IPO/Porto: Maioria pacientes quer saber tudo sobre

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IPO/Porto: Maioria pacientes quer saber tudo sobre a doença
A maioria dos pacientes da Unidade de Cuidados Continuados (UCC) do
Instituto Português de Oncologia do Norte (IPO/Porto) prefere ter toda a
informação sobre a sua doença, quer seja boa ou má, revela um estudo hoje
divulgado.
De acordo com o estudo desenvolvido pelo Serviço de Bioética e Ética Médica da
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), 61,9 por cento dos doentes
inquiridos diz preferir saber tudo sobre aquilo de que padece.
A principal razão apontada é a necessidade de perceberem o que está ou vai acontecer
no futuro para que possam organizar as suas vidas e assuntos, bem como pela
necessidade de se prepararem a si próprios e aos seus familiares.
O objectivo deste estudo foi conhecer o nível de informação recebida por pacientes em
cuidados paliativos e a sua satisfação relativamente ao nível de informação recebida.
Visou ainda conhecer as suas preferências e necessidades de informação geral e
específica quanto ao diagnóstico, prognóstico e participação no processo de tomada de
decisão no tratamento.
Este estudo revela também que a maioria dos inquiridos (58,8 por cento) considera
possuir informação específica sobre o seu diagnóstico, mas, no que diz respeito ao
prognóstico, a situação é diferente, com apenas 41 por cento a afirmar conhecê-lo.
Nesta relação diagnóstico/prognóstico foi possível concluir que cerca de 83 por cento
dos doentes que afirmou possuir informação específica sobre o seu diagnóstico tinha
menos de 65 anos, verificando-se novamente que os pacientes com menos de 65 anos
tinham informação sobre o prognóstico.
Os autores deste estudo - Ana Cardoso, Miguel Ricou, Ferraz Gonçalves e Rui Nunes consideram que é ainda demasiado alta a taxa de doentes que desconhece o seu
diagnóstico.
Questionados sobre preferências específicas de informação, a maioria (75 por cento)
dos pacientes respondeu considerar essencial saber se é ou não cancro.
O que resultará dos tratamentos é também uma questão considerada essencial para a
maioria dos doentes (63,8 por cento).
Mais de metade dos pacientes inquiridos (58 por cento) afirmaram ainda preferir deixar
as decisões relativamente aos tratamentos e cuidados médicos ao critério do seu
médico, justificando não possuírem conhecimentos suficientes para participar na
decisão.
Para a realização deste estudo foram entrevistados, entre Fevereiro e Dezembro do
ano passado, 68 pacientes em regime de ambulatório ou internamento na UCC do
IPO/Porto.
Nesta análise, os investigadores quiseram ainda conhecer as atitudes por parte dos
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29-10-2007
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médicos relativamente à comunicação com o doente sobre a sua transição para
cuidados paliativos, quais as crenças que suportam essas atitudes e quais as
dificuldades sentidas na revelação do fim do tratamento curativo.
Foram inquiridos 57 médicos oncologistas do IPO/Porto e IPO/Coimbra, através de
auto-preenchimento de um questionário desenvolvido para o efeito (de um total de 190
questionários, apenas foram devolvidos os 57).
Todos os médicos participantes concordaram que os doentes devem ser informados
sobre o seu diagnóstico, mas as opiniões parecem ser menos homogéneas
relativamente à revelação do prognóstico de doença terminal.
De acordo com o estudo, 12,3 por cento dos médicos «discorda moderadamente» com
o dever de informar os pacientes sobre o prognóstico, enquanto apenas 17,5 por cento
dos inquiridos afirmou «concordar plenamente» com essa ideia.
Cerca de 41 por cento dos médicos inquiridos acredita, contudo, que a qualidade de
vida de um paciente com informação sobre o seu diagnóstico e prognóstico é melhor do
que a qualidade de vida de uma pessoas que ignora estas informações.
Foi ainda possível concluir que a maioria dos médicos situa a percentagem de pacientes
que não deseja conhecer o seu prognóstico abaixo de 40 por cento e a percentagem
das famílias que não desejam que o paciente seja informado acima dos 60 por cento.
Os estudos, que fazem parte de um projecto financiado pela Fundação calouste
Gulbenkian, foram apresentados hoje na Aula Magna da FMUP, no âmbito do oitavo
Congresso Nacional de Bioética, subordinado ao tema eutanásia.
Segundo um dos responsáveis por este trabalho, Miguel Ricou, é possível, com este
estudo, afirmar que é imperioso apostar na formação dos profissionais de saúde nesta
área do acompanhamento dos pacientes em fim de vida (cuidados paliativos).
Na sua opinião, a criação da rede de cuidados paliativos já devia estar no terreno, pois
são unidades onde, de facto, os doentes são acompanhados.
«É urgente criar esta rede para que os doentes não se sintam isolados», defendeu,
considerando que «as pessoas que sofrem estão isoladas no seu sofrimento».
Diário Digital / Lusa
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