Entrevista Dilma Rousseff

Entrevista Dilma Rousseff
Rádio Mirante AM - Maranhão
15/01/2010
Repórter – Ministra, primeiro vamos falar da refinaria. A senhora que veio aqui para
anunciar as obras dessa refinaria. Do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico,
como é que a gente pode ver este empreendimento que é o maior da América Latina, um
dos maiores do mundo?
Dilma – É verdade, Roberto. Essa refinaria, a refinaria Premium aqui em Bacabeira, ela é
uma das mais importantes do mundo. Ela hoje começa o seu processo de construção, e ela
vai significar algo muito importante para o Brasil. Nós teremos condições de sermos
grandes produtores de petróleo, e não vamos querer exportar o petróleo bruto. Então,
refinar o petróleo, produzir gasolina, óleo diesel, querosene de aviação é algo estratégico
para o país, porque aí nós estamos agregando valor e não exportando um produto primário,
mas estamos exportando, com o nosso emprego aplicado ao petróleo, nós vamos estar
exportando um valor agregado muito importante. E aí, o Maranhão ocupa um papel central.
O Maranhão é por sua localização geográfica, um local privilegiado porque está perto tanto
dos grandes mercados consumidores dos Estados Unidos, como da Europa, e o Maranhão
ao mesmo tempo, tem uma situação logística privilegiada com o porto de Itaqui, que
rigorosamente é o melhor porto do Brasil. Então, o que vai acontecer aqui hoje? Vai
acontecer, eu acho um passo muito importante na história do Brasil e do Maranhão. O
Maranhão vai mudar de patamar, porque uma refinaria trás com ela uma possibilidade de
uma série de outros empreendimentos aqui, porque depois do refino vem a petroquímica, e
ao mesmo tempo permite que o Brasil com a descoberta desse posto do Pré-Sal se
transforme no grande exportador que nós temos de ser porque esses mercados da Europa e
dos EUA eles exigem uma qualidade do petróleo e aqui vai ser produzido esse petróleo
com baixo teor de enxofre e que vai ter acesso direto a esses grandes mercados. Por isso
hoje é um momento muito importante. E isso vai resultar em quê? Em empregos aqui.
Empregos e o surgimento dessa cadeia produtiva do petróleo que implica, desde a produção
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de batom, meias de seda... É porque tudo isso que a refinaria produz, ela permite que a
gente crie uma série de empresas depois.
Repórter – Nós temos que ter a capacidade de aproveitar também aqui no Estado essa
refinaria para, a partir daí, atrair outras empresas que giram em torno dessa refinaria que
vão gerar muito mais emprego aí.
Dilma – Isso é verdade. Tanto quando a gente fala pra cima, ou seja, nessa produção que eu
falei, no batom, meias de seda, produtos plásticos etc. Ontem eu estava conversando com o
diretor presidente da Transpetro, que é a empresa de transporte, e ele disse que vai haver
aqui um movimento, a necessidade de um número de navios muito significativo. Para
termos uma idéia o resto do Brasil, os portos, se movimentam com quase 4,5 mil navios
nessa área e ele estava me dizendo que vai haver aqui um movimento em torno de mais de
2 mil navios. Também aqui passará a ser um lugar muito atraente para essa industria naval,
produtora de navios, estaleiros e eu acho que o Maranhão é vocacionado para isso, porque
também é importante a qualidade do porto pra essa produção. Então, eu acredito que isto
significa um novo caminho no desenvolvimento do Maranhão. Junto com toda modificação
que o Maranhão já esta passando, mas isso pode contribuir também pra uma diversificação
da produção do estado do Maranhão. Um aproveitamento melhor das riquezas daqui e do
povo trabalhador do Maranhão.
Repórter – Então o projeto de desenvolvimento de um país vai, na medida em que o
presidente desloca do Sudeste, do Sul e trás também para região, no nosso caso aqui,
Nordeste, meio Norte, ele começa também a descentralizar desenvolvimento no país.
