o professor-educador de filosofia como agente da criticidade na

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ISSN: 1981 - 3031
O PROFESSOR-EDUCADOR DE FILOSOFIA COMO AGENTE DA CRITICIDADE
NA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO
Rafael Bruno Gomes da Silva1
Graduando em Filosofia/UEPB
[email protected].
Elizabete Amorim de Almeida Melo2
Centro de Educação/UFAL
[email protected]
RESUMO
O presente construto pretende discutir quais são os objetivos do Ensino de Filosofia no Ensino Médio
e qual o papel do professor nesse processo de ensino-aprendizagem. De acordo com as pesquisas e
as orientações dos documentos legais sobre o Ensino de Filosofia, tal ensino deve favorecer o
desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e filosófico, mediado pelo professor-educador que
se apresenta como agente da criticidade no espaço escolar. Entretanto, o educador não é um ser
detentor de conhecimentos acabados, mas um ser inacabado, que assim como seus alunos, se
encontra em constante processo de aprendizagem. Todavia, o professor de Filosofia deve ser “um
parteiro de conhecimentos”, como relata Platão no “Teeteto” (2001), envolvendo seus alunos por
meio de argumentos, de ideias e de conhecimentos empíricos, científicos, teológicos e, sobretudo,
dos conhecimentos filosóficos adquiridos ao longo de sua formação. Além disso, o Ensino de Filosofia
deve promover espaços de reflexão que favoreçam o desenvolvimento da autonomia do pensar dos
discentes, dando-lhes a liberdade de questionarem sobre acontecimentos e fatos que ocorrem na
realidade, à luz das contribuições dos filósofos, independentes destes serem antigos, medievais,
modernos ou contemporâneos, possibilitando, assim, a superação do senso comum por meio do
“espanto e da admiração”. Assim, nesse trabalho utilizamos as contribuições e ideias de Galo (2002),
Cerletti (2003), Marcondes (2004), Favaretto (2004), Ghedin (2009) e documentos do MEC (1999).
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Filosofia. Formação docente. Ensino Médio.
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho buscamos refletir sobre uma diretriz de como deve ser o
Ensino de Filosofia no Ensino Médio, baseados nas discussões apresentadas pelas
Orientações Curriculares Nacionais do ensino Filosofia (OCN’s, 2013), a qual se
dirige para o principal questionamento acerca da Filosofia e o seu ensino, ou seja,
1
Graduando do Curso de Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Membro do
Núcleo de Estudos Platônicos & Antiguidade (UEPB/CNPQ). Membro do Projeto de Extensão:
Filosofia Antiga no Ensino Médio (UEPB/UFAL). Monitor do Componente Curricular História da
Filosofia Antiga (UEPB) no período de 2012.2 a 2014.2.
2
Professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
1
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para a preocupação “[d'] o que o aluno deve conhecer e que competências
desenvolver no curso de Filosofia no Ensino Médio” (BRASIL, 2013, p. 40).
As problemáticas apresentadas pelas OCN’s para o Ensino de Filosofia
dirigem-se também ao questionamento de qual ou quais metodologias possam
contribuir para o desenvolvimento do ensino da Filosofia no Ensino Médio, qual o
papel e a função do professor e, ao mesmo tempo, como desenvolver “sujeitos
autônomos e cidadãos conscientes” (p. 42).
Consideramos que as OCN’s (2013) demonstram todo um cuidado para o
desenvolvimento do Ensino de Filosofia no Ensino Médio, visando alcançar
melhorias na prática do ensino nas escolas públicas brasileiras, favorecendo para a
construção de seres conscientes e críticos. Entretanto, este é apenas um documento
que se constitui como orientações e não tem força de lei. Mesmo que tivesse força
de lei, não é garantia de aplicabilidade na prática.
Como em qualquer disciplina, a Filosofia não deve visar apenas à passagem
de conteúdos, mas contribuir para a aprendizagem de tais conteúdos, em que o
aluno, como ser integrante da sociedade, possa colaborar para aplicação dos
mesmos na própria sociedade, por meio do seu processo de reflexão juntamente
com os questionamentos e as problemáticas filosóficas desenvolvidas pelos grandes
pensadores ao longo da história.
Nessa direção, este trabalho busca refletir brevemente sobre as seguintes
questões: quais são os objetivos do Ensino de Filosofia no Ensino Médio? Qual deve
ser o papel do professor nesse processo de ensino e aprendizagem em sala de
aula?
2 OBJETIVOS DO ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº
9.394/96, os estudantes, ao final do Ensino Médio, devem “dominar os conteúdos de
Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania” (Artigo 36).
