas musicais dos irmãos, percebi que os dois relatam ter aprendido a tocar o instrumento (acordeom, piano e violão), na maioria das vezes, sozinhos. Os processos de autoaprendizagem podem ser encontrados de diversas maneiras nas falas dos irmãos Bólico. Uma delas é quando ambos citam ter aprendido a tocar a música que queriam observando algum músico. Após essa observação, logo em seguida pegavam o instrumento e saíam cantarolando e/ou testando os acordes, até tocar toda ela. 32 tinha um tio meu, irmão da minha mãe, que tocava gaita de boca. Aí eu comecei a cuidar como aquele velhinho tocava né?! Ele tocava muito bem. [...] Mas aí eu pensei: “Se ele toca gaita de boca, eu acho que eu consigo, né?!. Aí eu não me lembro aonde, mas eu comprei uma gaita de boca, acho que até indicada pelo meu tio. Mas foi pegar a gaita de boca, soprando, “puxando”, eu via que a nota se alterava, ia procurando a nota, quando eu vi, estava tocando a gaita de boca (Celso, entrevista 09/11/13). (*Narrativa citada na categoria anterior) Eu tinha muita vontade de aprender coisas diferentes...eu ia nos bailes naquela época, ver os conjuntos tocar, e ficava perto do palco só para ver como o “cara” fazia para tocar.[...] Daí eu via e pensava: “Bah, ele toca aquela lá em sol maior. Daí ficava cuidando quais as notas que ele usava, para eu tocar a mesma música em casa. Daí eu chegava em casa e cantarolava, e escutava na rádio e ficava ali, até pegar a música. Praticamente, assim, eu desenvolvia sozinho (Moacir, entrevista 05/05/13). Corrêa (2008), ao estudar os processos de autoaprendizagem de adolescentes menciona algumas das características que correspondem a esse modelo de estudo. Uma das características da autoaprendizagem [...] é exatamente aprender perguntando, questionando, observando, reproduzindo e comparando. Pode ser um colega, um amigo, ou até mesmo um desconhecido. O que parece importar é a oportunidade, o momento. A troca ocasionada por este dar e ao mesmo tempo receber constitui, sem dúvida, um elemento não só motivador, mas também de reflexão e de ensino e aprendizagem (CORRÊA 2008, p. 36). O autor, ao tratar de autoaprendizagem, entende que há várias expressões que “são utilizadas para definir as formas de aprendizagem de indivíduos que escolhem o que querem aprender, sem formalizarem as aulas” (CORRÊA, 2000, p.15). Nesse sentido algumas expressões se confundem como: autodidaxia, autodidata, autoaprendizagem ou aprender sozinho. Para Corrêa “há uma série de conceitos que tentam explicar os processos de aprendizagem relativos à autoformação” (ibidem). Em umas de suas falas, Celso revela ter sido muito curioso e observador. Ele recorda do seu primeiro contato com o violão. Aí uma vez a gente veio pro Sul, de férias, nos parentes do meu pai, e eu achei um violão debaixo de uma cama, tinha uma corda só.[...] Aí eu sozinho no quarto, sentado na cama, fui batendo na corda, e apertava como eu via o “cara” apertando pelo braço [relembra de quando viu um músico tocando violão]. Fui indo e descobri que cada tracinho daqueles era uma nota diferente (Celso, entrevista 09/11/13). 33 Analisando as falas de Moacir, pude perceber que houve momentos em que ele trocava ideias e alguns conhecimentos com seu irmão. e com essa influencia de ele [ao referir o irmão] chegar em casa e mostrar o que ele tinha aprendido, eu comecei a querer aprender. Ele me ensinou algumas notas, alguma coisa, e eu comecei a me dedicar. Ele ia para o trabalho e eu vinha do colégio, pegava o violão e ficava tentando tirar as notas...”pã, pã, pã [sons das trocas de acordes]. E quando ele chegava e eu dizia: „Oh, aprendi umas notas aqui.