Dilma – Isso é algo muito importante. Eu acho que uma coisa que caracteriza o governo do
presidente Lula é essa relocalização, porque o Brasil sempre concentrou desenvolvimento,
nos últimos governos, antes do Lula, no Sul e no Sudeste, ali que ficavam as ferrovias, ali
que ficavam as refinarias, enfim, ficava todo Parque Industrial e a infraestrutura. O que o
presidente Lula considera é que o nosso país é extremamente diversificado, que o Nordeste
e o Norte do Brasil têm de ser desenvolvidos, que o tamanho do Brasil, a importância do
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Brasil, necessariamente, implica no desenvolvimento dessas duas regiões. Por isso, nós
damos continuidade à Ferrovia Norte/Sul, que começou no governo do presidente Sarney,
nós construímos a Transnordestina, que vai ser ligada à Ferrovia Norte/Sul e, portanto, vai
ligar diretamente o Maranhão, tanto à Pecém, quanto à Suape, e, também, todas as obras
que nós estamos priorizando para o Nordeste. Essa refinaria Premium– é importante vocês
saberem disso e eu falar diretamente para os ouvintes da rádio Mirante – vai ser, em termos
de qualidade tecnológica, a melhor refinaria que o Brasil possui, porque ela estará num
padrão técnico que as outras, mesmo quando a gente moderniza, renova, revitaliza, elas não
alcançam. Então, ela vai ser uma das maiores do Brasil, porque só o projeto, em sua
primeira etapa 300 mil barris, numa segundo etapa, mais 300 mil barris, totalizando 600 mil
barris. Para vocês terem uma idéia, uma refinaria grande no Brasil, hoje, não produz mais
do que 160/180 mil barris.
Repórter – Agora, ministra, eu espero que com a sua vinda e a do presidente para, de fato,
iniciar os trabalhos de construção da refinaria, possa, definitivamente, acabar com as
dúvidas daqueles que são do tipo “São Tomé”, ou seja, só vendo para crer, porque ainda
percebemos em algumas pessoas que elas têm dúvidas que essa refinaria, hoje, é
irreversível, é um projeto concreto e que está sendo construído aqui no estado do
Maranhão.
Dilma – Eu te diria, Roberto, e também aos ouvintes da rádio Mirante, que tem uma
característica nesse projeto, que é a seguinte: ele é uma necessidade do Brasil. É importante
essa refinaria no Maranhão, que é o melhor lugar para ela se localizar, justamente pela
característica do porto, como eu disse, pelo acesso direto aos grandes mercados
consumidores, tanto que é uma necessidade do Brasil. Só um louco desenfreado
interromperia um projeto desse. Eu acredito que o Brasil amadureceu o suficiente para ter
clareza que uma refinaria desse porte é um projeto que faz com que o nosso país possa, de
fato, ser isso que todo o mundo está dizendo: que nós seremos a quinta economia do
mundo. Para ser a quinta economia do mundo, essa refinaria é necessária. Portanto, eu não
acredito, em hipótese alguma, na interrupção dessa obra, eu não acredito que ela volte atrás,
porque os critérios que formaram a nossa escolha são economicamente corretos,
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socialmente corretos, porque são socialmente justos, regionalmente estratégicos para o país.
Então, é importantíssimo transformar a economia do Maranhão cada vez mais avançada.
Então, eu te disse que tenho absoluta certeza que esse é um projeto que veio para ficar e nós
vamos ver aqui, no estado do Maranhão, a melhor refinaria do país.
Repórter – Ministra, a senhora até fez um comentário no começo do programa sobre uma
entrevista que li nas páginas amarelas da (revista) Veja, do presidente do PSDB, o senador
Sérgio Guerra, dizendo que vai mexer, se o PSDB ganhar, evidentemente, se o Serra
ganhasse a eleição, com as taxas de juros, com os índices da inflação, que o PAC, o
Programa de Aceleração do Crescimento, tem números inflados, que as obras só andam
onde tem interesse eleitoral e que acabaria também com o PAC – eu achei uma declaração,
não sei se de uma infelicidade sem tamanho. Mas eu gostaria de ouvir a sua opinião.