Nesse sentido, ampliando o debate, Silvio Gallo (2002) em A Especificidade
do Ensino de Filosofia: Em torno dos Conceitos, nos afirma que:
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[...] ensinar Filosofia é um exercício de apelo a diversidade, ao
perspectivismo; é um exercício de acesso a questões fundamentais para a
existência humana; é um exercício de abertura ao risco, de busca de
criatividade, de um pensamento sempre fresco; é um exercício de pergunta
e da desconfiança da resposta fácil. Quem não estiver disposto a tais
exercícios, dificilmente encontrará prazer e êxito nessa aventura que é
ensinar Filosofia, aprender Filosofia (GALLO, 2002, p. 199).
Para Gallo (2002), o Ensino de Filosofia deve ser questionador, visando
conhecer os fatos e as ações vivenciadas em nosso dia a dia pela sociedade.
Mas, qual o maior desafio na prática do Ensino de Filosofia nas escolas?
Ensinar Filosofia é um grande desafio, pois, com ela, possibilitamos a todos
que a estudam o poder argumentativo, interpretativo e interrogativo (GALLO, 2002).
Entretanto, Marcondes (2004) em É possível ensinar a Filosofia? E, se
possível como? ressalta que:
[...] O grande desafio para o ensino da Filosofia consiste em motivar aquele
que ainda não possui qualquer conhecimento do pensamento filosófico, ou
sequer sabe para que serve a Filosofia, a desenvolver o interesse por este
pensamento, a compreender sua relevância e a vir a elaborar suas próprias
questões (MARCONDES, 2004, p. 64).
Para Marcondes (2004), o Ensino de Filosofia deve ser um ensino
motivador, que desperte o interesse dos alunos, principalmente, daqueles que não a
conhecem e que não sabem para que ela serve.
Favaretto (2004) em Filosofia, Ensino e Cultura, por sua vez, chama atenção
para o seguinte aspecto:
[...] situar a Filosofia como disciplina escolar no horizonte dos problemas
contemporâneos – científicos, tecnológicos, ético-políticos, artísticos ou os
decorrentes das transformações das linguagens e das modalidades e
sistemas de comunicação – implica uma tomada de posição para que a sua
contribuição seja significativa quanto aos conteúdos e processos cognitivos.
(FAVARETTO, 2004, p. 48).
O Ensino de Filosofia pode permitir e possibilitar ao aluno o poder de
autonomia, dando-lhe a liberdade de questionar todos os fatos de sua realidade,
juntamente com o pensamento dos filósofos seja eles antigos, medievais ou
contemporâneos.
Quando este ensino é levado a sério e tem as condições materiais
adequadas para a sua realização com sucesso em sala de aula, ele pode possibilitar
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também aos alunos o desenvolvimento do seu senso crítico e criativo, por meio do
“espanto e da admiração” em relação aos fatos ocorridos na atualidade, pois quando
conhecemos algo de maneira clara, automaticamente nos é permitido o poder de
questionar, fazendo acontecer o verdadeiro ensino da Filosofia, por meio do filosofar
em sala de aula (GALLO, 2002).
Nas Orientações Curriculares para o Ensino de Filosofia no Ensino Médio
(OCM, 2013), por sua vez, os objetivos atribuídos ao Ensino de Filosofia no Ensino
Médio consistem em:
A Filosofia deve compor, com as demais disciplinas do Ensino Médio, o
papel proposto para essa fase da formação. Nesse sentido, além da tarefa
geral de “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Artigo 2º da Lei nº
9.394/96), destaca-se a proposição de um tipo de formação que não é uma
mera oferta de conhecimentos a serem assimilados pelo estudante, mas
sim o aprendizado de uma relação com o conhecimento que lhe permita
adaptar-se “com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores” (Artigo 36, Inciso II) – o que significa, mais
que dominar um conteúdo, saber ter acesso aos diversos conhecimentos de
forma significativa. A educação deve centrar-se mais na ideia de fornecer
instrumentos e de apresentar perspectivas, enquanto caberá ao estudante a
possibilidade de posicionar-se e de correlacionar o quanto aprende com
uma utilidade para sua vida, tendo presente que um conhecimento útil não
corresponde a um saber prático e restrito, quem sabe à habilidade para
desenvolver certas tarefas (BRASIL, 2006, p. 28).