[...] Daí ele levava a guitarra lá pra casa, e eu pegava a guitarra e começava...praticamente autodidata, né. [...] O meu aprendizado maior foi de participar dos bailes dos conjuntos que vinham de fora, e praticar, ver o que eles faziam e praticar em casa, pra aprender, pra tentar fazer o mais perfeito possível (Moacir, entrevista 05/05/13). Segundo Corrêa (2008), para obter sucesso na aprendizagem é necessário ter uma proximidade com o instrumento, além do desejo em aprender a tocar. A efetivação do desejo é realizada pelo próprio jovem através do ato, da ação de pegar o instrumento e sair tocando, e da coragem de realizar algo que parece ser importante para si, bem como o estabelecimento de uma proximidade física com o violão nos espaços da casa, seja, no quarto, na sala, ou no banheiro (CORRÊA, 2008, p. 35). No entanto, Celso menciona ter iniciado seus estudos musicais no acordeom, com a mesma professora de sua irmã mais velha. Porém não deu continuidade aos estudos, pois não queria tocar por partitura, e sim de “ouvido”1. [...] partindo desse aprendizado da aula de gaita da minha irmã, eu também passei a frequentar o mesmo curso, a mesma professora. Só que ela me ensinava, aquilo por nota.[...] Aí eu pensava: “Por que eu vou ler essas cobrinhas, esses bichinhos [referindo-se a partitura], se eu escuto a música, pego a gaita e saio tocando? [...] Então a professora começou a me cobrar muito. “Tu tá decorando, tu não tá olhando pra partitura, tu não tá lendo, tá tocando de ouvido”. Aí eu respondia: “Mas professora, por que que eu preciso ler se eu escuto e consigo tocar?” Foi, que eu me “desgostei” daquela cobrança e sai da aula. Mas eu continuei tocando, sem ter aulas” (Celso, entrevista 09/11/13). Lacorte e Galvão (2007), ao pesquisar sobre os processos de aprendizagem de músicos populares, destacam que [...] o “ouvir” é parte fundamental da enculturação, que permeia o desenvolvimento dos músicos populares, desde as suas tentativas iniciais de fazer música até a carreira profissional.[...] No processo de aprendizagem de músicos populares, essa valorização do músico “bom de ouvido” é ainda mais forte, na medida em que historicamente é uma 1 - “Tocar de ouvido”: expressão utilizada quando o sujeito aprende a música individualmente, ouvindo-a, sem a ajuda de métodos ou auxílio de um professor. 34 atividade cuja transmissão caracteriza-se por ser essencialmente “aural”, isto é, transmitida “de ouvido”.(LACORTE; GALVÃO 2007, p. 31) Influências externas, como amigos e conhecidos, são relatadas nas falas de Celso, bem como a utilização de um encarte musical, conhecido como “Método Canhoto”. Sem compreender o que significava algumas cifras e notas musicais, buscou ajuda com um amigo. Era um encarte, tipo um caderno de música. Então ali tinha todas as posições dos acordes. Não ensinava a solar, mas sim o acompanhamento... os acordes no braço do violão, com as notas, aonde apertar, a posição do dedo, qual dedo usar... e ali eu fui indo né...autodidata e, as vezes enxergava alguém e perguntava: “Vem cá, nessa música, essa posição de acorde como é que se faz? Era um mineirinho. [...] Ele abria o método e tinha o acorde C (Dó Maior). Tudo que “cabia” nesta tonalidade ele me mostrava. Então comecei aprender a solar, pois eu sabia solar numa corda só, né?! Ia até o final do braço tocando. E quando ele me viu tentando solar, ele me disse: “por que que tu não usa mais cordas, mais dedos? Tu vai ver como tu não precisa fazer assim, sujeito a errar e ir lá no final do braço, e voltar até o início, numa corda quando só. Usa mais as notas graves, nas cordas de cima, e as mais agudas nas de baixo.” Então eu fui notando, que isso realmente facilitava mais o aprendizado, né?!” (Celso, entrevista 09/11/13). Para Lacorte e Galvão (2007), desde as primeiras etapas, os músicos mais experientes passam o seu conhecimento para os iniciantes de maneira informal, geralmente ensinando a harmonia, a letra e/ou acompanhamento de músicas específicas, sem muita explicação teórica (LACORTE;GALVÃO 2007, p.29-30). Percebi, nesta breve análise, que a família foi a principal incentivadora e influenciadora musical dos irmãos Bólico. Assim, com o desejo de desenvolver habilidades musicais, tanto um quanto o outro buscaram meios para isso. Foi possível compreender que a autoaprendizagem nunca está sozinha, pois ambos citam ter tido um “auxílio” de alguém, seja na troca de conhecimentos com o irmão, com um familiar ou um conhecido, apesar de terem desenvolvido grande parte do conhecimento musical sozinhos. 