Dilma – Eu lamento e acho estarrecedor que alguém se proponha a esse tipo de, por
questões político/eleitorais, principalmente um presidente de um partido venha a falar de
um projeto, como o PAC. Nós tivemos – e o Brasil passou até por responsabilidade deles,
porque foi durante o governo do PSDB, do presidente Fernando Henrique Cardoso, que
pouco se investiu em infraestrutura nesse país, que não se fazia refinarias – não sei se você
sabe, que nós ficamos algo como mais de 25 anos sem fazer refinaria nesse país. E quanto
começou esse boom do petróleo, nós tivemos uma ocupação da capacidade das refinarias no
limite. Então, interromper processos que são importantes, como Ferrovia Norte/Sul, a
Transnordestina, as duas hidrelétricas, perto do Maranhão, porque está na região Norte (não
está muito perto, porque nosso país é imenso), que estão em Rondônia, a Jirau e Santo
Antonio, mais Estreito, que também está no parque Itaqui, na fronteira entre Maranhão e
Tocantins. Então, isso é um absurdo, mas o grave nisso tudo é que o Brasil tem, no governo
Lula, uma modificação muito concreta, porque mudamos a forma com a qual se fazia, se
gastava, nós tornamos investimento uma prioridade. Nós diversificamos o investimento
para regiões, como Norte e Nordeste. Então, acabar com o PAC é tão grave nesse segundo
mandato do presidente (Lula), como foi no primeiro (mandato) a conversa deles sobre
acabar com o Bolsa Família. Então, a cada eleição eles resolvem acabar com alguma coisa:
na primeira, eles queriam acabar com o Bolsa Família - não sei se você lembra disso...
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Reporter – É verdade.
Dilma – Mas a força do Bolsa Família é tão grande e a reação da população é tão grande,
que eles não vão nunca acabar com o Bolsa Família e nem tampouco com o PAC, até
porque nós esperamos que eles não ganhem a eleição para fazer uma coisa dessa, Agora, o
grave também é querer ter uma política, absolutamente aventureira no que se refere a juros,
no que se refere a câmbio e também no que se refere às metas de inflação. Se a gente tiver
um pingo de seriedade, nós vamos ver que nós conseguimos controlar a inflação – hoje, a
inflação está sob controle, ela não afeta o bolso do trabalhador, ela não corrói o bolso do
trabalhador, tampouco do empresário, e, ao mesmo tempo, nós tivemos a capacidade de
termos uma política, que deu ao Brasil condições de fazer sua própria política, de acabar
com aquela história de ir com o pires na mão, como eles iam no Fundo Monetário. Nós,
hoje, temos mais de 230 bilhões de reservas. Então, nós acreditamos que nossa política
econômica foi muito bem sucedida e achamos ser um aventurerismo falar uma coisa dessas.
Reporter – A senhora não acha que o PAC também foi um dos responsáveis para que o
Brasil pudesse se segurar e não entrar, não mergulhar na crise mundial, além das outras
medidas?
Dilma – Eu tenho certeza, Roberto. O PAC, a gente tem os dados, ele garantiu o nível de
investimento na economia brasileira, porque na época, quando houve a crise e há aquele
medo generalizado e o crédito retrai, o governo do presidente Lula faz o inverso, nós
passamos segurar o investimento e até ampliar. Nós fizemos isso no PAC e aí eu queria
falar de algumas obras excepcionais do PAC, que é o saneamento e o investimento em
urbanização, eliminação de palafitas, a macrodrenagem, que a gente tem feito é algo muito
importante. Para você ter uma idéia, enquanto eles investiam, em 2002, o Brasil inteiro
recebeu R$ 264 milhões em saneamento – R$264 milhões no governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso. Hoje, só aqui no Maranhão, nós estamos colocando quase R$
800 milhões pelo PAC. Então, é uma modificação de tamanho de investimento muito
grande, e o PAC serviu de âncora para não se reduzir empregos, não parar atividade
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econômica, junto com o Minha Casa/Minha Vida, que nós revitalizamos a construção civil
e que aqui, no Maranhão, está e parabéns, porque as 74 mil moradias que estão destinadas
para o estado - se não me engano – ou são 73/72 mil, então o Maranhão, nesse caso, está de
parabéns. E isso serviu também para a gente segurar o emprego. Por isso, quando os
Estados Unidos teve uma perda de postos de trabalhos, o mundo ficou meio pessimista,
porque os Estados Unidos perderam muitos postos de trabalho. Nesse mesmo período, nós
criamos cerca de um milhão e 300 mil postos de trabalho em plena crise. No Maranhão,
para se ter uma idéia, você imagina quando essa obra estiver em pleno volume, o que vai
significar, porque o Brasil ela é uma das maiores do Brasil em termos de valor – são R$40
bilhões, não é um ano só – e vai gerar 132 mil empregos. Então, tudo isso acumulado vai
transformar o nosso país, ou já transformou o nosso país naquilo que uma vez o presidente
prometeu: num canteiro de obras . É estarrecedor que por questões eleitorais se fale em
acabar com o PAC.