Além dos objetivos propostos acima para o Ensino de Filosofia no Ensino
Médio, o respectivo documento ressalta ainda que:
Outro objetivo geral do Ensino Médio constante na legislação e de interesse
para os objetivos dessa disciplina é a proposição de “aprimoramento do
educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (Lei nº
9.394/96, Artigo 36, Inciso III). [... Ainda] O objetivo da disciplina Filosofia
não é apenas propiciar ao aluno um mero enriquecimento intelectual. Ela é
parte de uma proposta de ensino que pretende desenvolver no aluno a
capacidade para responder, lançando mão dos conhecimentos adquiridos,
as questões advindas das mais variadas situações. Essa capacidade de
resposta deve ultrapassar a mera repetição de informações adquiridas,
mas, ao mesmo tempo, apoiar-se em conhecimentos prévios (BRASIL,
2006, p. 28-29).
Seguindo a perspectiva de apresentarmos aqui os objetivos da Filosofia e
seu
ensino,
cabe-nos
compreender
que
as
Orientações
Educacionais
Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002), nos leva a
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compreendermos que em primeira instância, como objetivo, o professor de Filosofia
deve desenvolver no seu aluno a capacidade de reflexão e problematização, ou
seja, o fazer Filosofia filosofando, por meio da “análise interpretativa” (BRASIL,
2002, p. 47), análise essa que parte da leitura dos textos filosóficos e, em seguida,
da leitura de textos não-filosóficos como ampliação reflexiva e experiencização dos
questionamentos e problemáticas filosóficas que se interligam ou se relacionam com
a contemporaneidade, visando conduzir o aluno para a construção da “dissertação
filosófica [...] [como] condição da autonomia intelectual do educado” (idem, p. 48),
permitindo ao aluno a capacidade de escrever os seus argumentos, desenvolvidos
por meio da reflexão e problematização das problemáticas filosóficas apresentadas
em sala, essas que têm como pontapé inicial a História da Filosofia.
Por fim, a “representação e comunicação”, procura permitir ao aluno do
Ensino Médio o poder de discurso – debate – construído por meio das “análises e
dos conteúdos examinados” (idem, p. 49), em sua produção filosófica, que se
objetiva na “construção da sociedade pluralista [...] [com] o[s] sujeito[s] autônomo[s]
e crítico[s]” (idem, p. 49).
As Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares
Nacionais (2002) nos levam a compreender que a Filosofia é a disciplina mais
preparada para executar essa competência, pois a Filosofia compreende o
“conjunto” e a “totalidade” de todas as coisas, que nos permite desenvolver a
“análise interpretativa”, de forma “interdisciplinar”. Todavia, para investigar e
compreender um determinado problema é necessário fazermos uma relação
“interdisciplinar”, ou seja, nos é necessário correlacionar o problema com as diversas
áreas do conhecimento para que possamos chegar a uma reflexão advinda do
problema e, em seguida, a um discurso conciso sobre o mesmo.
Ainda, as Orientações Educacionais Complementares aos PCN’s (2002),
ressaltam que a “contextualização sociocultural” se direciona ao desenvolvimento do
conhecimento do aluno do Ensino Médio sob diversos aspectos: “plano da origem
específica,
pessoal-biográfico,
sócio-histórico-cultural
e
sociedade
científico-
tecnológica” (idem, p. 50). Essa competência visa desencadear o conhecimento
filosófico juntamente as diversas áreas e planos do conhecimento, favorecendo ao
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educando o poder de compreensão e correlação dos problemas e questionamentos
filosóficos por meio da formação da sua atitude crítica.
Portanto, as OCN’s (2013) direcionam o Ensino de Filosofia numa
perspectiva de correlação entre os períodos passados com o atual, visando
desenvolver no aluno do Ensino Médio o poder de reflexão, que surge da
problematização, da “análise interpretativa”, juntamente com a “dissertação
filosófica” e, em seguida, com o poder de “debate”, pois para as OCN’s (2013) e os
PCNEM (2000), o Ensino de Filosofia deve ser um ensino de análises e correlações
dos problemas e questionamentos filosóficos interligados aos fatos e ações
ocorridos na atualidade.
3 O PROFESSOR DE FILOSOFIA: CONSTRUTOR DO CONHECIMENTO,
FORMADOR DE PESSOAS E DA SOCIEDADE
Vou afirmar que um professor de Filosofia é aquele que, acima de tudo,
consegue construir um espaço de problematização compartilhado com seus
alunos. (...) Ensinar Filosofia é antes de mais nada ensinar uma atitude em
face da realidade, diante das coisas, e o professor de Filosofia tem que ser,
a todo momento, consequente com esta maneira de orientar o pensamento.
(CERLETTI, 2003, p. 62).
Para Cerletti (2003), em Ensinar Filosofia: da pergunta filosófica à proposta
metodológica, o professor de Filosofia no Ensino Médio deve formar cidadãos que
possam compreender a realidade e interferir nela, contribuindo para a formação de
jovens através dos conhecimentos de Filosofia.