5.2.2 Mídias Os meios de comunicação são fundamentais nas sociedades contemporâneas, integrando as atividades cotidianas dos indivíduos. Os meios não apenas promovem interações interpessoais, mas viabilizam novos conhecimentos, disponibilizando para a sociedade um conjunto de materiais simbólicos (SCHMITT 2004, p.19). 35 Um dos meios de comunicação mencionados pelos entrevistados, ao se referirem ao processo de aprendizagem do instrumento, foi o rádio. O rádio era o meio de comunicação mais utilizado por eles, quando queriam escutar uma música para tocar. Naquela época, se ouvia muito rádio, né?! Televisão a gente nem tinha noção que existia. Então era a rádio que ouvíamos. Era um rádio antigo; a válvula. Demorava dez minutos para esquentar e começar a aparecer o áudio. Então, o rádio foi o mediador para despertar para música. [...] o nosso recurso era deitar embaixo da eletrola, sintonizava a rádio Guaíba, que naquela época tinha os programas só de música, os musicais... “A música da Guaíba, com Fernando Veronese”. Bah!!! Aí a gente ficava esperando até que tocasse uma música que a gente queria tocar.[...] As vezes ficávamos horas escutando, e não dava nada de interessante. Aí desligávamos porque tínhamos que trabalhar, ir pro colégio. E ficávamos com aquela frustração de quando é que ia tocar novamente a música que gostamos, para aprender?! Aí no outro dia a gente ligava, e tocava a música (Celso, entrevista 09/11/13). [...] Eu ouvia as músicas pelo rádio. Naquela época, televisão era em preto e branco e em Júlio de Castilhos era uma “chiadeira”, não tinha como escutar. [...] Aí eu fiquei sabendo que ia dar na rádio, porque era sucesso naquela época, e ficava esperando tocar. Quando não conseguia tirar todos os acordes, eu esperava a próxima vez que ela ia ser tocada pra tirar toda ela (Moacir, entrevista 05/05/13). Segundo Souza e Torres (2009), existem múltiplas maneiras de ouvirmos música, ligadas ao contexto da educação musical, citando o rádio como um dos meios midiáticos utilizado por jovens para ouvir música. O rádio é de interesse para ouvir música, especialmente pelas novidades que traz e pelas paradas de sucesso que apresenta além dos programas regionais. Toda a programação do rádio é preenchida por música. Por isso, a atração que o rádio tem para os jovens, decisivamente, resulta de sua música (SOUZA; TORRES 2009, p. 48). Como já explicito no capítulo sobre a Educação Musical e seus mais variados espaços que ela abrange, a aprendizagem musical vem ultrapassando os limites da escola e de espaços especializados. Quando os irmãos fazem referência ao rádio como meio de aprendizagem, as falas vêm ao encontro com as palavras de Del Ben (2000), pois o processo de aprendizagem e construção de significados musicais ocorre em todas as dimensões da vida cotidiana, como a família, o grupo de amigos, a escola e os meios de comunicação (DEL BEN 2000, p.102). 36 5.2.3 Práticas em conjunto Figura 2 Outra categoria de análise que foi possível destacar das entrevistas foi aprendizagem e prática em conjunto com banda. Celso relembra de como foi seu primeiro contato com a que existia em sua cidade na época. [...] existia um conjunto na cidade, chamado Conjunto Melódico Tipiaia; nome de índio gaúcho, da região e do município de Julio de Castilhos. Existe até um arroio com esse nome. Então o pessoal do conjunto ficou sabendo que na loja “tal” tinha um guri que tocava violão e gaita (que era eu). Aí me convidaram para assistir um ensaio e se tinha interesse em participar. Eu fui... muito envergonhado, mas fui. Então ali começou a deslanchar mais coisas (Celso, entrevista 09/11/13). Entre essas falas, ele menciona que trabalhava em uma loja de eletrônicos que também vendia instrumentos musicais. Nos intervalos das tarefas, ele pegava o acordeom ou violão e tocava. Foi ali que suas habilidades musicais chamaram a atenção de outros músicos. Aí, quando eu fui convidado para assistir um ensaio me fizeram uma pergunta: “Qual é a música que tu sabe tocar no violão e cantar?” Aí, peguei o violão e ali sentei numa cadeirinha na loja e comecei a cantar: “Se as folhas são verdes, em pleno verão...”