Reporter – Agora, quando chega esse período, as pessoas começam a conversar sobre
quem vai ser candidato ao governo do Estado, à presidência da República, e quanto se ouve
falar que a ministra pode ser candidata do presidente, muita gente fala: “não, mas eu tenho
informação de que a ministra seria uma técnica muito competente, mas a ministra também é
muito dura na conversa com os políticos”. Como é a ministra Dilma Rousseff?
Dilma – Olha, o que eu acredito, Roberto, é que as pessoas têm de ter seriedade para fazer
política no Brasil. Nós precisamos de pessoas que iniciem um processo e o levem até o fim.
Eu acho que, quando se refere à realização de, com o consumo do governo, das obras do
governo, a gente tem que ser muito firmes para que as coisas não se interrompam, não se
criem os chamados “esqueletos”. Agora, eu acredito também no diálogo. Eu acho que sem
diálogo, no Brasil, um país tão diversificado como esse, não se cria, não se faz política,
nem faz a democracia. Então, eu acho que ser firme e duro, você tem que ser para certas
coisas, não para tudo na vida. Para outras coisas, eu acho que você tem que ter
flexibilidade, tem que ter capacidade de articulação, então, depende para quê. Eu acho que
eu fui, porque foi essa a responsabilidade que o presidente Lula me deu ao longo desse
tempo, principalmente no segundo mandato, eu peguei um pedaço do primeiro, mas,
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sobretudo, no segundo, eu coordenei a parte de implantação de programas, e o presidente
queria uma coisa fundamental: ele queria que as coisas começassem, continuassem e
acabassem e que tivessem resultados para o povo. Então, quando nós fazemos um programa
de saneamento, o presidente quer que o povo brasileiro tenha o esgotamento sanitário,
quando se faz habitação, o presidente quer que a gente entregue casas concretas. Então, não
pode, a gente não pode aí ter algo que não seja firme e seja duro com as metas, tem que
cumprir as metas. Agora, quando se trata de articular a sociedade, de ouvir a sociedade, de
ser flexível e entender que o Brasil tem pontos de vista diferentes e que você tem que levar
cada um desses pontos de vista, cada um desses interesses para poder governar, para poder
entender do que as pessoas estão reclamando, é assim que tem que ser. No Minha
Casa/Minha Vida, por exemplo, a gente ouviu todo mundo, os empresários, prefeitos,
governadores, a área de seguro, os donos de cartório...Você tem de ouvir cada um, porque
cada um tem uma experiência e tem uma forma de resolver o problema, que vai contribuir
para que se resolva o problema global. Então, eu vejo assim.
Reporter – A senhora tem um compromisso com o presidente Lula agora...
Dilma – Eu vou para Bacabeira agora.
Reporter – Isso, então, só para cumprir, a questão no estado, as alianças pensando na
eleição que vem, como está isso? Está se resolvendo? O diálogo está acontecendo?
Dilma – Olha, no Brasil inteiro, eu acho que começaram as movimentações no sentido de
estabelecer as alianças que serão feitas para 2010. Aqui, nós temos tido uma parceria muito
bem sucedida com a governadora Roseana, mas com outros partidos também nós temos
tido muito boas relações, como é o caso do PCdoB, com Flávio Dino, e outros militantes.
Eu acredito que nós, nessa parceria com a governadora, vamos conseguir trazer para o
Maranhão uma grande modificação nesse mais um ano de governo que ainda falta. A cada
vez mais essa parceria se aprofunda, então, se tudo for correr normalmente, eu acho que
uma parceria de governo muito bem sucedida pode resultar numa parceria política também
muito bem sucedida para 2010. Eu espero ter respondido a você.
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Reporter – Muito obrigado, foi um prazer conversar com a senhora e sucesso em 2010.
Dilma – Eu queria te desejar, assim, para o povo do Maranhão uma coisa muito forte, que é
esse futuro em que realizações, como essa refinaria em que estamos indo agora, em
Bacabeira, lançar a pedra fundamental, sejam a regra e que o Maranhão ocupe, no Brasil, o
espaço que ele merece e que ele seja esse centro de desenvolvimento que nós estamos
esperando que ocorra aqui.
Reporter – Muito obrigado, ministra.
Dilma – Um abraço, Roberto.
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