O papel do professor de Filosofia no Ensino Médio é proposto da seguinte
forma, por um dos documentos oficiais do MEC (Ministérios da Educação e Cultura,
1999):
[...] contribuir para a formação de homens dignos, livres, sábios, diferentes e
iguais, capazes até de se adaptar, de recusar o mundo tal como está
proposto nos termos atuais e engajar-se ativamente na transformação, com
vistas a uma convivência justa e fraterna, garantindo o espaço e os
encaminhamentos necessários para desenvolver nos alunos as
competências próprias da Filosofia (PCNs, 1999, p. 124).
Nesse sentido, o Ensino de Filosofia no Ensino Médio requer, na sua
execução em sala de aula, um espaço significativo, que possibilite ao professor,
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junto com os alunos, levantar questionamentos a partir das noções e dos conceitos
estudados, do pensamento do filósofo em destaque e das condições de vida que
cada cidadão se encontra na sociedade (GHEDIN, 2009).
Além disso, é importante que se leve em consideração também os fatos e as
ações que acontecem no universo, contribuindo para a formação e desenvolvimento
dos alunos de maneira autônoma (GALLO, 2002), buscando, assim, por meio da
superação do senso comum ao desenvolvimento do senso crítico dos alunos,
almejando a chegada do conhecimento filosófico (SAVIANI, 1989).
Ghedin (2009) em o Ensino de Filosofia no Ensino Médio relata que:
Falar em uma cultura do pensamento na escola e na sala de aula é fazer
referência a um ambiente na qual várias forças funcionam em conjunto para
expressar e reforçar o empreendimento do bom pensar. Nessa cultura,
pressupõe-se que todos pensem e todos – incluindo o professor – se
esforcem, para ser conscientes, inquisitivos e imaginativos. O pressuposto é
que a instauração de uma cultura do pensamento na sala de aula ensina a
pensar. Nesse sentido, o propósito de ensinar a pensar é preparar os
alunos para um futuro de resolução de problemas, de tomada consciente de
decisões e de aprendizado contínuo para toda a vida. (GHEDIN, 2009, p.
30).
Nesse contexto proposto, o professor de Filosofia deve ser um mediador ou
“um parteiro de conhecimentos”, como relata Platão no “Teeteto” (2001). Nessa
obra, Platão nos apresenta a personagem de Sócrates, que envolve seus alunos por
meio de argumentos que os possibilita, por meio dos seus próprios saberes outrora
adquiridos, construírem e contribuírem para o desenvolvimento de novos conceitos e
novas ideias. Como segue abaixo na passagem do diálogo “Teeteto”, em que
Sócrates interroga Teeteto procurando compreender se saber e conhecer significam
a mesma coisa:
Sócrates – [...] Dize-me o seguinte: aprender não significa tornar-se sábio a
respeito do que se aprende?
Teeteto – Como não?
Sócrates – Logo, é pela sabedoria, segundo penso, que os sábios ficam
sábios.
Teeteto – Sem dúvida.
Sócrates – E isso difere em alguma coisa do conhecimento?
Teeteto – Isso, quê?
Sócrates – Sabedoria. Não se é sábio naquilo que se conhece?
Teeteto – Como não?
Sócrates – Então, é a mesma coisa conhecimento e sabedoria? (PLATÃO,
2001, p. 40).
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O Ensino de Filosofia no Ensino Médio deve objetivar o desenvolvimento da
argumentação, da interpretação, da interrogação e compreensão dos problemas
relacionados à realidade. Deve permitir aos alunos o desenvolvimento e o
aprimoramento da argumentação das suas ideias e opiniões, possibilitando aos
mesmos o poder de reflexão através do pensar, colaborando para a autonomia do
pensar e do argumentar, permeando a formulação e criação ou recreação de novos
conceitos (DELEUZE; GUATARRI, 1997).
Para Gallo (2002) é para isso que se faz necessário um professor-educador,
que possa atuar como um construtor do conhecimento do aluno, além de um
formador de pessoas humanas que possam colaborar para a construção de uma
sociedade mais justa e fraterna.
O professor de Filosofia deve ter como características, o poder do filosofar e,
sobretudo, ser realmente um filósofo, contribuindo para o desenvolvimento de
pessoas, cidadãos e da sociedade de modo geral, formando seres com caráter ético
e moral, visando desenvolver em nosso meio, uma sociedade crítica, analista, que
interroga, argumenta, problematiza e, sobretudo, expõe seus conhecimentos, suas
ideias e opiniões, de maneira clara, objetiva e homogênea.