. Era alguma coisa assim... Ah, gostaram muito... “Tu tem que ir num ensaio, tem que ir. Tu vai tocar guitarra pra nós”. Aí eu fui no ensaio, e começaram a ensaiar e eu sentado na frente, escutando, cuidando tudo que é movimento né?! [...] (Celso, entrevista 09/11/13). 37 Moacir, em suas falas, recorda quando Celso foi convidado para entrar no conjunto. Aí voltamos para o Rio Grande Do Sul, para a cidade de Julio de Castilhos. Lá havia um conjunto que estava precisando deum guitarrista, mas meu “mano” nunca tinha tocado guitarra, tocava violão, mas ele foi convidado para assistir o ensaio, foi lá e mostrou também o que sabia. Os “caras” gostaram da maneira que ele tocava, simples, na época eram músicas da Jovem Guarda, Música Popular Brasileira... e com essa influencia de ele chegar em casa e mostrar o que ele tinha aprendido, eu comecei a querer aprender (Moacir, entrevista 05/05/13). Da mesma maneira, Celso lembra como foi o ingresso do Moacir no Conjunto Melódico Tipiaia. O baterista foi servir (serviço militar), o guitarrista brigou com o pessoal da direção e se afastou. Aí vieram falar comigo: “vem cá, agora quem sabe tu deixa o piano e tu volta pra guitarra, violão.” Para conjunto não parar, encarei. Comecei ensaiar a guitarra, e larguei o piano. Neste meio tempo o baterista foi servir o quartel, e ficamos sem baterista. Aí eu convidei o meu irmão mais novo [...] “Vem cá, quem sabe tu entra no lugar do baterista”. [...] De tanto observar o baterista, as vezes eu ia ensaiar na casa dele pra deixar pronto os arranjos, os break‟s, né?! E com aquilo eu fui pegando gosto pela bateria. Mas aí eu não cheguei a me aprofundar. Aí quando o baterista saiu, levei a bateria pra casa, e pensei: Eu vou ensinar o Moacir a tocar bateria. Quebrei umas baquetas na cabeça dele (risos) (Celso, entrevista 09/11/13). É possível perceber que a prática em conjunto/banda desenvolve outras habilidades e competências entre o grupo. Além de proporcionar trocas de conhecimentos entre os músicos, por meio dessa experiência, os membros são motivados a se dedicar ao estudo do instrumento. Para Reck (2011), as práticas em conjunto “oferecem diferentes possibilidades e estratégias de ensino e de aprendizagem musicais, que se estabelecem a partir das relações entre os integrantes do grupo” (p.118). Algumas dessas relações entre os integrantes eram bem aproveitadas por eles. Segundo Moacir, aí nós tínhamos a influencia, o cantor do conjunto, por exemplo, ele dizia: ´Oh, hoje eu ouvi uma música assim, eu tenho a letra dela aqui, eu vou cantarolar ela pra ti, tu acompanha?‟ Ele fazia o “lá lá lá lá” eu tentava acompanhar aquele “lá lá lá lá” dele. [...] Aí eu fiquei sabendo que ia dar na rádio, porque era sucesso naquela época, e ficava esperando tocar. Quando não conseguia tirar todos os acordes, eu esperava a próxima vez que ela ia ser tocada pra tirar toda ela. É... e hoje em dia é diferente, se tu quiser aprender uma música, tem professor, tem na internet como se toca, como se pega o instrumento. Antigamente não tinha, e graças a Deus pude praticar e ter apoio do pai e da mãe, em me deixar ficar horas de ouvindo para tocar (Moacir, entrevista 05/05/13). 38 Ao questionar os entrevistados a respeito dos ensaios da banda, ambos citam que, a maioria dos ensaios era realizada na casa deles. Seus pais cederam um espaço para estarem próximos dos filhos, como bons apreciadores de música e incentivadores das práticas dos filhos. Mas sempre, sempre tivemos apoio dos nossos pais. Todos os pais sempre presentes. Um dia o ensaio era na casa de um, no outro era lá em casa. Então a gente não incomodava só uma família.