POR UMA JUSTA POLÍTICA de IMIGRAÇÃO As medidas recentemente anunciadas pelo Governo, nomeadamente a fixação de uma absurda quota para a entrada de Imigrantes, embora envoltas em repetidas afirmações de preocupação humanista, revelam claramente que prevalece na orientação do Governo uma matriz xenófoba e que o Governo olha de soslaio os imigrantes, encarando-os como uma ameaça. Por outro lado, o Governo prossegue uma linha de tentar “dividir para reinar”, introduzindo preferências de um determinado tipo de imigrantes face a outros, como seja, por exemplo, a preferência da língua. Opções deste tipo, em nada contribuem para a criação de climas harmoniosos e, ao contrário, podem tender a ser geradores de indesejáveis crispações sociais. O número de 6500 imigrantes anunciado pelo Governo, é isso mesmo, um número, que a vida se encarregará de chamar de estúpido. A realidade é que o Governo adopta e subscreve no plano da União Europeia políticas de cariz securitário, de matriz policial, de natureza repressiva, de mais policias agora com vista ao combate à imigração e prossegue no plano nacional, uma política geradora de desemprego, de crescente precariedade no trabalho, de cortes nos direitos sociais – segurança social, saúde, pensões, etc.. Portugal conta hoje com quase 500 mil imigrantes, que contribuíram no ano de 2002 com mais de 397 milhões de euros para a segurança social. Esta é a realidade a ter em consideração quando se fala dos imigrantes. O PCP rejeita ângulos de abordagem que tendem a fazer dos imigrantes bodes expiatórios da situação social existente em Portugal. A situação de desemprego crescente, de aumento das bolsas de pobreza e tudo o que lhe está associado tem no Governo e na sua política o principal responsável. O PCP reafirma que não há integração dificultando o reagrupamento familiar; permitindo que imigrantes ilegais com trabalho sejam expulsos enquanto o patrão que os usa fica impune; promovendo políticas discriminatórias entre imigrantes; não adoptando medidas claras de apoio em matéria de equivalência de cursos, desperdiçando-se formações e capacidades tão necessárias; discriminando a mão-de-obra imigrante, praticando baixos salários, a total precariedade dos vínculos e condições de trabalho, tantas vezes infrahumanas, de autêntica escravatura em pleno século XXI. A tendência crescente na sociedade portuguesa para o empobrecimento das famílias, em resultado das políticas que têm vindo a ser seguidas, tem nos imigrantes os primeiros lesados. O PCP com os Imigrantes, pelos seus direitos, em igualdade como cidadãos O PCP considera inaceitável que persistam situações de recusa de assistência na saúde a imigrantes, como tem vindo a público, assim como crianças que não frequentem a escola por virtude da situação dos pais, sendo que em muitos casos os pais, não estando legais, têm efectivamente um trabalho e efectuam os seus descontos para a segurança social. Assim como é inaceitável e absurdo que imigrantes que pagam os seus impostos e descontos para a segurança social continuem a estar numa situação de ilegais. O PCP apela, às diferentes organizações sociais para que conjuguem esforços na exigência de uma política de respeito pelos direitos inalienáveis de quem trabalha em Portugal e assim contribui para o seu desenvolvimento. É necessária a garantia de uma política de educação baseada numa concepção multicultural da sociedade portuguesa a começar na política em relação à família e à escola em todos os níveis, que combata o racismo e a xenofobia e valorize as diversas identidades culturais, o respeito pela diferença e o efectivo diálogo multicultural. O PCP continuará, no quadro daquele que é o seu projecto de sociedade, a luta por uma sociedade mais justa e mais fraterna e tomará iniciativas políticas e institucionais que concorram para o cumprimento, por parte do Estado português, dos seus irrecusáveis deveres perante quem, entre nós, trabalha, cria riqueza e contribui para o progresso do nosso país. DEP-PCP/2004 O PCP reafirma que é necessária uma política não discriminatória, que garanta os direitos dos imigrantes, em igualdade com os demais cidadãos, designadamente quanto ao direito à educação, à saúde e à segurança social, à cultura e ao desporto, à habitação. Uma política justa e adequada às realidades actuais, baseada num conceito que privilegia o exercício de direitos. Janeiro 2004 Grupo de Trabalho do PCP para as Questões da Imigração