Aspis (2004), em seu artigo O Professor de Filosofia: o Ensino de Filosofia no
Ensino Médio como experiência filosófica, ressalta que:
Nas aulas de Filosofia como experiência filosófica, o professor é um
orientador, ele põe à disposição para os seus alunos os instrumentos que
conhece para uma disciplina filosófica no pensamento. Cria com os alunos
um grupo, uma equipe, que tem um objetivo comum: encontrar saídas para
um problema elaborado por eles mesmos, de seu interesse, por meio da
investigação e do estudo filosóficos. O professor sabe que sua orientação é
limitada ao seu modo de compreender a Filosofia e a realidade, e que,
portanto, sua orientação deve conter incentivo e atenção para as possíveis
criações de novos modos por parte de seus alunos (ASPIS, 2004, p. 311).
Para Aspis (2004), o professor de Filosofia no Ensino Médio, na posição de
orientador, ou melhor, na posição de guia do pensamento, conduzirá seus alunos ao
universo da Filosofia, pois não há Filosofia sem o filosofar, assim como não há o
filosofar sem a Filosofia.
Se a Filosofia pode contribuir na educação do outro para ser outro, significa
que ela se lança ao desconhecido. Abdica de qualquer poder de controle da
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formação para apreciar aquilo que possa vir a ser criado. O professor de
Filosofia aposta no que virá, mesmo que este seja desobediente à sua
ordem das coisas, mesmo que este seja contrário e até incompreensível,
tão outro que seja esquivo à posse e à comunhão. O outro, autônomo, cria
seu mundo e a si e o professor aposta (ASPIS, 2004, p. 318).
Portanto, seguindo a perspectiva apresentada por Aspis (2004), devemos ter
a compreensão de que ser professor de Filosofia é algo complexo, é está disposto a
sempre recomeçar e se dirigir na busca pelo desconhecido.
Ser um professor de Filosofia é ter a noção de como guiar seus alunos para
que eles possam, a partir da experiência filosófica vivida na sala de aula, construir
os seus argumentos, as suas ideias.
Enfim, o professor de Filosofia deverá compreender que a Filosofia como
disciplina no Ensino Médio, tem por objetivo principal fundamentar, contribuir e
desenvolver o pensamento dos seus alunos, objetivando a criticidade em relação
aos fatos e as ações ocorridas em seu meio.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do exposto, podemos levantar algumas considerações sobre o
Ensino de Filosofia no Ensino Médio e o papel do professor que leciona esta
disciplina na escola.
O Ensino de Filosofia deve ser uma indústria do pensamento e das
problemáticas (GHEDIN, 2009).
Nesse contexto, cabe ao professor utilizar-se de todos os pensamentos
exposto pelos alunos em sala, favorecendo a produção textual como uma indústria
do
pensamento,
através
da
produção
escrita,
permitindo
aos
alunos
contextualizarem suas criticas, argumentarem, interrogarem e interpretarem os fatos
ou ações da realidade (GALLO, 2002), atingindo, desta forma, o que determina a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no seu Artigo 36, que
afirma: “serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em
todas as séries do Ensino Médio”.
O professor de Filosofia deve assumir o papel de um construtor de
conhecimentos, além de ser aquele que tem o poder de apresentar a real realidade
aos seus alunos em sala.
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Em suma, o professor de Filosofia deve ser um orientador dos alunos, que
são cidadãos e que formam uma sociedade, cabendo a esse professor o dever de
trabalhar os conhecimentos com os alunos, fazendo-os compreender a Filosofia
junto com a realidade e, assim, permitindo e possibilitando aos alunos o
desenvolvimento do senso crítico e do poder de argumentação (DELEUZE;
GUATARRI, 1997).
Além disso, é muito importante que o professor de Filosofia busque
condições para o desenvolvimento da Filosofia em sala de aula no Ensino Médio,
permeando a compreensão da Filosofia, a interpretação dos contextos filosóficos,
entre outras coisas que possam favorecer a metodologia de ensino da Filosofia no
Ensino Médio.
Em suma, é possível afirmar que o Ensino de Filosofia no Ensino Médio
pode favorecer o desenvolvimento do conhecimento filosófico dos alunos, a partir do
debate de ideias e do levantamento de situações-problema, entre outros aspectos.
Ela (a Filosofia) deve ser trabalhada com criatividade, possibilitando aos
alunos a oportunidade de participar e interagir dentro da sala de aula, mostrando
que é possível inovar e buscar um ensino que promova a interação dos sujeitos no
cotidiano da sala de aula.
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