[...] o pai e a mãe pediram para levar os instrumentos lá pra casa, pois havia um quarto que não era usado, tinha uma garagem também. Então essa opção por ensaiarmos lá me casa, facilitou para todos, pois morávamos todos perto. [...] Então as famílias né, sempre nos apoiaram, principalmente meus pais, que sempre gostaram de música (Celso, entrevista 09/11/13). [...] Ensaiávamos em casa. A maioria dos ensaios era no porão da nossa casa. Nós tínhamos um apartamento, que tinha uma sala grande, e os instrumentos foram todos lá pra casa... então foi a oportunidade que tinha de tocar mais guitarra. [...] eles cultivavam, principalmente o pai e a mãe. Eles gostavam tanto que, quando a gente ensaiava, eles iam assistir o ensaio, porque era no porão da nossa casa, e naquela época a televisão pegava mal, o que iam fazer a noite? Eles iam e sentavam numa cadeirinha, num banquinho lá perto do conjunto e ficavam escutando a gente ensaiar (Moacir, entrevista 05/05/13). Reck (2011) argumenta que além de apenas um preparo técnico para alcançar determinada qualidade de execução musical, “os ensaios também podem ser entendidos como um processo musical onde são produzidas diferentes relações de ensino e aprendizagem”. Nessa direção Cislaghi (2007) aponta que “o ensaio é um momento extremamente importante para o desenvolvimento musical de qualquer grupo”, e que “o trabalho realizado nos ensaios pode contribuir para o aprendizado musical”. 39 REFLEXÕES FINAIS A referente pesquisa possibilitou compreender a construção dos processos pedagógico-musicais que são desenvolvidos no contexto familiar. Por meio das entrevistas realizadas com os irmãos Bólico foi possível destacar as mais variadas formas de aprendizagens musicais que possibilitaram seus conhecimentos e práticas, abordadas aqui a partir das perspectivas da Educação Musical no cotidiano (SOUZA, 2000). Para uma melhor compreensão do tema e estruturação dessa pesquisa qualitativa (BAUER e GASKELL, 2002) foram realizadas entrevistas narrativas para a coleta de dados, o que possibilitou o desenvolvimento de uma abordagem metodológica embasada na História Oral temática (MEIHY e HOLANDA, 2010). Ao estruturar as narrativas dos irmãos Bólico, após as transcrições das entrevistas, foram criadas duas categorias sobre o tema abordado, as quais nortearam o processo de análise dos dados. A primeira foi intitulada Influências Musicais (FUCCI - AMATO, 2008; TORRES, 2003), na qual foi possível conhecer os primeiros contatos musicais e “sons” que motivaram os irmãos a aprender um instrumento musical. Na segunda categoria, Modelos de aprendizagens musicais, foram identificadas três subcategorias: Autoaprendizagem (CORRÊA, 2008; LACORTE e GALVÃO, 2007), Mídias (SCHMITT, 2004; SOUZA e TORRES, 2009; DEL BEM, 2000) e Práticas em conjunto (bandas), (CISLAGHI, 2007; RECK, 2011), as quais são apontadas como fatores essenciais para a construção do conhecimento musical dos irmãos Bólico. Com o advento da Lei 11.769/08, a qual propõe a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas, busca-se também compreender as múltiplas abordagens da Educação Musical e sua pluralidade no cotidiano, auxiliando os educadores musicais em suas práticas e estratégias para o ensino da música em diferentes contextos sociais. Segundo Queiroz (2010) considerando as vertentes atuais da educação musical, percebe-se que há, por parte de seus pesquisadores, professores e estudiosos em geral, consciência de que a delimitação da área, enquanto campo de conhecimento e atuação profissional, tem que ser plural. Por essa ótica, a educação musical, enquanto área de conhecimento, abrange o estudo de qualquer processo, situação e/ou contexto em que ocorra transmissão de saberes, habilidades, significados e outras aspectos relacionados ao fenômeno musical [...] (QUEIROZ, 2010, p. 116). 40 Nesse sentido, a pesquisa buscou compreender um dos contextos sociais em que a música pode ser inserida, como o da família. Foi possível destacar e conhecer os processos pedagógicos que são desenvolvidos entre os membros da família, contudo, não se restringindo como sendo a única motivadora dos que praticam música neste contexto, elencando também as influências do cotidiano. Na Educação Musical, esse tipo de pesquisa pode auxiliar o educador musical a repensar suas trajetórias musicais assim como a construção de sua identidade musical. 41 REFERÊNCIAS ALBERT, Verena. História oral: a experiência do Cpdoc. Rio de janeiro. Fundação Getúlio Vargas, 1989 BARBOSA, Roldão Ribeiro. 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